Eu abri levemente os olhos tentando me acostumar com a claridade, que a propósito era pouca, não estou em casa, Sakura não está ao meu lado da cama.

Talvez seja hora de eu ir trabalhar, Sakura deve ter saído para fazer alguma coisa.

Dormimos na casa da mãe dela?

Não parece o quarto em que eu dormi apenas uma vez, quando Sakura me implorou até eu consentir. A mãe dela fez ela dormir no seu quarto de quando ela ainda morava lá e, me fez dormir no quarto de hóspedes.

Mas então onde eu estou...?

-Mande chamar o médico! - ouvi alguém gritar.

...Médico?...

O que aconteceu comigo? Só me lembro do começo do dia... anterior?
Sakura disse que estava com saudades dos pais e eu não hesitei em me oferecer para levá-la. A princípio eu queria deixá-la lá e ir para outro lugar, mas ela novamente me convenceu. Passei a tarde com Mebuki e Kisashi, depois Kisashi tinha um compromisso e assim a mãe dela iniciou a farra de perguntas. Eu não prestei muita atenção, ou melhor, não escutei basicamente NADA!

Sei que Sakura se divertiu, se minha esposa estava feliz, eu também estava.

Meus pensamentos foram interrompidos quando a porta foi aberta, tentei levantar a cabeça mas senti muita dor, foi nessa hora que percebi que minha cabeça estava enfaixada.

-Como está Sasuke? - o médico perguntou com a voz um pouco receosa.

Foi nesse momento que eu me toquei, algo aconteceu. Mas o quê?

-Bem. - falei enquanto tentava me lembrar de algo que me desse indícios do que podia ter ocorrido.
-É bom saber... - antes que ele pudesse terminar de falar eu interrompi ele.
-O que eu estou fazendo aqui? - perguntei virando a cabeça para o lado, onde tinha uma janela, sua vista era para vários prédios, eu fiquei fitando ela por alguns longos segundos temendo o que ele iria me dizer.
-Você sofreu um acidente de carro Sasuke. - ele falou temeroso.

Me lembrei de várias coisas de uma vez, mas a que mais me preocupou foi lembrar que Sakura estava desacordada e muito ferida.

Mas ela é forte não é? Sim, ela é. Ela vai ficar bem? Sim, ela PRECISA ficar bem.

Eu não respondi o médico, talvez isso tivesse preocupado ele, mas ele não deixou que ninguém percebesse. Ele foi até a porta do quarto, escutei atentamente cada palavra pronunciada em sussurros.

-Por gentileza, poderia chamar o Sr. E a Sra. Uchiha?
-Sim - alguém assentiu provavelmente uma enfermeira.
-Obrigada.

Ele saiu do quarto, mas eu pude perceber que ele estava atrás da porta.

Como eu posso me convencer do contrário da única coisa que eu tenho certeza?
Sakura está ferida. Esta é minha certeza, quero me convencer do contrário, mas é um fato. Me lembro da cena.

Uma coisa que tenho certeza de que vão tentar me convencer?
Não é minha culpa. Foi um acidente.
Concordo que foi um acidente, mas se eu tivesse prestado mais atenção, nem eu, nem ela estaríamos nesta situação.

A culpa é única e exclusivamente MINHA.

Meus pais chegaram no quarto, mas eu estava absorto em pensamentos, não me dei ao trabalho de olhar para eles.
Voltei meu olhar para eles quando minha mãe se pronunciou.

-Sasuke? Que bom que acordou!! - ela estava feliz, mas eu não demonstrei nenhuma reação.
-Ficamos preocupados - meu pai disse de uma forma que realmente demonstrava certo alívio em me ver acordado. - Seu irmão tentou vir, mas uma tempestade se aproxima e ele não pode vir, o vôo foi cancelado. Agora já avisei a ele que você acordou, ele vai continuar lá a trabalho.

Itachi viajou faz 2 meses à trabalho para sabe-se lá que parte do outro lado do mundo. Não falo com ele desde então.

