A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 42
Cada passo que você der estarei te observando | A Escolha


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, tudo bem? Como vocês estão?! Eu gostaria de outra vez me desculpar, pois eu estou em um ritmo bem estranho de SISU, PROUNI, e reticências, e isso realmente tem tirado toda e qualquer inspiração para vir e escrever algo que fosse divertir e passar alguma mensagem para quem quer que lesse isso.
Mas aqui está! Eu queria muito escrever esse capítulo, e eu pesquisei basstnate os estados dos Estados Unidos, com um pequeno conhecimento de A Rainha Vermelha ne moressss kkkkkkkkkkk saga da vida
Espero que vocês gostem, de verdade, mas mais do que isso, que me perdoem por sempre demorar tanto para responder mensagens e comentários, eu realmente não tenho essa intenção, eu realmente me esqueço totalmente, e aí quando eu vejo, já se passaram belos três semanas, um mês, quatro meses, e eu pensando que já respondi (isso acontece tanto que vocês ficariam surpresos) principalmente os comentários grandes que eu amo demais, demais, eu vou respondendo parte por parte, e isso eu faço primeiro na minha cabeça, até perceber que eu não escrevi nada e ainda não consegui responder.
Eu disse que teria um pouco mais de Amélia e Peeta, porém mais uma vez não foi dessa vez, o capítulo saiu do que eu esperava do meio para o final, porém ainda se enquadra nos acontecimentos do livro!
Pessoal, eu não sei com quantas palavras ficou, eu estava pensando em três mil, mas tenho quase certeza de que aqui há mais de seis.
O título e a música podem não ter muito sentido, porém nos capítulos finais vocês vão entender melhor o que isso significa, assim como no capítulo anterior o Peeta comparou a presença de Katniss com um Aleluia, tudo fará sentido, eu prometo!
Bem, eu amei escrever o final, sinceramente, e eu espero que vocês gostem, de verdade! Foi tudo escrito com muito amor e muitas músicas e muita dificuldade, porque eu toda hora enquanto escrevi no Google Documents checava notas de corte na PUC RIO e UVA para Direito e Relações Internacionais. Aliás, quem se lembrar, orem por mim por favor gente, eu tô dentro da nota de corte do ano passado para RI, e menos cinco pontos para Direito kkkkkkkkkkkkkkkkkk eu preciso de um milagre, porque comunicação social na ufrj aparentemente não vai acontecer.
BEIJOOOOOOSSSSS
*sorrindo, empolgada* https://media.giphy.com/media/jOoPZUO5cJ5fi/source.gif

Hoje eu to que to em gif para me expressar, porque eu vejo muito essa Katniss como a Demi Lovato scrr kkkkkkkkkkkkkkk



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Cada suspiro que você der

Cada movimento que você fizer

Cada laço que você quebrar

Cada passo que você pisar

Eu estarei te observando

Todo santo dia

Cada palavra que você disser

Cada jogo que você jogar

Cada noite que você ficar

Eu estarei te observando

Oh, você não enxerga?

Você pertence a mim

Como o meu pobre coração sofre

Com cada passo que você dá

Cada movimento que você fizer

Cada promessa que você quebrar

Cada sorriso que você fingir

Cada reivindicação que você fizer

Eu estarei te observando

— Every Breath You Take, The Police

Quando acordei, o Sol pensava em se espreguiçar, mesmo já sendo seis e cinco da manhã, e Katniss já não estava mais aqui, infelizmente.

Mas abri um sorriso só em pensar nela.

Lembrei que preciso estar logo no quarto de Gale, fora que estou com sua jaqueta. Entrei sorrateiramente, e todos dormiam profundamente ainda. Deixei onde peguei, e pulei Calvin, para deitar onde eu estava.

Impressionantemente, eu dormi de novo, é claro, sem demorar mais que cinco minutos para isto.

Ao acordar novamente, já eram onze e quinze, e Cato ainda dormia também, enquanto Blane, Gale e Calvin jogavam sueca.

— Cara, eu quem levo — Gale protestou. — Olha só! É meu ás!

— Mas seu otário, o que vale mais é com o trevo — Blane respondeu.

— Calem a boca, droga — reclamei, rouco, cansado. Me virei para o outro lado.

— Volta a dormir, mané — Calvin disse, jogando um troço na minha cabeça. Doeu. Levei um susto.

Peguei e taquei de volta.

— Perturbado — xinguei. — Vai acertar o diabo.

— Vai você — e tudo ficou bem, mas despertei, continuando de pijama, e acordei Cato.

— Grace me disse que vamos almoçar aqui hoje — Blane disse. — Estão arrumando o palácio para o Natal.

Passamos a tarde assistindo filmes, jogando war, banco imobiliário, e de conversa fiada. Sempre temos algo para conversar, é incrível.

Mal pude perceber o tempo passar, logo eram seis da noite, e era solicitado que nós fôssemos para o Grande Salão para jantar, pois tudo estava arrumado.

A este ponto da Seleção, ninguém quer impressionar ninguém. Como se em um acordo silencioso, todos fomos com calças sociais simples, e camisas polo, com um casaco adequado para a ocasião. Somos apenas nós.

Mas algo ficou como uma nuvem densa no meu estômago durante todo o dia, logo estarei saindo com Katniss para fora do palácio.

Só Deus sabe o quanto isto está me dando um péssimo pressentimento. Eu normalmente não sinto essas coisas.

Quando o relógio marcou sete e meia, toda a tranquilidade que eu mantive por causa dos meus amigos, simplesmente dissolveu-se como em um passe de mágica.

Subi para meu quarto antes, logo depois de Katniss, e ninguém desconfiou, pois ela disse que queria cavalgar, e eu apenas pedi para sair. Ela vai ir para meu quarto.

Layla e Julia não sabiam de nada, somente Stefan e Delly, que nos acompanhariam, juntamente com Troy e Zac, os guardas pessoais de Katniss.

— Meu Deus! — exclamei, quando já vi Katniss em meu quarto, quando cheguei. Ela riu da minha surpresa, e eu também. — Céus! Eu pensei que fosse ao menos ter privacidade para me trocar!

— Acho que nós já temos intimidade suficiente para isto, não acha? O esconderijo não foi a prova? — perguntou, com aquele sorriso no canto do rosto. Mas percebi uma sombra diferente em sua bochecha. Ela percebeu.

— Foi um tapa? — perguntei baixo, me aproximando. Ela tocou minha mão, sem deixar que eu tocasse. — Minha causa?

— Nem sempre, eu também cometo erros. Menos que você, mas… — sorriu no final. — Está tudo bem.

