Left Behind escrita por Khaleesi


Capítulo 11
Capítulo 11 - Hold On


Notas iniciais do capítulo

Olá amores! Eu sei, eu demorei bastante pra atualizar a fic, mas não fiquem bravos comigo por favor! Eu meio que tive um bloqueio criativo, sentava pra escrever e não saía nada, mas eu finalmente consegui terminar o capítulo e já vim correndo postar!
Isso sem contar que TWD VOLTOU! Socorro, eu não to bem... Esses dois episódios foram perfeitos... Richonne ♥ ♥ estou apaixonada por esse casal!

Voltando ao capítulo agora, espero que gostem, boa leitura!



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Capítulo 11 – Hold On

 

S A M

 

O cheiro forte de pólvora ainda impregnava o ar quando o grupo invasor finalmente partiu, deixando para trás os mortos vagando nos campos da prisão.

Ellie apoiava-se em meus ombros para se manter de pé, seu rosto estava novamente coberto de sangue, mas dessa vez o sangue era seu. O restante do grupo parecia paralisado com a visão dos errantes tomando parte de seu lar.

Observei enquanto o trio avançava pelo gramado, derrubando os mordedores mais próximos. Assim que se aproximaram dos portões pude notar Rick, a camisa de botões aberta no peito, totalmente molhada com seu suor e as feições duras encarando o estado da prisão, seguido de perto por um homem desconhecido trajando um colete de motoqueiro e carregando uma besta nas mãos, e por fim… Merle.

Antes que eu tivesse tempo sequer de raciocinar, Ellie soltou-se de meus braços e avançou contra o homem de uma mão só, erguendo-se com dificuldade na ponta dos pés e surpreendendo-o ao chocar o punho fechado contra seu rosto.

— Ellie! — gritei, correndo em sua direção. Ela se desequilibrou ao golpear Merle e eu a segurei por trás, impedindo-a de avançar novamente contra o homem.

Instantaneamente uma confusão tomou conta do grupo, Glenn e Maggie dispararam acusações contra Merle enquanto o homem da besta o defendia, o restante do grupo debatia a situação enquanto Rick tentava acalmar os nervos de todos. Merle apenas ria diante do caos, segurando uma das maçãs do rosto.

— Vocês são piores que pulga, garotas! — debochou ele e Ellie esbravejou. Parecia um cão raivoso tentando avançar contra sua vítima.

— O que é que você está fazendo aqui? — começou Glenn.

— Quem diabos essa garota pensa que é?! — o homem da besta apontou para Ellie, não parecendo nada contente.

— Droga Sam, me solta! — minha irmã tentava se desvencilhar, mas estava fraca demais para conseguir qualquer resultado.

— Ei, vamos nos acalmar… — pedia Rick, erguendo e baixando a mão, tentando controlar a situação.

— Não me peça pra me acalmar! — gritou Ellie, mais alto que todos. — Esse filho da puta me segurou e me fez assistir enquanto o Governador matava o meu pai!

O olhar de Rick e de todos os outros pousou em minha irmã. O homem da besta voltou-se contra Merle.

— Isso é verdade? — perguntou.

— Eu fiz muitas coisas pelo Governador, irmãozinho — admitiu Merle. — Me arrependo de algumas… De outras não.

— Eu vou fazer você se arrepender é de ter nascido! — Ellie esbravejou novamente, mas já não tinha mais força suficiente, o que acarretou no riso de Merle novamente e a gritaria recomeçou.

— Já chega! — berrou Rick, pondo fim a discussão. — Temos que voltar pra dentro do bloco de celas, não temos tempo pra isso! Pode haver outro atirador por perto.

O grupo pareceu voltar à realidade aos poucos e Ellie por fim parou de tentar desvencilhar-se, passando a apenas fitar Merle. Eu entendia seu ódio pelo homem, mas havia uma razão para ele estar ali acompanhado de Rick, e as coisas não se resolveriam com mais violência, que parecia ser a resolução de todos os problemas para a pequena e aparentemente inofensiva Ellie.

