Underground escrita por Isa


Capítulo 11
8 de Abril


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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8 de Abril de 2011 – 1:00

 

            Estou adentrando a madrugada para continuar a escrever, quero pôr tudo o que aconteceu hoje no papel de uma vez.

 

            Quando finalmente nos reunimos, mais tranqüilos, na cabine onde ficava o controle da barca, para que assim ninguém tivesse que ficar de fora, começamos falando do que devíamos fazer, mas eu acabei não prestando muita atenção porque não conseguia tirar da mente o ferimento de Sofia. Será que ninguém falaria nada? E não era o tipo de coisa que eu gostaria de levantar discussão, ainda mais eu que entrei no grupo havia pouco tempo.

 

            O praticamente óbvio foi decidido: seguiríamos com a barca até a outra cidade, distante uns cem metros. E, antes de anoitecer, iríamos dar uma olhada no lugar, quem sabe houvesse algo de útil por ali.

 

            - O que haveria? – perguntou Blake – Acho que as pessoas que estavam aqui ou se mandaram faz tempo, ou se deram muito mal. Como poderiam se preocupar em deixar alguma coisa?

 

            - Sei não... – começou Josh – Já perceberam que não achamos nada aqui mais para dentro? Só aquela secretária maluca, mas devia haver mais gente, não acham?

 

            - O que está sugerindo? – perguntou uma loira, lembrei que o nome dela era Jay, a que havia falado que todos queriam Sofia como líder quando houve a reunião sobre o assunto.

 

            - Que talvez, considerando que isso tudo seja coisa do governo, algumas pessoas mais ‘informadas’ e ‘influentes’, mais ricas de preferência, tenham estado cientes do que era pretendido.

 

            - Como uma teoria da conspiração? – disse Johnny.

 

            - Isso aí! Bem, só que não é ninguém contra nosso país, é nosso país contra a gente. Então pelas barcas eles tiraram as pessoas mais importantes da mira do gás! Quem sabe tenham deixado a secretária só pra disfarçar, entendem?

 

            - Já viu ‘Sob o Domínio do Mal’, não é, garoto? – falou Ethan.

 

            - Já, mas isso não vem ao caso.

 

            - Ok, Denzel Washington, mesmo se for realmente  isso, não temos como saber até chegar à cidade.

 

            - Claro que temos, porque se estas barcas foram destinadas para essas pessoas se salvarem, provavelmente há algum alimento, bebida e até algo relacionado ao que aconteceu!

 

            Quando ele acabou de falar ficamos todos olhando-o, um tanto admirados e ao mesmo tempo assustados. Acho que posso falar por todos quando digo que pensei: “Ora, não é tão impossível. Estamos fugindo de zumbis sanguinários que já foram gente, por que o governo não pode simplesmente ter escolhido quem salvar?”. Pensando daquele jeito parecia até óbvio.

 

            - Certo, - quem falou foi Sofia – quando formos explorar a barca vamos procurar algo mais... relevante, além de mantimentos básicos. Agora... – ela pareceu pensar bem antes de falar – Eu fui mordida por um Infecto, como aposto que muitos perceberam.

 

            Todos ficamos em silêncio. Claro, ninguém queria ter que falar daquilo, mas era inevitável.

 

            - Eu sou imune ao vírus pelo ar, mas já vi pessoas com tendência semelhante à minha sucumbirem pelo vírus transmitido diretamente da mordida.

 

            - Não há nada que possamos fazer, caso você comece a transformação? – perguntei. Se já era horrível ver pessoas boas sendo mortas por zumbis, imagine ver alguém como Sofia, sempre tão confiante e ajudando-nos, se transformar num daqueles seres?!

 

            - Nunca tivemos alguém no grupo que pudesse tentar entender o vírus, nenhum de nós era cientista ou coisa parecida. Acho que não achamos nem médicos. Isso até me faz considerar a idéia do Josh. Se for coisa do governo, em vez de pessoas ricas e influentes, eles tiraram daqui médicos e cientistas para que não houvesse chance de um antídoto para quem ficou.