Garantiu, mas eu não tive plena certeza disto.

— Eu não estou com um bom pressentimento disto — admiti, enquanto observava ela tirar sua calça e vestir uma jeans. Foquei em seu rosto para não desviar meus pensamentos. — Quer mesmo ir?

— Quero. Preciso ver como estão as coisas, Peeta. Meu pai está me escondendo muita coisa. Minha mãe nem se fala. Tenho que conhecer o país que quero e vou reinar.

Assenti, tranquilo.

— Troque sua blusa — falei, e ela assentiu, tirando a de linho que usava, então vestindo uma surrada, que reconheço ser de Delly. É uma blusa que se usa para ficar em casa à toa, então ela acaba ficando velha, mas nesta ocasião, não há nada que ficaria melhor.

Vesti uma blusa de Stefan, porque as minhas precisaram jogar fora, não tinha muita utilidade.

Graças a Deus eu e ele temos mais ou menos o mesmo peso e porte, então não tive qualquer problema com sua calça verde em padrões militares, nem com a blusa branca. Também coloquei um boné, e Katniss uma boina, vestindo uma jaqueta jeans.

Eu juro que não parecia ser a Katniss.

— Então é esta calça que você pediu para usar — falou, dobrando uma perna diversas vezes, claramente incomodada com o tecido. — Isto aperta meu bumbum! Que indecência!

Ri, no momento em que Delly com Stefan entrou no quarto. Sinto algo entre eles dois, mas resolvi não comentar.

— Céus, quem são vocês com essas roupas? — Delly murmurou, surpresa, como eu. — Já te vi muitas vezes com roupas normais nas feiras de Santa Cloud, mas não me lembrava — ri, balançando a cabeça.

— E vossa Alteza parece uma Cinco — Stefan disse, mas vi que se arrependeu. — Me desculpe, não era isso o que eu quis dizer, Alteza, e

Katniss riu alto.

— Está tudo bem, acho que era essa a intenção — ela respondeu, tranquila, terminando de fazer uma trança na lateral de seu rosto. — Podemos ir? Não podemos nos atrasar.

*

Uma carro grande esperava por nós, uma van, eu acredito. Um motorista da confiança de Katniss dirigia, Troy ia na frente, Zac na porta, Stefan ao seu lado, então Delly, e eu atrás com Katniss, aflito. Ninguém disse algo durante todo o percurso que durou pelo menos quarenta minutos.

— Chegamos em Santa Bárbara — anunciou o motorista tranquilamente. Paramos em frente a uma casa grande, mas bonita, e com a garagem já preenchida com dois carros velhos, mas que pareciam funcionar.

Espontaneamente, a mão de Katniss encontrou a minha. Por um instante vi que ela não queria ter vindo, mas imediatamente mudou de opinião quando a porta abriu, revelando Lucia e Max.

Eles fizeram um gesto bem apressado para entrarmos, e assim o fizemos, com Zac e Troy em nosso encalço, enquanto o motorista particular de Katniss seguia as instruções de um amigo de Max.

Ao entrarmos, ficamos verdadeiramente surpresos. Do lado de fora eu nunca ia jurar que ia ser dessa maneira. A casa é, simplesmente, um computador gigantesco por dentro. Aqui há umas quinze pessoas, cada uma diante uma tela azul enorme, analisando fotos, gráficos, assiduamente.

— Sejam bem-vindos à nossa sede — Lucia brincou. — Não é aqui que moramos, e nem de onde veio Max, porém é onde está nossa base de controle. Não será possível um passeio pela bela e doce Santa Bárbara, mas podemos ir até San Diego em um piscar de olhos. Lá a coisa está precária. É um lugar tomado por Sulistas.

— É verdade. Temos algumas câmeras instaladas por lá, e… bem, é melhor me acompanharem.

Max falou, indicando um quarto, que na verdade era uma outra sala pequena, um jovem de aparentemente 14 anos estava se sentando na cadeira segurando um copo de refrigerante quando entramos.

— E aí, Bon Jovi. Aquelas imagens de San Diego — Max pediu, com muita intimidade com o garoto, que sorriu. Pareciam amigos, não parentes. O garoto era magro demais, e não muito alto. Algo me dizia que ele não era daqui.

Rapidamente o jovem abriu imagens, que infelizmente não foram uma surpresa para mim, mesmo embora meu coração tenha sido apertado muito forte no meu coração. Eram imagens de pessoas mutiladas nas ruas, mendigando, em outras, barracos incendiados, pessoas com máscaras pretas e assustadoras com armas, grandes armas, prontas para matar qualquer pessoa. E assim o fariam, pois havia três pessoas de rosto bem magro olhando para elas.

Katniss soluçou alto demais, do nada, conforme as fotos iam passando e Lucia com Max explicando que a situação está ainda pior na província de Lakeland, ou seja, a província que também inclui Angeles. É o estado da California, Nevada e Arizona.

Eu nem tinha visto que Katniss chorava, pois estava sozinho preso naquelas coisas horríveis, e que há pessoas piores do que em meu bairro, estado, província. Lá as pessoas de Distrito 8 são mortas, sim, por alguns sulistas arruaceiros, porém não é dessa forma. Há imagens deles degolando pessoas, bebês, crianças. Em Piedmont há pelo menos misericórdia com crianças.

— Isto está assim ao redor do país inteiro, vossa alteza — O garoto se chama Calton, porém seu apelido é Bon Jovi. Ele disse friamente, no sentindo de como se nele não houvesse algum coração de sentimentos. — Eu vim da Flórida, mataram meus pais esfaqueados, éramos Seis. Não tinha motivo algum. Apenas não podíamos pagar o que queriam, já vivíamos em uma casa miserável, e mal dava para sustentar nós três. Cheguei do trabalho, e eles já estavam mortos. Não é só eu que agora sou órfão. Boa parte dos meus amigos que ficaram para trás também.

Olhou-nos com seus olhos azuis claros feito o céu.

— É bom saber que a senhorita tem compaixão. Mas não vai resolver nada se seu governo continuar da mesma forma.

Quis abraça-la, mas como não permitiu, me limitei a ficar ao seu lado, com uma mão em sua cintura, para mostrar que estou aqui.

— Não será. Eu prometo. — disse, forte, mesmo que bem nitidamente ainda chorava e estava altamente abalada. — Não vai ser algo imediato, mas já estou amadurecendo ideias com o primeiro ministro e os conselheiros — contou. — Peeta tinha me falado sobre como é Illinois, e sua cidade, mas eu não sabia que é assim ao redor do país.

