Recomeço escrita por Supernatural Girl


Capítulo 2
A Escolha




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O homem que havia me pagado uma porção de batatas fritas sai das sombras. Agora, com os olhos vermelhos e a boca com um líquido da mesma cor, ele caminha lentamente em minha direção.

– Esse vermelho na sua boca não seria de ketchup, seria? – pergunto tentando desviar a sua atenção enquanto penso em uma desculpa para a minha fuga.

Ele solta uma risada alta em comparação ao meu tom de voz.

– Por que você não pergunta para a sua garçonete? – pergunta ele com um sorriso se formando.

Então eu a vejo. Deitada no chão está a garçonete que me atendera. Agora, pálida e imóvel no meio do lixo, com os olhos abertos e um pouco de sangue escorrendo do lado esquerdo de seu pescoço. Tenho certeza que ela está morta, e mais certeza ainda que o líquido vermelho na boca daquele estranho homem é sangue, mas uma coisa me incomoda: por que ele a mordeu? Não tenho tempo para decifrar esse enigma. Preciso dar um jeito de escapar desse maluco.

– Está pensando em correr? – e mais uma risada escapa de sua boca. Em um piscar de olhos ele está na minha frente. Do mesmo jeito que havia feito lá dentro, sem que eu percebesse. Como se estivesse ali o tempo inteiro. – Acho que não vai ajudar muito, mas se você quiser esses últimos segundos de vida eu posso te dar. Uma perseguição é muito mais interessante, mesmo que você não tenha chance alguma contra mim. Tem 30 segundos garotinha. E eu vou atrás de você.

Mesmo sabendo que não tenho nenhuma chance contra ele, saio correndo na direção do píer. Tenho que me esconder em algum barco ou chamar a atenção de alguém, mas está tarde e será muita sorte encontrar alguém aqui a essa hora.

Não, eu sei exatamente o que eu fazer. Vou ficar invisível para ele. Vou ficar invisível da mesma forma que eu ficava quando a minha mãe vinha atrás de mim em seus momentos de surto.

Encosto em um galpão entre duas pilhas de caixas. Procuro a mente dele e sumo. Não de verdade. Apenas para ele. Esse é um truque que havia aprendido há alguns meses. Se eu me concentrasse, eu poderia invadir uma mente como um hacker invade um computador e fazer o que eu quiser. Apagar memórias, ler mentes, modificar lembranças...

– Onde você está menininha? Posso sentir seu cheiro.

Essa não. Como ele pode sentir meu cheiro? Passei pouco perfume antes de sair de casa e o cheiro de peixe que vem do galpão atrás de mim é o suficiente para cobrir qualquer cheiro no píer.

Começo a ouvir os passos dele ficando cada vez mais altos. Ele está se aproximando. Preciso continuar escondida, mas não vou aguentar por muito tempo. Já estou sentindo que estou me esforçando demais e se eu abusar demais, meu nariz começará a sangrar e vou acabar desmaiando.

Vejo uma sombra no chão, então ele aparece. O sorriso em seu rosto some quando ele não me encontra. Está dando certo, mas não vou aguentar muito mais que isso.

Ele dá alguns passos para trás e olha para o local atrás de mim, pensando, talvez, que eu esteja do lado de dentro. Mas antes que ele possa procurar a entrada para ir atrás da pista falsa, dois vultos passam em uma velocidade inumana e o pegam, sumindo do meu limitado campo de visão. Fico imóvel. Ouço um grito e depois não escuto mais nada.

Sei que o homem está morto porque sua mente some, mas não entendo. Os outros dois podem me ver. Eles sabem onde eu estou. Por que eles não atacaram a mim?

Dou alguns passos para frente e olho para ver se é seguro correr para outro lugar, mas vejo dois homens próximos a uma fogueira recém-acesa me encarando com seus olhos vermelhos. Seus rostos mostram que estão tão surpresos quanto eu.

Descarto a possibilidade de sumir mais uma vez. Eles sabem que eu estou aqui e podem se guiar pelo meu cheiro, considerando que são iguais ao homem de quem me salvaram. Sem falar que entrar na mente de duas pessoas ao mesmo tempo exigiria muito mais de mim e não estou em condições para isso.