O homem que carregava a besta puxou Merle para dentro do bloco de celas, fazendo-me pensar quem seria ele e como se sentia tão acomodado em um lugar no qual acabara de chegar.

Gradativamente o restante do grupo recolheu-se para dentro da prisão; auxiliei Ellie na caminhada pelos corredores até o bloco C, onde adentramos nossa cela e eu a ajudei a se sentar sobre o colchão. Ela me fitou por alguns segundos, transbordando de desgosto.

— Eu sei que está com raiva — comecei. — Mas não pode fazer tudo que der na cabeça.

— Do que você está falando? Merle…

— Eu sei o que ele fez — cortei-a, em tom repreensivo. — Mas ele está aqui agora, e pelo visto vai se juntar ao grupo. Lide com isso.

Ela bufou e desviou o olhar no exato momento em que Hershel adentrou o cômodo, acompanhado por Beth. A garota trazia uma toalha limpa, uma agulha e um pedaço de linha. Ellie retorceu os lábios ao avistar as pequenas ferramentas.

— Isso de novo não… — murmurou.

— Sinto muito, mas sua ferida não parece nada bem — Hershel sentou-se ao seu lado e retirou o curativo que cobria os pontos, agora abertos. O ferimento sangrava novamente, não tanto quanto antes, mas ainda assim parecia grave. — Não se preocupe, não vai doer tanto dessa vez. Já não está inflamado.

— Aqui — Beth entregou-me a toalha e deixou a cela.

Enquanto Hershel cuidava de fechar os pontos, eu limpava o sangue do rosto de Ellie. A dor estava claramente estampada nas feições de minha irmã e ela se segurava para não gritar, emitindo apenas alguns gemidos esganiçados.

— O que foi que aconteceu com seu nariz? — perguntei enquanto limpava todo o sangue escorrido da parte interna de suas narinas.

— Eu caí de cara no chão — murmurou ela em resposta. Parecia não querer falar sobre o assunto, embora eu imaginasse do que se tratava… Ela não teria caído sozinha, mas sim graças ao homem que adentrou a torre de alguma forma, o qual ela admitira ter empurrado para os errantes. Eu não sabia bem o que dizer, queria consolá-la, dizer que ficaria tudo bem e que ela acabaria esquecendo-se de todos aqueles acontecimentos traumáticos, contudo sabia por experiência própria que aquela sensação de culpa por ter tirado uma vida nunca a deixaria.

Em poucos minutos, Ellie estava renovada, porém era evidente que precisava de um descanso. Ela se deitou no beliche, mas logo voltou a erguer-se assim que a voz de Merle ecoou pelo bloco de celas. Ela se levantou e mancou até o portão.

— Onde pensa que vai?

— Não se preocupe, eu não vou socar aquele pedaço de merda de novo — ela se esgueirou pelas grades enferrujadas. — Vou descansar em um lugar bem longe dele.

Limitei-me a suspirar quando ela deixou o cômodo debilmente, nunca acostumada à sua personalidade particularmente difícil. Ellie queria sempre demonstrar que era forte, uma sobrevivente nata que utilizaria de quaisquer meios para se manter viva, que sabia lidar com qualquer tipo de situação… O típico perfil badass, que não se encaixava muito bem à uma garota de sua idade e estatura. Eu sempre me perguntara o que ela queria provar, afinal.

Sentei-me no beliche, ao lado de Hershel, perdida em meus pensamentos. Notei que o velho homem observou-me por alguns segundos, em silêncio.

— Obrigada por cuidar dela — agradeci, esfregando a testa com as pontas dos dedos.

— Sua irmã é forte — comentou Hershel, fazendo uma pausa momentânea em seguida. — Ela me disse mais cedo que foram surpreendidas por dois homens na floresta.

Pisquei algumas vezes, atordoada com a lembrança e dirigi um olhar ao velho homem, imaginando onde ele queria chegar.

— Ela disse que você a salvou — completou.

— Eu matei um deles — soltei as palavras, antes presas em minha garganta. Eram meu fardo, e eu teria que carregá-las comigo pelo resto da vida. — Atirei em sua cabeça e empurrei o outro para os errantes.