 

            - Mas isso é terrível! – Blake falou, quase num sussurro.

 

            - E como eles tirariam tantos profissionais daqui sem que ninguém percebesse? – indagou Johnny.

 

            - É uma cidade grande, as pessoas estão sempre apressadas. Sem falar que podem ter feito isso aos poucos. – sugeriu Sofia.

 

            - Mas nesse caso os nossos hospitais estariam vazios. – falei – Não acho que se isso acontecesse os habitantes ficariam calados.

 

            - Às vezes eles deixaram só médicos com menos probabilidades de desenvolver a cura. – disse Josh – Não se esqueça que não basta ser um médico qualquer para entender disso.

 

            - Você tem uma imaginação incrível. – falei.

 

            - Vindo do governo dos Estados Unidos isso nem parece muito. – ele deu de ombros – Já pensou em quanto eles devem armar no Pentágono?

 

            - Josh, - disse Sofia – às vezes você parece ser melhor líder que eu, pelo menos na hora de montar esquemas.

 

            - Que nada, só vejo muitos filmes.

 

            - Mas o que faremos com esse seu ferimento, Sofia? – perguntou Jay preocupada.

 

            - Vasculhemos a barca, caso a teoria de Josh esteja certa e tivermos muita, mas muita sorte mesmo, tenham deixado algum antídoto pra trás. – falou Sofia, demonstrando ter tanta fé na solução quanto todos ali. Nossa sorte até agora não havia sido tão boa assim.

 

            Mas lá fomos nós, todos os doze – achamos melhor que Sofia não participasse da busca, na verdade, por ordem dela a deixamos trancada numa cabine que era um pequeno quarto – atrás do antídoto, se é que havia algum.

 

            O lugar era pequeno, então acabamos de revistá-lo rápido e, não tendo achado nada, exceto mantimentos alimentícios,  pensamos que não havia mais chance, só podíamos contar com a imunidade de Sofia. Mas Johnny percebeu algo do lado descoberto da barca, no convés. Estávamos nós dois desolados quando ele deu uns passos para voltar para dentro e parou no meio do caminho. Percebi uma mudança de sons nos locais onde ele pisou.

 

            - Aqui é meio oco, não é? – comentou ele, pisando novamente onde estava e depois um pouco mais a frente. Em seguida murmurou para si – Mas não devia ser tanto assim, considerando que não é muito grande...

 

            Ele então se agachou e apalpou a área de onde viera o som mais oco. Quando ele pisou percebi o mesmo que Johnny, então me pus a ajudá-lo e encontramos quatro frestas; um quadrado no chão. Já que meus dedos eram mais finos e minhas unhas compridas, enfiei-as nas frestas e consegui puxar o quadrado – que se revelou como sendo uma tampa – e abrir uma espécie de compartimento escondido.

 

            Sorri ao ver o que tinha dentro; duas caixas de papelão lacradas, e nelas escrita apenas uma palavra: antídoto. Johnny me olhou, também sorrindo, em seguida levantou-se e chamou os outros, falando que encontrou.

 

            No minuto seguinte estávamos junto à Sofia, dando-lhe o antídoto para tomar. Seu consumo era oral, conforme vinha indicado no pote – não havia bula.

 

            - Agora só nos resta esperar. – disse um loiro dentre os ‘veteranos’ do grupo agora liderado por Sofia. Esta, que parecia conformada com o que quer que lhe acontecesse, não parecia nem um pouco nervosa. Pediu, depois de nos agradecer, para a deixarmos deitada no quarto dormindo um pouco, precisava descansar.

 

            E enquanto todos se reuniam numa cabine apertada da barca onde havia uma mesa para comerem, eu, sem fome, fui para fora ficar na amurada da barca.

