Se algum dia você se encontrar preso no meio do mar

Eu velejarei pelo mundo para te encontrar

Se algum dia você se encontrar perdido no escuro e não puder enxergar

Eu serei a luz a te guiar

Descobrimos do que somos feitos

Quando somos chamados para ajudar nossos amigos em necessidade

Você pode contar comigo como um, dois, três

Eu estarei lá

E sei que quando eu precisar

Posso contar com você como quatro, três, dois

E você estará lá

Porque é isso que os amigos devem fazer

Oh, yeah

(Ooh ooh ooh ooh ooh)

— Count on Me, Bruno Mars.

Depois do episódio do tiro, tive que ficar o dia inteiro no meu quarto, e apenas meus criados sabiam o que havia acontecido. Sabiam que Finnick e Annie trabalham aqui, que fugi do palácio com Katniss, e que eu fui baleado e estou tremendamente incapacitado de fazer qualquer coisa.

Já tentei me levantar, mas meu limite é ir ao banheiro tomar banho e minha higiene, é meu máximo.

— E agora, como você vai amanhã para a apresentação com o Cato? — Stefan perguntou, preocupado, apertando o máximo que ele mesmo poderia. Eu estava um palmo de gritar de dor, e ele sabe, mas tinha que fazer isso, enquanto Julia pressiona o local com um creme, ou algo do tipo, nas mãos.

— Não sei, mas eu realmente estou sentindo muita dor — falei, com a voz fraca. — E Cato ainda disse que temos que passar a limpo o cardápio e nossas roupas. Eu preciso de um terno na cor vermelha, eu sei que a Layla está cuidando disso, mas agora uma camisa azul por baixo, com botões transparentes porque os amigos da Áustria do príncipe estão vindo também.

— Julia,  Layla conseguiu a camisa? — A morena cacheada assentiu, gentilmente. Mas pelos olhos puxados e castanhos eu podia ver que não é bem assim, exatamente. Posso ver que está preocupada e com medo.

— Conseguiu, vai ficar tudo bem, está tudo certo para amanhã, nenhum de vocês precisam se preocupar com isso, sério, podem ficar bem tranquilos. Peeta, eu conversei com o Cato quando estava voltando do alojamento, e disse que você está passando muito mal, então o que precisa fazer é desejar, orar para que você consiga se manter de pé amanhã.

Assenti, arfando, me jogando para trás na cama enorme e confortável no quarto do palácio. Fechei meus olhos, depois que vesti uma regata, que deixa aparente meu as ataduras que passam no meu ombro.

— Tudo bem. Obrigado, pessoal. Vocês podem ir, já são quatro horas, e já conseguiram me tirar das aulas da tia Effie.

— Peeta, vamos ficar aqui até às oito. Você sabe disso. Temos que ficar aqui. Nossa função é servir você.

Stefan me lembrou, com o cenho franzido, irritado com o fato que eu queira deixá-los livres depois de tudo o que tem feito por mim.

— Vocês estão corrompendo princípios para poder me ajudar, por favor, façam apenas uma coisa, uma ordem, fiquem nos quartos de vocês, conversem com amigos, porque vocês merecem. E eu estou bem, não tenho razões para sair daqui.

Depois de cinco minutos nós três nessa discussão, consegui convencê-los que eu pediria meu jantar, e que tomaria todos os remédios que Katniss conseguiu para mim, inclusive o soro, que tomei durante toda a manhã.

Na cama, cansado de sentir dor, resolvi mandar uma mensagem Amélia.

“Oi meu bb”, mandei com um sorriso torto, vendo que ela estava online há menos de cinco minutos.

Em menos de um segundo a palavra digitando pulou na tela do meu Smarter.

a: “Oi bbzinho”

Respondeu, e eu não consegui mesmo segurar um sorriso total. Ela me faz tão feliz.

p: “Algo me diz que você tem boas notícias, me diz que tem.”

a: “Jesus, não é possível”

p: “O quê?”

a: “Dean me pediu em namoro. Faz cinco minutos. Saímos da lanchonete agora, e tem essa foto aqui *foto”

Li. Reli. Li de novo. E reli outra vez. Fiquei boquiaberto, encarando a tela do meu Smarter.

p: “O QUÊ, AMÉLIA?!”

Mandei em letras grandes, mas isso não fazia muito efeito em comparação. Aí eu vi a foto, e quase chorei. De felicidade. Ela parece tão feliz ao lado dele. E ele parece amar ela. Tanto como ela deve ser amada.

a: “Peeta, por favor, não fica bravo, eu não sabia o que dizer, e até agora eu não sei. Eu estou feliz demais, mas tão confusa. Aproveitando que ele foi comprimentar um amigo para poder falar isso com você. Peeta, me ajuda. Eu acho que o que eu fiz foi certo, mas não sei. Eu acho que estou apaixonada por ele, mas não acho que seja certo.”

