A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 28
Batida oscilante do meu coração | A Elite (Bônus)


Notas iniciais do capítulo

SABEM QUE HISTORIA COMPLETOU UM ANO HOJE?! ISSO AI MESMO! A SELECAO DA HERDEIRA, SEUS LINDOS! ♥ ♥ ♥ *um monte balões voando e eu rindo feliz demais* Pessoal, demorei um pouco para vir, mas foi porque eu queria postar certinho, no dia que a fic completasse um ano, e aqui estou eu! ♥ Peço desculpas por não ter avisado no capítulo anterior, sinceramente, é que eu só me dei conta de que estaria completando um ano há pouco mais de duas semanas, e esse capítulo está pronto desde que cheguei no Brasil mês passado. Só que foi melhor para poder dar mais detalhes e cuidar mais da escrita, já que os bônus não são betados.
Mas bem, vamos deixar de mimimi, e vamos lá! Espero muito que gostem, e dedico em especial este capítulo a Luana Lasmar, que recomendou a fic, e me deixou SUPER ULTRA MEGA POWR FELIZ ♥ acompanhada de todos os comentários dos dois capítulos anterios, que me ajudam ainda mais a escrever e trazer o meu melhor pra vocês! ♥ Muito obrigada por esse ano incrível! Muito obrigada mesmo!



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 Eu sou uma princesa esculpida do mármore

Mais suave que uma tempestade

E as cicatrizes que marcam meu corpo

São prateadas e douradas

 

Meu sangue é uma enchente

De rubis, e pedras preciosas

Elas mantém minhas veias quentes

O fogo achou um lar em mim

Eu atravesso a cidade

Sou silenciosa como um fogo

 

E meu colar é uma corda

Eu o amarro e desamarro

 

E as pessoas falam comigo

Mas nada nunca atinge o meu lar

As pessoas falam comigo

E todas as vozes são queimadas

 

Eu já estou farta disso

Esse é o início de como tudo acaba

Eles costumavam gritar meu nome

Agora eles o sussurram

Estou acelerando, e essa é a

Batida oscilante vermelha, laranja e amarela

Que acende o meu coração

— Yellow Flicker Beat, Lorde

Meus passos fazem som ecoar no corredor de piso de madeira perfeitamente polida, meu reflexo está nas paredes, que são de espelho. A expressão séria não sai do meu rosto, e nem os meus braços se descruzam na frente do meu corpo, enquanto seis guardas me escoltaram até a cela.

— Me deixem sozinha — ordenei, em um tom severo e seco, que em um piscar de olhos foi ouvido e logo meu pedido havia sido realizado.

Deixei que fechassem a porta automática atrás de mim, então, lá estava em no "calabouço" do palácio. As paredes sujas, pouca luz, paredes grossas e hostis separando cada prisioneiro do outro.

Ouvi algumas vozes, outros gemidos. Esse é o lugar que todo morador de Panem não gostaria de parar. É onde os detentos esperam pelo julgamento, sem depender do crime. Todos que cometem algum crime, param aqui.

— Princesa! Princesa! — Ouvi alguém chamar, mas continuei de cabeça erguida, sem olhar para o lado, séria demais para poder dar atenção a quem precisa. Meus passos continuaram ecoando, até parar na última cela, com as grades um pouco manchadas pela ferrugem.

— Annie — chamei, com a voz severa, olhando para a ruiva com o olhar perdido, a pele branca suja com poeira, os cabelos embolados, e uma das asas de suas fantasias, destruídas. Ela estava com o vestido manchado com algo preto, talvez tinta, e marcas de mão no rosto e no braço. Não foi Finnick que fez isso, o que me deixou mais furiosa.

— Veio lançar mais pedras além da sua mãe? — perguntou, virando seu rosto para mim, fazendo-me ver o quanto chorou e ainda chorava, pela intensidade de seus olhos verdes perfeitos, mas estava abraçada ao seu corpo.

— Sabe que eu nunca deixaria que te trouxessem pra cá — falei, segurando-me para não gritar. É tanta coisa acontecendo comigo, que é sacanagem passar por isso também. — Annie!

Gritei, apertando meus dedos em minhas mãos, furiosa. Ela revirou os olhos! Abusada!

— Como você acha que pode usar todo esse deboche?! Eu deixei você e Finnick ficarem juntos! E você ainda faz isso?! Justo no dia que todo o País parou para olhar para a gente!

Abri a porta da sua cela, pois tinha a chave, e bati a porta, fazendo-a estremecer.

