Begin Again - Em edição escrita por Hese, Theleader


Capítulo 4
Good Enough - Ainda não sou boa o bastante?


Notas iniciais do capítulo

Estamos muito felizes com os leitores que conseguimos, todos carinhosos e incríveis ♥
Espero que gostem.
PS: A música do capítulo é good enough do Little mix.



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Desenhei um círculo com os dedos no estofado de couro vermelho do café, sem tirar os olhos da tela de meu celular. A imagem de Peeta me vidrava, e não conseguia deixar de ler sua mensagem desde quando a me enviara. Aquelas palavras eram tão simples, que me sentia terrível por não ter respondido.

Assim como dizia sua mensagem, eu também havia gostado da noite que tivemos, mas a última coisa da qual ele precisava, era lidar com alguém tão confuso quanto eu. O que me fez ignorá-lo nos últimos dias novamente.

— Aqui está. - A garçonete murmurou, me despertando de meus pensamentos. Agradeci com um leve aceno e aceitei a xícara de café enquanto retribuía seu sorriso. - Espero que esteja gostoso, Katniss.

Arqueei as sobrancelhas quando ouvi meu nome. Ela riu baixinho e se inclinou um pouco mais em minha direção.

— Me desculpe. Escutei sobre você durante alguns dias...

— Ah, espere... - Eu disse, ao reconhecer seu rosto. Era a garota que Peeta contou ser o motivo pelo qual Gale vinha até aqui. - Mad..

— Madge. - Ela sorriu. - Aquele rapaz loirinho perguntou sobre você à alguns dias.

Contorci os lábios, algo que deve ter se parecido com uma careta, pois a loira riu.

— Uma das garçonetes antigas disse que você costumava vir aqui. Eu achei estranho, já que trabalho aqui há algum tempo.

— Eu precisava sumir um pouco... - Minha voz saiu mais baixa do que o esperado, me fazendo suspirar. Madge balançou a cabeça sem realmente entender e jogou os cabelos loiros para trás dos ombros. - Peeta esteve aqui mais cedo? - Perguntei ao encarar meu celular. Ele estava bloqueado, mas ainda assim me perturbava.

— Hum... - ela pareceu pensar por um momento, e então sorriu divertida. - Ele esteve ontem com Gale. - Madge franziu a testa - mas não me parecia muito animado.

— Ele perguntou por mim? - me forcei a falar, mas não sabia se realmente queria ouvir a resposta.

— Eu não ouvi nada específico, mas seu olhar pareceu rodar o salão a procura de algo quando chegou. - ela admitiu em tom pensativo - Olha, não quero parecer intrometida, mas tudo indica que ele estava atrás de você.

Madge sorriu, e eu me senti mal educada por não fazer o mesmo. Suspirei pesadamente, e fechei os olhos, desejando que os nós em minha cabeça se desfizessem. Quando os abri novamente, a loira mordia os lábios.

— Se quiser conversar, meu turno acaba daqui a alguns minutos.

— Certo... - forcei um sorriso e suspirei ao vê-la se afastar. Não sabia ao certo o que deveria dizer a ela, e isso me apavorou um pouco.

O tempo se arrastou, e eu me controlei para não olhar as horas a cada instante.

Vi Madge desamarrar o avental envolto em sua cintura, se preparando para sair de trás do balcão.

Toquei minha xícara e a levei até os lábios, tomando o líquido quente. Ela se sentou à minha frente sem cerimônias e apoiou um pequeno prato com um muffin sobre a mesa.

— Não é um almoço de verdade - ela tirou um pedaço mínimo da massa, e o levou a boca - mas vai servir.

— Você não prefere ir comer em outro lugar?

— Não se preocupe, Katniss. - a loira soltou uma leve risada. - Quando se passa muito tempo perto de comida, qualquer bobeira te deixa satisfeita.

Dei de ombros. Milhares de coisas se passavam por minha cabeça, mas eu não era capaz de transcrever nenhuma em palavras. Madge sorriu meiga, provavelmente me entendendo.

