Begin Again - Em edição escrita por Hese, Theleader


Capítulo 6
Ghost Of You - Um dia desses, eu vou perceber


Notas iniciais do capítulo

Como posso começar? Pedindo desculpas talvez. Estamos cientes do quanto demoramos, mas juramos que passamos todos esses meses ( ou quase dois anos) escrevendo esse capítulo. Foi muito tempo, mas a gente realmente empacou!
Estamos muito felizes com os leitores que conseguimos, todos carinhosos e incríveis, e esperamos que ainda haja um por aí.
Espero que gostem.

PS: Infelizmente, não termos mais datas para postagens por falta de tempo, mas atualizaremos o mais rápido possível.



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Acenei para Madge, que se afastava com um bloquinho onde estava anotado o pedido que Peeta fizera por nós dois, e que iriamos dividir.

— Porque você está me olhando desse jeito? – Ele perguntou assim que ela sumiu atrás do balcão – Não precisa ficar surpresa só porque eu sei o seu favorito.

— Se você sabe que é meu favorito, deveria saber então que eu não vou ficar só com a minha parte.

— Você pode ficar com o meu pedaço se aceitar assistir a um filme hoje. – Peeta murmurou divertido. – Um clássico.

— I'm singing in the rain… – Arrisquei a primeira frase, mas minha voz saiu um pouco mais alta do que o esperado, o que fez Peeta gargalhar e a senhora da mesa ao lado nos encarou. – Ah ótimo, até ela percebeu que eu não sei cantar.

Logo uma garçonete se aproximou com o que julguei ser o nosso pedido, mas não era a mesma, e meu coração acelerou no momento em que a reconheci.

— Ah, Katniss eu sabia que você estava aqui! Assim que vi o pedido fiz questão de trazer. –Glimmer sorriu em minha direção, e depositou a bandeja com cuidado entre mim e Peeta. Ele sorriu educado e a ajudou a retirar as xícaras, apoiando-as sobre a mesa.

— Eu realmente fiquei surpresa por te encontrar agora, faz tanto tempo! – Sorri com as suas palavras, mas não a interrompi. – Cato também esteve aqui hoje, pensei que estava te esperando porque demorou mais tempo que o habitual.

Ela deslizou o prato pela mesa de madeira, e Peeta agradeceu em um murmúrio baixo. Segui suas palavras, tentando parecer indiferente ao que ela dizia, mas não pude evitar a chegada do frio na barriga, que me deixou pior com a situação.

Talvez essa tenha sido uma das únicas vezes em que me senti verdadeiramente incomodada por ter voltado. Glimmer arqueou as sobrancelhas esperando por uma resposta, e balancei a cabeça enquanto olhava para Peeta de soslaio.

Ele baixou o olhar, e encostou o dedo na borda da xícara, na tentativa de nos dar o máximo de privacidade que podia naquele momento. Suspirei pesadamente, tentando aliviar a tensão, e sorri da melhor forma que pude.

— Ele não estava, não precisa se preocupar com isso, Glimmer. – Minha voz saiu baixa, e Peeta arqueou as sobrancelhas ao me encarar novamente. – Espero que Peeta goste do seu café tanto quanto eu gosto.

Ele não pareceu incomodado por virar o centro de nossa conversa, mas obviamente percebeu a minha tentativa de desviar o assunto. Glimmer sorriu e tocou o meu ombro. Suspirei novamente ao perceber que ela não tocaria mais no assunto agora.

— Eu tenho certeza de que ele é bom, não precisa ficar ansiosa pelo drama da Katniss. – Ele brincou. Me esforcei para me fingir de ofendida.

Glimmer gargalhou, e após trocarmos mais algumas palavras nos despedimos. Toquei o guardanapo, desenrolando o talher para atacar a torta, mas Peeta tocou minha mão. Seu olhar foi firme em minha direção, e senti a necessidade de lhe dar uma breve explicação.

— Eu preciso manter o suspense para você continuar interessado?

Peeta manteve um sorriso agradável, mas não parecia o mesmo de sempre.

— Eu já estou interessado. O suspense agora fica por sua conta. – Usou um tom brincalhão, mas eu pude sentir o quanto ele se esforçou para isso.

Numa tentativa de mudar de assunto, ele pegou os talheres de minhas mãos e partiu um pedaço da torta, me oferecendo em seguida. Particularmente, eu também não queria tocar naquele assunto, então aceitei o garfo que me foi entregue.