— Você sabe as consequências que esse inferno vai te trazer? — perguntei, agachando-me, com as mãos juntas, e os cotovelos apoiados nas minhas coxas. — Annie, eles vão mandar você e o Finnick para o Sul de Panem, sem lhes dar um centavo, e a minha mãe está feito um corvo em cima de mim. Eu sou quase um cadáver agora. Quase mesmo.

Minha voz era séria, baixa, e cortante. Machucava a mim, machucava a ela. Não há nada o que se fazer. Minha bochecha já carrega um hematoma roxo que a minha mãe me deu de presente de noivado que ela ainda não sabe.

— Nós não estávamos fazendo nada demais — Annie disse, começando a soluçar, mais uma vez, com certeza. — Me perdoa, por favor, Katniss. Eu estou com tanto, tanto medo!

Pediu, entre lágrimas e gemidos, escondendo seu rosto tão bonito, mas que agora está com poeira e um pouco arroxeado em algumas regiões, entre as mãos. Duas lágrimas pesadas escorreram pelos meus olhos, com todo o significado possível do mundo.

— Eu quem peço desculpas por não ter te ouvido — sussurrei, desmanchando-me, puxando minha amiga para um abraço. Independentemente da situação, um amigo sempre será um amigo.

Descobri sobre ela e Finnick pelo próprio Finnick, depois que nos beijávamos, ele sempre pareceu muito distante, o que sempre me chamou atenção. Então, um dia que ela sabia que eu ia estar bem e tranquila, os dois estavam no meu quarto, me esperando, um pouco nervosos por precisarem me contar aquilo.

Não fiquei magoada, não fiquei triste, só fiquei surpresa por eles terem conseguido esconder tão bem, mas eu soube que nenhum estava mentindo desde quando ela viu a foto dele, alguma coisa começou.

Há um mês que eles me contaram sobre, e pediram imediatamente para que Finnick saísse, mesmo que sem nenhum dinheiro a mais recebido do palácio, porque, afinal, ele é um Quatro, tinha um bom emprego, e seus pais também não o demitiram, por ser um excelente funcionário, e também, depois da Seleção, qualquer um o ofereceria um emprego. Não viveriam mal, muito pelo contrário, viveriam muito bem, sem contar que Annie continuaria como minha criada. Parece crueldade, então, eu tê-lo mantido, até mesmo o deixado para a Elite, mas foi porquê minha mãe não deixou. E nem meu pai.

Não disse a verdade, sobre o casal, pois sei que seria muito pior se fosse contado para todo mundo, porém, Finnick não saiu porque é o favorito do povo, e isso estava aquietando muitas coisas nos Distritos, assim como Peeta acalma todos os Distritos mais baixos.

Não marquei nenhum encontro com Finnick depois que descobri, na verdade, o liberei durante esse período para que pudessem se encontrar, mas tudo na maior cautela possível, até que pudessem ser livres para deixarem todos saberem de seu amor um pelo outro.

Só que, hoje pela madrugada, minha mãe me acordou aos berros, jogando duas fotos em cima de mim, quase esfregando na minha cara a foto de Annie e Finnick se beijando no corredor, então entrando em uma sala escondida no andar dos quartos. Ambos riam, como se não fosse ter quaisquer consequências.

Mas houve.

E uma das piores possíveis.

Condenados por traição à família Real, com pena de morte, porém eu consegui mudar. Mas não é para grandes coisas.

— Você sabe como ele está? — perguntou, tentando parar de chorar, mas só tentando. — Ele está bem, não está?

Seu amor por Finnick estava tão estampado, que eu senti inveja. Pois ele está do outro lado da sala, em outra fileira das celas, e ouvi dizer que ele chama por ela frequentemente.

— Não sei, mas está lutando para você — garanti, tirando alguns fios de seu rosto, sujando minhas mãos, mas não me importei, assim como também não me importei com meus joelhos estarem sujos, já que uso uma calça branca. Se você não suja sua roupa dessa forma por alguém, nunca saberá o que é ficar limpo de verdade.

— Katniss, por favor... o que vai acontecer? — perguntou, soluçando bem alto, quando a abracei mais forte, com meu rosto na curva de seu pescoço.

Shhhhh... — pedi, a um palmo de chorar. — Vocês não vão morrer.

Sussurrei, fazendo carinho em suas costas.

— Eu mudei a punição. Não permitiria nunca que vocês morressem. Merecem viver esse amor — completei, aos pedaços. — 10 vezes, em quatro horas, praça pública. Não sei o que farão exatamente, mas vai ser algo assim. Me perdoe, não consegui proteger vocês disso.

E eu quem comecei a chorar alto, desabando também, sentando-me no chão da cela, sobre meus pés.

— Annie, por favor, me perdoe, eu imploro seu perdão.

