A conspiração escarlate escrita por Drafter
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura, espero que gostem!
O barulho eletrônico de tiros e magias impregnava o lugar, abarrotado de jovens de todas as idades. No meio deles, uma dupla de amigos duelava, compartilhando os controles do fliperama de maneira totalmente oposta: um era brusco e agitado; o outro, preciso e imperturbável.
— Você está falando sério? — Yusuke perguntou, mantendo os olhos vidrados na tela.
— Uhum — Kurama respondeu — O que você acha?
— Sei lá, isso está parecendo mais uma jogada desesperada do Koenma... E se não der em nada?
— Sim, é um tiro no escuro... Mas que pode atingir o alvo.
Yusuke chutou o arcade, irritado com o fim da partida que acabara de perder. Vasculhou o bolso em busca de mais alguma moeda, mas o encontrou vazio.
— Então você está pensando em ir ao Makai? — ele perguntou, ambos já se dirigindo para a saída do estabelecimento.
— Talvez... mas não sozinho.
Yusuke olhou intrigado.
— O que me diz? — Kurama perguntou, certo de que o amigo entenderia o pedido.
— Você ficou maluco? — ele respondeu, assim que a ficha caiu — Botan não disse que o programa de Detetive Espiritual foi suspenso? Eu não tenho mais nada a ver com isso.
— Esse não é o Yusuke que eu conheço — Kurama retorquiu — Além do mais, quem está pedindo a ajuda de um amigo sou eu, e não Koenma.
Yusuke parou de chofre, subitamente atingido por uma energia que diferia do lugar. Ao seu lado, Kurama sentiu a mesma coisa, interrompendo o raciocínio. Imediatamente começaram a apressar o passo. Em pouco tempo, já estavam correndo juntos na mesma direção, a energia ficando mais forte a medida que se aproximavam.
Não tinham percorrido nem cem metros quando esbarraram em uma criança que vinha na direção contrária, fazendo voar pela calçada um punhado de moedas que o pequeno levava nas mãos. Eles olharam confusos enquanto o menino pedia desculpas esbaforido e se ajoelhava para catar o dinheiro espalhado, gesto que os dois acabaram copiando. A forte aura negativa mantinha-se presente, deixando-os cada vez mais apreensivos.
Tão logo o garoto se afastou, outra figura surgiu. Dessa vez, um homem alto, cabelos compridos e calças rasgadas, uma barba rala e andar despreocupado. Poderia facilmente passar como mais um dos frequentadores assíduos das casas de apostas da região, se não fosse um detalhe: ele exalava uma energia fora do comum, como se fosse um...
— Demônio! — exclamou Yusuke, fixando o olhar no homem que se aproximava.
Kurama apenas concordou com a cabeça. Seu corpo enrijeceu, os punho fecharam e ele assumiu uma postura defensiva, instintivamente se preparando para lutar.
O homem parou, ao ver o caminho bloqueado. Olhou para os dois rapazes a sua frente e percebeu que eles eram diferentes. Que eles... sabiam.
— Que surpresa... — murmurou — acho que eu devia ter sido mais cuidadoso.
— Quem é você? — questionou Kurama, ainda se mantendo em alerta.
A pergunta fez o homem sorrir. Era a primeira vez que ele se via em uma situação de conflito naquele mundo e a ideia o deixou animado.
— O que foi? Sou só alguém como você — disse, em um tom de deboche que deixou a dupla ainda mais inquieta.
— Senpai! — eles ouviram uma voz infantil gritar alegre — Veja só o que eu consegui!
Yusuke e Kurama se viraram na mesma hora. O menino de antes corria até o homem com um urso de pelúcia em mãos, agitando os braços de maneira eufórica.
— Segui suas dicas e consegui pegar esse bichinho hoje! — continuou o garoto, alheio à tensão que se desenvolvia ali — Agora você precisa me ensinar a ganhar naquele jogo de tiro!
