Mesmos erros? escrita por Sophia Snape


Capítulo 1
Entre poções


Notas iniciais do capítulo

Quando a pesquisa de Severo e Hermione está quase no fim - depois de meses trabalhando juntos, o mestre de poções lembra o motivo de estar tão calado.



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- Você está calado hoje. – disse Hermione, olhando por trás da bancada enquanto picava uniformemente o ingrediente para a poção que estavam trabalhando.

Solícito, Snape finalmente levantou a cabeça para encontrar o olhar dela, levantando a sobrancelha como se dissesse: “Você está dizendo algo muito óbvio”.

- Não venha com isso, Severo. Você está mais calado que o normal. Melhor assim? – provocou ela, no que o bruxo respondeu dando atenção novamente para a poção que cozinhava, escondendo o sorriso de canto de boca por trás dos cabelos negros que lhe caíam à vista.

- O que aconteceu? – Você, era o que ele queria dizer. Você aconteceu, Hermione. – Já sei. Não vê a hora de ter o laboratório todo para você, certo? Fique tranquilo, nessa mesma hora na semana que vem já não estarei mais aqui. – brincou ela, sentindo a pontada esquisita no peito que, coincidentemente (ou nem tanto), vinha quando ela se lembrava disso.

Os dois bruxos haviam iniciado a parceria há alguns meses, quando Hermione procurou o ex-professor para tirar algumas dúvidas acerca de seu novo projeto. Tudo começou de maneira casual, extraordinariamente; Severo não havia sido hostil com ela, ao contrário disto, o bruxo havia se interessado genuinamente pela ideia ousada de misturar princípios químicos trouxas e bruxos.

E cada dúvida que Hermione tirava com ele virava um experimento de toda uma tarde, até que ambos desistiram de fingir – ela, que ia apenas perguntar; ele, que não estava tão interessado – e zelaram um acordo silencioso de parceria. Simplesmente começaram a trabalhar juntos, e estava sendo maravilhoso.

Severo sempre soube que Hermione era inteligente, é claro. Mas ele nem sequer imaginava o que ia além da inteligência – a sabedoria, o equilíbrio, o senso de humor; e também o que ia além da petulância: a determinação, a ruguinha no meio da testa quando diante um desafio, as sardas que se revelavam quando o sol decidia romper o céu escocês, revelando mais de um rosto extremamente belo.

O bruxo expulsava esses pensamentos loucos toda vez que sua cabeça o traía, e tratava de buscar logo alguma distração: algum livro de Artes das Trevas, uma boa bebida, rondas noturnas pelo castelo – com ocasionais pontos descontados à Grifinória – e, em casos extremos – quando era o cheiro dela que estava impregnado – Snape ia até Minerva para falar de algum aluno que, coitado!, nem tinha feito nada tão digno da atenção da diretora, pois assim Snape era obrigado a ser concentrar em outra coisa que não a jovem bruxa e o cheiro de rosas, torcendo que a sala de Minerva o livrasse do perfume viciante.

Mas Snape teve a certeza de que estava ficando louco quando Hermione, numa tarde perdida – e que Severo considerou uma das piores pós-guerra, anunciou que sairia mais cedo...

- Eu já acabei por hoje, então, vou indo... – a fala repentina assustou Severo. Hermione nunca saía mais cedo. Não que tivessem um horário determinado, mas eles só deixavam o laboratório quando alguém – vulgo Minerva – os resgatava e os obrigava a parar para comer alguma coisa.

- Ainda não revisamos como a arambóia reagiu no caldeirão de prata. – respondeu, estranhando o comportamento dela.

- Sim, mas como adiantei bem as outras etapas pensei que poderíamos fazer isso amanhã. Tudo bem? – a pergunta veio incerta, como se Hermione estivesse tentando mascarar o quanto a resposta dele era importante, ao mesmo tempo em que não queria parecer que estava pedindo a opinião dele.

- Festa na casa dos Weasleys, imagino. – bufou ele, sem fazer esforço para esconder o desdém – Se a senhorita tiver que comparecer a todos os aniversários, tomará boa parte de seus finais de semana no ano.

