Herdeiro Imperfeito escrita por My Dark Side


Capítulo 1
Partida


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo!

Espero que gostem. A narração é em primeira pessoa, e o trecho em itálico no começo é a fala do rei a respeito da Seleção.

Eu espero que gostem e aproveitem!



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É com prazer que lhes dou a notícia de que mais uma seleção está para começar.

Depois de quase cem anos desde o último evento que levava tal nome, decidi trazê-lo de volta a vida. Então, preparem-se, senhoras e senhores, nosso príncipe atingiu a maioridade e por ventura já pode se casar.

Dou início a inscrição de homens para participar da seleção.

***

Nem sempre fui tão vaidoso, mas desde que anunciaram meu nome no sorteio decidi que seria melhor olhar-me mais no espelho. Devo parecer muito com minha irmã quando ela se apaixonou por seu atual marido.

Entrar em uma seleção não estava nos meus planos, além do mais, isto era um costume antiquado que apenas retornou depois da declaração do rei no Jornal Oficial.

— Meu amor, está quase na hora!

Minha mãe foi a primeira a me incentivar — ou seria obrigar? — a me inscrever neste evento que outrora considerara ridículo.

— Mamãe, eu tenho vinte anos, vai dar tudo certo. — desci as escadas e a abracei. — Não é como se eles ainda tivessem ataques rebeldes.

Ela fechou os olhos e me apertou. Alguns momentos eu acho estranho que minha mãe seja quase quarenta centímetros mais baixa que eu, sendo que o resto da família dela é tão alto quanto uma porta.

— Você tem que se comportar como um príncipe. E dar liberdade para o jovem também. Quero cartas falando cada mísero detalhe da sua viagem!

— Mãe, eu não estou indo para o fim do mundo, é só para Angeles.

Ela me encarou, os olhos azuis faiscavam irritados.

— Você continua sendo o meu bebê e vai fazer o que eu mandar. Agora vamos. — ela me empurrou para a porta, alegando que eu já estava mais do que atrasado, uma coisa estranha, já que ela iria conosco.

Meu pai seria o chofer — até que a profissão combinou com a ocasião, ele sempre gostou de dirigir carros, e era um dos únicos na cidade que fazia isso. Principalmente nesta cidadela perto de Winnis.

— Pronto para conquistar o coração da família real? — ele sorriu, me olhando pelo retrovisor. — A sua mãe só está esperando a sua tia chegar, sabe disso, né?

— Claro que sei, eu tenho que me despedir da minha priminha. Ela me mataria se soubesse que eu fui para o palácio sem falar com ela. — recostei no banco e me espreguicei. — São quantas horas de viagem?

— Duas para chegarmos na prefeitura, isso se o trânsito permitir. Na entrada da cidade nós vamos ter que mudar de carros.

— Por quê?

— Segurança, você tem que ir com o carro do governo e nós vamos lhe acompanhar. — ele levantou a boina que era possivelmente a sua parte favorita do falso uniforme. — Você não prestou atenção naquilo que lhe explicaram ao longo da semana?

Levando em conta a diversidade de pessoas que entraram e saíram da nossa casa... acho que não lembro o nome de ninguém.

Veio um homem tirar as medidas para as roupas que usaria no palácio, outro para reforçar as regras e um para perguntar se eu era virgem. Sério, agora eu posso imaginar o embaraço das meninas quando ouviram a última pergunta, eu fiquei em choque e minha mãe falou que nunca me viu tão vermelho, estava quase da cor dos cabelos do pretendente real.

— Filho, eu estou falando com você.

— O que foi?

— Você tem que colocar o cinto. — ele riu quando percebeu que eu dei um tapa na minha cabeça por ter esquecido algo tão simples, quando estava com meus pais me sentia uma criança na maioria das vezes.

Não que fosse um problema. Eu amo meus pais, minha mãe é a teimosia em pessoa e uma ótima tecedeira, os tecidos que ela faz são incríveis e o povo da cidade gosta. E o jeito estrangeiro que ela adquiriu com sua família faz ela ser autoritária quando quer e uma pessoa que vai te engordar se você for convidado para um chá. Perfeita descendência alemã.

Meu pai, no entanto, é apenas um carpinteiro que faz brinquedos para as crianças e móveis para os adultos. E em seu tempo livre ele age como chofer, ou dá carona para pessoas. Ele pode ser tão teimoso quanto a minha mãe se quiser, e acho que esse é o único motivo que levam discussões para a nossa casa.