— Muito bem, Ryu! — o homem disse, curvando as costas em direção ao garoto — Por que não vai indo na frente e eu te encontro daqui a pouco? Antes eu preciso resolver um problema...
A criança olhou para trás, observando a dupla. Hesitou por um instante mas por fim assentiu, correndo de volta tão feliz quanto antes.
— Eu já entendi o que está acontecendo aqui — falou Yusuke, vendo o menino se afastar — Você ganhou a confiança do moleque e o próximo passo é levá-lo para um passeio no Makai.
— Para quem você trabalha? Akira? — Kurama perguntou, cerrando os punhos.
— Vejo que vocês estão bem informados — o demônio comentou, se divertindo com a situação — em uma outra ocasião, acho que poderíamos ter uma boa conversa, mas vejam bem... não posso deixar que vocês saiam por aí dizendo essas coisas. Traz problemas, sabe? — ele continuou, mantendo o tom despretensioso — Acho que não me resta outra opção a não ser matá-los.
Ao proferir essas últimas palavras, se lançou contra eles, sacando do bolso uma pequena navalha. Kurama e Yusuke saltaram, cada um para um lado, na tentativa de desviar do golpe, mas já preparados para contra-atacar.
Na mesma hora, Kurama percebeu um corte no braço esquerdo, próximo ao ombro. Por baixo do pequeno rasgo na camisa, um filete de sangue começou a escorrer. A ferida, apesar de leve, ardia intensamente; ele, no entanto, ignorou a dor e se jogou na direção do agressor, em movimentos marciais precisos.
Yusuke acompanhou o amigo, desferindo um soco que o atingiu em cheio no maxilar, fazendo o homem ir direto ao chão, atordoado.
— Vou te dar mais chance de falar — gritou Yusuke — Quem está por trás disso?
O demônio apenas riu, limpando o sangue que corria pelo queixo, vindo dos lábios machucados pelo soco.
— Acho que vocês estão fazendo perguntas demais. Cansei dessa brincadeira — disse, pegando de volta a navalha que, com o golpe, havia caído a seu lado.
Ele se levantou, e eles puderam sentir que agora emanava uma energia superior a de antes. A navalha brilhava em sua mão e os olhos, outrora negros, foram ganhando contornos avermelhados.
— Precisamos atrair ele para longe daqui — Kurama sussurrou para Yusuke — essa área é muito movimentada, isso não vai acabar bem.
A dor do corte, entretanto, voltou a incomodar, queimando toda a extensão do braço e fazendo Kurama levar involuntariamente a mão até a ferida.
— Você está bem? — Yusuke perguntou, ao notar o sangue fluindo do amigo.
Ele apenas balançou a cabeça. Não havia tempo para aquilo agora: o homem novamente brandia a navalha no ar e seus cabelos dançavam ao redor do seu rosto como se tivessem vida própria. Aproveitando a fúria cega do agressor, os dois correram para uma obra inacabada que despontava no final da rua, com as estruturas de madeira e concreto ainda aparentes, deixando que ele os alcançasse propositadamente.
Kurama aproveitou a proximidade com o inimigo e, jogando a mão para a frente, abriu os dedos, lançando no ar um punhado de pétalas de rosa, ao mesmo tempo distraindo e perfurando o corpo do homem, que gritou com a dor inesperada.
Sem perder tempo, Yusuke acertou o rosto do demônio com um novo soco, a força do golpe dessa vez sendo amplificada pela sua própria energia espiritual concentrada no punho. A potência do ataque faz o homem ser lançado para longe.
Durante a ação, entretanto, os cabelos do demônio se enroscaram como tentáculos no pulso que Yusuke ainda mantinha estendido, o puxando violentamente para junto de si e arremessando o garoto para a parede de tijolos ao lado. Ele bateu a cabeça e, aturdido, notou que pé ficara preso em uma armação de metal, parte da estrutura inacabada da construção. Segurou com firmeza o suporte metálico e puxou a perna, rasgando a calça e arranhando a pele no processo.