Supliquei, olhando-a nos olhos, chorando. Eu poderia ter deixado ele ir, poderia ter deixado ela e Finn viverem suas vidas, mas não. Permiti que chegasse a esse ponto.

— Katniss — passou as mãos por seus olhos verdes intensos. — Pelo amor de Deus. Você é a minha amiga, e eu sei que você fez o seu melhor. Você deu o seu melhor, não deu?

Neguei, chorando mais ainda, até um pouco sem fôlego.

— Eu não deixei ele partir, não deixei vocês livres. Isso foi tão, tão errado! — Cobri meu rosto com as mãos. — Me desculpe, Annie. E foi a minha mãe quem escolheu as punições. Isso me deixa ainda mais mal.

Ela me abraçou, dessa vez, me deixando surpresa.

— Não peça perdão, não peça desculpas, tão pouco para mim e Finnick — disse. — E nem para ninguém se a sua intenção foi sincera, Kat. Não peça perdão por essas coisas, está tudo absolutamente bem quanto a isso, e você ainda teve misericórdia das nossas vidas. Não sabe o quão feliz eu estou sobre isso, não sabe.

Olhei em seus olhos, sentindo a culpa me esmagar no chão.

— A gente vai ficar junto depois disso? — perguntou, baixo. Assenti, infeliz. Sabia que seria uma coisa muito difícil para eles, digo, viverem. Serão rebaixados a Oito. — E você? Você vai ficar bem?

Olhei bem no fundo de seus olhos verdes, como a campina, como um jardim, e quase pude vê-la livre depois da humilhação pública ao lado de Finnick em qualquer canto de Panem. Eu não podia sequer ir até a estufa sem avisar. Não, eu não ficaria bem, mas me sentiria muito melhor se ela me prometesse uma coisa.

— Annie, preciso que me prometa uma coisa, com toda a sua alma, com todo o seu coração — pedi, segurando em suas mãos tão delicadas e incríveis para fazer os melhores vestidos, nos mais ricos detalhes. Eu sentiria falta da minha amiga.

— Qualquer coisa — respondeu, um pouco cambaleante, no sentido de tudo. Eu não peço pedidos, tão pouco promessas.

— Me prometa que você vai cuidar de você e Finnick, e aproveitar todos os dias desse amor. Não importa o que aconteça, não se abandonem. Nunca. Por favor, Annie, me prometa isso.

Pedi, quase em um sussurro.

— Eu preciso que me diga isso, eu preciso que me prometa isso — quase supliquei. — Independente do que aconteça, lute por esse amor. Sempre.

Minha vida não se dava luxo de amores como o dela, e eu tampouco sabia se conseguiria me casar por amor, mas a gente tenta. Tenta muito.

— Seu pedido é uma ordem — respondeu, assentindo. A abracei mais uma vez, bem apertado.

— Não posso prometer nada hoje, porque minha mãe está furiosa comigo, mas ainda essa semana, Annie, tudo o que eu puder fazer para manter vocês bem, saiba que eu vou fazer — sussurrei, convicta. Ainda não tive a oportunidade de conversar com meu pai, mas eu o farei o quanto antes.

— Obrigada — sussurrou de volta, e deixou o corpo um pouco mais leve, para que eu pudesse aninha-la um pouco, e foi o que eu fiz, sem conseguir conter algumas lágrimas silenciosas caírem livremente pelo meu rosto.

*

— Finnick — chamei, baixo, abaixando-me, para poder tocá-lo. Ele estava ao lado das grades da cela, sentado, abraçado às suas pernas, dormindo. Ele é simplesmente, de longe, um dos Selecionados mais bonitos, e dormindo, consegue ser tanto quanto. É impressionante. — Hey, Finn, acorda.

O balancei um pouco, depois de ficar ao lado de Annie por quase uma hora, vim para o lado de Finnick, conversar com ele.

— Hm....? — balbuciou, claramente com sono, cansado. Estava com uma aparência muito melhor do que a de Annie, por ser de fora, mas ainda sim, estava claro que havia sido lançado aqui, junto com alguns chutes e socos. Sua fantasia já não era mais a mesma, praticamente. A caveira mexicana que era desenhada em parte de seu rosto, foi lavada por completo, e o rosto dele estava um pouco avermelhado. Talvez por terem usado água quente ou muito fria. Suas roupas clássicas estão sujas, desfeitas, mas ainda sim, bonito, vestido e atraente.

— Nem com sono você é menos bonito, rapaz? — brinquei, pois sabia que as coisas não seriam nem um pouco agradáveis depois que saírem daqui. Ele abriu os olhos verdes claros, esfregando-os um pouco.