Ainda doido por conta da notícia de que ela está namorando, primeiramente fechei minha boca, que ainda estava entreaberta e eu meio perdido na foto deles dois.

p: “Mels, por que isso seria errado? Eu conheço ele, você conhece ele, papai conhece ele, e eu te conheço mais do que qualquer pessoa, e te digo bem abertamente que vocês dois se amam ou algo do tipo.”

a: “Mas acontece que eu não sei se isso é normal o que eu sinto de vez em quando…”

Eu engoli em seco. O que seria? Fiquei preocupado.

p: “O quê?”

a: “Uma vontade de ficar o resto da minha vida ao lado dele. Peeta, parece que eu sou melhor do lado dele, sei lá. É assim que a gente deveria se sentir? Eu me sinto simplesmente segura.”

Minhas preocupações se esvaíram, mediante também ao efeito do remédio que tomei para relaxar. Sorri torto para sua mensagem, como se pudesse alcançá-la com um olhar.

p: “Mels, é exatamente isso o que você deveria sentir. Não existe absolutamente nada de errado nisso. Estaria errado se você estivesse com vontade de fazer maluquices lmao”

a: “Ah, céus hahahahahahahahahahaha a última coisa que eu pensaria com Dean é fugir para as montanhas e viver comendo carne de jacaré! Não! Acho que na verdade eu não podia esperar que isso fosse um dia acontecer comigo. Eu não estava mesmo esperando por algo assim. Mas estou muito feliz que tenha acontecido. Amanhã ele vai até dormir lá em casa, porque minha mãe gostou muito dele, e tem confiado para tomar uns novos remédios que têm uma dosagem mais forte.”

Sorri, feliz mesmo pela minha irmã. Nem me lembrei do tiro que levei, e de todas as minhas obrigações como um Elite.

Mas então resolvi tirar onda com a cara dela.

p: “Hmmmmm, Amélia……. ele vai dormir aí em casa……. hmmmmmmm……. e você vai dormir onde? hmmmmmmmmmmmmmmm…….”

Eu quase pude ver a cara dela ficando roxa de vergonha. Muito possivelmente ela nem chegou a esse pensamento, porque ela é assim mesmo, mas adoro fazer piada com ela.

a: “Vai caçar o que fazer, Peeta! O Dean leu isso! Você vai ver quando você vir aqui! Eu vou acabar com você!!!!!! Seu ridículo!!!!!”

Dei um berro de rir, e logo tratei de ser menos intenso porque o machucado doeu, mas não deixei isso escapar por mensagem.

p: “HAHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHHAHAHHA BERRO HAHAHAHAHAHHAAAAAAAAA nem tinha sido essa a minha intenção, mas já que aconteceu foi melhor do que eu esperava!”

a: “Vai se ferrar, Peeta! Francamente!”

p: “Então pare você de provavelmente estar rindo de vergonha para o Smarter, porque eu estou sentindo que é exatamente o que você está fazendo!”

Enviei, sorrindo. Posso sentir ela rir. Posso sentir ela feliz. É como se fossemos uma só pessoa.

Ainda que eu me sinta ligado à Katniss, Delly, amigos, meus outros irmãos, ninguém me conhece mais do que Amélia. Nós compartilhamos almas.

a: “Se essa conexão é boa, então como está o meu cabelo?”

Ri, mas então diminui a janela da conversa, e abri o site de pesquisas.

Amélia Mellark, pesquisei, e imediatamente veio uma foto dela.

Minha irmã é muito linda. Eu fico sempre impressionado, sinceramente. Mas então notei em seu cabelo. Mais uma vez, fiquei sem acreditar.

p: “POR QUE VOCÊ CORTOU ESSE CABELO, SUA RETARDADA!”

a: “Eu achei que estava na hora, estava me dando muito aborrecimento aqueles fios todos, então achei melhor cortar e doar. E falso, você me pesquisou!”

p: “Claro, né, Mels, sou seu irmão gêmeo, não seu guru.”

a: “HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAA você não presta msm”

p: “Aprendi com vc bb *emoji convencido”

Sorri com nossa troca de mensagens.

p: “Vai lá, aproveita sua tarde, você merece, Amélia”, enviei, com um sorriso torto. Sim, é claro que ela merece. E muito mais.

a: “Tudo bem… eu amo você.”

Enviou, e eu outra vez podia sentir ela sorrir.

Sorri também. Acho que se nós não fôssemos irmãos, seríamos melhores amigos ou um casal bem conectado, com certeza. De algum modo, se não fôssemos da mesma família, acho que o próprio Deus faria a gente se esbarrar. De uma vida que eu tenho, sem a menor dúvida eu daria duas por Mels. É a minha irmãzinha.

p: “Eu amo você. Agora desliga isso e vai beijar até ficar sem ar o seu namorado, desocupada…….”

a: “Imagine eu te dando um socão”

p: “gif”

a: “BERRO HAHAHAHAHHAHAHAHHAHHAHHAHAHAHHAHHAHAHA TCHAU, PEETA! VOCÊ QUER ME PRENDER AQUI NESSE MESSAGE, TCHAU! HAHAHAHAHHAHAHAHAH”

Amélia está offline.

Na tarde seguinte.

