Scribbled Lines escrita por Perséfone Black


Capítulo 3
Parte III




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Scribbled Lines

Linhas Rabiscadas

– Parte III –

Eu sei que você sente. Fui uma causa perdida. Eu não tive conserto – estou bem assim, obrigado. Eu te disse que não iria mudar. Não quero me tornar um perfeito idiota. Sou o que sou, e não estou interessado em mudar esta condição.

Se me amasse mesmo, Granger, não teria ido embora e deixado aquela carta nojenta no travesseiro. Teria me aceitado como sou, assim como eu aceitei a você. Teria aprendido a lidar com meus defeitos e apreciar as minhas qualidades.

Se realmente me amasse como diz, teria entendido que eu não me importava com nossa relação imperfeita, desde que ela existisse. Se me amasse, estaria assinando Malfoy em seus documentos.

Mas você não me ama. Você só queria a merda de uma pessoa defeituosa para consertar. Você me teve como um livro de palavras embaralhadas ou um boneco quebrado que você pudesse tornar funcional. Que pudesse tornar perfeito.

Eu sou imperfeito. E sou perfeito assim.

Mas você não entende. Quando viu que não havia mesmo jeito para mim, simplesmente deu as costas a tudo que tínhamos construído até aqui. Simplesmente, me abandonou. Outra vez. Saiu com a estúpida desculpa que não suportava mais nossa relação de amor e dependência. É, Granger, ao menos uma coisa você conseguiu. Tornou-­me tão dependente quanto você. Merece aplausos por tornar uma pessoa sóbria em uma viciada, te dou meus parabéns.

Você não tentou ficar comigo para tentar me fazer melhor – como foi que disse mesmo? Ah, resgatar o que há de bom em mim. Você o fez por que encontrou alguém tão defeituoso, mas tão defeituoso que resolveu transformá-­lo na obra prima de sua vida. Mas negas isso. Diz que foi para me dar uma boa lembrança ou a merda que seja.

Novidade para você, Granger. Trouxe-­me mais sofrimento. Não conseguiu resgatar nada aqui, não conseguiu me tornar perfeito. Por isso voltou para o Weasley, por que ele se tornou perfeito para você.

Salvou-­me de uma prisão para me colocar em outra. Qual a diferença entre Azkaban e a minha Mansão? Continuo sozinho, continuo sem você. De novo, me deu aquele vislumbre de paraíso apenas para me fazer remoer essa lembrança. De novo, nega suas atitudes egoístas.

Olhe para mim. Vamos, olhe. Deixe de cerimônias. Eu sei o que vê. Vê um homem magro, sujo, despenteado e até com algumas unhas faltando. Suas roupas estão rotas em alguns lugares. Esse homem parece perdido no mundo que o cerca. Algumas garrafas de qualquer merda de bebida estão empilhadas nos cantos. Esse homem tem um sorriso irônico nos lábios, um olhar mordaz nos olhos cinza e um coração estilhaçado no peito. Esse homem sou eu, vê? Em suma, sou um homem à beira de qualquer coisa.

Essa droga de coração que ainda insiste em pulsar quebrou de novo. Por que não reuniu o que sobrou dele e levou contigo? Doeria tão menos! A cada vez que eu consigo fazê-­lo inteiro, você dá uma porra de jeito e quebra ele de novo. Foi assim no Baile, foi assim no julgamento e será sempre assim. Ainda nem sei por qual merda de motivo eu ainda tento reerguê-­lo, se você virá para ferrar tudo de novo.

E ainda teve a cara de pau de quebrar seu tão doloroso adeus para vir informar-­me de seu casamento com o Weasley. Isso foi muito baixo. Você me frustrou. Eu senti todas as minhas esperanças esvaírem­se como poeira ao vento quando, ao entrar na minha casa, avisara bruscamente que estava noiva.

Você esfregou aquele anel na minha cara, e eu tive vontade de arrancá-­lo dali com dedo e tudo. Você era minha. Minha, minha, minha! Um pronome possessivo, é difícil entender? Indica posse, indica que me pertence!

Não me reprove. Nunca neguei que era egoísta ou tentei encobrir este fato! Isso é coisa sua! Eu sempre disse que a tinha como minha e, em respeito ao que sentia e a você, nunca fui de outra mulher enquanto estávamos juntos. Mas você, que nem adeus teve a coragem de me dar olhando-­me nos olhos, entra em minha casa para dizer que está noiva.

Isso, Granger, me cheira a traição.

Senti a fúria correr quente e venenosa por minhas veias. Minha mente em polvorosa. Você tinha que saber que não podia pertencer ao Weasley, pelo simples fato de que me pertencia inteiramente.