— Ontem, no telefone, você me falou que tinha uma coisa que queria me contar. – Raspei o talher no prato, resgatando algumas lascas de chocolate caídas. – Alguma coisa relacionada a pintura.

Peeta sorriu afastando o clima pesado que pairava sobre nós.

Durante nosso passeio no parque na semana anterior, Peeta tinha me contado que o “mais” de seu trabalho eram as aulas de pintura que ele dava uma vez por semana no centro comunitário da cidade. Eu ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer, mas de acordo com suas palavras, logo uma exposição com as pinturas de seus alunos seria realizada.

— O pessoal tem se esforçado bastante, e eu acho que tem alguma coisa a ver com eu ter falado que quero parecer um bom professor quando você for ver. – Peeta falou enquanto tomava um pouco do seu café expresso.

Eu responderia que ele não precisava se preocupar com isso, mas o som da sineta da porta chamou minha atenção e meu olhar automaticamente seguiu naquela direção. Só percebi o quão nervosa me sentia quando notei que minhas mãos seguravam firmemente a borda da mesa.

No final das contas, a breve conversa com Glimmer tinha trazido um efeito não esperado. Eu tinha demorado tanto tempo para voltar a frequentar o café, que quando finalmente o fiz, Cato continuar por lá nem sequer foi uma preocupação minha.

Foi exatamente como no parque de diversões. Eu estava tão absorta pela presença de Peeta, que eu não considerei que a possibilidade de encontrar com Cato era uma coisa real.

Vê-lo, carregando aquele mesmo olhar reprovador que já tinha visto tantas vezes me levou de volta ao passado, onde tudo o que eu fazia causava um efeito negativo na nossa relação.

Peeta continuou a falar alegremente sobre o progresso de seus alunos desde o começo das aulas, mas infelizmente, eu não consegui me contagiar com sua animação. Seus dedos tocaram o dorso da minha mão, envolvendo-a em seguida, porém, eu não retribui o aperto.

Não foi de propósito, mas eu puxei minha mão para longe de Peeta. Ele manteve a mão parada no ar por poucos segundos, antes de se levantar. Foi um movimento calmo, mas tão rápido que acabou me surpreendendo.

— Se você ainda quiser experimentar aquele assado, acho melhor a gente ir logo. – Ele falou juntando nossos talheres sobre o prato da torta, sem me olhar. – Eu tenho um ensaio fotográfico às duas e meia hoje, se lembra?

Percebi que tanto a minha xícara quanto a dele ainda estavam cheias, e até mesmo a torta ainda estava na metade, mas eu tinha perdido meu apetite, então não questionei.

Me ofereci para pagar a conta enquanto Peeta ia buscar o carro, que estava estacionado na esquina. Ele já estava me esperando na porta quando eu sai, e como o trânsito estava movimentado, eu não demorei para ocupar meu lugar no banco do carona.

No tempo que eu tinha demorado para colocar meu cinto de segurança, o carro já entrava em outra rua, e a visão do café já tinha desaparecido do retrovisor.

Pela primeira vez, eu me senti incomodada com o silêncio que se instalou entre nós dois. Comecei a pensar em qualquer coisa que poderia iniciar um assunto, mas Peeta me poupou disso.

— O que acha de um pouco de música? – Ele perguntou ainda olhando para frente. Quando se virou, com um leve sorriso, eu me senti mais aliviada. – Têm uns CDs no porta-luvas.

Eu me inclinei, com um pouco de dificuldade por causa do cinto, e abri o porta-luvas. Como ele falou, havia CDs, mas também havia uma pequena pilha de papéis brancos.

— O que é isso? – Perguntei.

— Por que não descobre?

Com cuidado, peguei a pilha. Logo reconheci as fotos que tiramos na nossa visita ao parque. A maioria era da paisagem, porque eu me empolguei demais quando Peeta me deu a liberdade de usar a câmera o quanto quisesse.

— As fotos ficaram mais bonitas do que eu imaginava. – Murmurei enquanto passava as fotografias pelos meus dedos. Peeta tocou minha perna, chamando minha atenção e sorri divertida ao vê-lo se afastar, pois pareceu envergonhado por um momento. – Qual o problema?