— E temos um número aproximado de mortos no último mês, não é certo porque algumas pessoas nossas foram descobertas. Por Sulistas, tivemos 300 assassinatos ao redor de Panem.

O ar quase me faltou.

Enquanto estamos no luxo do palácio, 300 pessoas morreram apenas em novembro!

— E durante este ano? — perguntei, vendo que Katniss queria saber, porém não tinha estruturas neste momento para perguntar.

— Pouco mais de quatro mil. Novembro foi um mês bem pouco movimentado para eles, pois conseguimos impedir alguns ataques, e mais guardas circulando com a força militar ajudou, mas não muito. Precisamos de ajuda. Do palácio. Nós não queremos a coroa, tampouco o fim da monarquia. Acontece que confiamos em você, Katniss — Max disse, tirando as imagens. — E na sua futura escolha ao trono. Sabemos que você terá sabedoria quanto sua escolha, e que será alguém que vai defender o País com você. Não pode escolher alguém apenas por amor que você sente, precisa escolher alguém que vai lutar junto com você.

Senti um ar meio diferente, e umas olhadas sobre mim e minha posição quanto a Katniss, mas fingi que não vi.

Ela se recompôs em um piscar, e deu um passo adiante, pedindo para que enviem estas imagens para ela.

— Max, podem ter certeza que eu vou ter este cuidado — ela garantiu. — E no que posso ajudar? Dinheiro? Suprimentos?

Eles quase acharam isto engraçado.

— Não, não, nós temos bastante dinheiro e mais suprimentos do que imagina, nós ajudamos os Oito por aqui e por onde há bases nossas, um tordo em cada árvore ao redor do país. Nós precisamos de armas.

Katniss mordeu a almofada do polegar, assim como Amélia faz quando está muito nervosa.

— Mas isto não é algo tão simples que eu vá conseguir — disse. — Não mesmo. Eu não sei se conseguiria fazer isso. Sou apenas a princesa, ainda, e o trono será meu apenas em três anos.

Lucia balançou a cabeça tranquila.

— Temos mais nortistas ao nosso lado lá no palácio que você imagina. Seu pai assina papéis todos os dias, desviar uma remessa de armas ajudaria. Quase não temos armas, apenas uma por casa dessa. É insignificante, enquanto os sulistas possuem bombas. Sabe que o último ataque que vocês ficaram presos e durou um dia foi do Sul, certo?

Eu fiquei sem acreditar.

— Por isso o cheiro de tinta fresca forte depois — murmurei, mas escutaram.

— Sim, eles foram bem rígidos e detonaram o que podiam. Houveram perdas. E ainda nos culparam.

Lembro de Stefan falando que foi nortista.

Céus.

De repente senti a necessidade de sair e tomar um ar fresco para espairecer. Mas continuei atrás de Katniss, como sua sombra, dando todo o apoio que pudesse precisar.

— Tudo bem, porém eu não posso garantir nada. Eu realmente não tenho poder no gabinete. Não faço nada além de dar sugestões. Eu poderia ajudar vocês com segurança, ou suprimentos, roupas, mas nada além, infelizmente.

E eu sabia que era verdade. Por alguma razão, eles tiraram os olhos de Katniss, e olharam para trás dela, e eu olhei para trás de mim, vendo nada. Ah, pensei. Estão olhando para mim.

— Eu posso fazer menos ainda — respondi, erguendo as mãos.

— Não… você… — Max fez um gesto vago com a mão. Ah!

— Sim, isso é verdade o que ela está dizendo — respondi, finalmente entendendo o olhar de todos. — Eu já senti na pele a pouca força que ela tem no parlamento.

Katniss assentiu em derrota.

— Mesmo naquele dia em que Finnick Odair e Annie Cresta estavam sendo punidos, foi somente impedido pelo meu pai. Há muitas coisas sob o poder do Primeiro Ministro, mas outras consideráveis nas do rei, e nenhuma em minhas. Preciso de uma lista com o que vocês querem sugerir, e nada, absolutamente nada será esquecido, e dou minha palavra, de futura sucessora do trono, de que buscarei atender a cada um de seus pedidos, mesmo dentro das minhas limitações.

Eu sou pouco mais alto que Katniss, talvez uns dez centímetros, eu não sou tão alto, porém quando ela falou isso, séria, mas com ar de pura compreensão, mesmo naquelas roupas das quais eu nunca mais a verei em outra ocasião, pude enxergar uma verdadeira rainha. Eu estou na sombra de uma grande rainha.

E me orgulhei disso.

Não esbocei minha admiração através de feições, e nem será algo que minha boca vai confessar um dia, porque não é algo que se diga. Talvez um dia. Se meus olhos em si não contarem para ela tamanha admiração que tenho por todo este seu coração, força e coragem, não vale à pena gastar palavras.

Conversaram por mais uns cinco minutos, eu pouco disse, mas senti que minha palavra tinha alguma importância, por alguma razão. Eu estava prestando atenção à tudo, e fiquei um pouco vendo os mapas com Calton e Max, enquanto Lucia, Katniss e Troy estavam em outro cômodo vendo outras coisas.

— Minha irmã disse que em Piedmont a criminalidade diminuiu, os pacificadores estão mais severos, e os guardas estão sempre por perto — comentei, sentindo meu rosto iluminado pela luz azul da tela.

— Sim, nós escutamos isso também, e muitos nos disseram a mesma coisa, mas mesmo na Capital, Angeles, não apagou sem sotaque de sulista. Você não é do interior, Alteza — Calton disse, enquanto Max mexia na tela, e me mostrou Virginia, uma cidade bem do interior.

— Não é barro, é sangue. Fizeram uma estrada com sangue.

— Céus… — foi o que eu consegui dizer, me sentindo mais inútil do que eu normalmente me sinto. — Eu já escutei muita coisa de lá.

— Sim, lá tem uma sede muito forte dos sulistas. O palácio não chega até lá porque não tem coragem. Eles são mais fortes do que parecerem. Arrasaram com o país há alguns anos, talvez você tenha escutado sobre a revolta…

— Revolta dos Vermelhos, eu escutei, claro, eu tinha treze anos, ficamos duas semanas sem sair de casa, com as janelas cobertas. Demos muita sorte — completei e o contei brevemente. — Alguns parentes distantes do meu pai foram mortos. Eu não os conhecia, mas eu soube. As coisas costumam chegar logo quando são ruins.

Max e Calton assentiram, e estamos em uma bolha intocável de reflexão. Todos arrasados.