 

           Pela claridade devia ser algo entre meio dia e uma e meia. Estava sem relógio e sem ânimo para sequer pegar o celular. Só queria chegar e ver que estava tudo bem na outra cidade, ficar um tempo na casa dos meus pais até poder alugar um apartamento para mim... Ou simplesmente pediria indenização ao governo, o que era o mais provável, já que agora estava desempregada – o jornal onde trabalhava não devia mais estar funcionando, era pequeno e só tinha sede no lugar onde houvera a praga de zumbis.

 

            - Tudo bem aí? – alguém se juntou a mim na amurada, me virei e vi que era Blake.

 

            - Na medida do possível.  – respondi meio temerosa. Quem garantia se agora que estava tudo aparentemente calmo novamente ela não daria um ataque comigo por causa do Johnny? Mas já que eu sabia que ela acabaria puxando pra esse assunto esperei que a própria Blake continuasse a conversa.

 

            - Falei com Johnny. – Bingo! O que eu disse? – Ele parece mesmo estar gostando de você então pensei: ora, que se ferre! E já que nossa relação desde antes disso tudo já não estava mais essas coisas resolvi deixar pra lá.

 

            - Deixar pra lá?

 

            - É, terminamos tudo, eu e ele. Depois de ter sobrevivido a essa coisa toda de zumbis quero mais é sossego e recomeçar a minha vida.

 

            - Então...

 

            - Pois é, vocês podem ficar juntos. Sem culpa, sem ressentimentos. – ela estendeu a mão e eu aceitei o cumprimento, apertando-a. Ela parecia estar realmente sendo sincera. – Vou entrar, Johnny disse que procuraria você para conversarem então ele não deve demorar a encontrá-la.

 

            Ela começou a se afastar quando eu a chamei e, quando ela virou-se para mim, falei sorrindo:

 

            - Valeu mesmo, Blake. E boa sorte. – ela sorriu também e entrou.

 

            Me virei novamente e fiquei olhando a cidade à frente, longe demais para se ver algum movimento, mas quando a noite caísse poderíamos obviamente ver se as luzes se acenderiam. Se acendessem, ótimo, caso contrário acho que preferiríamos ficar na água.

 

            Conforme Blake dissera não demorou muito para Johnny chegar até mim. Ele sorria, provavelmente satisfeito com o rumo que a situação tomava. Parou no lugar onde alguns minutos antes estivera Blake. Eu não resistia e já sorria, sabendo mais ou menos o que ele falaria.

 

            - Ah, ela já esteve aqui? – perguntou ele, vendo minha expressão.

 

            - Já, na verdade não sei como custou a me encontrar num lugar tão pequeno.

 

            - Não vim falar com você de imediato, parei pra comer alguma coisa. Mas indo direto ao assunto: o que me diz, afinal?

 

            Não falei nada, só me aproximei e o beijei. Tudo parecia em paz finalmente, não havia mais nada entre Johnny e Blake, o que custava dar uma chance àquilo tudo?

            - Hum, acho que isso é um 'ok'. - ele sorriu, me abraçando e voltamos a nos beijar.

 

 

            O resto da tarde foi ótimo, e à tardinha foi quando ficamos ansiosos. A noite se aproximava e com ela a confirmação. Se as luzes acendessem estava tudo ok, caso contrário...  

 

            Às seis e meia não estava tão escuro a ponto de haver luzes visíveis contrastando-se com o ambiente em volta, mas nos agrupamos na amurada da barca, ansiosos. A maioria conversava inquietamente, alguns de nós – como eu – ficavam em silêncio, contemplando a cidade, esperando. Não sei como Johnny não reclamou da força com que eu apertava sua mão, parecia entretido numa conversa com Ethan.

 

            Até que finalmente a noite definitiva chegou.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Penúltimo capítulo, gente. Espero que tenham gostado
O último deve sair essa semana mesmo, espero que gostem do final =D
Nossa, fiquei tanto tempo com esses personagens que parece um daqueles filmes em que o elenco fica marcado na mente xD - sim, eu imagino atores reais fazendo o pessoal /fato x)