— Oi, queridinha — disse, abrindo um pequeno sorriso, rouco. — Veio me ver?

— Claro que sim, não poderia te deixar — riu, assentindo. As lágrimas surgiram em seus olhos, então toquei seu ombro, pois era a única parte de seu corpo que eu conseguia tocar com propriedade, já que não era permitido abrir a cela dele. — Ela está bem, e vocês vão ficar juntos.

Falei, sem medo, sem receio, olhando diretamente em seus olhos.

— E como ela está agora? — perguntou, aproximando-se um pouco mais. Parecia uma criança assustada, perguntando sobre sua mãe. — Ela está bem? Machucaram muito ela? Eu ouvi que ela gritou muito de dor à noite, mas eu não pude fazer nada.

Seus olhos estavam transbordando de água, e algumas lágrimas escorreram dolorosamente sobre suas bochechas.

— Finn, ela está machucada sim — não menti, decepcionada. — Mas não que você precise chorar. Pelo menos, não agora. Você precisa descansar um pouco, assim como ela.

Afaguei seus cabelos loiros escuros, mesmo que tivesse que me sentar no chão com a calça branca, o trouxe para perto, o mais perto possível.

Expliquei o que eu expliquei para Annie, sobre o que aconteceria com eles, e que eu infelizmente não sabia exatamente como seria a punição, mas seria algo pesado, porém, não levaria para a morte. Normalmente, ele chorou também, com medo, e pediu para que eu ao menos tentasse proteger Annie, que ele poderia sofrer pelos dois, e mais uma vez, me arrancaram lágrimas absolutamente sinceras dos meus olhos. Casais como eles, com esse amor latente nos olhos, não mereciam passar por isso. Não mesmo.

— Vou deixar vocês juntos, aconteça o que acontecer, eu dou minha palavra, de amiga, de irmã, se filha, e principalmente de Princesa. Vocês ficarão juntos, isso está 100% certo. E eu irei fazer o máximo do máximo para que vocês também tenham tudo o que precisarem, embora não prometa fartura, o essencial vocês vão ter, tudo bem?

Sussurrei, olhando em seus olhos. Ele assentiu, mas ainda com os olhos marejados.

— Fiquem vivos — pedi, fazendo carinho em suas mãos, tentando passar algum suporte. Nesse período todo, desde o início da Seleção, Finnick e eu nos tratamos como grandes amigos, quase irmãos, então, quando ele me contou com Annie que se amavam, e tudo mais, eu soube que eu tinha ganho, definitivamente, um irmão de consideração. O número de seu celular é o primeiro na minha lista de mensagens, às vezes falamos coisas absurdamente bestas, mas só para rir e passar o tempo. E se eu poderia tentar, ao menos, fazer alguma coisa para ele e Annie, eu o faria. Correndo o risco até mesmo de ser assassinada pela minha mãe? Com certeza. Porque é isso que amigos devem fazer, e o que eles faziam, não era errado.

Errado é o sistema que não deixa as pessoas livres.

— A senhorita precisa ir. E não é adequado que fique tão próxima de um prisioneiro, ainda mais acusado de traição.

Finnick e eu estávamos com as testas juntas, mesmo que com a grade, e eu orava internamente, com meus olhos fechados, para que, independentemente do que fosse acontecer, eles tenham forças, e nunca se esqueçam do que os levaram até ali: o amor. É o lugar que ninguém quer estar,  mas eles haviam se arriscado suficientemente o bastante por uma vida para viver esse amor, e eu queria que eles vivessem cada segundo a mais disso, juntos, de mãos dadas.

Olhei para o guarda, bem séria, inclinando minha cabeça para ele.

— Perdão, mas em que momento eu pedi a sua opinião sobre o que é ou não adequado? — Ele ficou em silêncio, cerrando os pulsos. — Avise que eu já vou.

E saiu, depois de uma reverência.

— Infelizmente preciso ir, mas saiba que eu estou aqui com vocês — eu disse, ajeitando seus fios mais uma vez, vendo-o dar um sorriso torto e triste, com as marcas das lágrimas em seu rosto formoso. — Fica com Deus.

Beijei sua testa, fechando meus olhos nesse instante pequeno, mas foi absolutamente com meu coração.

— Peeta com certeza esqueceria quem quer que fosse e se casaria com você se te assistisse agora — disse, sorrindo. Revirei os olhos, mas com um sorriso, sentindo meu coração perder o ritmo em absoluto só em ouvir o nome dele.

— Ah, eu sei. Vocês sabem como eu sou, o que penso, mas é muito mais fácil acreditar me vendo — assentiu, como se fosse óbvio. — Você é ridículo. Você e Annie são loucos.