Eu nāo sabia como falar alemão, eu desaprendi completamente o pouco de fluência que tinha em espanhol, porém Cato sem a menor sombra de dúvidas foi a minha graça salvadora, sinceramente.

Os príncipes da Alemanha são simplesmente as pessoas mais insanas que eu já vi na minha vida, e eles falam mais rápido do que eu possa acompanhar, mesmo que seja em inglês a comunicação.

— Du sprichst zu schnell — Cato disse, com um sorriso, e parecia fluente, porém não é, apenas mais inteligente do que eu e conseguiu aprender um pouco mais o idioma.

— Oh, me desculpe — Nicolau disse, rindo. Ele se chama assim porque o avô amava a França, e adoraria que um de seus netos se chamassem assim. — Nós apenas estamos empolgados, aqui vocês têm de tudo, e seu país é tão grande e cheio de coisas para fazer! É um importuno sem precedentes em saber que ficaremos aqui apenas por hoje, não é Marcell?

O mais novo assentiu. Nicolau é o herdeiro oficial, sua coroação será em março, quando completar 21 anos, porém ele parece ser bem mais novo, como seu irmão de 15 anos.

Um fato engraçado nos dois e em todos os alemães, seus conselheiros e assessores, é que todos possuem um sotaque britânico muito forte, por serem europeus, e eu estou me segurando para não rir quando falam algo com "r", pois é quase uma letra muda quando falam.

— Sim! E em nosso palácio não temos tantas coisas como vocês têm aqui! Vocês têm uma mesa de sinuca e eu posso usar! Lá na Alemanha apenas com 18 anos!

Eu e Cato trocamos um olhar e achamos graça.

— Nós não podemos fazer tantas coisas quanto parecem, Alteza. Não somos da realeza, e no final, apenas um de nós desfrutará disso tudo.

Respondi, com bastante simpatia pelos irmãos alemães. Os dois são tão descontraídos e simpáticos que é fácil esquecer que são realeza, como Katniss e Prim. Eles são alcançáveis. E isto os torna, de acordo com a revista online, um dos príncipes mais cogitados do mundo pelas princesas, e pela própria população feminina.

— Isto é uma pena, isso de Seleção, porém também somos adeptos dessa ideia. Mas antes que a ideia fosse amadurecida — Nicolau começou, e Marcell saiu correndo depois de avisar algo para o irmão, me acomodei melhor na poltrona, é uma outra estava posta ao meu lado, para Cato se sentar, e assim meu amigo o fez, enquanto Nicolau estava de frente para nós, em uma semelhante à nossa. — Eu fui em uma visita diplomática para a Rússia e encontrei Lara, e nos casamos seis meses depois, porém ela faleceu antes que pudesse dar à luz ao nosso primeiro filho.

Eu em uma tarde em branco com Cato, descobri isso, e nós nos compadecemos do príncipe, viúvo com nossa idade, e agora tendo conversado com ele por pouco menos de cinco minutos, posso ver o quão boa pessoa ele é.

Faz parte do grupo de pessoas que Katniss mantém contato, ele é um jovem que assumirá o trono, e revoluções, também discorda de muita coisa do governo de seus antecessores, pelo o que estudamos dele na internet. Não poderíamos ter ficado com uma tarefa diplomática melhor do que esta.

— Nós sentimos muito por sua perda, Nicolau — Cato disse, antes de mim. Com o passar do tempo, Cato realmente mudou. Agora, nós podemos ver seu coração. O príncipe estava com os olhos violetas mais brilhantes, possivelmente por causa das lágrimas, mas sorriu, balançando a cabeça.

— Bem, eu vim aqui para discutirmos política, mas vocês estão à ponto de serem escolhidos, um de vocês, para não somente herdar uma coroa é um trono, mas o coração de uma mulher, que é a coisa mais frágil e valiosa da vida. Requer muito mais do que saber conversar, isso aqui, esse teste, é absolutamente nada do que os aguardam depois do sim. Venham, vou apresentar-lhes a algumas pessoas que irão mostrar que se vocês não amam a princesa... É melhor desistir. Eu odeio mais da metade dos meus conselheiros, e vou provar o porquê.

Ele abriu um sorriso, e eu vi que estava tudo bem.

Seja lá quem foi essa Lara, ela foi uma mulher muito especial. Nicolau é um clássico alemão, bem branco, loiro, alto, e com olhos azuis com violeta que eu nunca tinha visto em toda a minha vida, e um pouco mais alto que eu, magro, mas com indícios de que malha para manter a forma, como Gale. Não gosto de falar de homens e aparências, tampouco pensar, mas é difícil ver alguém de tão boa aparência como a dele, e estar sozinho é a prova de que amou intensamente sua esposa. Sem contar o fato que é da realeza, isso é um fator que deixa qualquer pessoa mais bonita. O admirei, sem que tenha aprendido pronunciar seu sobrenome real, que sustenta a família por décadas.

