A conspiração escarlate escrita por Drafter


Capítulo 10
Aka


Notas iniciais do capítulo

Aka = vermelho (kanji)



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Yusuke estava mais inquieto do que o normal naquela tarde. Estava ardendo de ódio pelas imagens que viu na pasta encontrada por Hiei, e aquela espera por um parecer de Koenma era completamente absurda. Estava cansado da burocracia do Mundo Espiritual, de receber ordens, de ter que segurar suas ações. Ele podia muito bem ir até o Makai, encontrar os miseráveis que estavam por trás daquela sujeira e resolver isso de uma vez. Afinal, ele já tinha ido e voltado uma vez de lá, poderia muito bem fazer o mesmo novamente. É isso, estava decidido: iria tirar a limpo essa história, checar por conta própria se aquele portal que ele encontrou no apartamento levaria mesmo ao Mundo dos Demônios e infernizar os infelizes que se divertiam às custas de crianças inocentes.

Saiu de casa determinado a por fim nessa questão, se não fosse pela chegada de um jovem de vestes azuis e brancas, lenço vermelho no pescoço e uma chupeta na boca. Koenma, em sua forma adulta, estava parado em frente a sua porta.

— Eu sei o que você está pensando, Yusuke, mas não posso deixar você fazer isso.

— Que bom que você sabe, Koenma! E deve saber também que não adianta tentar me impedir!

— Não é tão simples assim. Vem, vamos conversar — e ele puxou Yusuke de volta para dentro de casa, olhando por cima do ombro antes de entrarem e fecharem a porta.

Yusuke notou o olhar de preocupação de Koenma ao proferir as últimas palavras e cruzou os braços, esperando ouvir a mesma lenga-lenga de sempre. Seguir as regras às vezes é simplesmente muito chato.

— Você tem razão: existe mesmo um portal aberto ligando o Mundo dos Humanos ao dos Demônios. Possivelmente mais de um... o que você encontrou parece fazer parte de uma rede muito maior do que eu imaginava.

— Eu sabia que estava certo! — ele exclamou — O que estamos esperando para acabar com eles? Aquelas crianças estão correndo risco!

— Eu sei, Yusuke... mas não vai ser fácil. Eu desconfio de que a alta patente do Esquadrão de Defesa do Mundo Espiritual esteja encobrindo essa operação, e eles podem ser perigosos. Se a notícia de que você estava investigando o portal chegar até eles, eu tenho medo do que eles possam fazer — ele explicou, cauteloso. Pela primeira vez estava temendo seriamente pela integridade dos seus amigos e até da sua própria. E conhecendo o comportamento explosivo de Yusuke, as coisas poderiam se complicar ainda mais rápido.

— E desde quando eles me metem medo? Já tentaram uma vez me banir para o Mundo dos Demônios mas não conseguiram. Se eles aparecem de novo, eu arrebento a cara daqueles malditos...

— Você não está entendendo, Yusuke! — Koenma falou, elevando a voz — Eu não estou falando de soldados treinados para receber ordens... estou falando do mais alto escalão do Mundo Espiritual. Eles sim podem decidir a sua vida e a dos seus amigos. Eles podem forjar qualquer coisa, usar seus poderes para confinar vocês em algum canto remoto do Makai ou até matá-los. Eles não precisam de ordem ou autorização; se quiserem dar um golpe no Reikai e agir por conta própria, ninguém tem como impedí-los — gritou.

Yusuke ouviu calado aquela explosão e abriu a boca para protestar, sendo imediatamente interrompido por Koenma, que continuou:

— E não seja tão arrogante a ponto de achar que pode vencê-los no combate. Você não tem ideia com quem estamos lidando aqui.

Ele lançou um olhar severo, de censura e ao mesmo tempo de súplica. Precisava fazê-lo entender a gravidade da situação. O que estava em jogo dessa vez era algo muito maior do que Yusuke conhecia.

— Ok, Koenma... e o que você sugere?

Ele suspirou fundo. Sabia que não tinha a resposta que Yusuke queria ouvir.

