Cold Spring escrita por letter


Capítulo 3
Elia Martell


Notas iniciais do capítulo

Chega o inverno, mas não chega atualização dessa história, é isso mesmo??!! Perdão a todos que aguardavam um novo capítulo. Mas agora, segue mais um.



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Elia Martell era uma moça boa e graciosa, obediente ao marido e respeitosa diante do seu papel na corte. Fizera tudo que lhe fora mandado desde muito jovem, bem diferente de seu irmão mais novo, Oberyn Martell, que sempre fizera questão de fazer o oposto do que lhe ordenavam.

Quando jovens, sua mãe levou ela e seu irmão por uma viagem a diversos nobres tentando encontrar pretendentes para os dois. Sua mãe, que tinha uma boa amizade com a Senhora Joanna Lannister, levou Oberyn e Elia para Rochedo Casterly com a ideia de casar um deles ou ambos com as crianças gêmeas da Senhora Joanna, Cersei e Jaime Lannister. Infelizmente, durante a viagem dos Martell para Rochedo Casterly, Joanna morreu ao dar à luz Tyrion Lannister e, quando chegaram, Tywin foi contra a proposta. Ele lhes disse Cersei casaria com Rhaegar Targaryen.

Elia não opinou - afinal ninguém questionara sua opinião sobre assunto, apenas aceitou e agradeceu aos deseus secretamente pelo arranjo não ter dado acerto. Aquilo era o que era, ela era uma moça em um mundo feito para homens, deveria aceitar e fazer como lhe mandavam.

Sem entender os motivos, poucos anos mais tarde, sua mãe lhe chamara para um chá no meio da tarde e entre uma xícara e outra lhe dissera que Elia ira se mudar para a capita de Westeros, e lá seria desposada por Rhaegar Targaryen, herdeiro dos Sete Reinos. Elia engasgou com chá quando a mãe lhe falara isso sem qualquer cerimônia, como se tratasse de qualquer assunto banal do dia a dia. A garota ficara vermelha e tossia todo o chá que percorreu o caminho errado até seu esôfago, foi um guarda que estava presente na cena quem a ajudou desengasgar. A Senhora sua mãe permanecia alheia à situação, mencionando a data em que embarcaria para Kingsland e advertindo sobre a necessidade de reproduzir um herdeiro o mais rápido possível, para assegurar sua posição.

Novamente Elia não foi questionada sobre sua opinião a respeito do assunto, apenas fizera como lhe foi mandada. E assim se mudou de sua casa para uma terra de costumes diferente, casara com um príncipe a quem mal conhecera e se tornara parte de um circulo que não a queria ali. Afinal, Elia via os olhares da Mão do Rei – Tywin, que por anos tentou casar a própria filha, Cersei, com o príncipe – e do pro Rei que sempre que possível comentava sobre os absurdos de um Targaryen despor uma mulher de outra casa, de outro sangue.

Mas Rhaegar, diferente de seu pai e de sua corte, era um jovem gentil. Tratou Elia com toda ternura que um esposo apaixonado trata sua mulher, se preocupava com seu bem estar e vez ou outra pedira sua opinião em assuntos de pequena importância. Rhaegar ficou ao seu lado quando Elia dera a luz Rhaenys Targaryen, e mesmo após as complicações do parto terem levado Elia a ficar um bom tempo acamada, a jovem Dornesa sempre tentara se manter o mais disposta possível para o marido e ficar ao seu lado aos fins de dias cansativos.

Quando Elia recuperou sua saúde, se esforçou para dar a Rhaegar um herdeiro homem, afinal, se sentia na obrigação de dar isso ao seu marido, não por ele ser o Príncipe de Westeros, mas pelo bom homem que ele era com ela.  E assim o fez, depois de horas de um trabalho de parto complicado e de quase perder sua vida para dar a luz a seu filho, Elia colocou Aegon Targaryen no mundo. Conseguiu ver os olhos de Rhaegar se encherem de lágrimas quando pegou seu herdeiro no colo e sentiu que todo o sofrimento valera a pena.

Elia Martell era uma moça boa e graciosa, obediente ao marido e respeitosa diante do seu papel na corte, fizera tudo que lhe pediram e agiu sempre como esperavam que ela devia agir. Achava que Rhaegar a amava, assim como ela aprendeu a amá-lo, e por isso a Dornesa não entendia porque estava vendo aquilo.

O Príncipe de Pedra do Dragão foi o campeão do torneio organizado pelo Lorde Whent, não foi uma surpresa para ninguém isso acontecer. A surpresa foi Rhaegar Targaryen receber como campeão uma coroa de flores as quais deveria coroar a Rainha do Amor e da Beleza, as quais Elia esperava receber, as quais todo reino esperava que ela recebesse... A surpresa foi ele passar direto por sua esposa, como se ela não estivesse presente, e entrega-la deliberadamente a Lyanna Stark.

Elia reprimiu um soluço e manteve a expressão firme. É claro que como futura Rainha de Westeros não esperava a fidelidade nata de seu marido, estava preparada para fingir que tal coisa não ocorria, seria discreta desde que seu marido fizesse o mesmo, mas Elia Martell acabara de ser humilhada diante de todos os Lordes de seu futuro reino.

— O quê?!— Oberyn ao seu lado não conseguiu se conter — Quem ele acha que é pra fazer isso com minha irmã?! – o rapaz fez menção de se levantar, mas Elia o segurou pelo punho.

— Futuro Rei de todos os reinos – respondeu ela com uma calma que surpreendeu a si mesmo — Agradeço a consideração que tem por mim, irmão. Mas Rhaegar não precisa responder a ninguém.