— Eu vou tentar ajudar vocês de alguma maneira. Não quero ser um rebelde, eu não gosto de me envolver, mesmo que estejam fazendo a coisa certa, entendem? Essa coisa toda é nova para mim, para Katniss, porém no que eu puder estar falando com ela, com meus irmãos, e talvez até com o rei, eu vou falar. Acho que vocês sabem que quando eu acho que tenho que falar eu acabo falando — revirei meus olhos no final, em uma constatação fracassada sobre mim, e eles riram.

Sorri.

— A gente sabe. Peeta, temos mais pessoas no palácio conosco do que possa imaginar. E queremos você do nosso lado, um dia. Seria um prazer. Já temos um Selecionado conosco —

Antes que pudesse continuar, Lucia abriu a porta com um sorriso, dizendo que estava na hora de irmos.

Me despedi de Max e Calton com um sorriso e certa tristeza, da qual eu não disse.

— Espero que possamos nos encontrar em breve — Katniss disse, na porta, dando mais um abraço apertado em Lucia. Acho que as duas viraram amigas.

Estávamos indo entrar de volta na van quando um grupo com umas dez pessoas saiu da sombra, todos garotos, o mais velho não deve ter mais de 20 anos. Saiu, de forma ameaçadora, mesmo que tão magros e esfarrapados, Oito ou Sete, sem dúvidas, e eu senti medo. Meu coração bateu muito acelerado.

— Nós queremos o carro e alimento — o que parecia ser o líder disse, com os punhos bem fechados. — Agora.

— Não, por favor, se afastem — Troy disse, e eu dei um passo para trás, instintivamente protegendo Katniss ao segurar firmemente sua mão. E a por um pouco atrás de mim, sem que nenhum de nós dois disséssemos alguma coisa.

— Como disse?! Nós pedimos o carro! Agora!

— E nós dissemos que não — Zac enfatizou, com uma mão no coldre, assim como Troy. Pude escutar meu coração em meu ouvido. Estou desesperado. Meu Deus!

— Olha ali, se não é a princesa e seu Selecionado favorito! Acho que será melhor que levemos eles!

Aí a coisa foi rápida demais quando o mais novo, talvez com 13 anos, disse, eu praticamente joguei Katniss para trás de mim, e corri protegendo-a dos tiros que os guardas começaram a trocar, juntamente com os guardas de Max e Lucia, incluindo os próprios.

— Corre! —gritei para Katniss, que parecia paralisada. Paramos de frente ao muro dos fundos, que dava em um lugar desconhecido, por ser alto.

Uni minhas mãos e pus um joelho no chão indicando o que ela deveria fazer, e sua mente despertou, fazendo isto, conseguindo ficar sobre o alto muro, vendo o que tinha.

— É uma avenida! — falou, chorando, assustada.

— Estou bem atrás de você! — respondi, e ainda estava tocando seus pés, quando escutei uma voz.

— Mas daqui vocês não vão escapar — um dos rapazes disseram. Armado. Eu só dei impulso para Katniss, e ela caiu do outro lado do muro, me chamando, quando bem mais rápido que eu poderia reagir, uma bala travessou minha barriga, e ele veio para me acertar na mão ou para ir atrás de Katniss, que entendendo a situação, espero eu que tenha corrido.

Com uma dor da qual eu nunca senti antes, ainda consegui segurá-lo. Ele é extremamente mais magro que eu, porém impressionante mais forte, e aí senti outra coisa, porém próximo ao meu ouvido, espirrando sangue no meu rosto. Muito sangue. Eu esqueci de respirar, sentindo o aperto do garoto afrouxar rapidamente do meu pescoço e eu quase caí no chão, porém segurei o corpo decapitado pelos pulsos. A cabeça dele está perto dos meus pés. Meu Deus. Meu Deus.

— Você está — Troy ia perguntar, com uma arma com uma ponta diferente. — Ah.

Eu larguei o corpo, tremendo, com meu corpo banhado de sangue. Eu preferia que o tiro tivesse acertado minha cabeça e me matado.

Não consegui fazer nada. Eu reaprendi a respirar quando me agachei, sem ar algum, ficando muito sufocado, enquanto sentia o sangue do cara simplesmente me molhar da cabeça aos pés.

— Você está ferido? —Troy perguntou, franzindo o cenho, aproximando-se de mim.

— Eu não sei — respondi, embriagado com o cheiro forte de sangue. —Ah meu Deus — murmurei, querendo vomitar, porém não tinha nada para subir na minha garganta. — Eu tenho que ir embora daqui.

— Acho que nós vamos precisar usar o túnel. Espere aí. Vamos procurar a Katniss também.

Não sei quanto tempo se passou, apenas sei que deu para escutar mais uns belos dez tiros, eu acho. Talvez tenham sido mais, ou menos, apenas sei que fiquei encarando aquele corpo decapitado, e eu mergulhado naquele sangue. Eu nunca em um milhão de anos poderia me ver em uma situação devastadora como esta.

Uma fisgada e o chamado de Zac me trouxeram à tona.

— Vamos, podemos ir — Ele disse, e eu me levantei, me escorando no muro.

— Acho melhor você entrar e tomar um banho rápido, olhe só suas condições — Lucia disse, com Max. Os dois estavam tão ofegantes quanto mais algumas pessoas que nos apresentaram somado aos dois guardas do palácio.

— Já passamos tempo demais aqui, e a Katniss está em algum lugar depois deste muro — falei, e não sei como a voz saiu de mim. Uma chuva intensa começou a cair, e com ventos que já estavam vindo gelados desde semana passado, pareceu ainda mais forte. Olhei para o céu, e gotas pesadas caíram sobre mim. Isto é um castigo por eu estar orando menos, Deus?

Imediatamente descartei o que pensei, deve ser uma febre. Todos estavam olhando para mim, e não em preocupação, mas como se eu pudesse dá-los ordens. Mas o quê…?

— Eu preciso me lavar — respondi, afinal, andando, sentindo a fisgada, sem ter a menor noção da gravidade do meu ferimento. Vieram me acudir, enquanto eu pedi para que fossem procurar a Katniss, pois a chuva aparentemente não daria trégua alguma.

Assentiram, e imediatamente um pequeno grupo se juntou a Troy e Zac para procurar a princesa, enquanto Max me guiou para um quarto que tinha uma cama bem arrumada, e um computador diferenciado, muito parecido com o que Katniss tem na biblioteca secreta.

—Aqui tem um banheiro, pode ficar à vontade — disse. — Vou te arrumar algumas roupas.