— Não precisa explicar tudo o que houve, sabe? Talvez você não queria tocar nesse assunto.

— Eu só estou preocupada. - admiti sem a encarar. - Não sei se ele merece isso.

—Tenho a impressão de que "isso" - Madge fez as aspas com os dedos, e em seguida pegou mais um pedaço do seu chamado almoço - envolve muitas coisas.

Concordei com um leve aceno, e bebi novamente um gole de meu café. Ela encarou meu celular quando ele apitou, e ao desbloqueá-lo pude ver uma nova mensagem de Peeta na tela. Fechei os olhos me castigando internamente.

— Deixa eu adivinhar - a voz de Madge me obrigou a sair da bolha que criei a minha volta - É ele?

Suspirei ao encarar a tela novamente, e senti seus olhos sobre mim.

— Você acha que ele vai te esquecer se não responder? Porque isso não vai acontecer.

Uma parte de mim sabia que ela estava certa, mas outra - que cada vez ganhava mais espaço - insistia em ignora-la.

— Eu prefiro pensar que sim.

— Você realmente acha que essa é a melhor opção? Se não gostar dele, com certeza é - eu abri a boca para contestar, mas Madge levantou o dedo indicador, prosseguindo - Mas eu nunca vi ninguém ficar assim por alguém que não gosta.

— Peeta está esperando uma pessoa completa, e eu estou longe disso ainda. - murmurei. - Não posso deixá-lo construir um relacionamento sozinho.

— Eu já não posso mais fingir que não sou intrometida - ela arqueou as sobrancelhas e eu ri baixinho - Por que diz isso?

O ar em meus pulmões pareceu se esvair repentinamente.

Era uma pergunta simples, mas só depois de ouvi-la saindo dos lábios de Madge com a calma a que lhe foi concedida eu percebi que nunca realmente falei sobre aquilo.

Depois que Cato foi embora, todos ao meu redor começaram a me tratar como se eu estivesse doente, fazendo questão de tentar fazer com que eu me esquecesse dele, sendo que tudo o que eu precisava, era tirar aquilo do meu peito. Annie vivia em meu apartamento, fazendo as mesmas coisas que fazíamos quando éramos mais novas, exceto que ela tinha Henri daquela vez. Mesmo que eu dissesse que não era necessário, ela insistia. Minha família agiu como se nunca tivesse ouvido falar de Cato, e todos os feriados e jantares dos quais ele participou não eram mencionados.

Nossa separação me destruiu, especialmente porque a culpa foi minha, e me odiaria ainda mais se fizesse o mesmo com Peeta. Era difícil me sentir boa o suficiente para alguém, merecedora do sorriso que carregava. Mesmo depois do fim, a culpa por todas as brigas, discussões e tudo o mais, pareceu cair em dobro nas minhas costas.

— Katniss? - Madge estalou os dedos em frente aos meus olhos, chamando minha atenção. - Você não precisa se punir internamente. Isso pode parecer uma droga agora, mas é normal..

Abri um sorriso fraco para suas palavras. Essa normalidade era extremamente confusa.

— Olhe em volta. Imagino que todos aqui tiveram ao menos uma decepção, talvez não tão grande quanto a sua, talvez ainda maior - ela olhou para os lados, e eu fiz o mesmo. A cafeteria estava com um movimento maior do que o que eu estava acostumada. A loira sorriu quando seu olhar parou em um casal. Ambos não pareciam ter mais do que seus trinta e cinco anos, e olhavam apaixonadamente um para outro, como dois adolescentes, com as alianças de casamento reluzindo em suas mãos - Mas nada disso os impediu de tentar de novo.

Desviei o olhar do casal para minha xícara quase vazia. Madge sabia o efeito que suas palavras causaram em mim, mas tinha certeza de que também imaginou que não foi o suficiente.

