O dia não estava bonito.

O céu era cinza e o Sol se escondia por detrás das nuvens, o amanhecer nunca foi o melhor período do dia pra Alexia.

A garota acreditava fielmente que o motivo era que nunca gostou de acordar cedo, sempre levantava da cama no último instante e aos berros da mãe.

Ela se arrumava para ir à escola, era seu segundo dia.

Durante o tempo que havia morado com o avô, Alexia não tinha frequentado a escola. Talvez, porque não queria encarar todos aqueles olhares de pena ou, porque passava cada instante do dia treinando arduamente e investigando a criatura que havia matado os pais.

A garota nunca mais havia falado com as amigas depois daquela noite. Nem ela mesma entendia seus motivos para ter se afastado, talvez, todo o sofrimento não a tenha feito pensar direito sobre suas decisões.

Agora, refletindo sobre tudo que havia acontecido em sua vida, sabia que ter afastado as amigas não tinha sido a melhor de suas ideias.

Sentia falta de sua escola, do último ano que poderia ter tido, sentia falta principalmente de todas suas amizades.

Balançou a cabeça para afastar seus pensamentos. Não adiantaria nada se arrepender agora, não agora.

Aqui em Beacon Hills, ela iria pra escola. Tanto por honestamente querer terminar o Ensino Médio, e por principalmente, querer vigiar de perto o pack de Scott McCall, por isso que havia se matriculado no segundo ano, mesmo fazendo 18 este ano.

Alexia estava encostada em sua Mercedes, estava parada, apenas esperando o primeiro sinal tocar.

Olhando para aqueles calouros, para aqueles adolescentes com vidas normais... Ela sentia inveja. Sentia inveja da vida tranquila que levavam. Quem dera se ela tivesse uma vida assim novamente. Quem dera.

– Então... – a garota foi tirada de seus pensamentos por um garoto moreno entrou na sua frente

– Sim?

– Holmes, hein? – ele deu um sorriso convencido.

– Que?

– Tipo... Sherlock Holmes?

– Ah... Esse Holmes... – a garota riu suavemente, o que já fez aumentar as expectativas do garoto.

– E você gosta?

– Dãr. – a menina falou como se fosse óbvio. Era uma vampira que havia perdido os pais, mas não o bom gosto.

– Cara... Você é muito gata! Talvez você devesse ir lá em casa pra gente assistir...

Alexia revirou os olhos, e nem deixou o garoto terminar sua frase, havia visto sua mente.

– Eu recuso.

Lydia andava em direção à escola, mas a cena da garota nova revirando os olhos chamou sua atenção.

Quando o garoto, que aparentemente havia tido uma resposta negativa, se afastou, a ruiva se aproximou de Alexia.

– Garotos... – ela fingiu uma voz de deboche.

– Quase todos iguais. – a vampira sorriu.

– E tão gostosos! – fazia tempo desde que a ruiva não era tão espontânea.

– Nem me fale! – Alexia choramingou. – São perfeitos até abrirem a boca.

As duas riram por alguns segundos, sem que houvesse um clima constrangedor depois dessa breve conversa, Lydia acenou para vampira e disse que se veriam mais tarde.

A banshee caminhava até o lugar onde os amigos disseram que iam estar, Alexia seguiu a ruiva com cautela.

Não que estivesse apenas usando a garota, havia tido uma enorme simpatia por Lydia, mas não poderia se desviar de seu objetivo.

– Nós vamos hoje. – Scott disse.

– Pra onde? – Lydia, que acabara de chegar para ouvir a conversa, perguntou confusa.

– No hospital. Às 20. – Stiles disse.

– Vamos ver os corpos. – o Alfa explicou para a amiga.

– E nós podemos fazer isso? – Kira perguntou, precavida.

Os dois amigos se encararam ao se lembrar de como haviam pedido para os respectivos pais para que os deixassem ter mais conhecimentos sobre as mortes, o xerife e a enfermeira sabiam que mesmo que não permitissem os garotos iriam dar um jeito de invadir o necrotério, então, aceitaram a ajuda dos seus filhos.

– Sim... Minha mãe e o xerife estarão lá. – Scott falou tranquilizando a namorada.

– E vocês já conseguiram falar com o Derek? – Malia perguntou.