Apenas consegui assentir, em puro agradecimento. Meu “banho” não durou mais que cinco minutos, foi realmente o suficiente para tirar o forte cheiro de sangue alheio que estava em mim, porém percebi algo que me fez gritar, eu realmente fui acertado por um tiro, e muito possivelmente a bala está alojada na lateral do meu corpo, pela dor infernal. Não sei como, porém consegui vestir as roupas de Max, até parecidas com as que eu estava antes.

— Você precisa urgentemente voltar para o palácio — Lucia disse, se levantando da cama. Possivelmente é o lugar que divide com seu noivo, que está ao lado dela, com Zac na porta. A blusa branca ficou vermelha praticamente instantaneamente.

Eu estava me sentindo que ia desmaiar a qualquer instante.

— Encontraram ela? — perguntei.

— Negativo, e precisamos nos apressar. Precisamos de ajuda para encontrarmos-a, para que nós vamos de uma só vez para o palácio.

Assenti, mesmo tonto, tomando os remédios para dor que me deram, pressionando um pano grosso contra a ferida. Deus, isso dói feito um inferno, e eu não estava me sentindo bem nem para piscar, porém ao me lembrar que Katniss está em algum lugar debaixo dessa tempestade é inimaginável, eu desesperadamente segui Zac, agradecendo Max e Lucia apenas com um olhar. Realmente espero vê-los novamente logo em breve.

Zac tinha um guarda-chuva, no entanto, com toda a dor que eu sentia, eu nem queria saber de mais nada. Apenas saí, começando a procurá-la desesperadamente a partir do lugar onde eu a impulsionei, pois meu peito já queimava em imaginar a possibilidade de uma outra gangue tê-la encontrado e feito o pior.

Senti lágrimas em meus olhos apenas de cogitar essa ideia, e somado a minha dor infernal, definitivamente é uma boa hora para chorar, mas não o fiz. Apenas algumas lágrimas que insistiam cair, porém ninguém notou, com a chuva forte.

— Katniss! Katniss! — Eu sei que deveríamos ter um apelido, no entanto eu estava completamente fora de mim, eu preciso encontrá-la ou jamais irei me perdoar. Tudo terá sido completamente em vão.

— Katniss! — Zac chamava, junto de Troy, sem dizer que é a princesa, ao menos, pois há, realmente, muitas jovens que se chamam Katniss também, após a escolha real, minha mão disse que o nome foi o mais dado, mesmo que eu nunca tenha conhecido uma outra pessoa chamada Katniss.

— Peeta! Estou aqui! — Ouvi, mas por um momento pensei ser alucinação da minha cabeça.

— Veio da esquerda — Troy disse para Zac, e o motorista que nos trouxe acelerou, ficando a postos para nos levar. Cada passo que dou eu sinto mais o sangue sair feito um rio, mas a possibilidade de que encontraria Katniss me deu forças para continuar.

— Katniss! — Chamei outra vez, indo na frente. Delly e Stefan estavam nos esperando no tal túnel, por terem ficado na van com o motorista, e quando tudo aconteceu, aparentemente esse tal túnel não é tão longe, e eles foram abrir o caminho.

Então, eu pude enxergá-la de longe, embaçada, feito uma pintura fresca e alguém passou a mão porém mesmo tendo borrado pode-se ver o esplendor da obra. Por um instante, me esqueci da dor e de todo o sangue que eu estava perdendo, antes que os guardas a vissem, saí correndo ao encontro dela, que não tinha me visto ainda.

— Katniss! — Gritei outra vez, parando. Meu corpo todo lateja de dor, excruciante, como se eu fosse morrer, mas meus lábios ainda conseguiram sorrir ao vê-la.

— Peeta! — Gritou de volta, vindo em disparada na minha direção. Senti que os guardas localizaram-nos. — Ai meu Deus! Você foi atingido! Peeta! O que está fazendo nessa chuva! Gardner e Jessie! Troy! Zac!

Eu não entendi muita coisa, estava esperando pelo menos um abraço dela, porém tudo o que recebi foi uma bela bronca por estar nesse estado, a ponto de adquirir uma bela de uma pneumonia.

Vi um garoto e uma garota um pouco mais novos que a gente, com a pele morena clara e cabelos loiros, me fazendo franzir o cenho, confuso. Deve ser um delírio.

Mas então Katniss me abraçou, enquanto me ajudava a caminhar para dentro da van, que nos esperava.

— Pensei que você tinha morrido — sussurrou. Pude sentir sua voz embargada em meu ouvido. Parecia que estava somente me abraçando de lado e oferecendo suporte, porém estava declarando outra vez sua preocupação com a minha vida. Me senti ainda pior do que já estou com toda esta dor infernal que estou sentindo.

— Acho que se eu não tentar te matar de susto a cada duas semanas eu não tenho como saber se você realmente está pronta para merecer minha presença ao seu lado.

Ela riu, mas outra vez pude ver que realmente a deixei preocupada.

— E você também não me deixou para trás nessa brincadeira, você veio para quinze minutos de onde eu te arremessei, na direção dos becos e não das casas.

— No palácio nós iremos discutir pessoalmente, não fique preocupado — assenti, sabendo que não seria mesmo uma discussão, tampouco uma outra conversa séria.

Ela deu uma pisada em falso, e sua mão escorregou diretamente para onde eu fui atingido e toda a dor que eu estava sentindo, deu simplesmente um salto mortal, e eu realmente pensei que fosse perder a consciência.

Não consegui nem chorar, apenas dei um gemido com muita dor, caindo dentro da van, paralisado, com meus olhos fechados. Mas pude escutar o berro de Katniss.

Senti algumas mãos me segurarem por lugares estratégicos para me suspender, e eu não escutei e nem senti mais nada.

*

— Peeta, Peeta — escutei, bem de longe. — Peeta, acorde — Delly.

— Hm? — murmurei, sentindo todo meu corpo pesado feito um elefante. algo gosmento e muito denso no meu abdômen.

— Precisa se esforçar para andar. O tiro que você levou foi em um lugar que dá para ver que não afetou nenhum órgão porém seu caso é bem grave. É bem possível que a bala esteja alojada em você ainda, Pepe.

Nao consegui assentir. Meu corpo dói demais. É algo que eu nunca poderia imaginar, de tanta dor que me proporciona. Eu mal consigo me mexer agora.

— Está me escutando? Se sim, pisca.

Mal abri meus olhos, porém fiz o que me pediu. A senti tremer.

— Vamos, apenas se mantenha acordado. Apenas se mantenha acordado.