— Se fosse quiser ficar nesse clima, pode continuar. - ela falou, me olhando atentamente. - Mas pelo menos seja justa com ele. - ela indicou meu celular.

Movi meus lábios de um lado para outro - hábito que adquirira na infância com meu pai. A loira me olhava atentamente, quando eu me dei conta de algo.

— Peeta disse que já frequenta esse lugar há um tempo junto de Gale - mordi os lábios, controlando o sentimento de desconforto crescente em meu peito -Duvido que Gale não tenha dado nenhum passo até agora.

Para minha surpresa, as bochechas de Madge ganharam um tom escarlate.

— Gale é um encanto, mas ele não precisa saber ainda. - Ela gargalhou de suas próprias palavras, e me permiti sorrir por isso. - Pareceu bem cruel, não?

— Não muito...apenas confirma que sente algo por ele. - Suas bochechas ainda estavam avermelhadas, e ela as tocou tentando escondê-las. - Só não o faça esperar muito, ah! Isso também não parece justo.

— Eu falo se você falar.

Eu ri, sentindo por um momento como se tivesse voltado aos tempos de colegial, quando tinha conversas parecidas com minhas amigas.

— Eu sai com Peeta há alguns dias. - Cruzei os braços a desafiando. - Sua vez, Madge.

— Ei, isso muda um pouco as coisas. - ela arqueou as sobrancelhas ao dizer, e me apavorei por um breve momento. - Você está gostando dele, não está? Acho que não teria aceitado algo assim por impulso. Não parece que faria..

— As coisas seriam mais fáceis se eu soubesse responder isso.

— Vai admitir?

— Eu não tenho o que admitir ainda...parece cedo demais.

— Faça o que te deixa feliz, Katniss. Pense no olhar dele, na conversa...reflita sobre o encontro de vocês. Vai me dizer que em nenhum momento quis beijá-lo?

Eu me afundei no estofado, tentando ao máximo não sorrir.

— Não acredito! - Madge exclamou, chamando a atenção de algumas pessoas no recinto - Me fala, como foi?

— Foi tão... - suspirei. Não conseguia encontrar uma palavra para descrever meus sentimentos sobre aquele beijo, mas eu sorri. E me senti boba por fazê-lo.

Madge sorriu maliciosamente, e então foi minha vez de corar.

— Tão bom assim, é?

— Ah, pare - murmurei. Ela arqueou uma sobrancelha, e eu bufei - Okay, foi realmente muito bom

— Você parece bem quando fala sobre ele, talvez o problema seja pensar demais. - Madge tocou o restante de seu muffin e o levou até a boca, me fazendo esperar pela sua conclusão. - Tenho certeza de que o problema é esse.

— Mas é impossível não pensar. As coisas estão indo mais rápidas do que eu estou acostumada.

—E está sendo ruim?

— Não, mas...

— Então temos sua resposta.

Mordi os lábios, contrariada. Eu não tinha mais argumentos, e ao perceber isso, Madge sorriu vitoriosa, empurrando o celular em minha direção.

— Eu não posso fazer isso...

— Me dê um bom motivo.

— Simplesmente não sei o que dizer. - Encarei a tela escura e a toquei por distração, iluminando-a. - Não posso responder como se nada tivesse acontecido, e pedir desculpas parece tão idiota.

— Acho que ter uma conversa desse nível com uma pessoa praticamente desconhecida também, mas olha onde chegamos. - Ela sorriu de forma divertida, e suspirei ao concordar com suas palavras.

Madge ergueu o braço direito e encarou seu relógio de pulso, franzindo a testa e contorcendo os lábios. Abri um sorriso fraco ao deduzir que ela precisava partir em breve, mas não me sentia pronta para deixar aquele lugar e encarar a realidade.

— Você se sente bem?

— Depende do que isso significa. - Ela gargalhou após ouvir minha resposta e fiz o mesmo, mas minha risada demonstrava puro nervosismo. - Obrigado por me ouvir, Madge.