— Eu só queria dizer que também acho que elas ficaram bonitas. – Ele limpou a garganta e gargalhei.

Seus olhos focaram meu rosto demonstrando dúvida e contorci os lábios antes de pronunciar:

— Pode fazer aquilo de novo se quiser, não somos estranhos.

Peeta e eu já nos conhecíamos há mais ou menos uns dois meses, mas, às vezes, eu quanto ele nos pegamos envergonhados por algum gesto. Era diferente vê-lo em uma situação daquelas, pois ele sempre fora confiante, da maneira que eu desejava ser.

Ele abriu um sorriso e apoiou a mão livre em minha perna novamente, dando um leve aperto. Seus olhos não estavam em mim naquele momento, mas, mesmo assim, pude sentir sua alegria ao envolver meus dedos entre os seus.

 

~***~

 

Peeta balançou o corpo lentamente ao ritmo da música enquanto remexia a panela de molho no fogão. Sorri abertamente sabendo que ele não veria, e me permiti acompanhá-lo com o olhar. Sua voz preencheu a cozinha ao acompanhar o refrão, e gargalhei ao vê-lo se virar em minha direção ao dizer “baby”.

— Espero que o gosto esteja tão bom quanto a sua dança. – Falei. Peeta levantou as sobrancelhas e me lançou um olhar curioso. – Qual o problema? – Levantei as mão em rendição e sorri. – Tem um cara dançando na minha cozinha, isso é impossível ignorar.

— Eu pensei que você estava concentrada demais na sua tarefa. – Olhei para baixo, encarando os vegetais que já deviam estar cortados e suspirei, arrancando uma risada de Peeta. – Não precisa ter pressa com isso, pode me olhar o quanto quiser.

— Não seja convencido! – Revirei os olhos sem desfazer o sorriso.

Uma nova melodia se iniciou e eu voltei a cortar o restante dos legumes. Quando notei que Peeta tinha parado com seus movimentos, olhei para cima novamente e o vi de olhos fechados, apreciando a calmaria da nova música.

— Quer que eu dance essa também? – Ele se virou após desligar o fogo. Estendeu uma mão em minha direção e eu sorri. – Pode me acompanhar.

— Eu preciso cortar isso… – Apontei a faca para baixo, indicando todos os pedaços que estavam sobre a bancada. Peeta balançou a cabeça e a retirou de minha mão, me fazendo levantar em seguida.

Ainda segurando minha mão, ele me guiou até o espaço livre entre a sala e a cozinha. Entrei na brincadeira, e ajeitei minha mão sobre seu ombro, entrando no embalo do ritmo proposto por seus passos.

Peeta firmou um dos braços em minha cintura e deixou que a outra mão deslizasse por minhas costas, desnudas pelo vestido aberto nessa área.

A música que tocava era uma romântica, escolhida aleatoriamente entre os CDs que Peeta trouxe mais cedo. O cantor transparecia dor na voz, e sussurrava as palavras como se elas fossem um segredo. Assim que o refrão foi tocado pela segunda vez, eu já havia decorado, e me permiti murmurar junto com ele a melodia.

Com um leve aperto, Peeta me puxou para mais perto. Por conta da nossa diferença de altura, pude encaixar meu nariz na curvatura de seu pescoço. E quando subi minha mão livre por seu braço, senti sua pele se arrepiar.

Conter um sorriso foi praticamente impossível depois de saber que eu era capaz de causar esse tipo de reação nele.

Peeta se inclinou um pouco, tentando me beijar, mas recuei, rindo. Ele franziu a testa e eu me aproximei, roçando nossos narizes. O observei de olhos fechados, esperando pelo meu próximo passo. Ele segurou meus braços, ainda sem abrir os olhos. Carícias lentas se iniciaram, com ele passando os dedos sobre minha pele com calma.

Levantei meus pés para conseguir um pouco de impulso para alcançar seus lábios. Prossegui de forma lenta e calma, apreciando o momento.

Peeta teve uma reação imediata quando eu prendi seu lábio entre meus dentes, me segurando com um pouco mais de intensidade. Seus dedos acariciavam o local onde me seguravam, enviando arrepios gostosos por todo meu corpo.

— Peeta? – Sussurrei, me afastando, mesmo que contra minha vontade. – Se você não trocou de perfume, acho que tem alguma coisa queimando.