Pisquei meus olhos outra vez, em concordância.

Senti Troy e Zac me suspender, pondo meu braços sobre os ombros deles, enquanto eu estava completamente alheio, mas me esforçava para não deixar que me carregassem totalmente, por mais que tenham preparamento físico para isto, e que possam me carregar.

Os passos eram bem apressados, e eu não vi muita coisa, apenas vultos, e Katniss chorando, eu acho, e Delly também, porém elas estavam bem na nossa frente, Stefan tinha ido em outra direção com os dois adolescentes.

— Deitem ele aqui — Ouvi a voz de Dells, e apenas senti meu corpo deitar em um lugar super macio e confortável, porém o ambiente estava tremendamente quente e sufocante. — Os guardas podem sair, isso daqui eu posso resolver com a Julia.

Pelo o que parece eu consegui dizer que o ambiente está quente e sufocante.

— Onde está o controle do ar condicionado do seu quarto, Sol? — Pude escutar Katniss perguntar. — Achei. Peeta, estou colocando o ar em 14°C, e estamos morrendo de frio, espero que isso resolva.

— Tanto faz — respondi, em um fio de voz. A luz está muito forte, e parece que tem alguém mexendo na minha barriga com os dentes e sem nenhuma anestesia. Comecei a chorar.

— Bem, Peeta, beba isso aqui — Julia, minha amiga e criada pediu, e parecia tremer de nervosismo. Afinal, teria que costurar uma pessoa, e não mais uma roupa.

Bebi o líquido de cheiro muito forte, eu nunca tinha tomado aquilo na minha vida, e nunca iria tomar, quase vomitei.

— Isso é cachaça?! — perguntei, exasperado.

— Não podemos chamar um médico, então vai o que tem para que você sinta menos dor, ou prefere que nós tiremos uma bala da sua barriga sem nenhuma anestesia? Isto irá apenas evitar que você sinta a gente remover com uma pinça o projétil.

Estremeci com a informação de Delly, que estava ao meu lado, em um banco, com uma pinça um pouco maior, já vi no hospital uma dessas, e Julia logo atrás dela, preparando para fechar a minha pele. Senti as mãos de Katniss em meu cabelo, constatando apenas nesse instante de que ela está do outro lado da cama, sentada, chorando, mas o mais contida possível.

— Ah, e tente não gritar. De preferência, morda o interior de sua boca, ninguém pode sequer desconfiar de que vocês estão aqui, principalmente porque é proibido pessoas como vocês virem até aqui — Delly avisou, com o cenho franzido em concentração. Não entendi tão bem o que ela queria com o não grite, até que eu senti uma dor pior do que a que senti até agora. É como se minha pele estivesse aberta, e milhares de pessoas tentassem, ao mesmo tempo, arrancar um pedaço de mim.

Katniss cobriu meus olhos com suas doces mãos, e eu depois preciso me lembrar de agradecê-la. Mordi o interior da minha bochecha tão forte e de uma só vez, que logo senti sangue. Meu Deus. Meu. Deus. É como se estivessem me virando do avesso, como se eu estivesse todo em carne viva, e lançassem álcool sobre minhas dores, meus pés tiraram uma parte do lençol que protegia a cama.

Não sei quanto tempo durou a “operação”, apenas sei que eu sentia que minha cabeça ia derreter as mãos de Katniss, de tão quente que estava, eu me sentia terrivelmente febril, e realmente eu pensei que ia morrer. Não gritei porque não tinha forças para isso, mas gemia de pura dor, mesmo depois de beber uns cinco copos de cachaça limpa.

A princesa também precisou cobrir minha boca, e eu podia sentir que ela queria tomar para si as minhas dores, e ao pensar que isso poderia estar acontecendo com ela, doeu mais ainda minha carne, e queimou minha alma com uma ferradura quentíssima. Eu desejei a morte. Eu pensei que fosse ver a morte.

Mas o que aconteceu foi que a Morte somente colocou na ponta da minha língua o que ela é, apenas soprou no meu rosto, tocou sorrateiramente minhas mãos, passou sua bochecha na minha, e se aninhou em meu colo, porém me abandonou, deixando apenas a dor excruciante. Eu queria gritar feito um cão, mas nem para isso eu tinha forças, e não era permitido.

— Ele perdeu muito sangue, e isso é preocupante, porque não temos como repor isto em uma transfusão. Ele precisa de muito repouso, e um soro, que você pode conseguir, Sorriso.

Agora, está tudo resolvido. Há uma bolsa de gelo sobre a área, e eu estou completamente fora de mim. Apenas agora a bebida resolveu anestesiar meu corpo e mente. Eu me sinto totalmente devagar.

— Tudo bem, eu consigo com Maggs. E a cicatriz vai ficar, mas não é muito grande, a bala não atravessou, não é? — Vi Dells assentir.

— Mas Vossa Alteza, essa quinta será o Dia do Perdão, como ele irá estar presente neste estado? Ainda tem aulas com a dama Effie, e no próximo sábado é Natal, terá a festa de véspera com vários convidados especiais na quarta, inclusive o encontro com os alemães. Esta semana é a semana mais tumultuada — Julia contou toda minha lista de afazeres, sem contar os jantares que o rei tem requerido nossa presença.

— Eu não poderia usar uma cadeira de rodas? — perguntei, bem baixo, por causa de tudo. Minha febre chegou a 43°C, então puseram uma toalha gelada em minha testa. — Acho que me ajudaria a cumprir todos esses compromissos.

— Não, porque assim nós teríamos que escrever uma receita e dizer que você se acidentou, mas onde? Desconfiam de tudo. Não podemos correr este risco.

— Então apenas o deixe de repouso absoluto até o primeiro compromisso sério. Repouso mais do que absoluto, completo. Levantar apenas para ir ao banheiro, banho de banheira, e tudo na cama — Delly aconselhou, bem severamente para mim.

— Isso é fácil — respondi, mas não é o que eu gostaria de dizer. Todas riram. Stefan e Finnick entraram no quarto que agora entendi ser o de Delly por não levantar qualquer suspeita.

— Troy e Zac já foram, Vossa Alteza — Stefan disse, em uma pequena reverência. — Ninguém nos viu entrar ou sair. E já desligaram as luzes, por causa do horário.

Ela assentiu.

— Obrigada, não teria sido possível sem vocês.

— Eu nem vi você hoje, Finnick — falei, para meu amigo, que estava com a barba bem feita, e o cabelo castanho escuro. Sei que tudo isso é por causa do disfarce. Quase que eu não o reconheço com toda essa bebida que me deram.