— Não por isso. - ela tocou o prato vazio, o puxando para mais perto. - Tenho certeza de que faria o mesmo por mim. Não existe jeito melhor de começar uma amizade, não acha?

Concordei ao retribuir seu sorriso e a acompanhei quando se levantou.

— Espero te ver logo. Não suma. - Ela avisou seriamente, me cutucando com a mão livre. Não segurei a risada e prometi que voltaria logo antes de vê-la partir.

Depois de sair do café, e de ter absorvido todas as palavras de Madge, abri a mensagem de Peeta sem nem ao menos lê-la, pronta para responder.

(***)

Olhei para a televisão, tentando me lembrar do motivo para tê-la ligado, já que uma música melodiosa tocava na minha sala de estar. Me estiquei até alcançar o aparelho de som para desligá-lo, após decidir que só o barulho do filme que se passava já era suficiente para minha cabeça.

Meu telefone jazia em meu colo, sendo que o havia usado há pouco para ligar para Annie. Suas palavras de encorajamento invadiram minha mente e desbloqueei a tela, abrindo a mensagem de Peeta, encarando as fotos que lhe enviei ao sair da cafeteira mais cedo.

Trocamos mais algumas mensagens, e só. Eu fiquei aliviada quando ele não questionou nada, mas era óbvio que estava chateado com minha demora. E eu não era capaz de tirar-lhe a razão. Era a segunda vez que eu praticamente o ignorava, sem nem ao menos dar uma explicação. E ao me dar conta do quão insensível aquilo parecia, todas as certezas que adquiri pelas palavras de Madge sumiram.

Minha insegurança, e tudo relacionado à ela permanecia lá, e isso acabava comigo. Era como se Cato estivesse a minha frente novamente, relembrando todos os erros e falando sobre meus inúmeros defeitos abertamente, deixando claro o quão perfeito ele era para estar comigo.

Não concordava com sua perfeição, mas talvez ele estivesse certo sobre o resto, e isso me fazia pensar: Se não fui boa o suficiente para ele, porque seria para Peeta? O que eu podia oferecer a ele além de decepção?

Um pequeno estrondo chamou minha atenção e encarei a janela da sala. A mesma estava aberta, e pude ver uma leve chuva caindo lá fora.

— Ótimo.. - murmurei ao ajeitar minha camiseta e voltei a atenção para o filme, tentando afastar ao máximo os pensamentos sobre Cato e o meu possível fracasso com Peeta.

As gotas finas da chuva começaram a molhar o piso de carvalho, e eu tive que levantar para fechar a janela. Afastei as cortinas claras, correndo o olhar pela rua, praticamente vazia. Dei uma risadinha de um adolescente que corria para a marquise mais próxima, quando o vi.

Ele estava parado, ignorando completamente a fina chuva que caia. Seu sorriso era encantador e suas mãos estavam ocupadas com embrulhos brancos. Peeta acenou quando me viu, e, completamente confusa, fiz o mesmo.

Dei alguns passos para trás, rindo sozinha, mas sem saber do que. Poderia ser tanto alívio quando nervosismo.

Sabia que não podia deixá-lo na rua, então liguei para a portaria e liberei sua entrada. Corri até meu quarto, para trocar os shorts do pijama por uma calça jeans qualquer. Numa tentativa de parecer mais arrumada, meu cabelo foi preso em um rabo de cavalo, e o brilho labial jogado no balcão da cozinha finalmente fora usado.

As batidas na porta fizeram meu coração disparar, não podia negar. Segui até ela, e abri vagarosamente.

Peeta estava encostado no batente da porta, segurando os embrulhos que vi antes em uma mão só. Sorri, e dei um passo para o lado, liberando sua entrada.

Ele usou a mão livre para bagunçar o cabelo, tirando o excesso de água nele.

Adentrou meu apartamento, sorridente como parecia estar a maior parte do tempo. Olhou em volta, e a ficha de que era a primeira vez que ele visitava meu apartamento caiu. Comentou algo sobre como a decoração parecia comigo, e eu sorri.

