De repente pai escrita por Thaynara Dinucci


Capítulo 34
Capitulo 34


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao ultimo capítulo. Irei postar o epilogo amanhã.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658351/chapter/34

Alex

O caminho até a maternidade é tranqüilo, Julia esta sentindo contrações que segundo ela, ainda são suportáveis. Ela me olha e sorrir nervosa. Eu coloco uma mão em sua barriga e faço carinho nela, enquanto continuo a dirigir com a outra.

Assim que chegamos ao hospital a Dra Nora está nos esperando na porta junto com dois enfermeiros e uma cadeira de roda. Paro o carro e o mais rápido que posso dou a volta e quando chego à porta do carona Julia já está saindo com a malinha da Elizabeth na mão e sentando na cadeira. Reviro os olhos pra ela. Mulher frustrante.

“Pronta mamãe?” Vejo a Dra perguntando a Julia enquanto a leva em direção a entrada do Hospital e eu sigo atrás obediente. “Alex, vá até a recepção assinar alguns papeis e em seguida você poderá ficar com Julia no quarto.” Ela diz virando em minha direção e eu apenas assinto. Estou nervoso. Estou com medo de falar alguma coisa e estragar o momento. Eu sou um imbecil por natureza e espero não fazer nada estúpido agora.

“Tudo bem. Te vejo logo meu amor.” Eu digo pra Julia e beijo castamente seus lábios.

“Eu te amo.” Ela responde e some do meu campo de visão.

Depois de assinar uma tonelada de papeis, pergunto pelo quarto onde minha garota está e sigo em direção a ele, mas sou interrompido por alguns burburinhos que escuto logo atrás de mim. Viro-me e dou de cara com Nath correndo desesperada pelo corredor e Josh vindo atrás dela, ele está bufando e ela gritando.

“Cadê minha melhor amiga?” Ela pergunta um pouco alto demais pro meu gosto e eu apenas lhe lanço um olhar duro e ela para na hora.

“Ela está no quarto, e eu estou indo pra lá agora.” Eu digo e vou até Josh que me cumprimenta com um aperto de mão e em seguida beijo o rosto de Nath. Ela é enjoadinha, mas eu gosto dela.

“Parabéns cara” Josh diz alegremente e mais uma vez meu estômago embrulha de medo, nervoso e tudo o que se pode esperar.

“Obrigado.” Eu digo indo em direção ao quarto e sinto que eles me seguem, mas antes de chegar à porta eu paro e me viro pra Nath e digo “Controle suas emoções, sua melhor amiga está quase tendo um filho. Então, por favor, pela primeira vez na sua vida, contenha o furacão que mora dentro de você, tudo bem?”

“Tá Alex, já entendi. Você é bem chato pra sua idade, sabia? Parece um velho.” Ela diz rindo e mais uma vez eu lhe lanço um olhar de que não estou pra brincadeiras e ela fecha a matraca.

Quando eu abro a porta do quarto, lá está ela. Linda, deitada na cama com uma camisola de hospital, alguns fios ligados em sua barriga e a Dra Nora ao seu lado.

Julia

Medo. Acho que a palavra que mais definiria o que eu sinto nesse momento é medo. Estou com medo de algo dar errado. Medo de eu não ser uma boa mãe. Medo de eu não conseguir me sair bem no parto. Medo de tudo. Tudo o que eu mais queria agora era a minha mãe. Quando estávamos saindo de casa liguei pra ela e contei que a netinha dela quis vir ao mundo um pouco antes do esperado. Ela gritou, chorou e meu pai não ficou muito atrás. Eles estariam pegando o vôo em poucas horas. Alex ofereceu o jatinho da sua empresa, mas eles recusaram, preferiam vir num vôo normal. Tudo bem, num vôo normal eles viriam.

Agora estou aqui, num quarto todo branco com alguns ursinhos que completam a decoração do quarto, com a Dra Nora entre minhas pernas medindo o quanto eu dilatei, e segundo ela, eu to indo bem. Ainda tenho longas horas até Elizabeth resolver sair. Sinto contrações em intervalos pequenos, e agora sei quando elas estão vindo, graças a alguns fios que estão ligados a minha barriga. É doloroso, mas suportável. Ainda.

Dra Nora explicou que se ficarem muito doloridas, eu tenho direito a pedir uma epidural, mas eu queria que tudo fosse o mais natural possível.

“Bom, pelo que estou vendo aqui você está dilatando conforme deve ser. Volto daqui a algumas horas. Tudo bem?” a Dra diz anotando algumas coisas em sua prancheta e quando está abrindo a porta pra sair, vejo Alex entrando e seguido dele, Nath e Josh.

“Oh meu Deus!” diz Nath me abraçando e beijando minha cabeça “Isso realmente está acontecendo. Você vai ser mamãe, e eu vou ser titia.”

“Sim, está...” eu digo e uma forte contração atravessa meu interior e eu me curvo de dor. Vejo Alex ficando atrás de mim e alisando as minhas costas e aos poucos a dor vai amenizando.