Um misto de melancolia e pena traçaram as feições do homem.

— Eu imagino... Não deve ter sido fácil.

Senti-me paralisada por poucos instantes, refletindo sobre as palavras de Hershel e relembrando-me do sangue jorrando do buraco na cabeça do homem. Ele caíra morto em questão de segundos, com o simples puxar do gatilho, e eu era a responsável. Desviei o olhar para o fazendeiro, franzindo o cenho.

— É assustador o quanto foi fácil.

Ele balançou a cabeça e suspirou pesadamente; parecia não saber o que dizer, o que era estranho, Hershel era o tipo de pessoa que sempre tinha uma resposta sábia para tudo.

— Mas, afinal… — continuei, tentando mudar de assunto. — O que Merle faz aqui? Quero dizer, como vocês o conhecem… E quem é aquele homem com ele?

— Daryl é irmão de Merle — explicou Hershel. — Eles estavam com o grupo de Rick desde o começo, até que Merle se separou deles. Achavam que estava morto, mas na verdade estava em Woodbury esse tempo todo... Bem, é uma longa história. Tudo que precisa saber é que Daryl é um homem bom, talvez o contrário do irmão.

Refleti por alguns instantes, pensando que talvez Ellie e eu também fôssemos o oposto, mas ela apesar de tudo era boa… Enquanto eu havia assassinado um homem a sangue frio. Tentava convencer a mim mesma de que fora necessário, caso contrário estaríamos mortas, mas era extremamente difícil pensar desta maneira quando tentava dormir a noite e as imagens horrendas invadiam minha mente… Elas nunca iriam embora.

Hershel logo se retirou do aposento e se reuniu ao restante do grupo no bloco de celas, começando uma discussão a respeito do ataque. Escorei-me contra as grades de braços cruzados enquanto ouvia o debate, sem muita atenção. Alguns sugeriam fugir enquanto outros apoiavam a decisão de permanecer na prisão. Meu foco voltou-se para Merle, separado do restante do grupo pelos portões do bloco de celas, porém nada o fazia se calar. Diversas teorias formaram-se em minha mente, tentando entender a razão pela qual ele havia deixado Woodbury.

A discussão se deu por encerrada quando Rick deixou o bloco de celas decididamente, carregando consigo seu rifle automático. Olhei de relance para Hershel, aparentemente insatisfeito com as atitudes do líder. Logo ele, assim como os outros se recolheram para suas celas. Avancei pelo corredor do bloco de celas lentamente e passei pelo portão divisório. Merle estava largado em uma das mesas, cutucando o suporte em seu braço amputado. Ele ergueu o olhar ao me ver.

— Você veio me socar na cara também? — perguntou e eu não podia negar que sentia essa vontade, porém ignorei-o e sentei-me em um banco próximo, surpreendendo-o. — Eu sempre gostei mais de você.

— Ellie tem suas razões por ter feito o que fez.

— É o Governador que ela quer — comentou Merle, voltando a trabalhar no suporte.

Observei-o por alguns instantes, inquieta.

— Por você está aqui?

— Eu ia perguntar o mesmo — disse ele, desviando os olhos azuis para mim. — Rick e seu grupo atacaram a cidade. O Governador achou que eu fosse o culpado por deixá-los entrar na cidade.

Ele falava como se tudo aquilo fosse uma grande piada de mau gosto.

— Então você fugiu com seu irmão e os outros — conclui.

— E você e sua irmãzinha desapareceram durante o tiroteio — lembrou ele. — Eu me pergunto como, ninguém nunca conseguiu fugir daquele porão.

Dei de ombros, indisposta a explicar como havia escapado da cidade e Merle não insistiu.

— Por que você fazia tudo aquilo pelo Governador? — perguntei, finalmente. — Ele é um homem doente. E no fim acabou se virando até mesmo contra você.

Ele pensou por alguns instantes antes de responder.