— Peeta, este é o Felipe — Katniss me disse, indicando meu amigo.

— Nao, eu sei que estou meio maluco por causa da febre e da bebida, mas estou bem certo que é o Finn. — Insisti. Aí eu entendi que Julia e Stefan estão aqui, e que pensam que Finnick está no Panamá com Annie. — Céus.

Foi tudo o que eu consegui dizer, completamente anestesiado.

— Acho que esse é mais um segredo que eu gostaria que vocês dois guardassem — Katniss pediu, em um tom de desculpas.

— Sim, Alteza — Os dois disseram juntos.

— Hm… — Ouvi Finnick murmurar, limpando a garganta, depois que um silêncio bem estranho se instalou no quarto. — Aqueles gêmeos que deixaram com Annie, o que eu deveria fazer com eles?

— Ah! O Gardner e a Jessie! Eu os encontrei, eles me ajudaram a me esconder, pois mais rebeldes que não são do Norte estavam me seguindo. Pode coloca-los como seus ajudantes, e moradia eu já vi com a Judith.

Acho que ele assentiu, e uma conversa ali entre todos eles se desenrolou, enquanto eu não conseguia me concentrar, e mantive minha atenção no quadro de fotos de Delly. Há uma com um pin de sorriso com Stefan, em um lugar que eu não conheço, porém não é totalmente desconhecido, acho que vi em algum filme. Eles parecem bem felizes juntos. Mas ignorei.

Há, surpreendentemente, uma foto minha ali. Uma foto minha, onde eu estou com ela e Amélia, quando nós ainda namorávamos, se a minha memória enevoada cheia de dor não me engana, estávamos em segredo comemorando nosso aniversário de três anos de namoro, eu me lembro plenamente, mesmo com tudo, deste dia.

Ela estava exuberante em um vestido longo, com manga até o pulso, por causa do inverno severo que é em Illinois, em todos os bairros, mesmo que haja algumas cidades que sejam mais frias por si só.

Amélia estava com uma jaqueta surrada, mas que a cai tão bem quanto os olhos cor de melado, assim como o cabelo que tem ondas feito as ondas das praias do filme, um castanho como a terra. Eu estava sendo bem, eu, sorrindo, feliz, mesmo que exausto de todo o trabalho braçal que eu tinha em Santa Cloud, com uma calça jeans nova, que minha mãe fez questão de comprar, já que eu tinha apenas duas, e uma blusa de manga curta, alaranjada, uma das minhas favoritas.

Céus, isso tem exatamente um ano. Hoje, dia 18, é o dia que eu estaria comemorando quatro anos de namoro com Delly. Meu Deus, eu me esqueci completamente.

E a minha vida de um ano atrás soa tão distante… é como um eco, umas lembranças enevoadas, das quais eu nunca imaginei que pudessem um dia serem apenas um esboço da vida da qual vivo hoje.

Não tinha parado para pensar no tanto que a minha vida mudou nos últimos meses, apenas aquele simples pensamento de nossa, é tão diferente da minha casa, mas agora percebo que o palácio se tornou minha casa, Katniss, eu a vejo como uma namorada, sinceramente, mesmo que seja uma palavra que eu não confesse, e nem ela e nem ninguém, porém é esta a nossa relação hoje, e meus melhores amigos são pessoas que eu jamais poderia imaginar que seriam os que eu tenho hoje.

Meu pai estava certo em dizer que eu tinha o direito de sonhar em algo muito mais do que uma vida em Santa Cloud. Mas acontece que eu nunca sonhei com isso, nunca imaginei essa vida, nunca imaginei que a futura rainha do segundo maior país do mundo hoje estaria fazendo carinho no meu cabelo, e eu de olhos fechados em seu colo, nunca imaginei que pudesse tomar um tiro por ajudar ela a fugir de rebeldes. Nunca em um milhão de anos eu poderia imaginar uma coisa dessas.

Nunca.

E aquela foto, não sou eu. É o antigo Peeta, o Peeta que não conseguia ver sua velhice ao lados dos filhos e netos, apenas trabalhando, com o mesmo círculo de pessoas, no mesmo trabalho pesado, vivendo até no máximo os 50 anos, e algo assim.

Não sei se alguém pode perceber uma mudança até que tenha mudado em si mesmo. Eu só tenho uma coisa igual ao Peeta daquela foto, além da aparência (agora com mais saúde e peso, é claro), é que continuo me arriscando com tudo o que tenho em nome do amor, seja por quem quer que seja.

—É fácil se manter forte com toda essa devoção —ouvi Katniss sussurrar, para Delly, depois que todos saíram do quarto.

—Ah —ouvi a loira (anteriormente morena, recentemente ruiva, como Katniss) suspirar. —Não sou mais a dona de toda essa devoção. Porém mantenho comigo esse bilhete. Dá força em dias dos quais eu penso em fazer alguma maluquice, e quando fico meio doida de achar que ninguém me ama, por causa da minha família que nem sente falta de mim. É aquela consolação, de que um dia alguém me amou e se dispôs a dar tudo de si por mim. Bem ou mal, é a força que tiramos para ir. Amor.

Sei que elas pensam que eu estou dormindo, porém eu estou entre cochilos e despertar que nem mesmo eu posso enumerar.

Espiei, apenas para ter certeza do que se tratava, e lá estava o bilhete que eu escrevi um ano atrás e a dei.

“Não sei se vou poder ver você essa semana, mas fica aqui o quanto eu amo você, e que eu me entristeço apenas por não poder dar a você tudo o que você merece, Dells. Amo muito você. Obrigado por dar muito mais esperança à minha vida. Não seria possível que eu sentisse um terço dessa felicidade sem que você estivesse comigo. Amo muito você. Amo muito você. Amo. Muito. Você. Feliz três anos, Amor.”

Não tinha uma assinatura, pois quando eu deixei isso, foi com um beijo roubado nos fundos de sua casa, e logo eu teria que voltar para ficar com meus irmãos porque meus pais iriam sair bem cedo para trabalhar e eu não podia sair de casa por causa do inverno extremamente rigoroso, e não ter roupas nem para ficar em casa, quem diria para sair na rua de madrugada, enquanto nevava como se fosse água caindo de uma cachoeira.

—E esse amor não é mais correspondido? —Katniss perguntou, sem maldade. Ela é tremendamente inocente. Meu amor por Delly é correspondido, sim, no entanto não mais da forma da  qual éramos amantes meses atrás. É tão estranho pensar que eu já fugi de casa pela madrugada apenas para beijá-la e estar em sua presença, parece que foi há um milhão de anos atrás, em uma outra vida, em uma outra geração.