Apontei para suas mãos.

— O que...

— É isso? - ele levantou as sacolas, completando minha frase - cachorro-quente.

Ele se lembrou, e aquilo me deixou mais feliz do que eu poderia explicar.

Cruzei os braços, e mordi os lábios.

— Acho que eu disse que essa seria a minha coisa. Agora não tenho mais nada que possa te impressionar.

Peeta colocou o que seria nosso jantar, a julgar pela hora, em cima do balcão, e se apoiou nele.

— Eu devo discordar, definitivamente.

Puxei uma das banquetas e me sentei, dando a entender que ele poderia fazer o mesmo, e assim ele fez. Peeta tirou os embrulhos laminados, e alguns potinhos de plástico redondos. Franzi a testa e perguntei do se se tratava, ele tirou as tampas de cada um, revelando diversos acompanhamentos.

Puxei a sacola na qual eles vieram e não reconheci o nome estampado nelas.

— Você faz parecer que eu acabei de me mudar, sabe, por causa de todos esses lugares que eu nunca nem ouvi falar.

Peeta riu, e começou a organizar as coisas que trouxera. Me levantei, e peguei um dos vinhos que mantinha numa adega climatizada no canto da cozinha.

Levantei para que ele pudesse ver.

— Eu não acho que vinho e cachorro quente combinem, mas é isso ou um suco de laranja bem suspeito.

— Por mim está perfeito - ele falou e olhou para os armários transparentes que exibiam as taças. Inclinei a cabeça na direção delas, e ele se levantou para pegá-las.

Peeta ainda parecia meio tímido e receoso sobre a maneira que deveria agir naquele novo ambiente, mas era fofo e sorri com a situação.

— Peeta? - chamei sua atenção e logo fui atendida com um sorriso. Ele apoiou as taças com cuidado sobre a bancada e estendeu a mão para pegar a garrafa, que passei de bom grado. - Espero que goste do vinho. Não é tão bom quanto o que tomamos em nosso jantar, mas... - suspirei ao deixar a frase morrer.

— Mas? - ele disse, franzindo as sobrancelhas em minha direção. Desviei o olhar frustrada por ter mencionado nosso jantar. Estava nervosa por tê-lo ignorado depois daquela noite, e trazer esse assunto à tona era a minha última intenção.

Ele revirou os olhos de maneira divertida e pescou o abridor que estava pendurado no suporte de madeira.

— Eu tenho certeza de que é ótimo, Katniss. Não precisa se preocupar.

Peeta encheu as taças até a metade, e eu voltei para meu lugar ao seu lado.

Passei meu dedo indicador pelo vidro delicado enquanto observava ele servir a nós dois. Escolhi as coisas que me pareceram apetitosas e deixei que ele as colocasse no pão. Liguei a televisão, que poderia ser vista sem problema algum do lugar onde estávamos, e ele sugeriu um canal de filmes do qual gostava.

— Aqui está. - Aceitei o prato e murmurei um agradecimento. Peeta encarou a tv por um breve momento e sorriu alegremente antes de se sentar novamente.

— Acho que não podia estar passando filme melhor.

— Um clássico..- Comentei. - Gosta de filmes assim? É surpreendente.

Ele concordou, ajeitando os cabelos rebeldes que caiam sobre a testa. Reparei que estavam molhados e me levantei.

— Se eu não tivesse te visto, você passaria quanto mais tempo lá em baixo?

— Pra falar a verdade, eu estava indo até a portaria. - ele riu. - E não fiquei muito tempo na chuva. Estava saindo do trabalho quando encontrei uma lanchonete, e acabei resolvendo passar aqui.

Franzi as sobrancelhas imaginando se ele estava dizendo a verdade. Não me parecia muito educado deixá-lo se resfriar por causa disso, mas Peeta sorriu e balançou a cabeça em direção ao meu banco, me pedindo para sentar novamente.