Riu, fazendo carinho na minha mão também.

— Você e ele passariam pela mesma situação, não negue. E ele mesmo admitiu para mim estar apaixonado por você. Não negue que está louquinha por ele e seus olhos azuis, amiga. Já falei: aproveita. Pega o cara e não solte mais!

Ri, jogando a cabeça pro lado.

— Eu o pedi em casamento noite passada — contei, sorrindo, mordendo o lábio inferior. — Você é o primeiro a saber.

— E o quê que ele disse?! — perguntou, boquiaberto, realmente aparentando interesse, coisa que eu sabia que ele tinha.

— Hm... Sim? — O sorriso que apareceu em seu rosto foi mágico. Não parecia que sua vida mudaria publicamente dentro de poucas horas. Parecia que tomávamos refrigerante sentados em espreguiçadeiras de cara pro Sol. Desde o começo, Finnick esteve entre eu e Peeta, e depois que conversou comigo sobre Annie, minha relação com Peeta aumentou ainda mais, já que ele é o nosso grande amigo em comum.

— Eu necessito estar nesse casamento do ano — disse, animado. — Espero que você me convide.

— Você é parte da festa, Finn — falei, sorrindo. — E com certeza terá um lugar especial. Ao lado de Annie.

Seus olhos brilharam um pouco, com a suave luz do Sol, que despertava preguiçosamente no horizonte.

— Preciso ir, mas os verei o mais breve possível. Fiquem atentos, talvez eu não possa falar com vocês pessoalmente, mas sempre deixarei algo, e vão saber que fui eu — beijei sua bochecha, em um carinho final.

Levantei-me, e quando estava quase saindo, ouvi sua voz.

— Vida longa à Princesa! — Brincou, e eu me virei, sorrindo, mas vi aquela sinceridade rara, verdadeira. — Obrigado, Katniss. Muito obrigado.

Mexeu os lábios, em agradecimento, emocionado, pondo-se se joelhos, segurando as grades para me ver melhor. Isso é um amigo.

Apenas sorri torto, acenando. Senhor Deus, por favor, me permita que eu o veja bem de novo, assim como Annie.

^*^

— Katniss, vem aqui — Minha mãe ordenou, mandando todo mundo sair da sala de preparação antes de irmos para o estádio, onde acontecia pequenas apresentações públicas, mas era um dos mais conhecidos.

Fingi que não a escutei, olhando a minha própria imagem no espelho grande, e continuei passando blush, bem levemente, para disfarçar algumas marcas que ela mesma deixou hoje pela madrugada.

Em um desviar de olhos para a paleta, meu olhar estava novamente no chão e a minha bochecha queimava.

— A rainha da França me disse que a Clove e a Glimmer sabem do que aconteceu aqui em Panem, e você age como se não tivesse acontecendo nada?! — gritou, me empurrando, e eu apenas comecei a chorar. Vendo que ela tinha pego uma escova de cabelo com cerdas grossas e ameaçou me bater com aquilo.

— Eu não tive culpa, mãe, eu não tive! — falei, vendo ela cade vez mais perto.

— Não teve?! Como se ela era a sua criada?! Ele era para estar sempre com você, sua louca!

Acertou meu braço com a escova, com toda a força que tinha. A situação é cômica para algumas pessoas, mas para mim é puramente um pesadelo. Pesadelo. Ela é o meu maior pesadelo.

— Eles se amam, deixa eles, mãe, por favor — pedi, soluçando, quando ela me bateu contra o espelho, que se quebrou nas minhas costas, eu estava em desespero, senti alguns cacos na minha pele, e agora, não conseguia me levantar, ela me derrubou. Ela me derrubou, e agora está gritando, jogando um monte de coisas no chão, depois de ter trancado a porta.

Eu odeio ela. Odeio.

— Você é uma idiota! Você não vai nunca ser uma boa rainha, nunca! Porque você é doente! Amor?! Deixar duas pessoas saírem livres depois de traírem o país e até mesmo você em nome do amor?! — gritou, abaixando-se, perto de mim. Minhas costas queimavam como o inferno, eu sentia sangue manchar o carpete, não conseguia me mexer. Doía, queimava, formigava.

Com toda minha fraqueza, eu apenas conseguia chorar, tentando me proteger, protegendo meu rosto dos tapas que ela tentava me acertar.

—Você não entende que eles são meus amigos?

Perguntei, sabendo que ela sabia a resposta, em meio as salgadas lágrimas, desesperada para sair logo dali. O relógio apontava que falta uma hora para nós nos apresentarmos para darem início a tudo. Mas eu não consigo reagir.