-Ele não precisa vir, estou bem.
-Nós sabemos, mas ele disse que de qualquer maneira quer voltar logo - minha mãe disse sorrindo.
-Cadê a Sakura? - fui direto ao único assunto que me interessava no momento.
-Ela... - minha mãe começou a tentar falar, mas hesitou por algum tempo. Ela olhou para o meu pai, como em um pedido silencioso onde ela pedia que ele desse a notícia que eu sabia ser inevitável, mas que eu negaria até a último segundo.
-Os ferimentos dela foram mais graves do que os seus - meu pai fez uma pausa antes de prosseguir. - Ela ainda não acordou e, os médicos não podem garantir se ela de fato vai acordar.

Um silêncio desesperador se instalou no quarto, minha mãe nem se quer conseguia me olhar. Meu pai estava inquieto e logo se retirou do quarto com a desculpa de tomar água.

-Sasuke... eu te conheço. - sabia que à partir daquele momento minha mãe começaria os consolos a forma dela.
-Não comece.
-Fique quieto.

Ela me surpreendeu com sua rispidez, fiquei um pouco chocado, não esperava por aquilo. Mas só havia uma coisa que ela poderia fazer se não fosse me consolar: questionar tudo que eu fiz, porque ela realmente me conhece.

-Pode começar.
-Sei que estava com seu celular, quero saber se na hora da batida estava usando ele. - ela foi direta, me lembrei dos pedidos insistentes de Sakura para que eu parasse de mexer no celular.
-Mãe eu...
-Direto ao ponto Sasuke Uchiha! - ela quase gritou.
-Na hora não, porque Sakura pediu que eu parasse.
-Você acelerou no cruzamento? - ela me lançou um olhar totalmente ameaçador. Ela sabe que é uma coisa que eu faria.

Fiquei calado, foi como se eu respondesse tudo.

-Sim. - respondi depois de um tempo.
-Como eu vou dizer isso para todos? Para seu pai? Para os pais da Sakura?! - ela me olhava com fúria, olhar esse que vi poucas vezes na vida.
-Mãe, eu não queria causar isso!!
-Mas causou!
-Eu amo ela, ela precisa ficar bem! Ela precisa ficar comigo!
-Fique quieto. - ela disse baixo depois de todos os seus gritos, encerrando uma discussão que seria longa se ninguém interferisse.
-Pode me deixar por um tempo? - perguntei fitando o chão.
-Não - ela me surpreendeu, bufou, e se explicou. - O médico quer te examinar. - ela disse e se retirou do quarto.

Depois de um longo tempo me examinando, uma bateria de raio-x para ver se tudo estava nos conformes, eu pude voltar para o quarto. Nada aconteceu comigo, nem uma fratura. Já com Sakura, o médico me explicou todo o estado dela, já que mesmo sendo culpado eu ainda sou seu marido.

*****

Quando eu acordei, nem havia reparado que cai no sono, e pedi para vê-la.
Sakura estava em um estado desesperador, era como se eu pudesse beija-la que ela acordaria surpresa e, corresponderia, depois de um tempo ela iria sorrir, dizer que me amava.
Mas ela estava lá, beirando o precipício da morte.
E eu estou prestes a perdê-la.
Se eu tentar beija-la ela não corresponderá, ela não vai me abraçar, talvez ela nunca mais faça isso. A pessoa maravilhosa e esquentadinha com quem me casei, pode nunca mais ser vista de olhos abertos. A mulher que quando eu estava bravo, me acalmava. Que quando eu estava triste, me alegrava. Ela pode se perder, e a culpa é apenas minha.

Talvez ela nunca mais faça o delicioso café da manhã, que me esperava depois de uma noite de trabalho cansativa.
Talvez ela nunca mais faça um cafuné nos meus cabelos quando eu ficar bravo com alguma coisa.
Talvez ela nunca mais possa me fazer ir à uma loja do shopping, só para assistir ela provar 100 vestidos e escolher 2.

...Talvez eu nunca mais tenha minha Sakura...