— Sempre podemos pedir pizza. – Ele respondeu.

— É sério, vai lá. – Pressionei meus dedos sobre seu peito, rindo da sua cara de decepção.

Peeta roubou um último beijo antes de se afastar e seguiu até o forno, que exalava um cheiro muito bom de tempero.

— Se você pudesse ler minha mente não faria esse tipo de coisa, Katniss.

Eu torci para que minhas bochechas não estivessem vermelhas por conta dos pensamentos maliciosos que passaram por minha cabeça em resposta.

Estive vivendo numa bolha de romantismo com Peeta pelas últimas semanas, e todo seu comportamento atencioso tinha me impedido de vê-lo de outra maneira, até aquele momento.

Baixei o olhar, acompanhando o movimento de seus braços fortes, que estavam expostos por suas mangas dobradas até os cotovelos. Peeta abriu um sorriso radiante em minha direção, e retribui quase que sem perceber.

Ele apoiou a travessa sobre a bancada e retirou as luvas de cozinha. Com as mãos livres, ajeitou alguns fios rebeldes de seu cabelo liso que caiam sobre seus olhos. O movimento não me era estranho, mas, naquele momento, me pareceu extremamente sexy.

Depois disso, eu não demorei para terminar de cortar os vegetais para a salada. Como ele já tinha tirado o assado do forno, assumiu a tarefa de arrumar a mesa. Despejei a salada em uma travessa pequena e peguei os pratos para o nosso almoço, porque Peeta ainda parecia um pouco perdido com a localização das coisas.

Ele se acomodou na banqueta ao meu lado e começamos a nos servir.

Eu fui a primeira a começar a comer, e pude notar o olhar cheio de expectativa de Peeta. Só então me dei conta de que era a primeira vez que provava sua comida. Tentei demonstrar uma expressão indiferente por pura diversão, mas não consegui mantê-la depois da primeira garfada.

— E então? – Peeta perguntou, mas pelo seu sorriso satisfeito, eu suspeitava que ele já sabia da resposta. E em caso de dúvida, eu tratei de logo encher o garfo com mais um pedaço do assado.

Ele ainda não tinha começado a comer, e eu me senti um pouco incomodada.

— Não precisa ter pressa com isso. – Apontei para seu prato, imitando sua provocação de minutos atrás. – Pode me olhar o quanto quiser.

— É uma proposta tentadora.

Ao contrário do que eu imaginava, não senti minhas bochechas esquentarem. Um pequeno sorriso se apoderou dos meus lábios e eu mantive meu olhar preso ao dele, antes de voltar a comer.

 

~***~

 

Joguei minha cabeça para trás e senti o impacto contra a placa estofada sobre a minha cama. Meu computador estava aberto, próximo as minhas pernas, que estavam cruzadas.

Eu tinha começado a escrever assim que Peeta tinha ido embora, logo após o almoço, me sentindo repentinamente inspirada, mas assim que me aproximei do que achava ser o fim do penúltimo capítulo, fiquei sem direção.

Eu não deveria estar muito concentrada, pois assim que o meu telefone começou a tocar, o atendi rapidamente.

— Espero que esteja disposta a receber visitas. – Demorei alguns segundos, mas reconheci a voz de Finnick do outro lado da linha.

— Eu precisaria de um motivo muito bom pra isso. – Respondi, ao mesmo passo que ajeitava minha postura.

— Henri está comigo. – Finnick falou triunfante, por saber que já tinha ganho o argumento. – Você não seria capaz de me deixar congelando no carro com ele.

— Vejo você daqui a pouco.

Finnick tinha a excepcional habilidade de achar uma vaga em qualquer lugar, então provavelmente não demoraria até que estivesse batendo a minha porta. O porteiro já o conhecia, depois das tantas vezes em que ele me visitou junto de Annie, então não me preocupei em liberar sua entrada.

Desliguei meu computador, pronta e animada para dar toda minha atenção para meu amigo e meu afilhado. Depois de fazer um rabo de cavalo desleixado, e tirar qualquer acessório que Henri pudesse agarrar, eu segui para a sala, bem a tempo de escutar as batidas na porta.

Finnick carregava o filho nos braços, e eu não estranhei, já que ele sempre odiou o carrinho escolhido por Annie. A bolsa azul-celeste com aviões estampados por ela toda pendia em seu ombro direito.