— Eu não sei porquê fiz tudo aquilo — respondeu Merle, e parte de mim acreditava que ele estava sendo sincero. — Eu apenas fiz. Não tem desculpa… Por isso você e sua irmã vão me odiar para sempre, não é loirinha?

Balancei a cabeça e estreitei os olhos, direcionando-os fixamente para Merle.

— Eu não odeio você — admiti. — Eu tenho pena de você.

Pela primeira vez eu pude perceber que minhas palavras haviam o atingido de certa forma. Sua boca retorceu-se e ele me lançou um olhar de desprezo.

— Dê o fora daqui, garota.

Levantei-me, já dando a volta pela mesa. Não tinha a intenção de prolongar aquela conversa.

— Com prazer.

Voltei ao corredor e dirigi-me à minha cela, alcançando o rifle de caça depositado no beliche inferior e pendurando-o no ombro pela bandoleira. Não demorou muito para que Rick retornasse ao bloco de celas, informando que não havia nenhum movimento suspeito do lado de fora.

— Eu vou ficar de vigia — informei. Ele balançou a cabeça.

— Sua irmã está bem? — perguntou.

— Vai ficar — ajeitei o rifle no ombro e virei-me para deixar o bloco de celas.

— Ei — chamou ele, fazendo-me olhar para trás. — Obrigado.

Franzi o cenho, sem saber o que dizer. Eu não estava fazendo nenhum favor a ele, não via motivo para ser agradecida. Na verdade, estava tentando recompensar Rick e seu grupo por terem nos acolhido… Estava tentando dizer obrigado, indiretamente. Limitei-me a balançar a cabeça, assentindo, então voltei a caminhar pelo corredor, em direção à saída oposta do recinto, não estava disposta a encarar Merle novamente. Avistei Ellie encolhida no beliche da última cela, dormindo tranquilamente e decidi não interromper.

Deixei o bloco C e subi alguns lances de escada até acabar no que costumava ser a parte administrativa da prisão. Cruzei um longo corredor escuro antes de sair para a pequena ponte suspensa e cercada que interligava os dois prédios principais da prisão. Havia grandes tábuas de madeira dispostas sobre a ponte, apoiadas nas grades. A maioria delas fora danificada pelo recente tiroteio e eu não tinha certeza de que aguentariam outra rodada.

Abaixei-me diante de uma das tábuas e encaixei o rifle por um dos vãos das grades e olhei através da luneta. Pelo que pareceram horas permaneci na mesma posição, apenas olhando de um lado a outro, em busca de qualquer sinal suspeito. Apesar de achar que não havia nenhum outro atirador por perto, eu não conseguia me livrar da estranha sensação de estar sendo observada… Não era difícil acreditar que o Governador teria deixado algum de seus homens vigiando a prisão.

Logo ouvi o ranger da porta de ferro sendo arrastada, seguida por passos aproximando-se. Ergui o olhar e deparei-me com Rick. O homem mantinha o olhar fixo no horizonte, repousando uma das mãos no rifle e a outra segurando a grade. Apesar de toda a sua postura e de seus traços carregados de preocupação e tensão, havia um homem bom ali. Talvez simpático, engraçado, carinhoso… Todas as qualidades que o mundo provavelmente havia arrancado de si, deixando apenas uma mente focada na sobrevivência das pessoas que amava. Eu não podia culpá-lo por isso… Era exatamente o que eu estava me tornando.

— Como estão as coisas por aqui? — perguntou, sem tirar os olhos do horizonte ensolarado.

— Quietas — respondi com simplicidade. — Ele está brincando com a gente.

Rick olhou-me, curioso.

— Nesse exato momento ele está curtindo a vida em Woodbury enquanto nós estamos preocupados com a possibilidade de haver mais dos homens dele por perto — balancei a cabeça, soltando um riso sem humor.

— Isso é uma guerra — lembrou Rick, estreitando o olhar.

— É ridículo — continuei. — Estamos matando uns ao outros enquanto a real ameaça está lá fora.

Rick remexeu-se, inquieto.

— Você não quer que ele pague pelo que fez com seu pai?