Aproximei­-me de ti como uma serpente que avalia sua presa antes de atacá-­la. Cercando-­a, encurralando-­a em suas próprias conjecturas falsas. Você era toda falsa, Granger. O fato de ter ido até a minha casa podendo usar outra carta como meio de me informar, queria dizer que, acima de tudo, você também sentia o sangue correr quente ao me ver. Você ainda me desejava, mesmo que não pudesse me consertar.

Você sabia que aquilo ia acabar acontecendo, é sempre assim quando nos reencontramos. Há desejo, posse, ciúme, pressa. Meus braços te agarraram com brutalidade, meus lábios tomaram dos seus.

Havia um campo magnético ao redor de nós que nos tornava imunes ao que acontecia ao nosso redor, isso era fato. Havia algo correndo rápido, quente e pesado em nossas veias, fazendo o momento ainda mais urgente.

Seus olhos tinham um tom de castanho escuro, um brilho perigoso que anunciava algo de animal em você. Cheguei às conclusões que estava do mesmo jeito. Olhares famintos e mãos passeando por meu corpo me levaram às alturas.

Instinto. Poder. Posse.

Era minha.

Era algo selvagem, animalesco, primitivo. Puro instinto, pura luxúria, puro pecado. Eram movimentos desconexos com o único objetivo de nos enlouquecer de prazer. Não foi preciso muito até que este chegou. Forte e intenso, que nos fez afogar­-nos num mar de puro desejo e satisfação.

Um sorriso sarcástico lhe foi ofertado quando se afastou de mim em busca das roupas rasgadas. Conjurei um cigarro, levei­-o aos lábios e suguei lentamente.

Quando as sensações passaram e pudemos pensar sem a camada de insanidade nublando o nosso raciocínio, você parecia em choque. Eu, satisfeito. "Ainda vai casar-­se com o Weasley, Granger?". Lembro claramente de ter perguntado. Lembro­-me que meu coração quebrou com a resposta.

"O que temos é insano, Malfoy." Essa era a parte onde você frequentemente dizia coisas legais, para logo cravar a faca fundo em meu peito. "Mas meu casamento continua marcado. Não podemos nos ver mais. Adeus."

Ainda dói.

Você saiu da minha sala com brusquidão. Outra despedida, outra separação. Parece que apenas isso que eu ganho. Ficar sozinho mais uma vez. Tão sozinho quanto antes de você entrar em minha vida sem pedir permissão.

Eu odeio despedidas.

Eu continuei vendo a minha vida passar por mim. Como um estranho, a quem cabe apenas a dor e o sofrimento. A solidão como minha única companhia, pesando sobre meus ombros como uma pesada manta. Assim como eu estava em Azkaban, vivendo apenas dos momentos que me deste. Momentos esses que sempre eram seguidos de mais uma separação, mais uma despedida. Parece que alguém realmente me odeia. Não podem me ver feliz, mesmo que seja minimamente, e já vem para destruir essa alegria, impondo um enorme precipício entre nós. Eu sempre odiei despedidas, sempre.

E você também odeia, por isso me mandou um bilhete no dia do casamento.

"Eu não tinha escolha."

Merda, Granger, é claro que tinha! É típico dos covardes dizer que não tinha escolha, não havia outra saída... Aliás, essas frases são de péssima qualidade!

Mas, pela primeira vez, eu não vi um adeus definitivo. Nunca houve um adeus definitivo, embora eu caísse e quebrasse a cada nova separação. Então você vinha reerguer­-me novamente. Para novamente me quebrar. E eu ficava imaginando se os corações são feitos inteiros apenas para serem quebrados. O meu está em pedaços em suas mãos, como o fará inteiro novamente? E a dor continua. E eu sofro sozinho, mais uma vez.

Eu sempre odiei despedidas. E você parecia ter um estoque delas para mim. Mas sabe de uma coisa? Eu ainda a verei outra vez.

Porque estamos sob efeito de uma droga forte, lembra-­se? Dependentes desta relação de posse, desejo e imperfeição. Estaremos sempre em decadência, envoltos num ciclo de encontros e desencontros, sempre presos a nossa rotina de separações e adeus, embalados pela eterna tempestade de nossas emoções.

Você está casada com o Weasley, tem o marido perfeito, a família perfeita. Quando o tédio tomar a sua relação perfeita, virá à pessoa mais imperfeita que conheceu. E eu estarei aqui, esperando com o coração na mão, um sorriso irônico e um cigarro entre os lábios.

Então, isto não é uma despedida.

Encontro­-te nas tempestades, futura Sra. Weasley.

Draco Malfoy.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao final!
Espero que tenham gostado da história.
Quero agradecer a Inara por ter favoritado, as 5 pessoas que acompanharam a fic (embora o Nyah me diga que tenha 5, só consigo ver duas, Betadizi e Angelique Lewis) e aos leitores maravilhosos que comentaram, Betadizi, Rafael e IsaPrince.
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