Me deixa em paz — pedi, chorando, sem nem aguentar mais me defender. Ela parou de me bater.

— A culpa é sua — disse, segurando meu queixo com força, forçando-me a encará-la. — Prim não conseguiu levantar hoje, você sabia? Ela teve um outro ataque epilético, por sua causa. Por sua causa!

Os olhos dela eram como duas bolas de gelo quentes, fervorosas, que estavam bem próximas ao meu rosto, e suas unhas afundavam no meu antebraço. Pergunto-me se ela sabe o quanto suas falas me machucam muito mais do que essas atitudes, muito mais do que todas essas surras.

E machucava ainda mais quando ela falava sobre Prim. Prim... não se sabe mais o que tem acontecido. Ela tem tido a saúde cada dia mais frágil, e eu nem posso mais vê-la. Minha mãe também me proibiu disso, o que é de longe o ato mais doloroso que ela já cometeu para mim, inde só posso ver a minha própria irmã se eu estiver com o meu pai ou ela.

— Só me deixa em paz, mãe — eu pedi, soluçando de tanto chorar. — Por favor. Eu entendi que a culpa é minha, eu sei, eu sei...! A culpa é toda minha mesmo, eu sei disso, você me lembra todos os dias disso!

A cada palavra que eu dizia, ela intensificava seu aperto, até que puxou meu ombro, forçando meu corpo a sentar, puxando meus cabelos, e eu gritei de dor, querendo devolver tudo o que me fazia, eu queria, eu sentia que era o certo, mas eu não conseguia. Eu nunca consegui. O ódio queima no meu coração, mas a minha cabeça sabe que ela é ainda minha... Minha mãe.

— E por qual razão eu faria isso?! — gritou, furiosa, ficando vermelha. — Eu tento fazer você crescer, ser mais responsável! E descobri de guardas que ficam na porta do seu quarto que você sabia deles! Sua vagabunda!

Outro tapa. Fechei meus olhos, mordendo meus lábios, sentindo dor, muita dor. Ela não consegue enxergar que eu entendo o que ela diz? Que eu não sei que deveria ter deixado-os soltos para se amarem? Mas eu não podia, por causa dela.

Tudo dói tanto... tanto...

Katniss! Katniss! — A voz de Madge chamou, batendo incessante na porta. — Katniss! O rei deseja falar com você! É urgente! Abre essa porta, Katniss! Katniss!

— Em casa a gente conversa — completou a Rainha, com fúria, em um tom baixo. — E lá, eu quero ver quem vai interromper.

Com a cara limpa, saiu do quarto, socando, quase, a porta do camarim. Não vi quando Madge entro, junto com Delly e Johanna. Caí novamente, sem ar, a visão ficando escura. Desgraçada. Por que ela não me mata logo, nunca entendo, nunca entendi a razão de poupar, supostamente, a minha vida. Ela sente prazer em me ver mal.

— Eu vou ter um apagão, inferno, eu vou ter um apagão — não sei se elas conseguiram escutar, pela movimentação que ficou o ambiente, não faço ideia, apenas de Delly me pondo sentada na cadeira, depois que me pegou no colo, dizendo algo sobre eu ter emagrecido muito em duas semanas, mas não que eu me importasse.

Olhei para elas, tentando respirar, tentando enxergar em cores, pois algo estava seriamente errado comigo, e eu só conseguia ver tudo em preto e branco, com alguns rabiscos. Inferno.

Vomitei tudo o que eu tinha no estômago na lixeira que tinha sobre a bancada, tendo vertigens, não consegui falar. Só sei que enquanto me empurrava na direção do espelho, puxou fora o meu roupão, e eu fiquei apenas com um short curto e sutiã, por isso os cortes nas costas, os cacos na minha pele, por isso o frio congelante do ar condicionado.

— Ai meu Deus — Madge murmurou, com os olhos cheios de lágrimas, se não estou vendo bem. — Katniss, você pode reagir a tudo isso, sabia?

Ela se agachou na minha frente, cobrindo minhas mãos com as suas, com a ponta dos dedos um pouco calejadas por causa do trabalho, mas ainda sim, me passava um carinho que eu sou totalmente carente.

— Suas costas estão todas cortadas — Delly disse, enquanto Johanna, com sua barriga dilatada pelos seus seis meses de gravidez, fazia massagem em meus ombros, inclinando-me para frente, para que a loira fizesse melhor o trabalho de tirar os cacos das minhas costas. — Você não pode sair assim. Precisa colocar gelo aqui, e repouso por uns dois dias!