— Cautela, meu amigo...

(...)

— Ok, Kurama, o que você quer?

Kiki olhava para o ruivo parado à sua porta. Ele tinha retornado no dia seguinte, como ela pedira, e não queria mais adiar as coisas. Sabia que o tempo não estava a favor deles e temia que Yusuke tomasse uma atitude impensada, dado o seu histórico impulsivo. Quanto mais informação ele conseguisse reunir, mais fácil seria amarrar as pontas desse quebra-cabeça.

— Posso entrar?

Ela deu um passo para o lado, abrindo espaço para ele passar, fechando a porta atrás deles. O conduziu até a sala e sentou no sofá, acendendo um cigarro. A casa era espaçosa, porém simples. Móveis modestos, alguns um pouco desgastados, faziam companhia à decoração humilde e inexpressiva. O cinzeiro na mesinha de centro parecia não ser limpo a dias, tomado por cinzas e guimbas de cigarros apagados, e jazia displicente ao lado de uma enorme mancha de umidade na madeira.

— Preciso que me diga o que você sabe.

— Sobre o quê?

— Você sabe sobre o que estou falando.

Ela soltou a fumaça do cigarro pela boca e olhou pra ele, séria.

— Eu sei que aquele cara não queria levar o moleque para um passeio no parque. Claro que o pirralho não sabia onde estava se metendo, disse que o homem o levaria a um lugar longe dos pais dele, com outras crianças, onde ele não precisaria mais estudar, receber ordens e essas coisas. Que idiota...

— Ele falou mais alguma coisa? O nome do cara, o nome desse lugar, qualquer coisa?

— Ele chamava o cara de Ishida-san... e disse algo sobre uma viagem ou qualquer coisa assim.

— Viagem?

— É, parece que o tal lugar que eles iam não ficava por aqui, que era longe, mas que o homem conhecia um atalho e então não iam demorar muito pra chegar.

Ela soltou outra baforada. Kurama ficou pensativo por alguns instantes, pensando se a viagem se referia à ida ao Makai.

— Mais alguma coisa? — ele perguntou.

Ela não respondeu de imediato, olhando para ele com um misto de ansiedade e apreensão. Apagou o cigarro no cinzeiro imundo e acendeu outro em seguida, se inclinando para a frente em direção à Kurama.

— Eu peguei isso dele — disse, entregando a ele um cartão amassado que havia acabado que tirar do bolso da calça.

Kurama analisou o papel em suas mãos. Parecia um cartão de visitas vertical, porém sem nenhuma informação de contato. Apenas o nome Kaito Ishida na parte inferior, e no alto, um símbolo preto, formado pelo kanji Aka inserido dentro de um círculo. Todo o resto do cartão, incluindo o verso, estava em branco. Ele imediatamente lembrou da pasta vermelha e do seu conteúdo sórdido. Não se lembrava se os documentos dentro dela continham aquele ideograma específico, mas não tinha dúvidas de que o sujeito de antes estava ligado à ela de algum modo. Se ao menos ele tivesse mais alguma pista...

— Você está pensando em ir atrás desses caras? — ela falou, interrompendo seus pensamentos.

Ele não soube o que responder. Olhou de novo para o cartão, mas foi novamente cortado pela voz dela.

— O que é isso tudo? Por que você está bancando o detetive? Como você chegou até eles?

— É uma longa história, Kiki, e você já se envolveu demais...

— Não! Eu quero saber o que está acontecendo! Eu tenho direito! Não é a primeira vez que eu vejo esse cartão e dessa vez não vou deixar passar batido!

Ele olhou surpreso para a menina.

— Você sabe de mais alguma coisa sobre isso?

Ela não respondeu, mordendo o lábio, nervosa.

— Kiki... você conhece esse grupo? — ele perguntou mais uma vez.

Ela hesitou, acendendo o terceiro cigarro daquela tarde. Xingou baixinho, evitando olhar para ele.

— Sim... — sussurou.


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