Thalia

Minhas pernas não se mexiam. Eu queria sair correndo, mas demorei muito para que conseguisse me mexer novamente.

— Relacionamento... - Disse Luke, com a voz mais seca do que eu já ouvirá. - Que tipo de relacionamento...?

— Ah, pense um pouco. Que tipo de relacionamento, Luke Castellan?
Luke ficou em silêncio.

Era o momento de sair correndo. Forcei minhas pernas para sair dali. E comecei a correr.
Kelli deve ter percebido o que havia acontecido, pois saiu do quarto e começou a correr atrás de mim. Escutei os passos dela, acelerados, aumentando a cada segundo. Meu coração se acelerava. Cheguei na escada e fui descer, mas Kelli me alcançou e fincou as unhas em minhas costas. Tentei aguentar a dor, enquanti Kelli descia as unhas pelas minhas costas, rasgando. Consegui me soltar e desci as escadas, cambaleando. Não era pra ser muita a dor que eu estava sentindo, mas era. Minhas pernas fraquejavam, e cada passo era como o inferno. Minha visão havia começado a ficar turva, e me apoiei no corrimão da escada.

Escutei os passos de Kelli, atrás de mim, descendo as escadas lentamente. Eu não conseguia sequer falar.

— Olha só, o estado em que a princesinha está... - Kelli riu, chegando atrás de mim e me segurando pelo cabelo. As unhas dela fincaram em minha nuca. - Luke não vai ficar muito feliz, sabe? Em te ver toda desfigurada... Mas acho que isso vai ser o melhor mesmo, já que ele sabe que está o traindo.

— É...? - Falei, com a voz rouca. - Ha... B-bom pra ele... Aquele... Cretino...

Kelli deu um sorrisinho sádico e as unhas dela entraram mais na minha nuca. Ela não me deixou falar, nem reclamar. Mas foi o tempo de ela tapar minha boca e um vulto preto apareceu atrás dela.

Minha visão continuava turva, mas eu sabia que era Nico. Dava para sentir o ódio emanando dele, os olhos gelados. Quando minha visão começou a voltar ao normal, consegui enxergar. Ele estava vestindo seu fraque, como sempre, mas sua mangas estavam dobradas, e ele estava sem suas luvas, como se estivesse mexendo no jardim.

— Ah! Nicholas. - Kelli falou, com um tom de deboche. - Veio ajudar a namoradinha?

Nico ficou em silêncio e Kelli cravou as unhas nas minhas costas novamente.

A sala estava vazia, sem sinal de Travis e Connor. Talvez eles tivessem saído, após Luke ter chego, para se divertir. Luz entrava das grandes janelas abertas, iluminando os móveis. Dava para ver o jardim, era um dia tão bonito. Os pássaros cantando, as flores desabrochando.
Mas de repente, tudo ficou sombrio.
O sorriso de Kelli sumiu conforme o de Nico surgia. Eu nem tentaria pará-lo. Minhas pernas fraquejaram e eu cai de joelhos, no último degrau da escada. Kelli não se mexeu enquanto o sorriso no rosto de Nico aumentava.

Era tarde demais quando ela tentou fugir. Nico a segurou pelo cabelo e jogou-a no chão, longe de mim. A força dele era absurda, mas ele não a usou toda, pois Kelli continuou consciente. Ele a segurou pelas pernas e começou a arrastá-la. Kelli tentava parar a todo custo, mas só piorava. Perguntei-me aonde estavam todos os empregados da mansão. Alguém já teria ido ver o que estava acontecendo. Mas ninguém veio.

Nico parou de arrastar Kelli pelo chão. Eu prometi que iria ajudá-lo. Mas não conseguia sequer levantar, meu corpo estava pesado demais. Nico a deixou no chão enquanto foi pegar sua espada. Kelli tentou levantar, mas Nico foi muito rápido e enfiou a espada em sua mão. Kelli gritou de dor. Nico deu um sorriso sádico e enfiou nas costas dela.

Kelli tentou se soltar até o último segundo. Mas depois de alguns minutos, parou de se mexer. Nico parecia muito satisfeito.
Ele caminhou até mim, sujo de sangue. Consegui olhar para a escada e vi Luke no topo dela, apenas assistindo.

Nico olhou pra ele e sorriu. Mas segundos depois, seu sorriso sumiu.

— Nico...? - Falei, me apoiando no corrimão para levantar.

Nico estava estático, ainda mais pálido do que o normal.

— Isso mesmo, Nicholas... Percebe o erro que cometeu...? - Luke falou, com tom de deboche.

Nico subiu correndo as escadas, sumindo nos corredores.

Eu estava tão tonta e fraca que não percebi o que estava acontecendo. Luke desceu as escadas e foi em minha direção. Ele acariciou meu rosto e o afastei, com um tapa.

— Não... Não encoste em mim...

— Hum... O que é esta revolta, Thalia? - Luke segurou meu queixo e o levantou, me obrigando a olhar em seu rosto. - Você vai continuar aqui, minha querida.

O rosto dele se aproximou mais. Tentei me afastar, mas a dor tomou conta do meu corpo. Então, Luke me beijou. Foi o momento mais desgostoso de minha vida. Eu queria gritar, me soltar. Mas ele me segurava. Mordi a língua dele, e então ele me soltou, olhando para mim com um ar indignado.

Nico apareceu nas escadas, visivelmente alterado.

— ONDE ELA ESTÁ?!

— Não aqui... Talvez nem mais viva... Você terá que descobrir sozinho, Nicholas... - Luke deu um sorrisinho.

Então percebi o que estava acontecendo.

Ele havia levado Bianca.

Minhas pernas fraquejaram novamente e o mundo escureceu.
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Quando acordei, estava em uma carruagem, deitada no banco. Nico estava no banco a minha frente, em completo silêncio.

— Nico...?

Ele olhou para mim, aliviado e triste ao mesmo tempo.

— Você acordou... - disse ele, a voz rouca parecia estar fraca.

Sentei-me, devagar. As feridas não doiam tanto quanto antes, e eu estava com outras roupas. Senti meu peito e costas enfaixados. Minha cabeça pesava, parecia que tinha sido atropelada por uma carruagem.

— O... Que aconteceu...? Aonde estamos...?

— Numa carruagem... Indo para o castelo em que sua amiga está... Consegui contata-la e então ela mandou esta carruagem... Tirei você do castelo, e cuidei de você...

Fiquei em silêncio. Minha cabeça doía.

— Ele a levou, Thalia... Ele levou a Bianca... - Os olhos de Nico se encheram de lágrimas.

Permaneci em silêncio. Eu não sabia como consola-lo. Era minha culpa isso estar acontecendo. Bianca poderia morrer agora, por minha causa. Eu era um completo desastre. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

Nico sentou-se ao meu lado. Ele acariciou meu rosto e limpou minhas lágrimas.

— M-me desculpe, Nico... Eu sou apenas um estorvo na sua vida... - Falei, com soluços presos na minha garganta.

— Não foi sua culpa, minha princesa... - Nico me abraçou e fez carinho em mim. - Nós... Vamos achar Bianca. Eu acredito que vamos. E ela vai estar bem.

Abracei-o enquanto tentava parar de chorar, aos poucos. O peito quente dele, subindo e descendo lentamente conforme ele respirava, me acalmou e fui capaz de parar o choro. O balanço da carruagem estava me deixando com sono.

— Pode dormir, minha princesa... - Disse Nico suavemente. - Estou aqui com você.

E com essas palavras, pude fechar os olhos e dormir, ao seu lado.