— Você não pode continuar aceitando tudo isso — Johanna falou, deixando a minha cabeça repousar na sua barriga, mesmo que grande, eu me sentia acolhida por seus braços finos e com cheiro de baunilha. Fechei meus olhos, chorando baixinho.

— Seu pai tinha que saber de tudo! Tudo! E eu quero ver quem ela ia acabar com! Ia voltar a ser uma Cinco, se não mais baixo! O seu pai ama você! — Madge exclamou.

— Ela é a minha mãe — sussurrei, pela primeira vez em vinte minutos, assim que Delly terminou de dar pontos em alguns lugares que os cortes foram um pouco mais fundos, pondo bandeid em tudo, com todo o cuidado do mundo.

— Isso não significa absolutamente nada, Katniss — Johanna disse, o que era difícil de acontecer. Ela geralmente não fala depois que eu lembro que sou parte de uma família. — Completamente nada. Mãe é aquela que te considera filha, que ama, cuida, protege, e filho é aquele que reconhece quem são os seus pais. Ela não é a sua mãe.

Suspirei, sentindo-me derrotada. Sucesso no futuro reinado, um fracasso na família. Sinto-me o Rei Davi em diversos momentos da minha vida, mas ainda não me casei para saber se vai ser igual a vida dele.

— Quero morrer, quero dormir e nunca mais acordar — confessei, fungando, parando de chorar, soltando as mãos de Madge, me afastando dos cuidados de Delly e Johanna, levantando-me, indo até o cabideiro, pegando uma roupa preta, que cobrisse meus braços e costas, já que meu pescoço seria coberto por um cachecol. Hoje é um dia frio em Angeles.

— Você precisa parar um pouco, sumir para algum lugar longe dessas coisas, Katniss, só você e mais alguém — Delly sugeriu, com uma preocupação extra nos olhos, pois sabia que eu já havia tentado suicídio uma vez. Uma vez para ela, pois pelo o que sei, já tentei mais de trinta vezes, desistindo no final de todas elas. A maioria foram na banheira, por afogamento, outra com choque, muitas com remédios, outras com cortes... Até fui na torre de observação do palácio duas vezes, sentando-me bem na beira, inclinando cada vez mais o corpo, orando para um vento mais forte para os mais de trezentos metros de altura me destruírem antes que eu pudesse sentir o asfalto.

A pior parte é que eu nunca senti culpa depois, só depois... que eu conheci Peeta.

É ridículo pensar assim, afinal, é tão idiota, tão estúpido, mas é porque ele me incentiva a continuar em frente. Peeta me traz de volta todos os sonhos que eu tenho para um futuro melhor para mim. Sabia que não importava as vezes que eu ficasse louca, ele me traria de volta para a realidade da melhor forma possível: me dando amor.

Calcei a sapatilha baixa, com acabamento de algodão, e senti como se estivesse pisando na grama, o que foi excelente, pois minhas costas queimam, mas ainda sim, coloquei uma jaqueta social por cima, quando meu pai socou a porta.

— Katniss! Abre isso agora! — Ordenou, e eu senti minhas pernas bambearem. Oh, Deus, por favor...

— Johanna, pode abrir para mim, por favor? — pedi, em uma voz baixa, porque eu não conseguia falar mais alto. A morena assentiu, indo em passos apressados até a porta, destrancando, e meu pai entrou feito um furacão.

— O que aconteceu aqui, Katniss?! — perguntou, exasperado, olhando tudo a mesma zona que minha mãe deixou. Engoli em seco, trocando um olhar nervoso com as garotas, que estavam tão tensas como eu.

— Eu tive o princípio de um apagão, papà — menti, mas um pouco falando a verdade. — Me desculpa.

Abaixei a cabeça, esperando que ele simplesmente saia, e me deixe em paz também. Não quero conversar, eu quero dormir, enrolada no meu cobertor, com cheiro de bebê, com alguns doces, e depois Peeta aparecendo, estragando tudo, me abraçando, a gente rindo, então dormindo abraçados, como se não houvesse problemas no mundo.

— Ai meu Deus... – ouvi ele dizer, então, senti seus braços ao meu redor, como se pudesse me proteger de tudo. Talvez protegesse, mesmo que por alguns segundos.

— Snow, você precisa trocar essa blusa ainda — Minha mãe disse, da porta, fazendo com que eu me arrepiasse por completo, suspirando, abraçando meu pai. Não queria sair dali, não queria me mexer. Não queria.

— Posso fazer isso daqui a pouco, Clara — respondeu, e não sei o que fez, mas ouvi o suspiro de frustrada que ela fez. — Você está melhor agora? Quer ir mesmo? Acho melhor você ficar e descansar um pouco. Sei que não vai ser nada bom para você.