— Cato, e se as pessoas que ele nos apresentar só quiserem falar em alemão? Eles querem fechar um acordo com Panem, mas por saber que estamos aqui apenas representando... — dei uma pausa para me arrumar meu terno, mas na intenção de arrumar o curativo que Julia fez em mim, bem apertado, a ponto que eu precise respirar devagar para não doer mais ainda onde eu levei um tiro há quatro dias. — E quiserem ver nossa eficiência. Eu só sei dizer "danke", que é obrigado e mais meia dúzia de palavras.

Cato riu, mas uma risada claramente nervosa.

— Aí a gente só sorri e acena, cara, sorria e acene. Eu disse umas coisas, mas é porque tava decorando isso a semana toda, minhas frases prontas simplesmente acabaram, eu nem sei como perguntar as horas nesse idioma maluco que esse pessoal tem.

Ri, sincero, mas também bem nervoso. Nicolau parece alguém impecável, uma pessoa incrível, e eu não estou querendo passar vergonha, mas se nem Cato, criado para estar em ambientes de gente elegante, o que é que eu, agora um meio manco por causa da dor, um ferrado Sete, tem a oferecer em uma conversa com gente tão importante? Vexame com certeza é a única opção viável.

— Espero que sejam bons ouvintes, porque o senhor Jörg ama contar suas histórias de quando tinha a nossa idade, ou de pelo menos quando ele acha que tinha nossa idade. Eu vou deixar vocês aqui por quinze minutos, enquanto eu bebo à vontade um pouco do bom vinho do Chile que Kamikaze sabe que eu gosto, mas por causa da idade não posso beber no meu país.

— Kamikaze?! — eu e Cato perguntamos juntos.

Ele gargalhou, e eu fiquei com inveja, pois sua risada é tão elegante como ele, assim como a gargalhada de Cato. Perguntei a mim mesmo se existe aula para rir tão bem assim.

Gale e eu precisamos de algumas aulas.

— Eu a dei esse apelido, há muitos anos, é uma longa história. Somos mais amigos do que parece, assim como ela é da Clove e Glimmer, da França. Vocês ficariam surpresos nas coisas que a imprensa não conta. Mas ao primeiro teste,  rapazes, um bom príncipe deve saber escutar, mesmo coisas inúteis. Senhor Jörg, meine freunde, die auserwählten der prinzessin, mit der ich vorher gesprochen habe!

— Ele xingou a gente? — Cato perguntou sorrindo entredentes. Eu estava com a mesma cara de paisagem, porém sorrindo. Sorrindo e acenando, é tudo o que eu aprendi.

— Eu acho que não,mas espero que não tenha sido que a gente tem o dia todo, esse cara Jörg, a gente leu sobre ele, lutou no exército alemão com catorze anos, imagina a quantidade de história que ele tem.

Cato segurou a risada.

— Socorro, Deus — cantarolou em um murmúrio, apenas para eu ouvir, inclinando-se um pouco. Ri meio abafado em um tosse, que fez toda minha barriga doer. Segurei um gemido de dor e desconforto, mas continuei a andar.

Eu não bebi nada além de água, por causa do acidente, mas nem precisava, porque os alemães são as pessoas mais engraçadas que eu já conheci. Nicolau nos apresentou às pessoas que ele disse detestar, e nós entendemos a razão: vaidade.

Mas ele pareceu gostar de mim e Cato, porque depois de três horas em conversas diplomáticas (onde Cato foi o ícone, eu apenas assenti, e falei um "uhum", três "é verdade", e uns dez "concordo", porém eu estava prestando muita atenção, e anotando, tanto que até repararam que eu fazia isso), Nicolau então nos levou para tomar vinho com seus amigos.

Meu Deus, que amigos. Eu e Cato só parávamos de rir para respirar, e eu precisei tomar alguns remédios para diminuir a dor, pois forçava, mas eu ainda não deixava de rir, era mais forte que eu.

(New York, Frank Sinatra, para ambientar a cena)

— É sério, reparem só no Jörg — eles só falam mal da corte de Nicolau, enquanto jogamos pôker, porém sem apostar nada.

— É por isto que quando viajo, trago sempre que posso Marcell e meus amigos, príncipes da Áustria e da República Tcheca. Çapar da Turquia não pôde vir, infelizmente, mas tendo bons amigos a gente supera as tristezas de herdar um trono.

Nicolau disse, com a boca meio arroxeada de tanto vinho, porém não parecia bêbado. Bom, pelo menos não muito. Céus, e ele já deve ter bebido umas três garrafas.

— Çapar é quem vai morrer de inveja depois, quando souber que vocês são ainda melhores do que as revistas falam — Armênio, da Áustria, disse. Seu inglês não é tão fechado quanto o de Nicolau e Frederick, na verdade, ele é bem fluente, quase como se fosse nativo.

— Ah, que isso, vocês que são muito mais do que as informações — falei, e Cato assentiu imediatamente, com um sorriso. — Deveriam vir mais vezes. Pena que em menos de três semanas será o anúncio real. Nós temos apenas uns aos outros aqui na Seleção, principalmente porque a princesa tem muita coisa a fazer nos últimos dias.

Nicolau assentiu.