— Eu quero… — fiz uma pausa, refletindo. Que diferença faria se o Governador pagasse pelo que fez? Meu pai estava morto, mas Ellie e eu ainda estávamos lutando por nossa sobrevivência e procurar por vingança acabaria provocando nossa morte... Por mais que quisesse algum tipo de vingança por minha perda, eu não podia ignorar o lado racional de tudo aquilo. Era o que meu pai faria. — Eu não sei… — suspirei, cansada de sentir-me tão confusa a respeito de tudo. — Eu só quero que tudo isso acabe.

— Acredite ou não, eu também quero.

Ergui o olhar para Rick e o observei por alguns segundos.

— Você não tinha motivos pra ter me agradecido, mais cedo — comentei e ele não respondeu. — Mas eu tenho. Só não sei ao certo como fazer isso.

— Eu não ia deixá-las ficar aqui — Rick balançou a cabeça, contrariado. — Foi Hershel e o restante do grupo que me convenceu. Também não tem pelo que me agradecer.

— Mas a palavra final foi sua. É suficiente… — suspirei. — Obrigada.

Rick me encarou por alguns segundos e por fim assentiu. Permanecemos em silêncio, observando o horizonte até que passos apressados aproximaram-se e pude distinguir Carl correndo em nossa direção.

— Pai… Andrea está aqui — informou o garoto.

Rick rapidamente posicionou o rifle nos braços e disparou para dentro do prédio, sendo seguido de perto por Carl. Sem delongas, voltei a posicionar o rifle diante das grades e atentei-me aos movimentos no campo. Andrea… Era um nome familiar, porém eu não conseguia associá-lo a nenhum conhecido. Avistei uma mulher loira avançando em meio aos errantes, tendo um deles preso a uma espécie de coleira. Estranhamente, os mortos ao redor a ignoravam… Talvez esse fosse o motivo de trazer um deles consigo. Uma tática inteligente, contudo arriscada.

Glenn e Carol saíram pela porta e aproximaram-se, armados. Glenn abaixou-se ao meu lado, apontando o rifle em direção à mulher.

— O que ela está fazendo aqui? — murmurou ele, para si mesmo.

Observei atentamente enquanto Rick avançava pelo pátio, seguido por Merle, Daryl, Michonne e Beth. Todos armados cruzaram a área cimentada e posicionaram-se ao redor das mesas dispostas. Rick e Daryl correram para o portão e o abriram no momento em que a mulher aproximou-se o suficiente. Ela soltou o errante que trazia consigo e foi imediatamente puxada para dentro por Rick enquanto Daryl fechava o portão.

Rick fez a mulher ajoelhar-se enquanto a revistava. Glenn ergueu-se e seguiu Carol de volta para o bloco de celas, tendo em vista o breve fim da confusão. Levantei-me, observando a cena e dando-me conta de que a tal Andrea estivera em Woodbury com Michonne. Ela estava sempre por perto do Governador depois que a morena deixou a cidade, o que me deixava com certo receio em relação a ela.

O grupo começou a se recolher para dentro da prisão, então fiz o mesmo. Cruzei o longo corredor e desci as escadas, voltando ao bloco de celas. Quando os alcancei, Estavam todos parados e em silêncio enquanto Andrea posicionava-se em meio ao círculo, aparentemente desestruturada com a situação do grupo. Ela perguntava sobre pessoas que eu não conhecia que aparentemente faziam parte do grupo antes. Todos ali pareciam familiarizados com a mulher.

— Você todos vivem aqui? — perguntou ela, olhando-me brevemente.

— Aqui e no bloco de celas — respondeu Glenn.

— Alí? — Ela apontou o portão que separava as celas e o asiático confirmou com a cabeça. — Posso entrar lá?

Ela se adiantou em direção ao local, mas Rick a impediu, bloqueando o caminho.

— Não posso permitir isso.

— Eu não uma inimiga, Rick — Andrea parecia perplexa.

— O campo e o pátio eram nossos até seu namorado destruir a cerca com um caminhão e atirar em nós.