— Vai esfriar. - Ele indicou o meu prato, e senti meu estômago protestar. Me sentei novamente e o puxei para mais perto.

— Não fique me olhando... - eu disse. - Essa pode não ser a melhor visão do mundo.

— Nós discordamos sobre isso. - Ele sorriu em minha direção, me deixando sem graça. - Não quer fazer as honras?

— Peeta, é sério... - murmurei envergonhada.

— Ótimo. - Ele agarrou seu lanche e o mordeu com vontade. Gargalhei quando metade caiu no prato e bati palmas em sua direção.

— Isso foi lindo! - Ele fingiu um agradecimento exagerado em meio as minhas palmas e risadas, e então bebeu um gole do vinho.

— Hmm, isso é bom. - Peeta murmurou após largar a taça e me encarou com um meio sorriso. - Sua vez, Everdeen.

Fechei os olhos por um breve momento, me sentindo boba por achar novamente suas palavras extremamente sexy.

Agarrei meu cachorro-quente e o levei até os lábios com cuidado, me certificando de que não cairia. Mordi um pequeno pedaço, mas não me contive e fiz novamente, deixando alguns acompanhamentos caírem.

— Mas que coisa... - Reclamei ao retirar alguns milhos de minha camiseta e senti os olhos de Peeta sobre mim. Ele sorria como uma criança e não consegui evitar fazer o mesmo.

— Ei, aqui está sujo. - Ele indicou o canto da própria boca, e abaixei a cabeça me criticando mentalmente por ter me sujado. Lambi os lábios na tentativa de me limpar, mas Peeta gargalhou chamando minha atenção. - Deixa eu te ajudar.

Ele se inclinou sobre a bancada, e prendi a respiração com sua aproximação. Seu sorriso ainda estava lá e meu coração se acelerou quando seu polegar tocou o canto de meus lábios.

Olhei para seu rosto, concentrado na tarefa. Seus dedos escorregaram do canto da minha boca, até minha bochecha. Engoli em seco, mas me sentia tão confortável com a situação.

— Prontinho - Peeta murmurou ao se afastar, e torci para ele não perceber o rubor em minhas bochechas.

Mordi mais um pedaço do cachorro quente, agora tonando cuidado para não me sujar.

Estávamos em silêncio, mas não de uma forma ruim. Era como se a presença um do outro fosse suficiente.

Nos concentramos no filme, fazendo comentários divertidos sobre algumas cenas. Eu não pude acreditar quando os créditos apareceram na tela, era como se apenas alguns minutos tivessem se passado.

Peeta recolheu os pratos - agora, vazios - e deixou apenas as taças. Coloquei um pouco mais de vinho em cada uma, e segui até o sofá, onde o controle remoto da televisão jazia esquecido.

Sabia que não haveria nada de interessante, então apenas desliguei a televisão, e quando ele sugeriu que eu colocasse uma música, concordei de bom grado.

Junto de alguns porta retratos, meus álbuns favoritos preenchiam a estante da sala. Passei o dedo por eles, pensando em qual deveria escolher.

Peeta me assustou quando se pôs ao meu lado, secando as mãos no pano de prato.

— Nossa - ele falou simplesmente - Você tem muitos discos do Queen.

Ele passou as mãos na fileira de álbuns que ocupava praticamente uma divisória inteira. Esperava alguma crítica em relação à isso, mas quando ele sorriu, eu fiz o mesmo.

— Nunca encontrei alguém que tivesse tantos quanto eu - Peeta franziu as sobrancelhas em desafio - Ou quase.

Dei um empurrão em seu ombro.

— Nem brinque com isso. Eu tenho certeza de que todos estão aí.

— Então por que não escolhe um pra gente ouvir?

Assenti, e ele foi se sentar no sofá da sala. Percebi que ele havia deixado as taças sobre a mesinha de centro, e logo tomava um gole do conteúdo da sua.