— Mas acredito que Katniss vai escolher bem, e vocês cinco são bastantes amigos, não são? Logo, poderemos nos ver sempre, mas irei torcer em especial para um de vocês dois, pois os outros nós não conhecemos. Podem ter certeza que apenas pelo vinho chileno eu já pensei em fechar o acordo, mas depois de terem organizado tudo isso, sendo caras como eu, nossa, vocês merecem até mais. E sem contar que os dois falam muito bem sobre economia, você, Cato, era modelo, não é mesmo? E você auxiliava seus pais.

Nós dois assentimos.

— Há, eu levei cinco anos para entender a Quarta Guerra Mundial! E economia, pelo o que vocês participaram, vocês pegaram em poucas semanas, enquanto até hoje eu estudo.

Frederick exclamou, com um sorriso. Na Europa, as pessoas são conhecidas por seus olhos, e sorrisos. Frederick tem olhos tão verdes quanto os de Finnick, que me deixa triste, quando olho para os meus, honestamente. Mas o importante é que eu tenho saúde, ou pelo menos tinha até ser baleado. Fiquei triste.

— Ah, mas isso é porque foi tudo o que nós fizemos nos últimos dias, nas últimas duas semanas! — Cato disse, bebendo um pouco mais de champanhe. Deve ser lá para sua quinta taça, e ele já está mais para lá do que pra cá.

O engraçado é que descobri que pelo rei ser declaradamente cristão, as bebidas não possuem álcool, com exceção do vinho, que carrega seu próprio teor.

O que deve explicar esse fenômeno deve ser achar que têm álcool quando não têm nada. Segurei uma risada, da facilidade que Cato começou a rir mais, junto com eles. Não tem feito nenhuma vegonha, mas sei que está meio “”embriagado””.

Outro assunto foi puxado por eles, e eu me divertia, com meu peito descansado porque conseguimos com que fechássemos um ótimo acordo, pois o rei e a rainha não estavam conseguindo por conta própria.

Nem reparei quando Katniss entrou, apenas quando Nicolau a chamou em um grito.

— Kamikaze! — exclamou, em um sorriso largo e puro. Já o vi algumas vezes em revistas quando eu ainda morava em Santa Cloud, e agora entendo pessoalmente, também, o motivo que sempre tenha sido capa de revista e sem qualquer montagem.

— Vilu! — Katniss exclamou de volta, da mesma forma, e os dois se encontraram em um abraço bem apertado. Para essa ocasião, ela estava super formal, como todos nós, e vestia um vestido longo, dessa vez, branco, e os cabelos presos.

Cato se aproximou de mim.

— Deus do Céu, esse cara além de ser príncipe ainda tem essa aparência e inteligência. Eu vou procurar alguma outra profissão para mim depois desse encontro. Não sou digno de ser modelo. Eu sou um lixo. Eu, Cato, sou um lixo.

Meu amigo parecia bem triste, enquanto os dois conversavam bem animadamente, cumprimentando brevemente a corte dele. Mas como Cato nunca se vê como um perdedor, eu quem não podia deixar passar.

— Muito bom que você saiba o que você é ao lado dele, Cato — meu amigo baixou a cabeça, meio triste. — Eu não fazia a menor ideia de que Katniss era tão próxima de outros príncipes e princesas, ela nunca me disse nada.

Ele balançou a cabeça.

— Acho que ela comentou comigo umas duas vezes, mas nada demais. Mas acho bem legal, ela muitas vezes parece ser bem tímida, bem triste. Ela merece amigos, principalmente como o príncipe Nicolau, e o irmão e esses príncipes.

Assenti. Cato não dá sinal de que está interessado em casar-se com Katniss, porém eu posso ver o carinho do qual ele a trata e age quando fala dela.

— Hm, mas sem esse espírito sad que a gente está agora, vamos tirar uma foto, Zé — Cato me lançou um olhar aborrecido, me fazendo rir. — Ah, qual foi! Não posso fazer nada se Gale é o melhor em apelidar as pessoas! Você me chamou de cachinhos dourados por causa dele e eu nem te bati!

— Você me xingou, e eu revidei três vezes — gargalhei, porque é verdade essa história.

— Tá, mas vem, vamos tirar uma foto, porque depois nem vou poder te mandar um cartão com uma foto só nossa. E as dos jornalistas a gente deve estar meio com cara de paisagem.

Ele quem riu dessa vez, abafando com uma mão. Nossa, esse pessoal que ficou na Elite é a prova que eu não nasci pra esse mundo mesmo, porém não me abalei, apenas ri da minha própria vergonha de não saber rir.

Cato pegou seu Smarter, abrindo na câmera, e tiramos uma foto juntos, mas aí quando ia tirar uma outra, o senhor Jorg caiu, e a foto bateu com a gente meio “ah, meu Deus”, e depois se entreolhando pra não sair e gargalhar do velho chato caindo, principalmente porque Marcell, irmão do Nicolau, gargalhou em alto e plenos pulmões, da forma mais descarada do mundo. A cena é trágica, porém apenas pessoalmente para ver que a dentadura do senhor voou pelo chão.

Eu queria morrer de rir.