– Ainda não... – Scott disse. Já estava começando a ficar preocupado.

– Ele sumiu... Não atende nem as ligações. – Stiles disse.

‘Quem era Derek?’, a vampira pensou. Havia escutado a conversa inteira.

Quando o sinal tocou, a turma de amigos se dispersou, assim como a Alexia, que já sabia o que faria esta noite.

Depois de três dias, Derek voltava para seu loft.

Havia ficado esse tempo longe de qualquer civilização, não encontrava o motivo, só queria estar sozinho, sem qualquer coisa que o atrapalhasse.

Percebeu que deveria ao menos ter levado o celular quando viu mais de 40 mensagens de Stiles e 19 ligações de Scott, só poderia ter acontecido algo ruim ou só estivessem com saudades, mas duvidava muito disso.

“Derek”

“Derek!”

“Derek!!”

“CARA!”

Eram basicamente 40 mensagens com apenas este conteúdo.

O lobisomem revirou os olhos... Stiles.

Não poderia sumir por três dias, apena três dias... E já havia novos problemas.

Olhou para o relógio, eles ainda estavam em aula.

Mas, não se importou.

Stiles teve que pedir licença para a professora quando seu celular começou a vibrar repetidamente sobre sua mesa.

– Finalmente! – o humano falou bufando.

– O que foi, Stiles? – Derek o ouviu murmurando baixinho para si mesmo: “Que mal educado”.

– Cara... Onde você estava? – Stiles soltou um grunhido. – Ah... Esquece!

– Tá... Era só isso? – o lobisomem falou impaciente.

– Não... A gente precisa que você vá para o hospital hoje... Ás 20.

– Por que...?

– Houve dois homicídios nas últimas semanas...

Derek suspirou.

Será que nunca acabaria?

– Tá bom. – disse simplesmente e desligou.

Stiles olhava incrédulo para o celular que tinha em mãos. Derek havia desligado a ligação na sua cara.

Alexia estava na sala ao lado e tinha ouvido toda a conversa.

Por que aquele Derek era tão importante?

Na aula de matemática, a vampira e a coiote foram mandadas pela professora para resolver o exercício no quadro.

Alexia resolvia a questão sem tantas dificuldades, agora era muito mais fácil guardar suas memórias e conhecimentos, e na escola, sempre tinha sido uma aluna muito inteligente.

Vendo que a coiote permanecia apenas segurando o giz, sem realmente encosta-lo na lousa, resolveu ajuda-la.

Começou a lhe falar toda a resolução do problema, sem olhar para a garota, que se surpreendeu com a atitude da vampira. Alexia disfarçava enquanto fazia seu exercício.

Era como se ela nem estivesse fazendo duas contas ao mesmo tempo.

Quando se sentaram novamente em seus lugares, Malia lançou um olhar de agradecimento para a garota nova.

A coiote também não conseguia mais duvidar dela.

Não que Alexia quisesse ser a garota mais popular ou cheia de amigas, porque afinal, ela estava aqui por outros motivos mais fortes, mas nem por isso devia deixar de tentar de ter apenas um relacionamento amigável com as pessoas.

– E a garota nova? – Stiles perguntou na hora do almoço.

Ele ainda não conseguia deixar de questionar a sua repentina chegada tão perto daquelas mortes que aconteciam.

– Ela... Não me pareceu culpada. – Malia disse baixinho.

– Mas é óbvio que ela não vai parecer culpada. – o namorado retrucou.

– Stiles... – Lydia começou, mas foi interrompida por Kira.

– Nós ainda estamos investigando, certo?

– Eles sempre cometem um erro, Stiles. – Scott falou tentando acalmar o amigo, o lembrou com as palavras que o xerife Stilinski sempre falava.

Alexia não esperava que o pack não desconfiasse dela.

Quando finalmente deu oito horas da noite, todos estavam reunidos no necrotério do hospital.

Ficaram espantados com a aparência dos corpos. Eles estavam muito pálidos, mais pálidos que o normal para pessoas mortas. Melissa dissera que ambos os corpos não haviam tido tempo para terem chegado a tal estágio de palidez. O que mais assustava e intrigava todo o pack eram os olhos, estavam todos pretos e opacos.