— Ele disse que vocês atiraram primeiro — estranhou a loira.

— Ele mentiu.

Rick a encarou por alguns segundos, em silêncio.

— Ele matou um prisioneiro que sobrevivia aqui — comentou Hershel.

— Nós gostávamos dele — completou Daryl. — O cara era um de nós.

— Eu não sabia de nada disso — Andrea balançou a cabeça, contrariada. — Assim que fiquei sabendo eu vim… Só soube que vocês estavam em Woodbury após o tiroteio.

— Já passou algum tempo — lembrou Glenn.

— Eu já disse, eu vim assim que pude — defendeu-se Andrea, porém não foi convincente o bastante. O grupo ainda olhava com receio.

A loira virou-se bruscamente para Michonne.

— O que contou pra eles?

— Nada — respondeu ela, com simplicidade.

— Não estou entendo — Andrea balançou a cabeça. — Deixei Atlanta com vocês e agora sou uma estranha?

— Ele quase matou Michonne e teria nos matado — Glenn elevou o tom de voz.

— Com o dedo dele no gatilho! — Andrea apontou Merle, no lado oposto do aposento. — Não foi ele quem os raptou? Que bateu em você? — Ela fez uma pausa, suspirando pesadamente. — Eu não posso desculpar ou explicar o que Philip fez, mas vim aqui pra tentar nos unir… Temos que revolver as coisas.

— Não tem nada a ser resolvido — cortou-a Rick. — Vamos matá-lo. Não sei como ou quando, mas vamos.

— Podemos resolver essa história — insistiu Andrea. — Tem espaço em Woodbury para todos vocês.

Merle riu.

— Você sabe que não é bem assim — apesar de desprezá-lo, eu não podia deixar de concordar. Ambos os grupos jamais conseguiriam conviver em paz.

— Por que acha que ele quer negociar? — Perguntou Hershel. — Ele falou isso?

— Não — respondeu a loira.

— Então por que veio aqui? — questionou Rick, duramente.

— Porque ele está se preparando pra guerra. As pessoas estão assustadas… Vocês são tidos como assassinos. Estão treinando para atacar!

— Escute só uma coisa — pediu Daryl. — Quando vir o Philip de novo, diga que vou arrancar o outro olho dele.

— Já aguentamos muito, por tempo demais. Ele quer guerra? Pois vai ter uma — manifestou Glenn.

Andrea olhou para todo o grupo, perplexa, até pousar os olhos no líder.

— Rick… Se vocês não negociarem, e tentarem resolver isso, eu não sei o que vai acontecer. Ele tem uma cidade inteira — ela ergueu a mão direita. — Olhe a situação de vocês... Já perderam tanto. Não podem mais ficar sozinhos.

— Se quer resolver as coisas, coloque-nos dentro — cortou Rick.

— Não…

— Então fim de papo.

— Existem pessoas inocentes! — Andrea tentou convencê-lo, porém o líder retirou-se do recinto, aparentemente irritado.

O silêncio prevaleceu no local e a loira suspirou, fixando o olhar no chão.

— Precisamos consertar as coisas ou mais pessoas vão morrer.

— Como pode querer resolver as coisas? — tomei a iniciativa de falar, chamando a atenção do grupo. Andrea ergueu o olhar, confusa. — Você não sabe quem o Governador é de verdade.

Ela franziu o cenho, mas antes que pudesse responder, retirei-me do aposento e dirigi-me ao bloco de celas. Cansara-me facilmente da curta discussão… Não havia o que ser resolvido, e essa era a mais pura verdade. O Governador não pararia até estarmos todos mortos, e o grupo da prisão não se renderia. Era uma guerra da qual não haveria vitoriosos.

Sentei-me no segundo degrau da escada, retirando a faca de Isaac do cinto. Estava coberta de sangue seco. Tentei raspá-lo com as unhas, porém era inútil, então passei a esfregá-la contra o corrimão de ferro, obtendo resultados precários. Logo observei que Andrea se aproximava, e para a minha curiosidade, a loira parou diante de mim.