— Moleque, vamos lá pra depois não dar zica pra gente — falei, dando dois empurrão no Cato, que estava parado, ficando mais vermelho, e com um mão na boca. Ele estava rindo. Eu me segurei pra não rir também.

— Eu vou gargalhar, Peeta, eu não posso — falou, com dificuldade, prendendo o ar na intenção de não rir, mas estava falhando miseravelmente, e eu também, vendo Katniss preocupada, ao lado de um Nicolau que se continha como a gente. Seus amigos estavam ajudando, mas vi o olhar para o alto que Armênio deu, depois de ver a situação delicada de Nicolau e Frederick, vi que ele estava a um passo de não rir também.

— Então vamos disfarçar aqui com a comida, e agir como se não tivesse visto nada — murmurei, virando meu amigo para a mesa de comidas. Ele ria enquanto comia os doces, tentando disfarçar, e eu também, dando mordidas pequenas, limpando minhas lágrimas do choro.

— Altezas, acho melhor anunciar o jantar — James aconselhou, o chefe dos mordomos do palácio. Eu e Cato assentimos, até meio doidos por causa das risadas discretas que estávamos dando aqui.

Mas depois de nos recompor, assim com eu vi que tinha sido o que aconteceu com o senhor Jorg, fomos lá, e fingimos preocupação, que sei que funcionou muito bem, pois como Cato é o que mais falou hoje, eu tomei a deixa, pensando em uma tragédia para não rir outra vez no lábio cortado do senhor, e tudo correu bem.

O jantar representou muito bem a Alemanha, Áustria, Holanda, assim como também a França, porque Marcell nasceu lá, e Nicolau vive constantemente no país francês, pelas pesquisas. Ele tem uma casa de praia em Nice, onde vive frequentando com sua mãe, a rainha Amandine.

Fizemos um cardápio que inclui vinho e batatas, mas trouxemos carne, a carne bovina, de três formas diferentes, uma na que chamamos de “panela”, na versão de creme, com milho (o favorito da noite, por sorte também ficou como o principal) e no terceiro, acompanhando um prato inglês, que Cato descobriu ser o favorito de Marcell e Nicolau, graças à revistas de fofocas perdidas de Katniss e Prim por aí, e veio junto com batatas fritas da forma que era na Inglaterra. Hoje é um pedaço de Panem, que é cuidado por um dos condes, no caso pessoas que o pai de Katniss escolheu, e um dia será, muito possivelmente, cuidado por Prim, que é a Princesa de Buckingham.

— Foi um prazer recebê-los — eu falava de um lado, e Cato do outro, no Hall de entrada do palácio, onde as limusines os levaria para uma outra parte, onde está o jatinho particular de Nicolau, corte e família. Marcell me deu um toque, assim como com Cato, e nos convidou, como o irmão, para nós dois irmos assistir aos jogos finais de futebol. Ele anotou os nossos números de telefone. Troquei um olhar para meu amigo, que estava pouco mais que dois metros de distância, por conta da largura da porta, e cada um estar no extremo. Sorri, assim como ele.

Pelo visto se Katniss ainda não quiser me escolher, eu tenho um passeio bem incrível para ir em Março, e junto com Cato.

Então, pude olhar melhor para Katniss e Nicolau, melhor do que antes, já que os dois foram por toda a sala, de braços enlaçados, conversando com todos, como bons alunos que herdarão uma coroa pesada que os farão governar grandes populações. Eles pareciam realmente serem grandes amigos, principalmente quando Frank apareceu rapidamente no meio da confraternização toda, ele parecia bem familiar com o príncipe alemão e sua corte. Achei uma boa coisa para descobrir sobre Katniss.

Aparentemente, ela não é muito de conversar por redes sociais, ou no privado, mas é de manter relacionamento quando vê as pessoas, e eu acho isso ainda mais uma qualidade. Ela foi perfeita, mesmo que não tenha sido, realmente, o foco, é claro, e sabia muito bem disso.

Perdido nos meus pensamentos sobre o quanto tudo correu bem, graças a Deus, com certeza, porque quando é comigo, algo sempre dá errado, e Cato sabe, tendo também buscado para nada dar errado, nem percebi quando Nicolau se aproximou de mim, com um pacote nas mãos, bem embrulhado, assim como para Cato, mas me trouxe gentilmente um pouco mais para perto em um abraço apertado, comum entre os alemães, mas à princípio estranhei.

Então senti que foi mais do que um abraço.

— Katniss me contou sobre a guarda escarlate, eu vou ajudar vocês, porque eu também tenho muita influência na Rússia. Eu vou providenciar as armas. Apenas me prometa que vai cuidar dela. Kamikase é mais inocente do que parece ser, ela não vê maldade nas pessoas. Cuide dela. Estou confiando no que te conheci hoje e no que minha amiga falou de você. Não a decepcione.

Meu coração bateu disparado, e mesmo que ele tenha falado isso com seu sotaque bem forte, e rapidamente, entendi cada palavra. Ele sabe dos Nortistas. E irá nos ajudar.

— Entendeu? — assenti, imediatamente.

