A conspiração escarlate escrita por Drafter


Capítulo 8
"Eu fiz o que precisava fazer"




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Kurama encontrou Kiki e o menino sentados na calçada da frente do bar. Os dois estavam exaustos de sono, mas tiveram um sobressalto ao ver a imagem do jovem ruivo vindo na direção deles. Kiki, ansiosa por respostas, levantou de pronto, puxando o menino, ainda preso pelo pulso.

— O que aconteceu? Onde está o cara?

Kurama olhou para o garoto, que abaixou o rosto assustado, se protegendo com a única mão que ainda estava livre. Estava desesperado para ir para casa, prometera nunca mais fugir ou brigar com os pais novamente, mas a garota segurava seu braço com força, chegando a machucá-lo.

— Você está bem? — ele disse, se agachando para ficar na altura da criança.

Ele virou o rosto aos poucos, ainda inseguro. Balançou a cabeça em sinal afirmativo, antes de completar:

— Meu braço está doendo...

Ao ouvir isso Kiki abriu a mão imediatamente, libertando o garoto e fazendo uma careta.

— Onde você mora? Vamos te levar para casa.

— Minha mãe falou que eu não devo dar meu endereço para estranhos.

— Aposto que ela também falou para você não fugir de casa com o primeiro idiota bom de lábia que você encontrar!  — Kiki gritou, assustando ainda mais o menino.

— Nós não vamos te machucar, está tudo bem. Só nos dê um endereço e o levaremos em segurança — Kurama respondeu, tentando conforta-lo.

O garoto, apesar de hesitante, concordou e, logo após indicar onde morava, sentiu um pó fino ser polvilhado sobre sua cabeça, caindo desmaiado. Kurama o aparou, o erguendo em seus braços.

— O que você fez com ele? — Kiki perguntou, assombrada.

— Ele pode descansar agora. Isso vai apagar as últimas lembranças dele — respondeu, se referindo ao pólen que havia espalhado sobre a criança.

— Como é? Isso tá ficando cada vez mais complicado... quem você é, afinal?

— Você vem comigo? — ele disse, ao sair andando com o menino nos braços.

(...)

Os dois caminhavam juntos pela madrugada após deixar o garoto no endereço fornecido, acompanhados apenas pelo som de seus passos na rua deserta. Por sorte, a janela do seu quarto ainda estava aberta devido à fuga mais cedo, e conseguiram deixá-lo dentro de casa sem chamar a atenção.

— Peraí... o que você fez com o cara, afinal? — Kiki ainda estava tentando entender o que tinha acontecido. O vento gelado da noite machucava seu rosto, obrigando-a a recolocar o gorro sobre a cabeça.

— Eu fiz o que precisava fazer — Kurama se limitou a responder. Evitava ter que matar inimigos, mas dessa vez uma criança estava envolvida e ele considerava isso algo hediondo e sem perdão.

— Como você sabia que ele iria encontrar com aquele moleque?

— Eu não sabia, mas desconfiei de que ele esperava alguém pela maneira ansiosa em que olhava para a porta e o relógio toda hora. Só não imaginei que seria uma criança... — ele disse, fechando os punhos com raiva. Não queria nem imaginar o que teria acontecido se ele não tivesse intervindo — Ah, antes que me esqueça!

Kurama sacou um bolo de dinheiro do bolso e jogou na direção de Kiki.

— Seu dinheiro, lembra? — ele falou, em resposta ao olhar interrogativo dela.

— Ah, sim... — disse, sem jeito, escondendo o fato de que nem lembrava mais que estivera atrás daquilo.

Os olhos verdes de Kurama foram direto de encontro aos dela, e ele pensou por um segundo em tudo que acabara de acontecer naquela noite. Sua suspeita estava confirmada: o homem certamente fazia parte do esquema maligno envolvendo o material encontrado por Hiei. Ele mencionou pessoas poderosas e até mesmo contatos no Mundo Espiritual, e tal ideia lhe deu um calafrio.

— Eu não posso deixar que você corra perigo — ele disse sacando uma pequena flor púrpura do bolso, a espremendo suavemente. Se virou para Kiki e esticou a mão na sua direção. Ela imediatamente aparou o braço de Kurama com força, fazendo com que ele deixasse a delicada flor cair no chão.

— Ei, o que pensa que está fazendo? Não vou deixar apagar minha memória igual você fez com aquele pivete!

— Não faça isso! — ele exclamou, ao ver a garota esmagando com o pé as pétalas caídas no chão — Elas são raras, não gosto de desperdiçar!

— Vai desperdiçar muito mais se continuar tentando!

— Sinto muito, Kiki, você já se envolveu demais, não é seguro. Vai ser melhor se você não souber dessa gente e eles não souberem de você.

— Eu não sou criança! Além do mais, você não disse que queria minha ajuda?

— Você já ajudou muito essa noite.

— Como, sendo babá daquele pirralho?

— Eu só estou tentando te proteger, acredite.

— Você não pode apagar minha memória! Eu... sei de algumas coisas. Podem ser importantes! — ela gritou. Era a única cartada que tinha disponível e torceu para a estratégia dar certo.

— Que coisas?

— Coisas que o menino me contou... tipo o nome do homem, pra onde ele queria levá-lo...

Kurama tentou ler a expressão facial da menina e captar o blefe, mas ela o olhava com tanta firmeza que foi impossível ter certeza.

