Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 8
Sentido ao que se sente




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Uma situação indesejada. Eu havia saído de um momento dos sonhos para um suposto pesadelo. Depois de uma semana pensando em Serena dia e noite, depois de me surpreender com a capacidade de minha atração que, Deus me livre, está se tornando um sentimento, eu finalmente consigo um momento íntimo com ela. Nossos lábios se completaram, e nossos corpos estavam prestes a fazer o mesmo, quando tudo terminou. Serena estava dentro do meu banheiro escondida enquanto eu e Violet nos preparávamos para a conversa que tanto quis evitar.

Provavelmente ela havia notado a minha afobação. Tentei disfarçar, parecer calmo, controlar a respiração, evitei ao máximo olhar para o banheiro ou para a cama. Estávamos em um silêncio estranho enquanto ela me fitava boquiaberta e com as sobrancelhas arqueadas.

– Olá. – falei, quebrando o silêncio e o seu transe.

– Vou direto ao ponto. – começou. – Eu não te esqueci, não te superei, sofri muito nessa semana para tentar sobreviver sem você. Não consegui. Dois dias depois de sua partida eu liguei para a escola em busca de emprego. Mandei meu currículo e disse que até mesmo como estagiária eu gostaria de trabalhar, e então surgiu uma oportunidade. Não quis lhe contar e pedi para seus pais guardarem segredo. Trouxe minhas malas, presentes, um sorriso enorme e uma grande esperança de, enfim, podermos voltar a planejar nosso futuro, que está mais próximo que nunca. Mas, quando cheguei, não o vi em seu quarto, e você não costuma acordar cedo. Procurei-te muito até achá-lo no refeitório sentado com uma aluna, uma menininha, mantendo certos... Contatos físicos. Uma piranhazinha que você provavelmente se deixou seduzir por nunca ter sido o único homem do ambiente. – ela falou tudo muito rapidamente, com o tom alto e bruto.

– Violet, você entendeu tudo errado. Ela é minha aluna, estávamos conversando... Você estava longe, deve ter distorcido a imagem. – tentei explicar, mas fui cortado.

– Faça-me o favor, Chuck! Eu o conheço. Eu transei mais com você do que já beijei rapazes em minha vida. Eu conheço as suas reações quando está excitado ou sendo estimulado. Suas pálpebras fecham, seus olhos ficam semicerrados, sua boca abre um pouco, e seu rosto se ergue. Eu conheço cada centímetro seu, e você definitivamente está transando com uma pré-adolescente bonitinha e carente. Não se envergonha? É o seu futuro que está em jogo!

Minha garganta estava presa. Eu não sabia como responder... Ela estava certa. Eu estava me arruinando, e por que fazia isso? Não sei. Eu decidia me afastar até vê-la de novo, e isso era a coisa mais forte que já senti em minha vida. A minha esperança era ser apenas um desejo, um sonho juvenil de ficar com a garota mais linda da escola que apenas agora pude conseguir. Quem me dera fosse só isso! Seria mais fácil de me livrar da possibilidade... Mas não. É algo a mais. Envolvia sentimentos. Eu realmente gostava dela, e por isso arriscava toda a minha vida em nome disso. De alguém que brinca comigo desde que nos conhecemos.

– Não vai dizer nada?! – perguntou de maneira intolerante. Eu tinha de responder.

– O que vai fazer aqui? No colégio, digo.

Ela soltou o ar.

– Vou fazer o que prometi à diretora Wilkes, mas esse não vai ser meu foco. Vou ficar de olho em você. E mais do que isso... Além de manter essa menina longe, e ainda vou fazer você admitir que errou. – ela falou, abaixando a cabeça. – Chuck, não me leve a mal... Eu só quero o meu namorado de volta. Quero reatar o que nunca foi desfeito. Eu te amo, e você me ama. Sabemos disso, e o certo é ficarmos juntos. Por favor. Pensa nisso um minuto. Vai dizer que não sentiu a minha falta?

Desviei o olho dela. Não, eu não senti falta. Isso é, minimamente falando, estranho, pois namoramos por alguns bons anos e acabamos formando uma amizade além de relação. Bom... Acredito que nós só descobrimos se realmente amávamos alguém quando passamos a verdadeiramente amar outra. Só aí podemos comparar e separar paixão de amor. E por Violet... Foi paixão. Daquelas passageiras e momentâneas. Já achei que a amava por tempo demais, agora eu podia assumir que não era real. Serena me mostrou isso. Nunca em minha vida senti por nenhuma outra pessoa tamanha vontade de estar perto, nunca amei os detalhes de alguém como amo o dela. Desde seus olhos à sua pinta debaixo do queixo. Até os detalhes mais escondidos eram atraentes para mim. Isso significava que eu a amava?

– Violet... Desculpa, mas você me pegou em má hora. Preciso me arrumar para tomar o café da manhã. Nos veremos mais tarde? – perguntei, abrindo a porta para ela sair.

– Tudo bem... Senti sua falta. – ela aproximou-se para me dar um beijo, mas eu o desviei para ser apenas na bochecha. E ela se foi. No instante em que fecho a porta, a do banheiro se abre. Serena sai de lá com a expressão meio neutra.

Eu a observei por uns instantes, então ela pegou as coisas debaixo da cama – sapatos e camisas.

– Então você tem namorada... – falou.

– Tinha, como pôde ouvir.

– A garota do refeitório... Ela pode te encrencar. Viu como me chamou? Vadiazinha, piranhazinha, oferecida. Ela me viu como um monstro na situação. – ela franziu a testa indignada, uma coisa que não entendi muito bem.

– Não me leve a mal, mas o que esperava que ela pensasse? Você tem catorze anos e tem experiência de vinte e cinco. Afinal, como você... Bom, você sabe. Aqui... No internato. – eu tentei gesticular para não me expressar mal. Apesar de eu tentar, não desviava os olhos de seu corpo. Ela notou e aproximou-se depois de calçar os sapatos.

– Entrei aqui muito nova e tive a sorte de ser acolhida pelas garotas mais velhas. – falou, vestindo a blusa. Aquela visão me frustrava. Eu gostava de olhá-la. – O colégio deveria pensar melhor a respeito de manter muitas meninas em plena época de ascensão sexual juntas... – chegou perto de mim, abraçando-me e beijando meu pescoço.

– Por quê? – tentei perguntar, arrepiando-me com o toque e seu hálito em meu rosto.

– Porque... – ela sussurrou em meu ouvido enquanto mordia a minha orelha de uma maneira irresistível. – As garotas... Sozinhas... Acabam tomando banho juntas... Beijam-se... E com o tempo acabam tornando-se tão experientes quanto qualquer outro. – falou me dando um rápido beijo e imediatamente saindo do quarto.

Fiquei parado pensativo, estupefato. Não sabia como reagir àquilo, mas sabia que isso explicava muita coisa. E meu desejo de conhecer a história dessa garota só fazia crescer.


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Notas finais do capítulo

Primeiro de tudo eu gostaria muito de agradecer aos meus leitores. Nunca estive tão feliz em receber críticas, em ver que as pessoas se interessam pela história e, inclusive, gostam dela. Vocês me incentivam a escrever cada vez mais, e eu não poderia estar mais entusiasmada com isso do que estou agora. Vocês são incríveis!