A autópsia havia revelado que os corpos estavam sem sangue e que as vítimas haviam morrido sufocadas, mas nem havia alguma perfuração no corpo ou a causa da falta de ar.

Scott estava temeroso com a ameaça de algo muito maior do que seus poderes de Alfa poderiam enfrentar.

Alexia havia ficado intrigada com o fato de não haver sangue nos corpos das vítimas, o mesmo não tinha acontecido com os pais. Não lhe sobravam dúvidas que era a mesma criatura, mas aquela informação a deu mais o que pensar.

– E então, Derek? – Scott perguntou, querendo ter um mínimo de esperança.

O lobisomem mais velho tentava se lembrar de onde havia visto algo parecido com isto, até tinha uma ideia, mas lhe parecia tão absurda.

– Pode soar bem estranho.

– Depois de ser possuído por um espirito maligno? Acho que não. – Stiles disse impaciente.

Derek suspirou para falar, mas foi interrompido por Chris Argent que entrava pela porta.

– Vampiro. – ele disse de uma vez.

Todos se encararam.

Vampiro?

Depois de lobisomem, kitsune, banshee, coiote, não demoraria muito para aparecer um vampiro também.

– Mas não é um vampiro comum. – Derek complementou.

– Não. – Argent concordou. – Ele é diferente.

– Como você sabia? – Scott perguntou.

– Já quase enfrentei um antes... E eu vi suas mensagens.

– Vampiros... – a mãe de Scott havia falado com a mão no peito.

– E tem algo que podemos usar ao nosso favor? – Kira perguntou.

– Freixo, roseira silvestre... – Argent falou, mas sua voz sumiu aos poucos. – Mas, como eu disse, não é um vampiro comum.

“Não, não era”, Alexia pensou.

Ficou preocupada ao saber que já desconfiavam de um vampiro, não demoraria muito para chegarem a conclusão de que é um bruxo, por isso deveria encontra-lo o mais rápido possível.

– Ainda não entendo porque seus olhos ficam dessa cor. – Lydia falou.

– Isso é algo que ainda temos que descobrir. – Scott falou determinado.

– Scott... Vampiros são poderosos, e este... Parece ser ainda mais. – Argent falou cauteloso.

“Sim, por favor, Scott. Se afaste.”

Era tudo que a vampira pedia.

– Não posso deixar que continue matando assim.

– Os Mager. – Derek falou com o olhar ainda vago.

O coração de Alexia parou de bater por um segundo quando ouviu o nome de sua família.

“Por favor, não cheguem tão perto.”

– Que? – Stiles e Malia perguntaram juntos.

– Uma família de vampiros. – ele continuou. – Que eu saiba, eles não caçam muitos humanos, são a linhagem mais pura dessa espécie.

– Acha que eles poderiam saber de algo? – Parrish se pronunciou pela primeira vez.

– Não sei... Faz tempo que não ouço falar de um Mager. – Argent disse.

– Podemos tentar. – Kira disse esperançosa.

– E a garota nova? – Stiles perguntou.

– Que garota nova? – Derek perguntou confuso.

– Ontem entrou uma garota na escola... – Lydia falou dando os ombros.

– Ela chegou um dia depois da segunda morte. – Scott disse.

– Não parece ser uma coincidência feliz. – o lobisomem mais velho cruzou os braços.

Ela bufou.

Não queria ser a principal suspeita, mas sabia que no lugar deles também pensaria desta forma.

No dia seguinte, Alexia percebera os constantes olhares longos que Scott lançava para ela. E Kira também.

– Para de ficar encarando tanto.

– Tem algo de estranho com ela.

– O lunático que esta a olhando a cada dez segundos é você. – Lydia falou sarcástica.

– Ela não tem amigos. – Malia falou olhando para a garota que estava encostada na parede, usava fones de ouvido e via algo no celular.

Mas, Alexia ainda conseguia ouvir a conversa dos amigos.

– Parece que ela é uma pessoa que não quer ter amigos. – Stiles falou dando os ombros.

– Eu duvido. – Lydia falou.

Alexia sentiu seu coração apertar ao se lembrar das amigas.

Já tivera tantos amigos. Sentiu sua garganta se fechar e seus olhos arderem, ela iria chorar.

Então, ela ergueu sua cabeça e apertou as mãos em punho.

Isso só a fez ficar mais determinada.