— Obrigado — foi tudo o que eu consegui dizer, e ele apenas sorriu, me passando o embrulho.

— Acho que você sendo o Selecionado, em Março, nós podemos ver se podemos ser grandes amigos. Afinal, você já me considera um não é mesmo? — Ri, mesmo que Cato tenha se aproximado, porque ele chamou o outro loiro, que veio, com um sorriso. — Gente, vocês não erraram em nada, foi tudo ótimo. Espero que gostem desses presentes, e espero mesmo vocês dois em Março na minha coroação, eu não aceito não como resposta, e Marcell disse que você, Cato, prometeu que vai jogar futebol americano com ele.

— Ah! — ele sorriu, corando. Hoje um lado do Cato que eu não conhecia tem sido revelado! Primeiro ele assumiu que ao lado de Nicolau não é nada além de um lixo, e que cora! Sim, é capaz que ele fique envergonhado! Calvin, Blane e Gale necessitam saber disso. — É apenas a minha profissão bem alternativa, eu não acho que seria algo que eu seguiria, mas ele parece ser impressionantemente melhor do que eu.

— Bem, Marcell realmente puxou de alguém que nós não fazemos ideia de quem ou de onde, isso para esportes, mas vai ser bem legal se você jogar com ele. E Peeta, você também joga?

Eu e Cato rimos sinceramente.

— Eu?! — ri mais, e Nicolau nos acompanhou, bem sincero, porque foi espontâneo. — Muito mais fácil eu liderar um grupo de pessoas na cozinha do que jogar, praticar algum esporte!

Nós três conversamos mais algumas coisas aleatórias, e parecia que iríamos continuar assim, porém tivemos que parar porque a presença dele foi solicitada, por causa da hora do voo.

Então, nos despedimos para valer, então eu e Cato pudemos ir para nossos quartos, com o presente de Nicolau, que abrimos logo depois que as portas foram fechadas, nos sentamos em umas das poltronas.

— Ah. Não. Pode. Ser. — Nós dissemos, juntos, ao encarar uma pulseira, claramente ouro puro, ouro, ouro e com detalhes de ouro branco. — Isso daqui é preço da minha alma e da minha irmã gêmea.

Cato assentiu, perdido.

— Peeta, se tudo der errado, dá para vender isso e ir para sei lá, a Alemanha mesmo, e viver por um bom tempo.

— Eu nem sei o que dizer. — falei, erguendo uma mão, depois que guardei, e voltamos a caminhar para nossos quartos. — Eu vou usar isso todos os dias da minha vida. Simplesmente.

— Bem, acho que amanhã não é um tão bom dia, porque nós iremos para o dia do perdão, lembra? — Minha ficha então caiu. Bati uma mão na testa.

— Caramba, é verdade! Céus, vai ir apenas meu corpo aos frangalhos, eu estou morto de cansado.

E de dor, porém guardei essa última parte para mim mesmo, obviamente. Ninguém precisa saber disso. E nem pode.

— Hm, acho que não é só você, como os italianos foram embora mais cedo, Calvin foi para o hospital, de cansaço, depois de tudo — balancei a cabeça, preocupado. — Todo mundo tá só o pó.

Ri, por ter achado a expressão engraçada, mas ela fala exatamente a verdade, nós estamos só o pó.

— Mas vamos aproveitar, afinal, já é a última semana, né. Depois acabou tudo.

Falei, e foi extremamente estranho dizer isso. De certa forma, é muito normal ter aula com Cato, Calvin, Blane, Gale, esbarrar com eles pelos corredores, ir malhar e os encontrar rindo, conversando. Pareceu tudo impressionantemente solitário sem que isso não tivesse eles no meio.

— Sai desse discurso triste, Peeta, pelo amor, eu sou o único que pode trazer más notícias e dizer coisas maldosas — sorri, e trocamos um toque antes de cada um ir para seu próprio quarto.

Graças a Deus, os trigêmeos estavam à postos para me socorrer, porque eu quase desmaiei quando vi que realmente podia sentir a dor do curativo, e que eu não aguento mais nem um segundo com a postura ereta.

Me deitei na cama, depois que tirei o terno vermelho, e abri a blusa. Stefan precisou rasgar a camiseta que estava por debaixo, pois já estava com um pouco de sangue.

— Seu curativo abriu quase todo, é surpreendente que você esteja em pé depois de um dia como esse — balancei a cabeça, mas estava sentindo bem menos do que ontem.

— É porque eu tomei duas cartelas de anestésicos e uma de anti-inflamatório, perguntem para o James. Eu estou completamente cheio de remédio, gente. E estou com dor.

— Bem, como bem cedo você precisará estar arrumado, porque a cerimônia vai ser ao vivo, e a mais importante da qual todos vocês participaram, vou aplicar morfina, enquanto Julia dá os pontos.

Assenti, mesmo que quisesse tomar um banho, apenas deixei.

Layla aplicou de uma forma que apenas ela sabe fazer eu tomar uma injeção dolorida sem doer em nada. Quando ficou sabendo de tudo, ela bateu nos irmãos, e brigou comigo, por conta de termos colocado nossas vidas tão em risco, mas depois parabenizou, porque talvez fosse exatamente o que eles estavam precisando.