Tirando, é claro, meu tio. E os gostos deles que são um pouco incompatíveis.

Nenhuma casa é totalmente calma, sempre tem que ter aquela implicância que traz risadas depois.

— Filho, você está com a flor da província?

— Eu acho que sim... é a pulsatilla, não é? — olhei para o bolso da blusa mais uma vez para confirmar, e a florzinha roxa estava ali.

Eu já tinha pesquisado a respeito da seleção durante muitos dias, enfurnado na biblioteca. Foi assim que descobri que o uniforme padrão de pessoas selecionadas é blusa branca e calça preta, talvez para nos mantermos iguais nas primeiras vinte e quatro horas, qual é a razão de usar uniforme apenas por um dia?

Encostei a cabeça na janela e comecei a pensar, tentar listar todas as regras e coisas afim. Manter a cabeça ocupada no silêncio.

Isso era uma coisa que minha mãe afirmava com todas as forças que puxei de meu pai. Naturalmente o silêncio era da sua família, ele foi criado Bankston, tão perto do polo norte que me pergunto se ele não conheceu o papai Noel quando era criança.

Fisicamente eu não sou parecido com meus pais, incrivelmente, sou uma cópia de meu avô — uma pessoa que eu gostaria te ter conhecido. Mamãe falou que ele começou a flertar com ela quando meu pai a apresentou, não no duplo sentido, apenas para atiçar a irritabilidade de meu pai.

Minha irmã descrevi os meus olhos como... Marshmallow na fogueira, minha mãe já garantia que eles eram iguais as penas de faisão. Isso era motivo de discussão entre as duas, por mais estranho que pareça.

Isso me faz lembrar do dia que a minha avó chegou para mim falando que meu cabelo parecia madeira queimada, para depois completar que era o mesmo modo que descrevia o do meu avô.

Então sou o rapaz com olhos de marshmallow na fogueira e cabelo queimado. Fico impressionado com a vasta descrição que meus familiares podem fazer de coisas tão simples.

— Kyan, chegamos, meu filho. — meu pai sacudia a minha perna, o que fez eu me desencostar do banco rápido e olhar para os lados confuso. — Você dormiu. Eu adoraria te carregar no colo, mas acho que você já está grandinho para isso.

Fechei os olhos com força e os esfreguei, tentando espantar o sono. Meu pai bateu a porta do motorista, isso me trouxe consciência de onde nos encontrávamos. Então saí do carro bocejando e ansioso para entrar no avião e dormir de novo.

Poderia prestar atenção nas palavras do prefeito, todavia, os cartazes eram mais chamativos e interessantes. Lê-los era uma das poucas coisas que estava me impedindo de dormir naquele mesmo momento. Em sua maioria meninas, elas estavam com cartazes incentivando e falando que eu era a coisa mais linda que eu já vi. Uma tinha feito um desenho embaraçoso de um possível beijo que ficou realista demais para a minha sanidade.

— E nosso selecionado, filho de Gregor e Valesca Wain, está recebendo todo o apoio de Deinbeigh. Palmas para Ryan Klaus!

Consegui segurar a careta, meu nome não era usado com frequência, e o som dele era estranho para mim. O prefeito deu um passo para trás e deu a entender que ele me deixaria fazer um breve discurso.

Nessas horas você tem que implorar para toda a natureza por um pouco de criatividade.

Subi no palanque e acenei para as garotas, a animação e o modo como se expressaram realmente me cativou. Deixei claro e enfatizado o quão feliz estava por receber tantos... gestos encantadores.

— Cedo ou tarde voltarei para vocês! — mandei um beijo para todos e saí, quase pulando do palco.

Minha prima já esticava os braços para mim, e a peguei no colo. Ela deveria estar com mais ou menos sete anos, e eu jamais me cansaria de fazer isso para colocar um sorriso em seu rostinho sofrido.

— Você vai me levar no palácio, não é? — ela agarrou o meu cabelo com as mãozinhas pequenas. — Você tem que prometer que eu vou ir no palácio para ver você!

— Eu juro, se você não for no palácio pode fazer quantas cócegas você quiser. — apertei-a e ela riu, isso me fez perceber que ela não estava tão mal depois de três dias diretos na cama.

Infelizmente, eu tinha que voltar para o carro e ir para Sota, onde eu iria entrar no avião para Angeles. A pior parte foi me despedir da minha prima, e da minha irmã que me contou o segredo do ano com um sussurro. Minha alegria era tanta que nas horas de viagem nas quais eu poderia ter dormido, eu fiquei cantando e conversando com o motorista sobre o quão incrível era tudo o que estava acontecendo.