“Tem certeza que não quer nenhum remédio querida?” Ele diz com sua voz preocupada e eu sorrio pra ele. Tão lindo o meu amor.

“Não querido, ainda está suportável.” Eu digo e aperto a sua mão. “Olhe pro monitor, quando a luz ficar vermelha é sinal de que uma contração está se aproximando.” Eu digo mostrando o monitor pra ele e ele assente a contra gosto.

“Parabéns mamãe” Josh diz e me beija carinhosamente na cabeça e se afasta um pouco ficando em pé em frente a uma poltrona de couro no canto do quarto.

Ficamos conversando enquanto eles tentam me distrair da dor e conseguem. Com eles aqui tudo está parecendo mais fácil. Alex e Nath trocam farpas em alguns momentos e a minha vontade é de pular no pescoço de cada um. Eles parecem cão e gato, não conseguem ficar num mesmo ambiente sem alfinetar um ao outro, mas sei que acima de tudo eles se gostam. Babacas! Dra Nora aparece de vez em quando e diz que estou indo bem, que se continuar assim terei minha filha nos braços mais cedo que imagino.

“Eu estou com a boca seca. Preciso de água.” Eu digo pra ninguém em especial.

“Eu vou buscar.” Diz Josh se levantando ao perceber que Alex e Nath não movem um músculo pra sair do meu lado. Reviro os olhos. Estou me sentindo sufocada.

Alguns minutos depois Josh volta com um copo cheio de gelo, e os passa delicadamente pelos meus lábios e rapidamente sinto um alivio tomar conta de mim. Ah, que delícia. Quando vou me deixar sinto outra contração, essa foi mais forte.

“AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI....” eu digo apertando com toda a força que tenho a mão de Alex, e ele fica vermelho ao meu lado mas não reclama. Garoto esperto.

“Querida respira que nem você aprendeu nas aulas.” Ele diz e começa a respirar como um cachorrinho, e isso me irrita. “Vai... 1... 2... 3....” e isso é a minha deixa.

Eu o puxo pelo colarinho da blusa e trago seu rosto pra bem perto do meu e digo com os dentes cerrados. “Não diz como eu devo respirar. Eu tenho uma criança gigante querendo sair por um lugar estreito. Estou sentindo uma dor fora de mim, então querido, não diz como eu tenho que respirar ou eu juro por Deus que eu vou tacar esse controle na sua cabeça. Estamos entendidos?” Ele apenas me olha com os olhos arregalados e eu me sinto uma vaca na mesma hora. Coitado, ele está apenas querendo me ajudar e eu estou sendo uma vadia com ele.

“Desculpa querido.” Eu digo e sinto meus olhos se encherem de lágrimas, olho pro lado e vejo Nath segurando a risada e Josh com a cara de assustado.

“Shh....” Alex diz e me dá um selinho “Está tudo bem. Eu te amo.”

Passado algum tempo a Dra Nora volta, coloca uma luva e faz mais uma vez um exame pélvico e diz “Chegou a hora Julia, você já está com 10 cm dilatados. Essa bebêzinha quer conhecer os pais. Vou me preparar, e volto logo.”

PUTA QUE PARIU. É real. Finalmente a ficha cai. Eu vou ser mãe. Minha bebê já vai nascer. Eu olho pra Alex e vejo o seu rosto um semblante assustado, mas eu sei que ele vai ser um ótimo pai.

“Chegou a hora querido.” Eu digo e aperto sua mão. Ele retribui o aperto e sorrir pra mim, e nesse momento eu tenho certeza que escolhi a pessoa certa pra entregar o meu coração, escolhi a pessoa certa pra construir uma família.

“Eu te amo” ele diz e beija minha cabeça.

Alex

Realmente está acontecendo. Minha filha vai nascer. Eu vou conhecer Elizabeth. Saio do meu transe quando vejo Dra Nora entrando novamente no quarto com os dois enfermeiros que estavam com ela na entrada do hospital.

“Todos prontos?” ela diz enquanto coloca sua roupa esterilizada e luvas e se posiciona no meio das pernas de Julia. “Dobre os joelhos, e cada vez que eu falar empurra, use toda a sua força. Compreende?” Ela pergunta e Julia acena em concordância.

Fico ao lado de Julia a todo momento segurando a sua mão e tento me lembrar de tudo o que aprendemos nas aulas que freqüentamos. Respirar pausadamente. Fazer força. Respirar de novo e assim por diante.

“Empurra” diz a Dra Nora com sua voz subindo uma oitava e Julia faz força.

“Vai querida, estou aqui com você.” Ela empurra e ao mesmo tempo aperta minha mão. Não reclamo, pois sei que ela com certeza está sentindo mais dor que eu.

“Continua empurrando Julia, já consigo ver a cabeça.”

Julia continua empurrando e em alguns momentos me vejo imitando os seus movimentos.

“Nossa princesa está nascendo. Só mais um pouco.” Eu digo e aperto sua mão. Julia da um ultimo empurrão e o quarto é preenchido por um choro.