— Yusuke! — Kurama gritou, chamando a atenção do amigo. Yusuke virou a cabeça com rapidez, apenas para ver uma coluna de concreto caindo em sua direção, tão perto que sua única reação foi esconder o rosto com os braços, num ato simplório de auto-proteção.
Ele aguardou alguns segundos pelo baque inevitável, que não veio. Quando teve coragem de voltar o rosto na direção da pilastra, a viu parada no ar, suspensa.
— Acho que você deixou cair isso — o garoto ouviu uma voz feminina falar, a poucos metros dali.
No instante seguinte, a coluna foi jogada na direção do homem que ainda se encontrava sentado no chão com a navalha em riste. O concreto se despedaçou em milhões de partículas de poeira, nocauteando o alvo. Perto dali, Kiki soltou um palavrão, levando a mão na cabeça. Toda a ação não levou mais do que poucos segundos, mas o peso da estrutura que ela tinha acabado de manipular foi suficiente para lhe dar uma pontada de dor nas têmporas. Ela massageou a região vigorosamente, incomodada com a fraqueza.
— Você está bem? — Kurama correu até o amigo, que observara a cena do chão. Ele balançou a cabeça, terminando de soltar a barra da calça, que ainda estava presa em uma ponta de metal. Kiki logo se juntou a eles.
— Obrigado, essa foi por pouco! — Yusuke falou para a menina, assim que a viu — Como você veio parar aqui?
— Vi vocês correndo para cá, e o sujeito ali logo atrás — respondeu — não ia deixar passar uma cena dessas sem vir dar uma olhada. E então, quem é ele?
— Red Society — Kurama falou. Já havia colocado Kiki a par das últimas informações repassadas por Koenma sobre o grupo responsável pelo tráfico de crianças ao Makai.
Ela assentiu, sem muita surpresa. Se virou para o ruivo, prestes a falar alguma coisa, quando notou a manga esquerda do rapaz totalmente encharcada, o tecido grudado na pele em uma coloração escura.
— Céus! O que aconteceu com você?
Andou até ele e, num impulso, começou a desabotoar a camisa do uniforme de Kurama que, pego desprevenido, ficou sem reação diante do ato, deixando-a completar a tarefa.
Ela puxou o braço esquerdo do garoto para fora da manga, revelando um banho de sangue decorrente do machucado. A quantidade de fluido que corria pelo braço parecia desproporcional ao tamanho da ferida.
Yusuke também olhou espantado. Tinha visto que o amigo tinha sido atingido pela navalha, mas não imaginava que o corte tivesse sido tão profundo ou acertado algum ponto vital.
— Essa não é uma navalha comum... — Kurama falou — está tomada por uma energia negra. Foi o que ele usou para derrubar a pilastra em cima de você, Yusuke.
— Puta merda, precisamos limpar isso... — disse Kiki, ainda impressionada com o tanto de sangue que não parava de escorrer.
Na ausência de algo mais apropriado, usou a própria blusa — que usava por cima da camiseta de alça — para conter o machucado. Arrancou a camisa de uma vez, sentindo o vento frio bater nos ombros agora descobertos, e a puxou com força pela costura, separando em duas partes. Usou a primeira metade para limpar o braço de Kurama e a outra, para amarrar sobre a ferida, na tentativa de estancar o sangue. Ele agradeceu com um sorriso, ainda tentando esconder o fato de que a dor continuava excruciante.
— E o que fazemos com ele? — Yusuke perguntou, apontando com a cabeça o homem ainda desacordado no chão.
— Você acha que ele vai falar alguma coisa? — Kiki perguntou.
Kurama olhou com firmeza para o demônio caído à sua frente e subitamente se viu tomado por uma sensação desagradável, mas ao mesmo tempo inebriante. Uma sensação que não sentia desde seus tempos de glória como ladrão no Makai.
— A gente faz ele falar...
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