Não fui o primeiro a chegar no aeroporto, tão logo meu carro estacionou e eu saí, já percebi que um dos selecionados ainda estava conversando com as pessoas e assinando cartazes. Já planejava fazer isso, por isso eu usei o meu tempo e um pouco mais para conversar com os ‘admiradores’, assim como gostaria de ter feito na capital da minha província — se o prefeito não falasse tanto, conseguiria.

— Qual é o seu nome? — o selecionado perguntou quando entramos no aeroporto e pela primeira vez no dia ficamos sozinhos.

— Kyan. — respondi sem hesitar, ele franziu as sobrancelhas. — Prefiro ser chamado assim.

Ele era... Forte, parecia fazer parte do exército, e não duvido que o fizesse.

— Sou Cherles Jewel.

— Minha irmã adora os designs das joias da sua família. — sorri, sua expressão e seu olhar faziam eu me sentir uma criança.

Peguei a papelada da seleção e sentei, ele pegou um livro e fez o mesmo. O silêncio era mais opressivo do que sua postura.

Eu estava quase desistindo de ficar sentado quando um rapaz tão agitado quanto um pássaro entrou. Ele olhava para os lados ávido, pálido e quando nos viu abriu um sorriso que quase saía de seu rosto.

— Amigos! — ele correu na nossa direção, tropeçou e caiu. — Então, como está a convivência? — sem se importar, ele apenas colocou o queixo nas mãos e continuou no chão. — Eu cheguei em cima da hora, não?

Durante a primeira meia hora, percebi que Zeno conversava por todos os selecionados. Ele perguntava e às vezes se respondia.

E, tristemente, seu falatório me impediu de dormir.

Quem estou querendo enganar? Foi realmente uma benção! Ele falava e as palavras me carregaram com ele antes do avião levantar voo.

Dormir era uma coisa tão boa... Eu poderia fazer isso por uma semana inteira que não iria reclamar. A cama, as cobertas, o frio e o chocolate quente da minha mãe para o café da manhã... Depois perguntam o porquê de eu amar o inverno, é precioso! Chocolate quente e cobertas, abraços e cama, combinações perfeitas. O inverno é uma estação que une as pessoas, uma estação calorosa — mesmo que isso soe contraditório. Ele é...

— Para com isso! Você está sendo pior que uma criança! Isso já ultrapassou o ridículo. — pulei com o susto, e encarei os rapazes que estavam do meu lado.

Zeno pareceu ter levado um tapa, ele estava piscando e franziu as sobrancelhas em confusão.

— Do que você está falando?

— Já não basta ter essa criança do meu lado roncando, você fica fazendo um monólogo. Cale a boca quando perceber que ninguém quer falar com você. — Cheles estava fazendo o possível para se manter calmo, mas as veias no pescoço estavam visíveis, e suas mãos estavam fechadas em punhos.

— Cherlie, você não precisava ter me acordado. Sem falar que nosso exímio companheiro estava apenas querendo conversar, eu estava com muito sono e você sequer trocou duas palavras comigo. A intenção dele é válida.

Isso fez os dois olharem para mim como se fosse a primeira vez que eu falasse com eles.

Oh, espera. Era a primeira vez que eu falava mais do que cinco palavras.

— Então diga um assunto que todos estejamos interessados. — Jewel arqueou as sobrancelhas duvidando da minha capacidade.

Eu tinha um assunto, muito importante. E não seria com ele que eu iria dividir.

— Nós vamos ter criadas ou mordomos no palácio?

— Creio que criados. Mordomos são aqueles que servem diretamente a família real. — Cherles respondeu sem pensar duas vezes.

— As criadas tem um olhar a mais para roupas e dicas de moda melhores. Sem falar que são elas que cuidam das vestimentas... — Zeno divagou. — Eu acho que teremos criadas.

A discussão se desenrolou pelos minutos restantes da viagem. Não nos tornamos amigos, apenas conhecidos.

Coisas que eles só saberiam quando se tornassem meus amigos:

1- Eu não gosto que me chamem de Ryan;

2- Minha mãe começou a detestar o rei quando anunciaram a seleção;

3- O príncipe não é de meu interesse, muito menos a coroa.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim e conhecemos três selecionados, Kyan, Cherles e Zeno.O que acharam? Há algo que possa melhorar?Obrigada por lerem!