Aquele, com certeza, fora o ápice. Não aguentei e caí no choro. Motivo? Aquela loucura ainda estava longe de acabar. Eu só precisava descansar, sem espíritos ao meu redor me mostrando o que eu passei e o que eu vou passar.

— Lydia, está tudo bem? — a Lydia espírito perguntou e veio em minha direção — Eu sei que é difícil, mas você precisa vir.

Como ela sabia o que eu estava sentindo? Como ela sabia o que eu estava pensando?

— Como você…? — ela me interrompeu.

— Eu sou você no momento. Tudo o que você pensa ou sente, eu posso pensar ou sentir. Eu não sei muito bem explicar como funciona, mas é basicamente isso — ela falou e segurou minha mão — Pronta? Essa vai ser a sua última “viajem no tempo”, juro.

Limpei as lágrimas e, pela primeira vez naquela noite, ri com o comentário dela.

— Pronta — falei e tudo ficou escuro, mas não demorou muito para que clareasse.

Estava frio e a rua estava deserta, coberta por neve. Ao longe, pude perceber um casal sentado em um banco, rindo e conversando cada vez mais alto.

Nós nos aproximamos do casal cada vez mais. Tentei ver, ainda longe, se a garota era eu, mas a cor do cabelo não era um tom ruivo e, pela risada, apontava ser outra pessoa. Eu reconhecia aquela risada, só não conseguia lembrar de onde.

Só quando nos aproximamos o suficiente das duas pessoas foi que eu pude reconhecê-los: Stiles e Malia.

Se beijando?

Era realmente aquilo que eu estava vendo? Stiles e Malia dando uns amassos? Com certeza era uma brincadeira ou pegadinha de mal gosto. Aquilo não era possível.

Eu não sei porque, mas fiquei incomodada com a cena. Não por sentir alguma coisa por Stiles, mas mais pelo fato de aquele não ser o meu final feliz.

Não que eu quisesse um final feliz exatamente com Stiles, mas é que… Eu não sei…

Talvez eu realmente quisesse um final feliz com Stiles…

— Eu acho que você quer sim um final feliz com ele, mas nem você sabe disso — a Lydia espírito falou, de repente. Quase me esqueci que ela podia saber o que eu estava pensando.

Se isso tivesse acontecido há 7 horas, eu ficaria irritada com ela por estar “lendo a minha mente” e se abusando disso, mas algo havia mudado… Eu não queria repreendê-la. Muito pelo contrário, eu queria que ela lesse minha mente e me explicasse o que estava acontecendo. Que me desse conselhos.

— Eu estava desprezando ele mais que tudo na vida há sete horas. Não tem como eu simplesmente querer um final feliz com ele assim tão rápido — essa era a mais pura verdade.

— Eu sei, e eu concordo com você. Eu só acho que você nunca percebeu que você tem um grande buraco no peito desde que ele foi embora, e quer que vocês sejam felizes no fim. Seja como amigos ou algo a mais — ela me respondeu e me puxou para mais perto dos dois para nós podermos os observar melhor.

Ela estava certa. Por mais que ele tivesse me magoado, eu sempre quis que tudo ficasse bem no final. Sempre quis o meu amigo de volta. Eu só era orgulhosa demais para admitir isso.

— Eu ainda me sinto mal pela Lydia, ela era minha melhor amiga, não merecia que tudo aquilo acontecesse — Malia falava, parecendo culpada.

— Ela escolheu o caminho dela, nós não podemos fazer nada. Eu realmente tentei, mas ela não me escutou, então… — ele parou de falar e eu me vi em outro cenário: era um lugar com uma grama bem cortada e muito verde. Mais adiante tinha uma árvore, e poucos metros depois tinha um lago com uma água muito linda e azul.

Ouvi um choro e muitos soluços enquanto caminhava e reconheci a voz da minha mãe tentando acalmar uma figura que tinha cabelos ruivos e estava encostada na árvore, sentada sobre o chão. Eu.

— Minha filha, fica calma… Tudo vai se resolver, você vai ver… — ela alisava meus cabelos enquanto eu chorava. Aquilo me deu um aperto no coração.

— Não, não vai, mãe! Eu o perdi! Eu perdi todo mundo! A Allison me odeia, o Scott concorda com ela em tudo, Liam e Hayden simplesmente fingem que eu não existo mais, o Stiles e a Malia estão super felizes juntos se divertindo em New York e o Theo fugiu com a namorada pra não sei onde… TUDO POR MINHA CULPA! — a minha eu chorava cada vez mais e eu me desesperei. O que estava acontecendo ali? O que eu tinha feito pra ter separado a nossa turma? Nós éramos melhores amigos, éramos inseparáveis! Como assim tudo tinha acabado por minha culpa?

— Tenta ligar para o Stiles — minha mãe falou.

— Você acha que eu não tentei? Ele não vai atender — eu falava entre soluços.

— Lydia, tente — mesmo discordando, percebi a minha “eu” futura pegar o celular e discar um número. De alguma forma, eu podia ouvir a ligação.

— Viu? Ele não atende — eu falava, ainda chorando.

— Tente só mais uma vez, por favor. Só mais essa vez — minha mãe falou e eu obedeci.

