Mesmos erros? escrita por Sophia Snape


Capítulo 2
Arriscando


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, gente. Mesmo! E aproveitem!



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O baile chegou e Hermione estava decidida a não se deixar atingir pelo bruxo insuportável. Mas era bem difícil ignorar a pontada dolorida em seu coração toda vez que ela lembrava que o veria cada vez menos. A bruxa queria mais que a amizade dele, mas estava disposta a deixar o sentimento de lado se isso significasse mantê-lo por perto de alguma maneira. A que ponto ela tinha chegado? “Está sendo tola, Hermione”, decidiu-se. E com uma última olhada no espelho, saiu do quarto na esperança de que os pensamentos inconvenientes ficassem para trás, trancados, mesmo que por uma noite.

O que ela não imaginava, contudo, era que esses tais pensamentos se materializassem na figura vestida de preto parada do lado de fora.

— O que está fazendo aqui? – ela quase gritou, tomada pelo susto.

— Não tem uma festa desgastante acontecendo no Salão Principal? – a voz entediada deixava claro o quanto ele estava odiando aquilo tudo.

— Você deixou bem claro o quanto odiava bailes. – retrucou ela, ainda em choque por ele estar ali.

— Sim, odeio. Não há nada mais desgastante. Mas eu não seria Severo Snape se perdesse a oportunidade de lembrá-la o quão odiosa pode ser uma noite. – divertimento brotava da conversa provocativa. Se a intenção dele era irritá-la, ela o irritaria ainda mais ignorando.

— Você está tornando essa noite interessante, professor. – piscou ela, enganchando o braço na curva do cotovelo dele. – Vamos ver quem ganha: sonserina ou grifinória.

— Impertinente! – chocou-se ele, um pouco atordoado por ser subjugado e provocado pela mesma grifinória – ou seria sonserina – que estava pendurada nele.

— Oh, vamos lá Severo! Não pode ser tão ruim. Prometo salvá-lo de conversas e pessoas tediosas. – ela o fez literalmente rosnar – Bom... talvez você consiga fazer isso sozinho. – e riu. RIU! Hermione estava brincando as custas dele, e parecia se tornar ainda mais divertido a medida que a carranca aumentava.

“Talvez tenha sido uma péssima ideia vir a esse baile estúpido”, foi o que ele pensou quando ela apertou ainda mais a mão em seu braço para equilibrar-se ao descer a escada. Mas se ela estava jogando, ele também poderia.

Quando as vozes e a música começaram a ficar mais altas, Severo tentou se desvencilhar de Hermione. Não de uma maneira grosseira, mas indicando a entrada e deixando que ela passasse na frente dele. Quando ela tentou recuperar o toque, o bruxo afastou-se.

— O que foi? – ela tentou, confusa pela atitude dele.

Severo não sabia o que responder. Ela não via a impropriedade daquilo? De chegar na frente de várias pessoas ao lado dele?

— Hermione, vão falar se nos ver chegando... juntos

— Mas nós estamos juntos! Digo, você é o meu acompanhante. Não é?

— Sim, mas... eles vão inventar boatos, e não é bom que eles te associem tão diretamente a mim. Pode não ser bom para o seu futuro acadêmico.

— Mas a pesquisa é nossa. Já estamos associados. – argumentou, dando um passo em direção a ele. – Severo, isso é ridículo. Dê-me seu braço.

— Nós podemos entrar lado a lado. É o suficiente.

— É isso o que você quer? – NÃO!

— O que você quer? – ele devolveu a pergunta – Ser associada mais do que deveria a um ex comensal?

— Eu quero seu braço, Severo Snape. Então como vai ser? Vou ter que arrancá-lo ou você vai me dar de bom grado? – falou entredentes, chamando a atenção de alguns curiosos que entravam e saíam do Grande Salão.

— Grifinória irritante.

— Sonserino impossível.