Um burburinho de vozes surpresas começou a rodear toda arena. Robert Baratheon que havia perdido o torneio e estava sentado em um banco de feno próximo a arena, se levantou com violência e jogou seu elmo no chão antes de dar as costas ao Torneio. Até onde Elia sabia, Lyanna era sua prometida para casamento.

Elia não conseguiu olhar, não queria ver se a caçula dos Stark recebera a coroa de flores com surpresa ou se já esperava. Não queria imaginar o que poderia ter acontecido entre os dois. Não queria pensar nos sentimentos que Rhaegar nutria por ela. Não queria pensar no que fizera de errado para que seu marido se sentisse a vontade para humilhá-la daquela forma.

Alguns Lordes e Senhoras começaram sair de seus lugares aos poucos, estavam todos bastante constrangidos pela Princesa, e Elia conseguia sentir os olhares sobre ela.

— Vamos – chamou Oberyn segurando sua mão. Elia assentiu e saiu de cabeça erguida e firme ao lado do irmão. Reprimia dentro de seu peito um grande soluço. A imagem de Rhaegar passando por ela como se não a conhecesse ficaria marcada em sua mente até seus últimos dias.

 

 

 

Houve um banquete à noite. Era a última noite do Torneio, e depois de algumas taças de vinho vazias as pessoas pareceram esquecer o que ocorrera naquela tarde. Todos pareciam satisfeitos pelos dias festivos, e pela perspectiva de dias melhores: O verão havia chegado, o Rei Louco seria substituído do trono por Rhaegar que conseguira o apoio de todos os Lordes presentes naquele salão, a colheita estava farta e o reino em paz.

Elia deveria ser a única pessoa naquele salão que não estava em paz. A Princesa estava sentada na mesa principal, seus filhos ao seu lado, e o lugar destinado ao seu esposo estava desocupado. A Dornesa percorria o salão com os olhos e também não encontrava Lyanna Stark em lugar algum.

— Alteza, posso acompanhá-la em uma taça de vinho?

Rickard Stark despertara Elia de seus devaneios. Ele era o atual protetor do Norte, ela sabia, um homem justo pelo que ouvira falar, e pai de Lyanna.

— Perdão, Senhor, eu não bebo – respondeu com delicadeza.

— Eu que peço perdão minha Senhora – o homem de feições fortes baixou a cabeça para a Princesa, parecia perturbado.

— Não há porque meu Lorde, muitos não sabiam – disse Elia com um sorriso — Tenho uma saúde frágil, preciso zelar por ela como posso.

— Não por isso Princesa, pelo ocorrido – Rickard Stark levantou a cabeça e olhou com seus olhos cinzentos diretamente pra os de Elia – Minha filha... Ela está prometida a Robert Baratheon, eu falei com ela, ela jurou por todos nossos deuses antigos que não tem nenhum envolvimento com o Príncipe, pediu para que eu deixasse que ela viesse pedir o perdão de Vossa Alteza pessoalmente pelo embaraço, mas eu preferi mandá-la de volta para casa com um de seus irmãos. Por favor, Princesa, entenda que ela não quis isso em momento algum.

— O senhor teme que eu vá fazer algum mal a ela por conta disso? – indagou Elia surpresa com o tom preocupado de Lorde Stark – Não sou como o Rei Louco meu Senhor. Já muito ouvi falar sobre sua honra e os princípios dos Stark, acredito em sua palavra.

— Vossa graça é tão boa como dizem – Rickard Stark fez uma reverência a Elia — Tenho certeza que seu reinado com o jovem Príncipe trará muita prosperidade aos reinos. Que os deuses a abençoem Princesa.

Rickard se curvou novamente a Elia Martell antes de deixá-la novamente em seu lugar.

É claro que fora sincera ao dizer que acreditara em sua palavra. Porém, nunca dissera que acreditara em sua filha.

            Ao fim do banquete, Rhaegar apareceu no salão, acompanhado de um dos membros da guarda real de seu pai, Jaime Lannister. Rhaegar cumprimentou todos presentes no salão enquanto o atravessava até a mesa principal, beijou o topo da cabeça de cada filho antes de sentar ao lado da esposa, segurou a mão de sua mulher, levou aos lábios e se manteve ao seu lado como se nada houvesse ocorrido.

            Elia se segurou para não indagar o marido. Diversas vezes abrira e fechara a boca sem nada conseguir dizer.

            Quando se retiraram para seus aposentos, Rhaegar ajudou-a se despir e vestir as vestes para dormir, em momento algum demostrou interesse em fazer mais do que isso.

            — Foram dias promissores – falou o príncipe se despindo — Meu pai não imagina o que está por vir. Claro que parte de mim se ressente ao tramar contra meu próprio sangue, mas preciso fazer o que é melhor para meu povo.

            Elia concordou. Tentara encontrar algum sinal de que demonstrasse que Rhaegar não a queria mais ali, de que não o amava. Mas ele não dera nenhum. O Príncipe se deitou ao seu lado, encostou seus lábios contra os dela, como sempre fizera em todas as noites que dormiam juntos, e se virou para dormir.

            Por um instante Elia começou a imaginar que Rhaegar não coroara a garota Stark porque a amava ou porque queria humilhar sua esposa. Talvez Rhaegar apenas a achara merecedora de tal nomeação, afinal, Lyanna Stark realmente era um beleza rara, Elia tinha que admitir. Talvez quisera agradar alguns Lordes ao mostrar que também presta atenção nos súditos de seu reino. Talvez ele realmente amasse Elia e tenha feito um agrado para o povo de seu reino, como sempre fizera.

            Elia conseguiu acalmar seu espirito com esses pensamentos e adentrar de forma mais serena em seu sono.

 

Mal sabia a Dornesa como estava errada.


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Notas finais do capítulo

A todos que leram, muito obrigada por tirarem um tempinho para tal, espero que tenham gostado :D



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