“Nasceu. É uma linda menina, e tem os pulmões fortes.” Dra Nora diz “Papai, vai querer cortar o cordão?” ela pergunta e eu acho que vou passar mal. Cortar o cordão da minha filha? Eu posso fazer isso? Não sei se consigo.

“Vá Alex, eu quero que você faça isso.” Julia diz com a voz cansada e deitando a cabeça no travesseiro.

E lá vou eu, dou alguns passos em direção a Dra Nora que me entrega uma pequena tesoura e eu corto o cordão onde ela me mostra. E ao mesmo tempo eu vejo minha filha. Uma coisinha toda enrrugadinha e suja de sangue, com os cabelos escuros e chora escandalosamente. É como se ela sentisse falta do quentinho da barriga de sua mãe. Ela é tão linda. Vejo Dra Nora entregá-la a um enfermeiro que coloca Elizabeth em cima de uma cama e começa a examiná-la. E depois de alguns minutos a traz enroladinha na sua mantinha rosa. Eu a pego e nesse momento o meu mundo para. Eu tenho certeza que serei capaz de fazer tudo por essa criança, ela terá tudo o que quiser. Se ela quiser a lua, a lua ela terá. Elizabeth se tornou o centro do meu universo no momento em que a tive em meus braços. Eu nunca pensei que poderia amar assim, mas eu estava totalmente errado. Meu coração parece que duplicou de tamanho, se encheu de amor por essa criança que eu ajudei a fazer.

“Eu te amo tanto minha filha” eu digo enquanto eu a levo até Julia e a coloco em seus braços.

Julia fica encantada e começa a chorar, e diz o quanto ela é perfeita.

“Eu te amo tanto, e obrigada pela nossa filha.” Ela diz me beijando e um enfermeiro pega minha filha de volta e diz que precisa fazer alguns exames e a leva pra fora do quarto.

Quando olho pra Julia vejo que ela está cansada, ao mesmo tempo em que vejo o olhar preocupado da médica. Ela diz alguma coisa pra um enfermeiro que sai às pressas do quarto e tudo fica em câmera lenta.

O monitor começa a apitar desenfreadamente, vejo Nath chorando e Josh saindo com ela da sala e quando olho pro lado Julia está desacordada.

“Pressão caindo. Prepare a sala de cirurgia agora.” Dra Nora grita pro enfermeiro que voltou e eu fico sem entender nada. Estava tudo bem até agora. O que aconteceu?

“O que está acontecendo?” Eu grito tentando obter alguma resposta, mas sou ignorado. Vejo mais pessoas entrando na sala, uma maca é colocada ao lado da cama de Julia e quando eles levantam o corpo dela vejo sua camisola banhada de sangue.

Não, isso não pode estar acontecendo. Não, por favor não.

“Dra Nora, o que está acontecendo?” eu pergunto indo em sua direção e vejo o corpo de Julia sendo levado. Ela para e me olha, e vejo compaixão em seu olhar.

“Alex, o útero de Julia não contraiu e ela perdeu uma quantidade significativa de sangue. Eu farei de tudo pra ajudá-la.” Ela diz e aperta o meu ombro carinhosamente. “Eu prometo que trarei a sua mulher de volta pra você. Preciso ir.” E dito isso ela sai do quarto me deixando lá totalmente sozinho. Desolado e sem saber o que fazer. E se alguma coisa acontecer com Julia, eu não serei nada. Eu não sei viver sem ela. Agora temos uma filha, eu preciso dela comigo.

Saio do quarto a procura de Josh e Nath e vejo-os parado em frente à recepção. Nath me olha chorando, Josh tenta segurar as lágrimas, mas é em vão. Eles se juntam a mim e ambos me abraçam e eu não consigo segurar e choro. Choro rezando pra que tudo fique bem com Julia. Rezando pra que tudo fique bem com minha filha. Eu apenas rezo pra que tudo fique bem.

Pela primeira vez em minha vida eu choro de medo. Medo por tudo. Isso não devia está acontecendo. Saio do abraço dos meus amigos e saio em direção à saída do hospital, vejo um grande gramado e corro até lá e me jogo de joelhos sobre ele. Chorando como uma criança pequena. Choro sem vergonha. Um grito escapa da minha garganta e lágrimas cada vez mais grossas escorrem pelos meus olhos. Olho pro céu e peço pra minha mãe me dá uma luz. Eu sempre imaginei que minha mãe tivesse virado um anjo e que me protegesse de tudo o que acontecia comigo. Hoje mais do que nunca eu queria que ela estivesse aqui comigo.

“Por favor, mãe, não deixe que nada de ruim aconteça com Julia. Por favor, mãe.” E ao terminar de proferir essas palavras, sinto um vento frio passar pelo meu corpo e meus pelos se arrepiarem e eu sei que minha mãe ouviu minhas palavras. E eu continuo ali, rezando pra que tudo fique bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários, preciso saber o que acharam!!!
Bjs e até amanhã.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "De repente pai" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.