Noto com certa dificuldade que seus lábios estão se movendo rapidamente, mas não ouço barulho algum.

– Se vocês vão me matar, podem fazer isso logo? – eu não tenho chance contra esses dois e ficar protelando não ajuda em nada.

Eles não me respondem, mas param de sussurrar entre si.

Não havia percebido o quanto eles eram parecidos e ao mesmo tempo diferentes. O que falou comigo é um pouco mais alto que seu companheiro e tem os cabelos castanhos escuros enquanto o outro tem os cabelos de um loiro quase branco. Mas suas roupas pretas, pele branca e olhos vermelhos fazem parecer que são parentes.

– Então? – desafio eles.

– Nós não vamos matá-la – diz o mais alto – Só estamos curiosos.

– Curiosos com o quê? – pergunto tomando coragem para manter a conversa.

– Com o que você fez – fala o de cabelos loiros – Como ele não podia te ver, mas nós podíamos?

Não sei se é uma boa ideia responder a essa pergunta. Nunca falei sobre isso com ninguém, por que iria me abrir justamente com esses desconhecidos? Mas eles me salvaram e disseram não ter interesse em me matar. Isso não dá a eles alguns pontos comigo?

– Porque eu não sabia que vocês estavam aqui – respondo de forma incompleta para me dar mais um pouco de tempo para refletir. Não sei qual resposta me deixará viva.

– E se soubesse? Você teria se tornado invisível para nós também? – pergunta o moreno.

– Possivelmente

– Como? – questiona o loiro.

– Entrando na mente de vocês – respondo me dando por vencida.

Os dois trocam olhares e sorriem um para o outro. Moreno olha para mim novamente e continua com o interrogatório:

– O que mais você pode fazer além de sumir?

– O que importa? – falo cansada dessa conversa – Me fala logo o que vocês querem!

Eles arregalam os olhos surpresos com a minha explosão.

– Considerando que te salvamos – Loiro me provoca -, achamos que poderíamos conseguir algo em troca como pagamento. E seus poderes seriam muito úteis nessa tarefa.

Então era isso que se tratava: acerto de contas. Não sei qual ajuda eles podem querer de uma menina que não conseguiu se salvar sozinha, mas eles não parecem ser do tipo que deixa alguém em dívida com eles.

– Eu posso ler mentes, fazer as pessoas se esquecerem de algo ou apenas modificar um detalhe na memória delas... Não sei como isso pode ajudar vocês em alguma coisa. E a propósito, quem são vocês? Ou seria melhor perguntar o que são vocês?

– Meu nome é Vladimir e ele é Stefan – responde o loiro – Somos vampiros. Aposto que já ouviu falar.

Eu realmente não sabia o que eu esperava ouvir, mas com certeza não era isso. Eu já tinha lido vários livros sobre vampiros, mas eles não existem. Mas por que eles mentiriam para mim?

– O que vocês querem comigo?

– Já dissemos que queremos apenas uma pequena ajuda sua – relembra Stefan.

– Que tipo de ajuda? O que eu tenho que fazer?

– Gostaríamos de treiná-la antes. Você parece um pouco fora de forma – diz Vladimir calmamente – Aposto que você pode fazer muito mais que isso e estamos dispostos a ajudá-la. E depois você irá nos ajudar em nossa vingança.

– Vingança contra um grupo de vampiros que destruiu tudo o que tínhamos – explica Stefan.

– Não mesmo. Eu não vou me meter em uma batalha com vários vampiros. Eu precisei ser salva de apenas um...

– Porque você está destreinada – interrompe Stefan – com nossa ajuda você poderá destruir vários e vários vampiros. Se quiser se tornar uma, nós a transformaremos, e você será imortal.

– Imortal e poderosa – completa Vladimir.

Não posso negar que a ideia é muito tentadora. Eu não ia precisar de mais ninguém para me defender e poderia fazer coisas que nunca imaginei ser capaz antes. Tudo isso com uma simples resposta. Não tem razão para temer, eles poderiam me matar a qualquer momento e eu não tenho nada para perder.

– Tudo bem. Eu ajudo vocês.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do início da aventura da Claire, e não esquece de deixar um comentário dando sua opinião sobre esse capítulo. É muito importante para mim saber o que vocês estão achando e o que eu preciso melhorar ;)



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