Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 21
Percepção


Notas iniciais do capítulo

Oi, voltei de novo heheh Então, a pequena surpresa desse capítulo é que ele é narrado sob o ponto de vista de outro personagem hahaha É POV do Nathaniel, o loirinho da nação :3 Aproveitem, mesmo sendo curtinho :)



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  Na primeira oportunidade que tive, escapei pelas portas de vidro, sentindo o ar fresco do jardim. Respirei fundo, olhando ao redor. Era uma área imensa, com bancos perto de uma mata fechada. Fui naquela direção, com passos incertos. Parei ao seu lado, sentei-me no banco de pedra e fiquei calado. O céu escuro estava repleto de estrelas brilhantes, mas ela fitava o chão. Ela falou primeiro, puxando minha atenção para si.

  – A noite está linda.

  – É, realmente. E você consegue ignorar esse céu.

  – Não ignorei, bobo. Só não quis ver. Não posso borrar a bendita maquiagem.

  Ri, olhando em sua direção. Ela tinha erguido o rosto, alisando a barra do vestido com as mãos pequenas. Sempre achei engraçado como as mãos dela eram tão pequenas se ela era tão grande. Deixava-a mais delicada.

  – Ele ia ficar muito feliz se estivesse aqui.

  – Eu sei, eu estou também. É só que...tinha tempo que eu não sentia isso.

  – Alegria?

  – Completa. Acho que pela primeira vez em anos eu não estou conseguindo sentir o buraco negro dentro de mim. Parece que Viktor ainda está aqui, pelo menos hoje.

  – Pode ser que esteja mesmo.

  – É. Está bonitão, gostei de ver. – Sorri, sem graça. Eu tinha toda a liberdade do mundo para retribuir no mesmo tom descontraído, mas não consegui. Estava tão sério que tive que soltar o ar antes de responder.

  – Você também. Ficou deslumbrante.

  – Obrigada. – Pensava no vestido roxo que a deixara ainda mais altiva, mais graciosa. Suspirei. Anna sempre fora bonita, tinha puxado o cabelo do pai, os olhos, o nariz. Só a boca e o formato do rosto eram da mãe. Eu nunca tinha conseguido reconhecer aqueles detalhes, até então. Depois que ela voltou para a cidade, percebi que por menos que tivesse mudado, o meu jeito de vê-la mudou. – Precisamos voltar para a festa, antes que Rosalya bole um milhão de teorias.

  – Não pode deixar seu príncipe se esquecer porque está aqui. – Completei, lhe estendendo a mão. Ela riu, ficando de pé e atravessando o jardim com passos certeiros. Nos saltos, ela ficava maior que eu, por pouca coisa. Sorri.

  – Não deixe ela ouvir, mas sua irmã ficou bonita. Parecia gente. – Ela falou, antes de alisar o vestido uma última vez e entrar no salão. Segui, calado.

  – Não sei de onde mamãe tirou que era uma boa ideia você me acompanhar. Aposto que foi atrás daquela mondronga. – Nem no meio de uma festa Ambre conseguia deixar de ser azeda. Ignorei, pegando um salgadinho com um garçom.

  – Precisa reconhecer que a mondronga ficou linda, irmãzinha.

  Só pelo jeito que ela ignorou o comentário eu soube que ela não queria aceitar, mas concordava. Sorri, vendo Anna perto de Lysandre. Os dois pareciam amigos de longa data, sorridentes no meio do salão. Não fosse por Ambre, poderia ser eu.

  “No que você está pensando, Nathaniel?”

  Não consegui me responder com sinceridade. Não reconheci muito bem aquele incômodo no fundo do meu estômago, parecendo que uma ratazana passeava por ali. Fui comer outro salgadinho, querendo me distrair. Fiz isso, até Julia chamar as debutantes mais uma vez, dizendo que todas elas teriam o direito de agradecer pela noite e falarem o que quisessem.

  A expressão de Anna não foi a das melhores, bem oposta a de Ambre. Fiquei esperando, vendo minha irmã no meio do salão, com o sorriso mais falso do mundo, grata aos nossos pais e ao querido irmão, que sabia que era só conversa, aos organizadores e às outras meninas. E então passou a vez para Anna.

  – Boa noite. Ei. – Sem graça, a garota tremia violentamente. Cruzei os braços, esperando ela continuar. – Queria agradecer, primeiro de tudo, à persistência da minha mãe em me colocar nessa situação. Fico feliz que tenha me convencido. Obrigada. E, em segundo, eu gostaria de agradecer às amigas que, mesmo sem querer, me ajudaram a lembrar os motivos pelos quais essa noite era meu sonho desde os doze anos. Era para esse ser o meu dia, com as pessoas que eu mais amo, quatro que eu nem sei se amar é suficiente. Meus pais, meu melhor amigo...e o que não pode vir hoje. Mas fico feliz que eu tenha vindo. Sei que ele estaria feliz aqui. Obrigada, mãe, pai, Nath. E obrigada Viktor.

  Fiquei chocado ao notar que estava com a visão embaçada. Disfarçadamente, passei as mãos pelos olhos, limpando as lágrimas. Anna estava do outro lado da multidão, sorrindo para mim. Sorri de volta, tristonho. Viktor. Ela tinha feito aquilo tudo não por ela, nem pela mãe. Sempre foi por Viktor. Foi sempre pelo irmão que não podia mais cumprir as velhas promessas, o que não podia mais participar de momentos feito aqueles.

  O Viktor, nosso melhor amigo.

  Ainda meio chocado, passei a mão pelo rosto mais uma vez e fui na direção do banheiro. Ambre surtaria se me visse chorando pelo que sua maior inimiga dissera, bem na frente dos amigos de nossa mãe. Trancado no cômodo, lavei o rosto e me olhei no espelho. O cabelo arrumado, o terno caro, o desespero para ir embora logo. E Viktor. A parte de mim que se espelhava no amigo, o sujeito mais velho.

  Sai dali e voltei para meu posto de irmão, o melhor amigo defensor da donzela em questão. Com o sorriso ali entre os importantes amigos da minha mãe, meu coração voava na direção do outro lado da sala, dela. Anna...

  “O que tem de errado comigo?” Pensei, aliviado em vê-la tranquila.

  “Só estou feliz porque estava preocupado.” Eu me conhecia melhor que aquilo. E aquela sensação de ratazana no estômago voltara, tomando uma forma mais reconhecível. Suspirei, deixando a questão de lado. Ou pelo menos para outro momento.


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Notas finais do capítulo

E ai, ele percebe coisas e vocês também? Hahaha, me contem < 3



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