Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 56
História de Alien (Bônus 4)


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo bônus. Espero que apreciem. :)



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Eu sei que tenho que pintar uma paisagem para o pequeno Alien que está a caminho, mas eu não tenho ideia do que fazer. A Sofia falou para que eu pintasse algo parecido ao quarto da Bianca, mas eu queria fazer alguma coisa diferente de uma savana. É lindo, mas não quero repetir. Talvez um pântano com jacarés? É um bom desenho, mas ficaria com cores um pouco escuras e não iluminaria bem o quarto. Estou fodido pra pensar nisso. Ela já está de seis meses e eu não tenho ideia do que fazer. Pelo menos já projetei o berço e os móveis. Uma preocupação a menos.

Eu também não sei o que deu na Bianca hoje. Ela está vasculhando tudo que é livro na sua estante e, como se não bastasse, veio para olhar na biblioteca.

—Filha, você está procurando algum livro? –Perguntei.

—Tô, pai.

Tem horas que eu esqueço que ela é minha filha e também não é muito comunicativa com as palavras. Preciso ser mais específico nas perguntas.

—Que livro você quer, minha pequena Alien?

—Algum livro com uma história de Alien.

—Uma história de Alien?

—É.

—Por que você quer uma história de Alien?

—Porque eu nunca ouvi nenhuma.

—Eu também não tenho nenhuma aí, minha querida. –Na verdade, eu até tenho, mas acho que ela ficaria um pouco traumatizada com histórias de aliens assassinos e maus. Um dia ela vai ler isso, mas eu ainda não quero que ela nos odeie por tê-la apelidado de Alien por quase ter rasgado a Sofia de dentro para fora.

—Nenhuma? –Ela perguntou, tão cabisbaixa que me partiu o coração.

—Nenhuma, amor. –Eu falei, me levantando da minha cadeira e a pegando no colo. –Mas, se você quiser, papai pode ver se acha algum livro assim para você. Você quer?

—Com histórias de aliens?

—Com história de aliens.

—Quero.

—Então está ótimo. Papai vai procurar para você. Agora, não se preocupe com isso, e vai brincar, querida.

Eu a coloquei no chão e ela, me olhando com um sorriso no rosto, abraçou minhas pernas.

—Te amo, papai.

—Também te amo, minha querida. –Falei, bagunçando o cabelo dela.

Ela saiu correndo para brincar com a Titília e eu fiquei para tentar arrumar a merda que fiz. Duvido achar alguma história assim, mas vamos tentar.

Peguei o notebook e passei quase duas horas procurando algum livro infantil de extraterrestres, mas nada. Tinha alguns para adolescentes, mas só com aliens maus.

—Merda! –Xinguei, fechando o notebook.

—Sabe que sua filha é um Alien silencioso, não sabe? Depois não venha me culpar quando ela começar a xingar assim. –O Moacir falou, se sentando na outra poltrona.

—Onde ela está, Moacir?

—Rodeada por seus aliens e pela Titília.

—Ela gosta mesmo de aliens, não é?

—Com um apelido como esse e você incentivando comprando aquelas pelúcias, o que queria?

—Você também já comprou. Não negue sua culpa.

—Eu não nego, mas vocês viciaram ela nisso. O Outro bebê vai ser o quê? Monstros?

—Eu ainda não sei. Ainda estamos chamando ele de pequeno Alien, mas ele é mais calmo que a Bianca, segundo a Sofia. Teremos que achar um outro apelido.

—Se bem conheço vocês, vocês irão arrumar um apelido estranho também e uma coleção de brinquedos pior ainda.

—Estou começando a me arrepender de ter arrumado Alien para a Bianca.

—Por quê?

—Ela cismou que quer história de aliens e eu não acho nenhum livro infantil sobre isso.

—Claro que não! Vocês são os únicos pais perturbados para isso.

—Começo a achar isso.

—Se não tem um livro para comprar, crie um. Você não terá dificuldades para as ilustrações.

—Criar um? Eu não tenho imaginação para isso.

—Não pode ser piores que os livros de hoje para crianças. Aquilo é muito chato!

—Você acha que daria certo?

—Dá. Nada pode ser pior que ela te pedir um livro com esse tema.

—Pode ser.

Eu peguei um velho caderno de couro, que eu tinha guardado e nunca usei, para começar com a história. As folhas eram mais grossinhas e ideais para desenhar. Eu, primeiro, esbocei a ideia num papel qualquer. Eu pensei em fazer a história de um alien, chamado Marciano, que era solitário e abduziu uma vaca para lhe fazer companhia. Eles podem viver aventuras pelas galáxias. Pode dar certo. Posso arrumar um dispositivo em que a vaca comece a falar, mas que nome eu dou para ela? Eu tinha um tio avô que tinha uma vaca chamada Roberta, Berta para os íntimos, mas acho que pega mal colocar esse nome. A Sofia tem uma prima que se chama Roberta. Criança tem a língua solta e se a Bianca soltar isso para ela eu estarei fodido. Vai Mimosa, dane-se que não é original. Eu sou ilustrador, não escritor.

***

—O que o meu tio tanto faz que nem foi me cumprimentar quando eu cheguei. –A Mariana apareceu da porta e me tirou das minhas ilustrações.

—Oi, Mariana. Não ouvi você chegar. Você chegou agora?

—Tem tempo já.

—Que horas são?

—Quase oito.

—Quê?!

—Quase oito. O que você está aprontando, hein, senhor Animal?

—Apenas alguns desenhos.

Ela se aproximou de mim e me abraçou por trás, se inclinando para ver o que eu estava fazendo na mesa.

—Você está desenhando uma vaca sendo abduzida? A sua filha está te influenciando tanto assim com essa fixação por aliens? E porque o seu alien é laranja com o cabelo e um cavanhaque verde? –Ela perguntou, rindo.