—É sim, porém há amores que mudam. Hoje eu sei que ele me ama tanto quanto eu o amo, e sei que ele morreria por mim, assim como eu por ele, e até mataríamos um pelo outro, eu tenho essa certeza. Mas não é nessa conotação do bilhete que ele me deixou quando completamos três anos de namoro. Uma vez amor, amor para sempre, mas não necessariamente se enquadrando no mesmo tipo. Éramos amantes, nos amávamos como amantes, mas hoje nós nos amamos como grandes amigos, entende?

Pude sentir Katniss concordar. Voltei a passar mal. É tão desconfortável falar de algo que se refere a mim, e mais ainda ao que é relacionado à mim. Pude igualmente sentir Delly ficar da cor marsala ao ter que responder o comentário de Katniss, que então voltou a fazer carinho em meu cabelo.

Confuso, mas ao mesmo tempo certo de quem meu coração tem escolhido, devastado, inconsolado, e com muitas dores, de alguma forma eu adormeci completamente no quarto de Delly, no colo de Katniss, e mesmo tendo sido um dia bem estressante, eu ainda teria uma semana que prometia mais emoções. Senti um pouco de medo, mas suspirei profundamente, tocando, inconscientemente a mão de Delly, que apertou a minha, e me acomodei ainda melhor no colo de Katniss. Desejei que nós três ficássemos sempre com essa relação.

Mas como será que Katniss vai reagir no dia em que eu contar sobre o meu passado com Delly? Bem, não pensei. Apenas dormi.


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Notas finais do capítulo

GIF DE ICARLY PORQUE ELES SÃO MASTER TOPSTERS AMÉM E NICKELODEON DEVE VOLTAR COM ESSES EPISÓDIOS! E também porque eu não encontrei um outro que representasse uma cumplicidade entre duas mulheres/garotas e um cara, então foi esse, tinha um melhor, porém estava no computaador e agora eu estou no notebook, não deixei salvo aqui, mas quando possível eu mudo kkkkkkkkkkkk

Hm, bem, é isto, meus irmões! Espero que tenham gostado, e se preparem para momentos bem intensos nessa fic, que está em seus capítulos finais, porém não é o fim ainda.
Para o próximo, teremos o título Correndo para Perdoar, em homenagem à uma grande amiga, a Clara, que comemora as festa judaicas, e eu pensei em aproveitar o evento que acontece no livro, nesse mesmo contexto, e trazer um pouco do que deve estar no coração de um verdadeiro rei, compaixão e um coração aberto para perdoar e acolher seja lá quem seja. E também uma referência ao Hanukka, eu admiro demais essas festas, e a cultura judaica, mas serão apenas leves referências, pois não vai bater com o calendário da fic, mas estou dando o meu melhor para que fique tudo da forma mais explicada possível!
Bem, pessoal, no próximo eu vou ter uma noção mais real de quantos capítulos ainda restam para o final da fic, mas daqui eu acredito que, para antes dos bônus, uns quatro, contando com o próximo, ou cinco, mas isso pode aumentar ou até diminuir, vai depender muito de como as coisas vão ficar organizadas no próximo capítulo!
A música do próximo vai ser Runnin (lose it all), da Beyoncé com um camarada aí, é top, top, top.
E irmões, eu não vou especular uma data da qual eu vou poder vir, mas realmente vai ser logo, porque eu não vou me inscrever no FIES, então as datas de inscrição já foram, e eu consegui organizar meu quarto, que é uma sala, então eu não tenho muitas coisas para fazer agora, realmente, nada além de acompanhar nota de corte e ler a Bíblia, então está bem suave.
E gostaria de dizer que o próximo capítulo vai estar bem... o Peeta sendo quem ele nasceu para ser. Cara, ah, cara! *rindo alto, bem animada* CARA EU TO MALUCA PARA ESCREVER LOGO E POSTAR! ENTÃO VOCÊS PODEM IR ESPERANDO UMA ATUALIZAÇÃO!
Mas a alegria não vai durar por muito tempo.
Então, tópicos que seguirão o próximo capítulo:
— Adaptação;
— Alemães;
— Cato, melhor pessoa;
— Como um rei;
— Suite da princesa;
— Como casados;
— Volta inesperada para casa.
O próximo capítulo vai ser bem intenso, mas o final pode deixar bem... deprimente.
GIFS DO PRÓXIMO CAPÍTULO: https://data.whicdn.com/images/116205544/original.gif
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O PRóximo capítulo está https://blog.influx.com.br/hs-fs/hubfs/apagar_o_fogo_-_dest.gif?t=1517835916382&width=428&name=apagar_o_fogo_-_dest.gif PEGANDO FOGOOOOOOOOOOOOOOOO (e não espere por outras coisas, é fogo no sentido quase literal, é bem intenso, é apenas a isto que estou me referindo, não criem expectativas kkkkkkkkkkkkkkkk sério, não criem)

Mas dados os spoilers, acho que vocês podem ter uma noção do que está para acontecer! Eu nesse momento >>>> https://media.giphy.com/media/8sMoghXwfWHcc/giphy.gif

Mas o final do capítulo está >>>>> https://media.tumblr.com/tumblr_mcvdauJOfH1rv1ehv.gif

E é isto, irmões!!!!! https://media.tumblr.com/tumblr_m8iq46kAlE1rpzp1t.gif

Forte abraço, fé no Pai, que o inimigo e a nota de corte cai, ALELOOOOOOOOEEEEEAAAAAAASSSSSSSSSS!!!!!!!! http://lh6.ggpht.com/-X5NgOg3czBo/UIoOYzvPCuI/AAAAAAAABoY/8_A1bz40zX4/s500/d10.gif

*ANIMADA, mas então lembro da minha nota horrível e que eu to tentando entrar para Direito na PUC e UVA*
Vida que segue, irmões, seguimos apenas o culto (mas para os seculares, seguindo o baile), e eu estou muito animada, principalmente porque estou planejando postar uma fic nova, e assim, estou escrevendo uma outra, espero conseguir organizar tudo e postar antes do meu aniversário em Março!
Estou respondendo todos os comentários, e pessoal, muito obrigada pelos comentários lindos! Eu AMOOOOO cada um deles, e estou me esfoçando ao máximo para responder tudo! Beijooooossss! Até o próximo! A Paz do Senhor! ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

OBS GIF DO CAPÍTULO: https://agenciaepicos.files.wordpress.com/2016/06/carly.gif?w=1000