Dessa vez, alguém atendeu.

— Stiles? — e eu saltei do chão, desesperada — Por favor, me desculpa, eu realmente…

— Olha só, Lydia, eu não atendi o telefone pra ouvir as suas palavras de desculpas vazias. Eu atendi pra dizer pra você não me ligar mais. Me deixe em paz, entendeu? — pela primeira vez na vida eu percebi um tom de desprezo em sua voz. O pior tom de desprezo que eu já ouvira na vida, e aquilo me afetou muito. Eu senti um enorme aperto no coração.

— Stiles, por favor… — eu falava chorando, mas ele já tinha desligado o telefone.

Novamente, a Lydia futura caiu no chão e começou a chorar ainda mais alto, sendo agarrada pela minha mãe.

— O que foi que eu fiz? — perguntei depois de um tempo observando a cena, temendo a resposta.

— No baile de Natal, Stiles tentou, majs uma vez, te chamar para ir com ele, mas você o humilhou na frente de todo mundo e ele ficou furioso… — a interrompi.

— Eu quero voltar pra casa. Esse é o meu futuro? Esse sofrimento todo? Ótimo, vamos lá pra casa e você vai me explicar direitinho tudo o que aconteceu. É melhor falando sem presenciar. Vamos — dei minha mão para ela e nós rapidamente voltamos para o meu quarto.

— Pode perguntar o que quiser — ela falou e se sentou na cama. Eu me sentei ao seu lado.

— O que aconteceu com o Theo? Ele é namorado da Malia, mas aí ela está com o Stiles — essa dúvida logo me veio à cabeça e resolvi perguntar.

— Depois que você humilhou o Stiles na frente de todo mundo no baile de Natal, ele, Theo, Scott e Liam brigaram feio e acabou que o Theo voltou pra cidade natal dele. Depois disso, Stiles nunca mais quis saber de você e a Malia nunca perdoou o Theo por ter ido embora — ela começou — Depois o Theo voltou e tentou fazer de tudo para reconquistar a Malia, só que o orgulho dela foi mais forte e ela não o perdoou.

— Mas por quê?

— Porque ele foi embora sem se despedir — congelei. Sabia exatamente o rumo que aquela conversa ia tomar — Theo tentou mais que tudo nesse mundo reconquistar a garota que ele sempre amou, mas ela não aceitou. Então ele simplesmente desistiu. Seguiu em frente. De repente, Malia tomou o caminho certo e resolveu perdoá-lo, mas aí já era tarde demais. Ele estava com outra garota e ela percebeu que havia perdido ele para sempre. Ela tinha o perdido por causa de um orgulho idiota.

— Mas ela ama ele e ele ama ela, ela deveria ter perdoar ele! — quase gritei.

Ela deu um meio sorriso.

— O que você faria se estivesse no lugar dela? — aquela pergunta, com certeza, me pegou desprevenida.

Eram situações diferentes… Stiles era apenas meu amigo, já Malia e Theo eram namorados, eles se amavam mais que qualquer coisa. Aquela pergunta não fazia sentido.

— É diferente — falei, abaixando a cabeça.

— Você está tornando tudo complicado — ela respondeu.

— Talvez sim, talvez não — respondi.

— Eu sei o que você está sentindo, Lydia. Eu posso sentir a mesma coisa. Quando você ouviu o desprezo na voz do Stiles naquela ligação, foi como se você estivesse sendo queimada dentro de uma fogueira. Você sentiu todo o seu estômago embaralhar e sentiu o maior vazio que você já sentira na vida — ela falou. Eu não retruquei, porque sabia que ela estava certa. Eu tinha ficado realmente mal com aquilo.

— Acha que eu não sei disso? Depois de todos esses anos vendo ele tentando se reaproximar de mim, sempre com carinho ou esperança na voz, eu nunca achei que poderia ouvir ele falando daquele jeito comigo. Ele é meu melhor amigo! Foi a pior sensação da minha vida — respondi me levantando. Praticamente gritei.

— Ele é seu melhor amigo? Achava que era, no passado — ela sorriu.

Eu apenas respirei fundo e voltei a me sentar.

— Vocês conseguiram. Parabéns — falei, bufando.

— O que nós conseguimos? — ela perguntou, confusa

— Fazer eu perceber que sou a pior companhia que alguém possa ter. Vocês conseguiram me fazer perceber que sou horrível com o meu melhor amigo, que eu sou orgulhosa demais a ponto de esperar para que ele pudesse se explicar. Eu fui uma idiota e agora reconheço isso — falei, irritada e decepcionada ao mesmo tempo comigo mesma.

— Que bom — ela sorriu e olhou para o relógio — São quase cinco da manhã, você precisa dormir. E, Lydia, lembre-se: você tem dois caminhos para o seu futuro. Depende de você escolher um deles. Qual você acha que seria mais apropriado pra você? — e, sorrindo, ela desapareceu.

Respirei fundo e refleti sobre toda aquela loucura daquela noite. Deitei-me na cama e fiquei satisfeita por toda aquela maluquice ter acabado.

Meu futuro estava prestes a ser formado, e eu sabia exatamente qual caminho escolher.