— Você vai me mostrar meu futuro, não é? — aquela, com certeza, fora a coisa mais maluca que eu falei naquela noite.

— Boa parte dele — ela explicou e eu fiquei confusa.

— Como assim? Eu não vou ver o momento completo? — perguntei novamente, mais confusa do que imaginava.

— Não foi isso que eu quis dizer. Nós vamos te mostrar duas formas de como poderá ser o seu futuro. Eu vou mostrar a parte boa, e outro espírito vai mostrar a parte ruim. São dois caminhos completamente diferentes, e depende de você escolher qual deles quer seguir — Allison falou e eu assenti, frustrada.

— Quem vai ser o próximo espírito? Quero dizer, já veio o Stiles, a Malia e agora você. Scott é o próximo? — perguntei.

— Você vai ver. Vamos? — e ela estendeu a mão para mim. Levantei-me da cama e segurei a mesma — Um, dois, três… — e novamente tudo ficou escuro, e nós ficamos mais uma vez em frente a uma casa desconhecida.

— De quem é essa casa? — perguntei.

— Sua — respondeu, sorrindo.

Como assim aquela casa era minha? Eu conheço a minha casa e, com certeza, não era aquela.

— Não, não. Passei dezesseis anos morando na mesma casa, acho que reconheceria se fosse a minha, o que não é o caso — respondi.

— Lydia, eu não sei se você esqueceu, mas estamos vendo o seu futuro. Essa casa é a sua casa no futuro. Bom, dependendo do caminho que você escolher, claro — Allison respondeu e eu assenti — Então? Quer conhecer sua casa? — perguntou ainda sorrindo.

— Eu estou com medo do que posso encontrar lá dentro. Estou com medo do que eu construí para o meu futuro — falei, e era a mais pura verdade.

— Eu posso entender, mas você precisa vir. Vem — ela estendeu a mão novamente e eu a segurei, temendo o que fosse ver a seguir.

Mais uma vez, atravessamos a porta e eu observei a decoração: estava perfeita. Sempre sonhei em ter uma casa própria, e aquela estava do jeitinho que eu imaginava. Os enfeites de natal também contribuíam muito, é claro.

— O que achou? — Allison perguntou.

— É perfeita — respondi e, quase sem perceber, sorri.

— Chloe, Chris! Quantas vezes eu vou ter que dizer pra vocês que não é pra deixar a meia suja jogada em qualquer lugar? — uma voz fina (de mulher) falou ao longe e eu a reconheci imediatamente. Era a minha voz, só que um pouco diferente. Quantos anos eu teria?

Naquela mesma hora, eu vi duas crianças ruivinhas correndo pela casa, rindo. Senti alguma coisa dentro de mim e paralisei.

— A-Allison? Essas duas criancinhas são quem eu estou pensando? — perguntei, tremendo.

— Depende. O que você está pensando? — ela sabia o que era, só queria provocar.

— Você sabe — foi tudo o que eu respondi.

— Não, não faço ideia — e o espírito continuava me provocando. Idiota!

Eu teria que me preparar para as palavras que diria a seguir, porque não seria fácil.

— São… Meus filhos?! — falei. Não sabia muito bem se era uma afirmação ou pergunta, apenas falei.

— Exato — ela sorriu e meu peito apertou. Aquelas criaturinhas eram meus filhos? — Gêmeos, aliás — e sorriu ainda mais.

Palavras não eram suficientes para descrever o que eu estava sentindo naquele momento. Ver aquelas duas figurinhas rindo e correndo de um lado para o outro fez com que eu esquecesse completamente o motivo de estar ali, me fez quase pensar que estava na realidade, que estava acordada. Aquilo era tão real…

— Mamãe, ‘ola’ o que o papai me deu de ‘plesente’ de Natal! — falou a pequenina, rindo e pulando, enquanto mostrava um grande pacote para a eu do futuro.

— ‘Ola’ o meu também, mamãe! — o menino falou animado e repetiu o gesto da irmã. Sorri com a cena.

— Nossa, que brinquedo maravilhoso! — eu falei sorrindo e observando os dois brinquedos — Vocês gostaram?

— Eu ‘goxtei’ muuito! — os dois falaram juntos e a eu do futuro riu.

— Cadê o papai, falando nisso? — a futura Lydia perguntou para os dois.

Eu não tinha parado para pensar nisso. Eu não estava pronta. É claro que eu tinha uma ideia de quem seria tal pessoa e, provavelmente, seria ele, mas eu não saberia como reagir se as minhas teorias estivessem certas. Eu não estava preparada para ver o meu futuro.

— Alli, vamos embora… — falei, nervosa.

— Por quê? — ela, de repente, virou-se para mim.

— Eu… Eu não estou pronta pra o que vem a seguir. Por favor, me leve de volta pra o meu quarto — eu estava quase desesperada.

— Lydia, você tem que entender que as coisas não são como parecem ser. Você está com medo de ver o Stiles aqui e tudo dar errado? Olha só pra você e para essas crianças: vocês estão felizes. O que você teme tanto? — ela perguntou.

— Eu não sei… Cara, será que você não entende que é difícil pra mim?

— Você está tornando difícil. Já que você está tão desesperada, eu vou te levar embora...

— Obrigada!

— ...mas antes, eu quero pedir pra você esperar mais um pouco. Fica mais um pouco só pra ver o que vai acontecer agora. Quem sabe você não muda de ideia? — ela propôs. Eu não soube o que responder de imediato, mas acabei concordando.

— Não ‘xei’ — a garotinha e não demorou muito até ela apontar para um ponto atrás de Lydia. Somente aí eu o vi.

Ele estava realmente diferente. Talvez por causa das roupas; talvez pela barba curta; talvez pela aparência mais velha. Eu não sei. Mas ele estava ali.

Stiles estava ali.

— Onde você estava? — a Lydia adulta se levantou e deu um selinho no Stiles adulto, que riu.

— Eu estava observando essas criaturinhas falarem sobre os presentes, só pra me certificar de que não mentiram pra mim sobre o que acharam — Lydia riu.

— Mamãe, tô com fome. ‘Bola’ ‘comê’ o ‘pelu’ ‘agola’? — o menino perguntou.

Lydia e Stiles riram e eu andei para perto das crianças para observá-las melhor. Tinham meus olhos, assim como o cabelo, mas em aparência, eram muito parecidas mesmo com Stiles. Eu não aguentaria mais ver aquilo.

— Allison, vamos embora — precipitei-me e agarrei sua mão. Ela apenas suspirou e tudo tornou a ficar escuro, depois aparecemos (mais uma vez) em meu quarto.

— Lydia, você está bem? — ela perguntou e eu me sentei na cama. Não, eu não estava bem.

— Não — foi tudo que consegui responder.

— Sei que foi demais para apenas uma noite, e eu sinto muito por isso, mas foi necessário. Você acha que pode continuar? Tem um outro futuro que você ainda precisa ver — ela falou e se sentou ao meu lado.

— Por que eu? — perguntei.

— Porque nós sabemos que você pode ser mais do que você é, você só precisa tomar o caminho certo — ela sorriu.

— “Nós” quem?

— Todos os espíritos natalinos. Nós sabemos que você é uma boa pessoa, você só precisa perceber isso. Você estava sendo ruim com si mesma quando maltratava os outros. Nós viemos aqui para consertar isso — ela completou e eu suspirei — Acha que pode continuar? — tornou a perguntar e eu assenti — Ótimo — e, então, ela desapareceu.

Onde estava a minha melhor amiga, apareceu a pessoa que eu menos imaginaria aparecer naquela noite.

Eu.