Retirei "Sheer heart atack" da capa e fui até o aparelho de som. Antes mesmo que qualquer música começasse, pulei para a décima segunda faixa. Não estava tentando impressionar Peeta nem nada do tipo, eu simplesmente amava aquela música por uma razão que nem mesmo eu conseguia entender

— She Makes me? - ele perguntou, com um sorriso.

— Eu adoro - Disse ao me sentar ao seu lado.

Peeta levantou as sobrancelhas ao ouvir a letra e cantarolou junto com a melodia. Me arrisquei a fazer o mesmo, mas no início apenas deixava escapar uma palavra ou outra.

Deixei que meu corpo escorregasse no sofá, até que ficasse a poucos centímetros do dele. Não foi intencional, mas quando ele apoiou o braço no encosto do sofá, próximo aos meus ombros, pareceu algo natural.

— Você não parece ser do tipo que gosta de Queen - admitiu, com uma risada anasalada.

Virei um pouco a cabeça para encará-lo, e ergui uma sobrancelha.

— E do que eu pareço gostar?

— Sei lá, Celine Dion.

Eu gargalhei alto, mais alto do que deveria, mas não tive medo de que ficasse exagerada, e nem me preocupei em forçar um riso bonitinho.

— Por que pensa assim? - perguntei.

— É bem fácil te imaginar cantando " I surrender" a plenos pulmões.

Peeta riu junto de mim, e eu me levantei mais uma vez para mudar a música.

Mesmo gostando do álbum, eu tinha essa mania de ouvir as faixas na minha própria ordem.

Mudei para a faixa oito, e me virei de novo. Peeta tinha um sorriso amarelo, e logo nossos olhares se cruzaram.

Enquanto o som dos instrumentos ecoava no volume mais alto na minha sala, ele segurou minha mão, fazendo sua pele quente contrastar com a minha. Eu cantei o primeiro verso, pouco me importando com a minha voz, e Peeta me acompanhou no próximo, complementando o coro de Stone Cold Crazy.

Suas mãos me ajudaram a rodopiar, segurando em minha cintura quando a volta era completa. Nos atrapalhamos diversas vezes, tropeçando e gargalhando no meio de sentenças da música.

Depois de um giro que acabou por dar errado, caímos no sofá, ambos com as respirações alteradas. O pouco de espaço que nos separava acabou quando me apoiei no seu peito, olhando em seus olhos.

Ele tinha o sorriso mais lindo que o vira dar até aquele momento, e eu encarei sua boca. Seus dedos afastaram minha franja dos olhos e sorri em sua direção.

— Eu acho que gosto de você, Katniss...

Suas mãos escaparam para minhas bochechas da mesma forma que fizeram antes, e eu me arrepiei. Fechei os olhos, aproveitando a sensação gostosa que suas caricias traziam. Mas quando os abri novamente, e vi ele mordendo os lábios inconscientemente, mas de forma tão tentadora, dei impulso com meus pés e alcancei sua boca.

Outra música, também agitada passou a tocar no lugar da que nos divertia antes, e era como se ela ditasse o ritmo do beijo. Intenso e necessitado, e senti como se todo aquele tempo sem nos falarmos tivesse contribuído para aquilo.

Peeta segurava em meus braços para que eu não caísse, devido a nossa posição, e eu segurava em sua nuca, sempre tentando trazê-lo para mais perto, como se o contanto que tínhamos não fosse suficiente.

Quando o ar se esvaiu totalmente de nossos pulmões, apoiei o queixo em seu tórax. Meu olhar foi parar em seus lábios avermelhados, e com alguns brilhos por conta do meu gloss. Peeta passou a língua nos lábios e franziu as sobrancelhas.

— Você tem gosto de cereja.

Fiz uma careta, demonstrando que ele estava errado.

— Tente de novo - falei.

Ele se aproveitou das mãos que ainda seguravam meus braços, e me virou, ficando por cima. Eu ri, e ele sorriu.

— Com todo prazer.

Música do capítulo

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