— Você está mentindo — disse mesmo assim.

— Vai arriscar? 

Ele ainda hesitou. 

— Está bem, você venceu — falou. Queria ver até onde ela iria com aquilo — O que você sabe?

— Como eu sei que não vai ferrar com a minha cabeça depois que eu contar tudo?

— Se eu estou confiando em você, você precisa confiar em mim.

— Olha, vamos fazer o seguinte? Amanhã a gente conversa, estou morrendo de sono... — ela falou, dando um bocejo. Tinham acabado de chegar à sua casa — Eu vou ficando por aqui.

Ela ainda esperou alguns segundos, antes de se virar para entrar em casa, aguardando alguma reação dele. Kurama pensou em pedir para ela esperar, mas também estava exausto e precisava ponderar sobre o que fazer a seguir. Pensando bem, ela estava segura por enquanto: a única pessoa que sabia dela estava morta. Deu apenas um sorriso cansado e se despediu.

— Acho que te vejo amanhã, então.

(...)

— Você tem certeza disso, Yusuke? Ai, o sr. Koenma não vai gostar nadinha dessa história... — Botan andava de um lado para o outro, agitada. Não falava com os amigos desde a última reunião e sinceramente não estava esperando por esse tipo de novidade.

— Estou falando, Botan! Aquilo lá é uma passagem secreta ligando o Mundo dos Humanos ao dos Demônios.

— A única passagem foi fechada, você mesmo viu isso — Hiei argumentou, falando pela primeira vez durante a conversa.

— Se eu estou falando, é porque é, seu nanico!

— Calma, meninos, não precisam brigar! Hiei está certo, o portal foi fechado pessoalmente pelo Esquadrão de Defesa do Mundo Espiritual. Se isso for verdade, é algo gravíssimo! Mais alguma coisa que eu deveria saber, rapazes?

— Eu também trago novidades, Botan — Kurama se pronunciou.

— Que sejam boas notícias, por favor... — ela gemeu. Só a possibilidade de um novo portal aberto entre os dois mundos, possibilitando a livre circulação de demônios, era preocupante o bastante.

Kurama relatou o embate da noite passada, omitindo propositalmente a participação de Kiki.

— Se o portal for confirmado, as alegações sobre o envolvimento de seres do mundo espiritual fazem sentido... talvez alguém esteja acobertando essa operação — ele disse. Torcia para que tudo aquilo não passasse de um blefe, mas agora as coisas pareciam se encaixar, e isso não era nada bom.

— Era só o que faltava! Isso vai dar muito pano pra manga... — respondeu Botan.

— Espera aí — interrompeu Kuwabara — onde que a criança entra nessa história?

Kurama olhou para Hiei, que o olhou de volta, para em seguida virar o rosto. Sabia que o assunto era grave e confiava nas ações de Kurama. Se alguém tivesse que dar a notícia, que fosse o amigo.

— Hiei encontrou isso na mansão — disse o ruivo, sacando da mochila a pasta vermelha. Entregou a Botan e imediatamente Yusuke e Kuwabara se aproximaram para ver o conteúdo do material.

Botan mexeu na franja para ver melhor o que era aquilo que Kurama lhe entregava, e notou seu ar preocupado, o encarando por alguns segundos. Yusuke e Kuwabara se postaram cada um a seu lado, com ares de interrogação. Kurama sustentou o olhar e acenou a cabeça, encorajando o grupo a analisar o conteúdo.

O trio ficou enojado a medida que folheavam os papéis. Além de fichas com nomes e números, a pasta abrigava imagens de crianças e jovens, alguns ainda mais novos do que o menino encontrado por Kurama no bar. Em algumas delas, machucados eram visíveis por várias partes do corpo, enquanto em outras, os jovens eram retratados em situações humilhantes, com braços e pernas amarrados, em um verdadeiro catálogo de horrores. A única coisa em comum em todas as fotos era a ausência de roupas sobre os corpos infantis.

— Que horror... — sussurou Botan, impressionada. Sabia que esse tipo de coisa acontecia no Mundo dos Humanos, e na sua jornada como guia espiritual já teve que encarar muitas coisas pesadas, mas ainda sentia compaixão pelos humanos, ainda mais tão jovens. 

— Quem é o doente que está por trás disso? — Yusuke vociferou, pegando a pasta da mão de Botan com raiva. Poucas coisas tiravam ele do sério, e uma delas envolvia coagir uma criatura inocente. Olhou furioso para Kurama, esperando alguma explicação e sentindo o sangue ferver.

— O homem do bar mencionou pessoas poderosas, mas não deu mais nenhuma pista — respondeu Kurama impassível — Botan, acho que você precisa levar isso para o conhecimento de Koenma, ele precisa saber com que estamos lidando aqui.

Botan assentiu. Não queria ter que ir ao chefe levando informações tão desagradáveis, mas o caso pedia urgência e ela não poderia adiar nem um segundo. Prometeu aos amigos que traria novidades sobre a reunião com Koenma o mais breve possível, e partiu, levando a pasta vermelha consigo. "São provas", ela alegou ao tirar à força os papéis da mão de Yusuke. Precisou conter o garoto, que não queria esperar reunião nenhuma para ir atrás dos responsáveis, nem que fosse preciso ir ao Makai para isso.

— Kurama, eu também teria matado aquele filho da puta.

— Eu sei, Yusuke.


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