- Não, Snape, não vou encontrar com meus amigos. – irritou-se ela – É um jantar com um... outro amigo. – e ela ganhou totalmente a atenção de Severo novamente. “Outro amigo?!”, pensou ele, “O que ela quer dizer com isso?”. E pronto, estava ali; o ciúme inegável que se apossou de Severo era impossível de esconder. Nem mesmo seus anos de espião o preparam para isso. A última vez que ele tinha sentido ciúmes fora por Lílian, mas era diferente... diferente e distante. Não tinha nada a ver com o que ele estava sentindo agora. Tinha que ser ele a levá-la para jantar, ele a ser o causador de seus suas saídas mais cedo e de seus atrasos. Mas ao mesmo tempo ele desejava que o tal encontro fosse bom, ele queria vê-la feliz. Afinal de contas, uma jovem como ela não deveria ficar enfurnada num laboratório com um velho rabugento como ele.

Mas ainda sim o comentário ferino veio - Imaginei que estaria mais empenhada...

- O que disse? – “Como ele ousa!”, pensou ela.

- Isso mesmo que ouviu: que a irritante-sabe-tudo sacrificaria mais por uma pesquisa acadêmica. – ele não conseguia para de falar coisas ruins, mas aquele sentimento horrível de não querer que ela fosse embora se apoderava dele como uma droga.

- Ora, seu... seu... Não é meu professor mais, sabia? Tampouco é o dono dessa pesquisa! Eu a interrompo quando quiser! – Sim, Hermione Furiosa Granger. Era bom saber que sentimentos tão intensos estavam sendo destinados a ele, apenas a ele.

- Pois bem, senhorita Granger, então não conte mais com a minha ajuda. Se prefere sair com um cabeça oca qualquer à se dedicar a uma pesquisa que, como muito bem disse, é SUA, vá em frente! Mas não conte mais comigo.

- Pelos céus, Snape! É só um encontro, algumas horas, amanhã triplicamos o horário se faz tanta questão.- “Horas! Algumas horas!”, pensou ele, furioso.

- Eu não estou a sua disposição, Granger.

- Não quis dizer isso, mas... – e ele já tinha saído, deixando-a falando sozinha e batendo o pé com a frustração que o bruxo despertava nela, controlando a vontade de ir atrás dele e socá-lo bem no nariz.

“Idiota, grosseiro, inflexível, egoísta, arrogante!”. Foi com esses elogios que a bruxa desmarcou o tal encontro que, verdade seja dita, ela nem queria mesmo ir. Tinha aceitado apenas por insistência de Gina e, verdade seja dita parte 2, porque vinha tendo pensamentos e sensações estranhas a respeito de Severo Snape. Colocando a culpa na (falta de uma) vida amorosa, Hermione aceitou o tal encontro, arrependendo-se no segundo seguinte – e relaxando no mesmo segundo em que cancelou. Ela definitivamente preferia ficar trabalhando na poção. E com Severo junto dela, de preferência.

Mas isso ela não poderia dizer ao bruxo teimoso e inflexível. Nunca.

E Hermione não foi ao encontro. E Severo acabou voltando. E os dois acabaram jantando juntos na sala contígua ao laboratório, conversando sobre tudo e nada, extrapolando todas as barreiras da formalidade para começar uma amizade (e eles nem imaginavam que a amizade seria só o começo).

- Não passou nem perto, Hermione. Nem perto. – murmurou ele, indicando que era tudo o que falaria naquele momento.

- De qualquer maneira, terá mais trabalho para se livrar de mim já que ainda temos o baile. – provocou ela, sorrindo sem muita convicção.

- Não achei que fosse do tipo que gosta de bailes.

- Eu não gosto que me enquadrem em padrões, Severo. E sim, gosto de bailes. Reencontramos amigos, conversamos, conhecemos novas pessoas, dançamos...

- Entediante. – cortou – Parece o inferno pra mim.

- Não seja tão difícil. – estalou ela – É só um baile. E além do mais...

- Não.

- além do mais, eu gostaria que você me acompanhasse. – Acompanhá-la? Severo nunca imaginou que ela diria algo do tipo, e por não estar preparado sentiu as mãos suarem como se fosse um adolescente. O que isso quer dizer?! Ir com ela? Não, de jeito nenhum!

- Não. – era o mais seguro a se responder.