Virei o rosto para a parede, com meu corpo relaxado. Eu posso sentir Julia passar e repassar a agulha em mim, mas não estava sentindo dores, necessariamente, e por isso já me adiantou em boa parte.

O pior é a hora do curativo, das ataduras, porque precisam me enfaixar e apertar o meu machucado. Mas Layla, compadecida, pediu para eu ficar cinco minutos com uma bolsa de gelo no local, para eu poder dormir melhor, e assim foi feito, e realmente resolvido.

— Como você vai ficar mais umas duas horas em pé eu não sei — Stefan disse, sinceramente, ao se sentar na minha cama, olhando para mim sentado, comendo um pouco, depois de dividir para nós quatro. Ele bebericou o suco, parecendo preocupado comigo. — Isso daí pode abrir de novo.

— Eu sei, mas pior que está não pode ficar, e eu apenas preciso perguntar o nome da pessoa, e o crime, então pedir para ela levar as flores para os pés do rei, para que sua causa seja avaliada.

— Sim, mas acontece que não sinto que será apenas isso — Julia disse, depois de comer um pouco de seu prato com sopa de abóbora. — A rainha esteve bem ausente nos últimos dias, tendo ido com a irmã para o Canadá… e a senhora Anastácia parece bem atônita. Deve saber de alguma coisa.

Fiquei pensativo.

— Mas de que maneira ela poderia me prejudicar amanhã? Eu não tenho feito nada que dê alguma razão para que ela me fazer algum “mal”, eu não tenho feito nada demais mesmo, nos últimos dias. A menos que ela tenha descoberto sobre a fuga do palácio.

Falei, mas logo descartei. Não, ela não pôde ter descoberto. Fizemos muito bem o que fizemos.

— Acho que pode ser quanto a quem você vai julgar, Peeta — Layla murmurou. Então, por ter feito sentido, ela falou mais alto, me dando um olhar com medo. — Você não vai precisar condenar qualquer pessoa.

— Céus — Stefan disse, balançando a cabeça em concordância. — Faz todo o sentido. Ela pode te dar alguém que não é culpado, mas que ela queira que seja condenado.

— E o que iria acontecer? — perguntei, ficando com a respiração mais difícil.

— Acredito que ela poderia mesmo encontrar uma falha para poder te eliminar da Seleção — Julia disse. — Ninguém nunca disse não para uma condenação. Independentemente, isso é para averiguar o caráter de vocês. Os culpados são pessoas que tem seus motivos. Uns até mesmo “nobres”, mas crime é sempre um crime. E precisa ser punido.

Assenti, concordando. É verdade, todos os erros devem ter uma consequência, uma punição. Mas ainda não pude encontrar uma forma da qual a rainha poderia me afetar com isso.

Então me lembrei do episódio com Stuart. Ele foi açoitado em praça pública por ter roubado uma maçã.

Fiquei sem ar.

— Ela não poderia fazer isso — murmurei, cobrindo meu rosto com uma mão. — Ela poderia colocar uma criança para ser julgada?!

Stefan assentiu, entendendo minha situação. Eu não havia mesmo pensado nisso, não mesmo. Eu nunca poderia ter pensado em uma coisa dessas.

— Peeta, acho melhor essa conversa acabar por aqui e você ir dormir. Pensar nisso tudo agora… vai tornar o dia mais estressante do que será.

Layla disse, pegando meu prato, mesmo ainda com algumas batatas fritas e o hambúrguer na metade. Eles me conhecem mesmo, depois de todo esse tempo, mesmo querendo comer, porque agora eu não estou sentindo as dores do machucado, não tenho estômago para isso mediante ao show que a rainha muito possivelmente armará para mim.

Os trigêmeos se despediram, e pediram para que eu ligasse caso não conseguisse dormir, e eu apenas assenti, porém não fiquei na cama por muito tempo. Liguei a TV, e me sentei no chão.

Fiquei pensando no que eu faria, e disse para mim mesmo não estragar tudo. Qualquer coisa que eu fizer pode prejudicar Katniss. O que a rainha faria dessa vez se eu pisar na bola? Até onde ela é capaz de fazer algo?

Mas então eu me lembrei o que Katniss me pediu, no dia que eu fui na suíte do príncipe. Ela tinha pedido para que eu fizesse o meu melhor. Mas que eu fosse justo. Mas também que entendesse que há coisas que apenas quando eu estiver ao lado dela poderia mudar e fazer acontecer.

O sono me tomou antes que eu pudesse fazer mais perguntas existenciais para mim mesmo. Fui me deitar. E dormi, mas inquieto.

O que vale mais? O amor ou a justiça? Ser justo é mais importante do que uma coroa? Ou melhor, ser justo vale mais que uma vida ao lado de alguém que você sinta que não possa viver sem?

Talvez amanhã seja o dia que eu vou ser confrontado exatamente para responder essas perguntas. E que Deus salve nossa futura rainha.