Percebi a alegria tomar conta do rostinho de Henri, e seus bracinhos se esticaram em minha direção. Imitei seu gesto, pegando-o do colo de seu pai.

Finnick não ofereceu resistência, mas faz uma careta.

— Eu estou bem, obrigado por perguntar.

— Não seja exagerado, Finnick. – Respondi ao dar espaço para que ele adentrasse meu apartamento.

Seguimos em direção ao sofá, onde me sentei para ajeitar Henri de maneira mais confortável em meu colo. Ele começou a brincar com meu cabelo, caído sobre o ombro, e, por mais que os puxões doessem um pouco, eu só conseguia me concentrar em seu riso gostoso.

— Não consigo imaginar como Annie reagiria vendo isso. – Finnick comentou antes de ocupar a poltrona ao lado do sofá. Ele despejou a bolsa ao lado do móvel, mexendo o braço em seguida.

— Admito que eu sempre pensei que você seria o mais controlador em relação a ele. – Comentei de maneira sincera, embora sorrisse.

Finnick me olhou de forma estranha, o que só aumentou o meu sorriso.

— Eu realmente não sei se tomo isso como um elogio. – Sua expressão se igualava com a de uma criança, então na minha cabeça, a qualquer momento ele seria capaz de me mostrar a língua.

— No final você acabou virando o pai babão, e você sabe que eu estou certa. – Fui rápida em completar a frase ao ver a boca de Finnick se abrindo, com ele provavelmente pronto para retrucar.

— Então está dizendo que a Annie é a controladora? – Perguntou. Apenas olhei para ele, o que foi o suficiente para que entendesse que eu não precisava responder. – Eu queria discordar, simplesmente porque faz parte da minha natureza, mas eu não tenho como.

Henri se agitou em meus braços, como se tentasse chamar minha atenção. O virei para que ele ficasse de frente para o pai, que esboçou um sorriso divertido. Indiquei com a cabeça para o controle remoto da televisão, largado sobre a mesinha de centro, e Finnick logo entendeu o que eu queria.

Ele ligou o aparelho num canal qualquer de desenhos infantis, e a sala foi preenchida por sons irritadoramente alegres, assim como a tela por cores exageradas.

— Eu amo demais ficar com Henri, mas eu jamais vou me acostumar com esse tipo de coisa.

— É melhor se acostumar, já que Annie escolheu esse desenho como tema da festa. – Finnick parecia estar se divertindo com a minha aversão por programas infantis, o que apenas me fez revirar os olhos. – Mas acho bom você nem usar a palavra festa perto da Annie. Se ela já estava pirando com todos os preparativos, imagina agora que ela teve que mudar as coisas por causa do clima.

— Eu imagino que vai acabar tudo bem, mas conhecendo a Annie, falar isso não vai ajudar em nada.

— Então isso se aplica a você também, com toda essa coisa do seu livro. – Finnick fez um gesto abrangente, mas manteve a face séria.

Annie provavelmente comentara com ele sobre meu estresse pré-livro – como ela carinhosamente apelidou. Foi a única razão que eu encontrei para que Finnick tivesse ido me ver no meio da tarde, já que sua casa ficava a meia hora da minha. Mas ele nunca admitiria, e eu me contentaria com seu ato.

— São duas coisas completamente diferentes. – Respondi ao dar de ombros.

— Mas duas reações igualmente exageradas. – Foi a sua vez de retrucar, imitando meu gesto, só que de forma mais descomedida.

Não me ofendi com a sua tentativa de humorizar minha agitação em relação ao meu livro. Foi bom ver aquilo pelo lado engraçado, fez com que parecesse mais fácil.

Mesmo com as cores fortes da televisão, Henri se ajeitou em meus braços de forma confortável. Reparei que seus olhinhos estavam lutando para permanecer abertos, mas ele continuava agitado, tentando acompanhar as figuras coloridas que dançavam pela tela.

— Acho que alguém vai apagar. – Finnick murmurou enquanto se preparava para levantar, seus braços se esticaram em nossa direção, com a intenção de pegar Henri em um pedido silencioso.

O entreguei com cuidado, e o vi acomodar a cabeça de seu filho contra o peito, ao mesmo tempo em que apoiava suas costas com a mão livre. Seguimos em direção ao quarto, onde cerquei a cama com algumas almofadas, deixando o ambiente seguro e para que ele conseguisse dormir confortavelmente.