—Cinza é uma cor tão sem graça. E eu nunca gostei dos aliens não terem pelos no corpo. O Don Marciano aqui é um alien das antigas com um cavanhaque chique.

—Tio, o que é isso?

—A Bianca quer uma história sobre aliens e eu não achei nenhum livro. Culpe o seu pai por isso. Ele me deu essa ideia.

—Você está escrevendo uma história para ela!

—Parece.

—Posso ver?

—À vontade.

Ela pegou o caderno e começou a folhear. Eu já tinha escrito umas dez páginas onde mostrava o Marciano solitário e a Mimosa não se encaixando com as outras vacas. Eu parei na parte onde ele a abduzia para levá-la para o seu planeta.

—Isso está fantástico, tio!

—Se estivesse fantástico, você não estaria rindo.

—Eu estou rindo do seu senso de humor. Você desenhou o Alien como um cavalheiro dos anos 20. Até terno e bengala seu alien usa!

—Ela também gosta de História. Não é porque o Marciano é um alien que ele não possa ser elegante.

—Posso ajudar?

—Eu adoraria. Minha mente já está falhando e estou ficando sem ideias.

Logo depois do jantar, eu e a Mariana nos sentamos na biblioteca e demos continuidade para a história. Fizemos um dispositivo em forma de sino para pendurar no pescoço da Mimosa e ela falar. Ela e o Marciano foram para o planeta dele e ficaram muito felizes correndo pelos campos de milharais roxos com espigas azuis. A Mimosa estranhou, mas entendeu que era diferente por ser um outro planeta, mas o gosto se mostrou ainda melhor. Eles construíram uma casa e passaram a morar juntos como melhores amigos. Fim da história, mas ainda sobrou muitas páginas que a Mariana sugeriu que eu fizesse mais aventuras de Marciano e Mimosa.

—Você vai dar isso para a Alien agora?

—Agora não. Ela já está dormindo e eu não quero acordá-la. Eu até acho que devia ir dormir. A Sofia já está uma fera comigo por ainda não ter deitado e nem ter deixado ela ver o que estávamos fazendo.

—O João também deve estar meio puto comigo. Eu nunca demoro para ir dormir.

—Você me ajuda com as próximas aventuras da Mimosa e do Marciano?

—Sempre. Foi divertido fazer isso. Me lembrou quando eu era criança e nós desenhávamos juntos.

—Foi divertido.

—Boa noite, tio Rick.

—Boa noite, Mari, na verdade, bom dia. Já é quase duas da manhã.

—Bom dia, então.

Cada um foi para o seu lado e eu, com o livro nas mãos para guardar no meu quarto, entrei de mansinho para não acordar a Sofia, mas não deu muito certo.

—Isso são horas, Ricardo? Amanhã quem tem que aturar seu mau humor por não ter dormido bem sou eu.

—Me desculpa, meu amor. –Falei, colocando o livro na cabeceira e me deitando na cama a puxando para se encostar em mim.

—O que você e a Mariana estavam aprontando? Algum projeto secreto de design ou arquitetura?

—Um livro de histórias infantil.

—Livro?

—A Bianca quer um livro sobre histórias de aliens. Não achando nenhum, eu criei um.

Eu peguei o caderno e entreguei para ela ver. Nunca vi a Sofia dar tanta gargalhadas na vida. Ela riu tanto que eu achei até que fosse acordar o resto do pessoal.

—Jura que isso é sério?

—É. Será que a Bianca vai gostar?

—Ela vai amar isso, especialmente o Marciano. Esse bigode e barba verde estão geniais.

—Podemos dar para ela amanhã quando acordar.

—Podemos, mas você sabe que ela vai querer que a gente leia assim que colocar os olhos nisso, não é?

—Eu não me importo de atrasar o café meia hora.

—Nem eu.

Eu dei um beijo nela e outro em sua barriga e fomos dormir. Eu estava morto e com a minha coluna queimando de passar o dia todo sentado e desenhando. Amanhã valeria a pena para ver o sorriso da minha Alien.

***

A Bianca surtou com o livro. Eu e a Sofia tivemos que nos sentar no sofá, com ela no meu colo, para ler o livro. Eu fiz a voz do Marciano e a Sofia da Mimosa. Ainda tivemos que prometer ler novamente aquilo à noite. Eu vou ter que criar mais histórias para não ficar muito repetitivo.

Um problema resolvido, eu fui para o outro: Hoje eu começaria a pintura no quarto do bebê de qualquer jeito, mesmo não sabendo ainda o que vou fazer.

Peguei um livro sobre ecossistemas e comecei a procurar alguma coisa. Pensei em fazer uma revoada de araras na Amazônia. Estava até rabiscando um esboço já quando uma pequena Alien veio se esgueirando e subiu no meu colo com o caderno na mão.

—Gostou do desenho do papai, Bianca? –Perguntei, apresentando o desenho que pretendia colocar na parede.

—É bonito.

—Esse vai ser o desenho do quarto do seu irmãozinho. O seu é uma savana com leões e zebrinhas, do seu irmão terá araras.

—Faz um milharal, papai.

—Um milharal?

—É, vai ficar mais bonito. –Ela abriu o caderno e mostrou o meu desenho do Marciano abduzindo a mimosa. Entendi.

—Você prefere esse?

—Prefiro.

A Sofia vai me matar e o Moacir vai me encarnar até minha morte, mas não consigo negar nada para a minha filha e, se ela quer que eu desenhe uma abdução de vaca como paisagem na parede do irmão, eu desenharei uma abdução de vaca.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Se quiserem, deixem vossa opinião, sugestões e/ou críticas.
Obrigada por lerem!
Um forte abraço e até mais!



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