E entraram. E o choque inicial foi se dissipando aos poucos, a medida que a bebida ia e vinha entre grupos de pessoas. E Severo e Hermione se esqueceram da briga tola, e tanto ele quanto ela se divertiram; Severo daquele jeito tranquilo, o humor muito parecido com uma cobra que rasteja com comentários sarcásticos, até que dá o bote – e a consequência era uma Hermione explodindo numa risada rica, iluminando todo o seu rosto, chegando até as bochechas rosadas e o fazendo perder o fôlego.

Houve também um momento raro em que Severo riu. Realmente riu! Hermione tropeçara no próprio vestido e xingara de uma maneira que não era nada graciosa, fazendo Severo rir do olhar irritado dela. Nesse momento, ao ver o rosto relaxado dele, Hermione quase se entregou a loucura daquele sentimento. Por muito pouco ela não se declarou, e por muito pouco ela não se aproveitou da baixa guarda dele para roubar um beijo. Os lábios finos trabalhando numa risada pareciam tão convidativos... e o vinho estava trabalhando tão rápido na cabeça dela... que tudo que ela queria era se agarrar aquele homem arredio e impossível e maravilhoso.

Mas ela não fez isso, no entanto. O vinho não era coragem líquida o suficiente. E tudo que fez foi se resignar com o amor platônico e decidir que já era tarde. Como que para testá-la, Severo era além de tudo um cavalheiro, e não deu outra escolha além de acompanhá-la até o quarto.

Caminhando silenciosamente lado a lado, trocaram olhares furtivos. Vez ou outra o negro encontrava o castanho e rapidamente desviavam. Por fim, Hermione decidiu que o silêncio era muito perigoso, e que se ela não inventasse alguma coisa – qualquer coisa! – para falar, certamente pularia no pescoço do homem.

— Não preciso dizer que conheço o castelo e que já li “Hogwarts: uma história” número suficiente de vezes para saber o caminho dos meus próprios aposentos. – brincou, fazendo-o sorrir.

— Se eu tive que acompanhá-la ao baile, pelo menos faço o serviço completo. – a voz baixa, o sorriso malicioso, os lábios finos, a postura, tudo! Absolutamente tudo nele irradiava sedução. E Hermione sabia que ele não estava tentando provocá-la nem nada remotamente parecido, mas a frase saíra tão... sensual que ela não conseguiu evitar corar.

— Bom – pigarreou – Eu ainda estou brava com você. – mudar de assunto era o melhor caminho.

— Eu nem ao menos sei o que fiz, Hermione, mas já não é redenção o suficiente ter ido à festa maçante e ter me comportado a noite inteira? – a voz era de um tom falsamente arrependido e indulgente.

— Bem, você não dançou. – ela disse, fazendo-o balançar a cabeça em divertimento.

— Seria um pouco demais, não acha?

— Um acompanhante que se preze teria dançado. – provocou.

— Eu não sou como os outros, Hermione. – ele queria dizer que ele não era romântico e... digno, mas Hermione dera uma resposta dúbia.

— Não, não é mesmo. “É infinitamente melhor”, pensou. – De qualquer maneira, obrigada. Admito que não teria sobrevivido sozinha. – confessou, fazendo uma careta adorável ao ter que admitir alguma coisa que ela tão veementemente negara. Ia contra todos os seus princípios de teimosia.

— Disponha. – ele fez uma mesura e em seguida parou ao lado da porta do quarto. Eles finalmente tinham chegado, e Hermione nunca desejou tanto que seu quarto fosse mais longe.

— Então... é isso.

— Sim, é.

O olhar dele era tão penetrante que Hermione não conseguia desviar. Era como um ímã. “Como nunca tinham notado Severo Snape antes?”, ela se perguntava, mas já sabendo a resposta. A beleza dele não era do tipo do comum; aliás, nada nele era comum. Não era para ser simplesmente visto, era para ser apreciado e desfeito em camadas, para então encontrar toda aquela pureza por baixo da mágoa e da culpa; toda a vulnerabilidade por trás da coragem; toda a capacidade de amar por trás da fortaleza.