— Samantha, não é? — perguntou, e eu assenti. — Posso? — Ela indicou o espaço livre no degrau.

— Claro — respondi, sem muita convicção.

Ela se sentou ao meu lado e apoiou os braços cruzados sobre os joelhos. Ficamos em silêncio por alguns segundos enquanto eu raspava a lâmina contra o ferro, tentando decifrar o que a mulher queria comigo.

— Você estava em Woodbury, com a sua irmã e seu pai — lembrou ela. Parei o que estava fazendo e pousei o olhar no chão. — O que aconteceu?

Ponderei por alguns instantes se deveria mesmo responder.

— Ele… — minha voz fraquejou, então engoli em seco. — O Governador matou meu pai. Ele ia nos executar… Conseguimos fugir durante o tiroteio e o grupo de Rick nos acolheu.

Andrea parecia ainda mais perplexa. Seus olhos estavam úmidos, porém nenhuma lágrima era derramada.

— E-eu sinto muito... — Gaguejou ela. — Eu conversei com seu pai uma vez, ele era um homem bom... — Ela esfregou os olhos, suspirando pesadamente. — Meu Deus, isso é tão injusto…

— Injusto? — repeti. Sentia-me fria diante do desespero da mulher. — Minha irmã tem apenas 13 anos e foi forçada a assistir o seu namorado enfiando uma bala na cabeça do pai dela… Não fale de injustiça pra mim.

— Eu sinto muito… Ninguém devia passar por isso. Mas é exatamente por esse motivo que temos que tentar revolver as coisas… Eu não quero que mais ninguém morra — insistiu ela.

— Se tem uma coisa a ser resolvida é o Governador parar com o que está fazendo, mas todos nós sabemos que isso não vai acontecer… Pessoas vão morrer, é inevitável.

— Você é só uma garota… Não pode estar considerando essa possibilidade…

— Que outra opção eu tenho? Ou todos os outros aqui? Ele está nos forçando a isso… — balancei a cabeça. — Como você não enxerga?

— Eu enxergo. — Defendeu-se Andrea. — Mas há pessoas inocentes em Woodbury, você esteve lá e sabe disso.

— Há pessoas inocentes aqui também.

Andrea fitou-me por alguns segundos antes de ceder e descansar o rosto nas mãos, sem saber como continuar. Eu não prolongaria a discussão e ela não me convenceria de que havia uma maneira de consertar tudo. Parte de mim queria acreditar que as coisas poderiam mesmo terminar bem, porém isso estava fora da realidade.

— Ele está formando um exército na cidade — ela já não tentava me convencer a respeito de nada, apenas desabafava, desacreditando que nos encontrávamos mesmo em tal situação. Era estranho de certa forma estar tendo aquela conversa com uma mulher com quem eu nunca falara antes. — Velhos e crianças… Ninguém foi poupado, até mesmo pessoas com doenças crônicas...

— Isaac — falei rápido demais, fazendo com que a mulher me olhasse intrigada. — Isaac Wayne… — Repeti lentamente. — Ele está bem? Está fazendo parte desse exército?

— É o garoto asmático — lembrou ela. — Sim… Ele está bem. Como eu disse Philip não poupou ninguém.

Assenti, balançando a cabeça.

— Se você o vir — continuei. — Diga a ele que estamos bem… Por favor.

— Claro, eu vou dizer — Andrea me lançou um mínimo sorriso antes de levantar-se. — Me desculpe por tomar seu tempo.

Ela se virou.

— Andrea — chamei, fazendo-a olhar-me novamente. — Você é uma pessoa boa… Não deixe o Governador te corromper.

Ela se limitou a balançar levemente a cabeça, com sua expressão melancólica, então deixou o bloco de celas.

 

***

 

A noite caía na prisão quando o grupo reuniu-se novamente. Algumas velas estavam acesas no canto do aposento, cercadas por enlatados e embalagens vazias. Eu me sentava ao chão, encostada contra a parede com Ellie ao meu lado, repousando a cabeça em meu ombro.