— Não acredito que ele já vai completar um ano amanhã. – Comentei ao me apoiar sobre a beirada da cama, acariciando os fios escuros que caiam por sua testa.

Finnick se apoiou no batente da porta aberta e cruzou os braços.

— Falando nisso, você vai levar alguém? – Perguntou com um tom inocente, mas carregando um sorriso descarado.

Continuei acariciando a pele macia da testa de Henri quando ele se agitou um pouco.

— Imagino que você já saiba a resposta. – Falei por fim.

— Eu acho um absurdo que a Annie conheça o seu namorado e eu não. – Ele resmungou baixinho. – Eu te conheço há mais tempo que ela!

Me pus de pé, suspirando pesadamente. Apontei para o corredor, indicando para que saíssemos do quarto.

— Peeta não é meu namorado. – Assim que completei a frase, senti o peso das palavras. – Pelo menos, não oficialmente.

Finnick não falou mais nada, mas manteve uma carranca engraçada quando saímos do quarto, até quando nos sentamos no sofá.

Desliguei a televisão para escutarmos caso Henri fizesse algum barulho, mas, no fundo, eu estava aliviada por não ter mais que ouvir nem ver aquele desenho irritante.

— Como se já não bastasse Annie falando o dia todo sobre essa tal Madge, que eu nem sei se realmente existe. – Finnick finalmente se pronunciou. Ele falou de uma maneira infantil, o que me fez rir.

— Annie convidou Madge para o aniversário também, não foi? Você vai conhecê-la.

— E o Peeta também. – Ele completou, exibindo um sorriso debochado. – Já que seu pai mora em outra cidade, eu que vou ter que representar esse papel.

— O que você pretende fazer? – Me levantei, na intenção de ir para a cozinha preparar algo para servir. Tinha conhecimento da aversão de Finnick por café, então pensei em oferecer um refrigerante acompanhado de uma pipoca de micro-ondas.

Era pouco comum para mim comer essas coisas na hora do café, mas o objetivo era agradar meu amigo, que não me visitava com tanta frequência.

— Sei lá. Nos filmes, os pais geralmente ameaçam os namorados mostrando uma coleção de armas ou qualquer coisa assustadora.

— Você tem alguma coisa desse tipo?

— Coleção de brinquedos infantis conta? – Finnick alcançou um brinquedo de Henri que pendia de um dos bolsos da bolsa de aviões. Apesar da sua tentativa de forçar uma expressão assustadora, o boneco fofo não ajudou. – Não passei por isso, os pais da Annie me adoraram logo de cara. Não posso culpá-los, meu charme é irresistível.

— Talvez o de Peeta também seja. – Comentei ao colocar o pacote de pipoca no micro-ondas. Ajustei o timer e me apoiei no balcão, de frente para a sala, de maneira que eu pudesse continuar a olhar Finnick.

— Não sejamos precipitados. O cara tem que ser muito bom para me impressionar. – Ele estava exagerando. Duas cervejas e um bom papo sobre futebol eram mais do que suficiente para convencê-lo.

— Ele impressionou a Annie. – Cantarolei sorridente.

— Lembrar que ele conheceu minha mulher antes de me conhecer não ajuda a contar muitos pontos. – Ele apontou, exibindo uma cara emburrada.

— Você tá nutrindo uma implicância por um cara que ainda nem conheceu, ou é impressão minha?

A brincadeira continuou pro mais algum tempo até o barulho do micro-ondas interromper a conversa.

Despejei a pipoca na primeira vasilha que encontrei e voltei para a sala, equilibrando dois copos com refrigerante contra meu peito.

Finnick tomou um longo gole do conteúdo de seu copo antes de respirar fundo. Ele tinha ficado repentinamente sério, e eu não poderia dizer se aquilo era uma coisa boa ou não.

— Brincadeiras a parte, sabe que eu me preocupo com você. Eu só quero te ver com um cara que te faça feliz.

— Nesse quesito, acho que Peeta consegue sua aprovação.

Mas por um momento, pensei mais a fundo sobre aquilo. Eu tinha dito a mesma coisa sobre Cato, numa conversa similar com um dos meus familiares, no início de nossa relação. Tinha alguma chance de eu estar me enganando de novo?

 


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