E tudo aquilo estava lhe dizendo “boa noite” e indo embora. Ela não podia deixá-lo ir!

— Passo na sua sala para me despedir amanhã... bem, mais tarde então. – disse, a voz trêmula e o coração acelerado. E ele apenas acenara em concordância! Ela podia estrangulá-lo ali mesmo. Porque ele tinha que ser tão neutro na sua postura?!

“Que se dane!”, ela pensou. Ou melhor, não pensou. Quando se deu conta já estava na ponta dos pés, seus lábios encostando na bochecha dele. As mãos trêmulas usaram o ombro dele de apoio, aproveitando aquele momento para senti-lo próximo: seu cheiro, a solidez do seu corpo, a maciez da sua pele pálida.

Hermione então percebeu que era muito tempo para um simples beijo no rosto, e se resignando que ele não faria nenhum movimento em troca, deslizou as mãos dos ombros até o peito dele, até por fim soltá-lo. Mas antes que isso acontecesse, ele entrelaçou os dedos longos e frios nos dela e a puxou para um beijo cálido, tímido, temeroso. Ela suspirou na boca dele e passou as mãos para a nuca, sentindo-o tremer com o toque – o encorajamento para aprofundar o beijo insano.

Ele sentiu a língua dela trabalhar em seu lábio, e ele não podia fazer nada além de dar passagem, senti-la dentro da sua boca, seu gosto doce e afrodisíaco. Ele estava perdido quando suas mãos se fecharam na cintura dela e ela permitiu – permitiu! Eles não perceberam que haviam se movimentado até que Hermione estava encostada na parede, Severo com uma mão espalmada atrás dela enquanto a outra a segurava bem firme perto dele. Os seios dela agora estavam muito pressionados no tórax dele, e ele sentiu a irracionalidade invadi-lo quando percebeu o quanto a desejava. Desejava e a queria por perto, fazer parte, somar. Nada como pensamentos egoístas e possessivos – bem, talvez só um pouco – mas desejar realmente a felicidade dela. E se sentir feliz como estava, beijando-a, se perdendo nas curvas discretas dela, nos lábios macios e agora cheios, tão... beijáveis.

E foi então que ela, Hermione, fez algo que ele não esperava. Ela o tocou bem lá embaixo, e ele acordou para onde aquilo evoluiria. Eles não podiam fazer sexo! Estragaria tudo! Ele agiria de maneira estranha depois e a amizade se perderia. Ele a perderia.

— Hermione – tentou, ainda dentro da boca dela. Um dedo mais ousado apertou o volume com mais intensidade, fazendo-o perder um pouco a força nas pernas.

— Huum... – ela gemeu em resposta, provando agora a pele do pescoço dele.

— Hermione, pare. – ele a afastou.

— Você... você não quer? – o rosto corado, de repente se sentindo muito acordada e sóbria. Não era bom.

— Você tem uma chave de portal para pegar amanhã e deve estar descansada. Peço desculpas pela minha atitude. Eu... nós... não pode acontecer. Boa noite, Senhorita Granger. E desapareceu pelo corredor escuro, deixando-a totalmente arrasada para trás.

...

Hermione não se lembrava de já ter se sentido tão humilhada e despedaçada. Eles tinham finalmente se beijado, e então ela estava sozinha nos corredores sombrios do castelo, sentindo-se a mais tola das mulheres.

Ela tinha perdido o amigo e a esperança. Ela tinha perdido Severo Snape. E, aparentemente, a presença de espírito, já que seus pés não a obedeciam para sair do lugar. Tudo que Hermione queria era sentar no chão frio e irregular e chorar todos aqueles meses acumulados. Como, diabos, ela iria encará-lo agora? Mas como, por Merlin, ela poderia ficar sem ele?


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Notas finais do capítulo

Vocês teriam a coragem da Hermione? A coragem eu não sei... mas certamente teria a vontade haha