Andrea havia partido para Woodbury, deixando-me pensativa a respeito do que aconteceria nos dias que se seguiriam. Eu não podia negar que estava aflita, afinal eu estava envolvida no conflito, mas além de tudo, minha irmã também estava e eu não podia deixar que mais nada acontecesse a ela… Sentia-me totalmente incapaz de protegê-la ao ver seu rosto coberto de curativos. Eu tinha que reverter aquela situação.

O silêncio pairava entre o grupo quando Beth tomou a iniciativa de quebrá-lo, liberando sua doce voz em uma canção.

“They hung a sign up in our town

"if you live it up, you won't

live it down"

So, she left Monte Rio, son

Just like a bullet leaves a gun

With charcoal eyes and Monroe hips

She went and took that California trip

Well, the moon was gold, her

Hair like wind

She said don't look back just

Come on Jim

Oh you got to

Hold on, Hold on

You got to hold on

Take my hand, I'm standing right here

You gotta hold on…”

Eu não fazia ideia de como a voz de Beth era bonita antes de ouvi-la cantar, trazia uma sensação de calma ao ambiente… Exatamente o que o grupo estava precisando. Alguns admiravam seu canto enquanto outros pareciam perdidos em seus pensamentos. Observei Rick aproximando-se de Daryl e Hershel com a pequena Judith nos braços. Eles conversavam baixo, porém consegui distinguir algumas palavras como “patrulha”, e “procurar por armas”. Coloquei a mão sobre o ombro de Ellie e ela ergueu a cabeça, permitindo-me levantar. Caminhei até o trio, parando diante de Rick.

— Eu quero ajudar na patrulha.

Ele me olhou, intrigado.

— Não acho que seja uma boa ideia… — começou.

— Eu sei de um lugar que tem armas e munição — cortei-o. — E suprimentos.

De repente ele pareceu se interessar. O trio se entreolhou.

— E que lugar é esse? — perguntou Daryl.

— Minha casa. Meu pai era militar, ele guardava armas no porão — expliquei. — Ainda está tudo lá. Só pegamos o necessário quando deixamos Atlanta.

— Eu posso ir até lá — voluntariou-se Daryl. — Você me desenha um mapa.

— Não, eu vou com você.

— De jeito nenhum — negou ele.

— Eu tenho que ir até lá pra pegar minhas coisas, roupas pra mim e Ellie… — insisti. — Eu vou com você.

Ele e Rick se entreolharam então o líder assentiu.

— Certo você vai com ela pela manhã. Vou fazer uma ronda com Michonne e Carl. Hershel cuida de tudo por aqui.

— Ainda acho melhor ir sozinho — resistiu Daryl, carrancudo.

— Você não vai ter que ficar cuidando de mim, não se preocupe — avisei. — Eu já estive lá fora também, sei como as coisas funcionam.

— É melhor que esteja falando a verdade — advertiu ele.

— Vai ver por si mesmo amanhã — encerrei a discussão, arrancando um breve riso de deboche do caipira e afastei-me do trio, voltando a me sentar ao lado de Ellie.

— O que foi? — perguntou ela.

— Eu vou sair em uma patrulha amanhã — expliquei. — Com Daryl. Vamos até nossa casa.

— Então eu vou também...

— Não — balancei a cabeça. — Não insista, você precisa repousar.

Ela parecia relutante, porém apenas bufou e voltou a escorar-se na parede.

— Certo... Então não se esqueça da minha escova de dente — pediu ela, fazendo-me rir.

Ela voltou a apoiar-se em meu ombro, então descansei minha cabeça sobre a sua, permanecendo inerte. Meus olhos e ouvidos estavam presentes no bloco de celas, porém minha mente estava vagando muito longe dali, em um lugar que eu costumava chamar de lar… Mas que agora não passava de uma dolorosa lembrança que eu reviveria ao amanhecer.


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Notas finais do capítulo

Perdão por qualquer errinho, me avisem se encontrar algum, não tive tempo pra uma revisão muito detalhada.
Enfim, espero que tenham gostado, não se esqueçam de comentar e até o próximo!