- Mas que coisa, Snape! – Snape. Se ela o chamasse assim, era porque estava furiosa.

- Está faltando bater o pé para ficar parecendo uma menina irritada. – provocou ele, não esperando que a bruxa levasse a sério. Eles irritavam um ao outro quase sempre, e estava tudo bem. Era até divertido! Mas alguma coisa na fala dele não saiu como ele esperava, e a voz baixa e magoada dela atingiu o coração dele como uma faca.

- Você é um idiota. – e bateu a porta atrás de si.

- Imbecil. Ogro. Idiota. Grosso. Inferno! – sozinho no laboratório, era o que restava a Severo. Xingar a sua (total) falta de tato.

...

Nos dias que se seguiram antes do baile, Hermione apareceu no laboratório uma única vez, apenas para terminar o último teste e enviar para o Ministério a poção que já estava pronta. Ela falou com Severo polidamente, apesar das tentativas surpreendentes dele de manter algum diálogo. Era um pouco engraçado vê-lo tentando, mas a bruxa decidiu que poderia ser sonserina por alguns instantes e fazê-lo sofrer merecidamente.

A verdade é que ela havia ficado magoada ao modo que ele havia se referido a ela: “menina irritada”. Era tudo o que ele ainda pensava dela? Uma aluna petulante? Alguém que ele nunca poderia sentir... atração? Mas que diabos ela estava pensando?! Atração?

- Sim, Hermione, atração. Não minta para si mesma, tampouco perca seu tempo mentindo para sua amiga, que já percebeu isso há meses.

- Meses? – Hermione estava chocada – Isso é absurdo, Gina!

- Sim, Hermione, e digo mais: você está gostando dele, mais que apenas atraída na verdade.

- Eu...

- Só tome cuidado. Severo é um homem de muitas mágoas, e sem querer você pode se ferir. Mas se você está disposta a se manter próxima a ele, mostre que não é mais aquela menina a quem ele deu aula por sete tortuosos anos. Mostre que cresceu, Hermione, e que aqueles tempos ficaram para trás.

- Eu nunca ouvi tantos absurdos de uma única vez, Gina! Sinceramente... Severo e eu somos amigos – se é que eu posso ir tão longe. Não sou atraída por ele. Isso é absurdo.

- Sim, e vai parar de chover na Escócia. – zombou ela – Por favor, Mione, não seja tão teimosa.

- Eu...

- Você se apaixonou pelo morcegão das masmorras. Não há como negar!

- Gina!

- Olha, quando você e meu irmão começaram a namorar eu fiquei em êxtase! Era simplesmente incrível que nossa família aumentaria e que você estaria nela. Só que depois de um tempo eu me dei conta que você e o Harry, bem como muitos da Ordem, são a nossa família... sempre foram.

Não seria um casamento feliz, vocês são muito diferentes. Rony sempre ficaria feliz com suas conquistas, mas não aguentaria ouvi-la falando de poções e Ministério por mais que dez minutos. Enquanto amigos, tudo bem, mas enquanto um casal você se sentiria incompleta. – despejou a amiga de uma só vez, sem dar tempo de Hermione pensar em algum argumento que pudesse quebrar todas as verdades ditas pela ruiva. – E olha para você e para o professor Snape! Ficam horas e horas conversando sobre as mesmas coisas, você até o fez rir, pelo amor a Merlin! Se isso não é ser compatível, eu tampouco sei o que é.

- Não sei o que sinto por ele. – confessou ela, de repente sentindo a garganta se fechar num soluço contido. Porque ela queria chorar mesmo? Ah sim, a irracionalidade de se apaixonar por alguém que nunca retribuiria o sentimento.

- Mas sente alguma coisa. – não era uma pergunta – E é muito forte pelo que posso ver.

- Isso é tão idiota!

- O melhor que pode fazer é ir ao baile, se divertir, e dar um tempo de Hogwarts. As vezes a distância vai amenizar toda essa confusão e você vai poder pensar se isso que sente por ele realmente vale a pena.

- Você está certa. E ele realmente não vai ao baile, então não corro o risco de encará-lo agora. Não quero vê-lo antes do necessário, pelo menos não agora que admiti para mim mesma esse... isso... essa loucura!

***


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! O próximo virá em breve!