— Eu preciso estar lá para a Annie e o Finnick, pai — falei, suspirando, nos afastando, e ele se sentou ao meu lado, enquanto minhas amigas arrumavam o quarto, como se não ouvissem nenhuma palavra que dizíamos. — Eles estavam comigo em outros momentos, e eu sei que se fosse eu e mais uma pessoa, estariam lá por mim.

Olhei nos olhos cinzas azulados do meu pai. Ele é o meu pai. E eu sou sua filha. Posso ver em seus olhos, no fundo deles, toda a sinceridade do mundo.

— Sim, querida, eu sei, e também sei que você faria a mesma loucura por um certo alguém loiro de olhos azuis que vai estar na primeira fila.

Não consegui segurar um sorriso, sentindo minhas bochechas pegarem fogo com a clara referência à Peeta. Peeta. Como ele vai reagir a tudo isso? É sempre tão difícil ter um momento em que ele se abre sobre sua vida, chegamos tão longe noite passada, com o pedido de casamento, o beijo que me arrancou a direção por instantes, e eu... Eu pude sentir, mesmo com toda a minha ignorância sobre essas coisas que éramos um só, compartilhando os mesmos sentimentos.

Em um fechar de olhos por dois segundos, podia ver seu sorriso radiante e bobo por alguma palhaçada ou erro meu, que me fazia sorrir na facilidade que pisco os olhos, depois quase pude ouvir sua risada, vibrando em meus ouvidos, então seus lábios tocando os meus, descendo para o meu pescoço, com beijos mais demorados, indo para o meu ombro, com sua respiração fazendo cócegas por todo meu corpo, fazendo meu coração retumbar mais forte que bateria.

Mas será que com ele é o mesmo?

— Talvez eu faria. Não sei. Não sei absolutamente o que ele sente. É exatamente o que o senhor acha dele, tímido demais para falar o que sente mesmo. De repente, se eu soubesse 100% que é amor. O que o senhor não faria?

— Sobre o Peeta, acho que você deveria então reparar no jeito que ele te olha, e perceber que não é amizade, há algo muito mais intenso e diferente, só no jeito que ele fala de você ou escuta o seu nome, simplesmente — mais uma vez, meu coração disparou, e eu senti vontade de chorar mais uma vez, porque eu simplesmente estou me sentindo frágil, e queria um abraço do loiro, e ouvir da boca dele o que realmente aconteceu entre a gente na noite passada, quando eu deixei bem explícito que eu queria me casar com ele. — Nada. Não há nada que a gente não possa fazer por amor, Katniss. E você sabe que eu não queria que isso acontecesse, mas todas as vezes que eu tento mudar as leis... — suspirou, decepcionado.

Eu sei que é uma das coisas mais difíceis do mundo, porque os conselheiros não se importam com o povo, e mesmo que seja o Rei, meu pai não pode fazer exatamente tudo o que quer, tudo o que gostaria de fazer. Por isso que a escolha certa de um marido para mim é crucial, pois com alguém do povo, alguém certo, podíamos mudar muito mais do que minha mãe ajudou.

— Sei que mudaria se pudesse. Mas mesmo que mude depois, eles vão ter consequências de algo que nem é um erro, se eles foram pegos apenas rindo, entre alguns beijos, conversando, totalmente vestidos. Só estavam se divertindo como um casal de namorados qualquer.

Mais uma vez meu pai suspirou, colocando uma mão no meu ombro, justo o que estava bem machucado, fazendo-me morder o lábio inferior de dor, esquivando-me.

— Ah... — murmurou, derrotado. — Não tenho absolutamente nada que possa lhe dizer, minha querida. Você sabe de tudo. Apenas quero que saiba que eu acabei de conversar mais uma vez severamente com os conselheiros, e eles disseram que não tem jeito. Vão ser quinze açoites nas costas dele e vinte nas mãos dela. Direitos iguais não ajudaram muito quanto às punições... Pensei em trocar, afinal, são dois modelos de corpo totalmente diferentes, mas...

Não consegui ouvir o que ele disse depois da quantidade de açoites para Annie e Finnick. Não conseguia acreditar. Vinte açoites nas mãos finas e ágeis de Annie, quinze açoites nas costas fortes de Finnick, que já sustentaram Prim em diversas brincadeiras no jardim na semana passada.

— Majestade, Alteza, faltam doze minutos.

E se não fosse a voz de Troy, marido de Johanna, eu não despertaria do meu estado de puro pavor. Mais uma vez.

{...}

Antes do carro parar, eu já estava impaciente, sentada de frente para o meu pai, que estava ao lado da minha mãe no carro blindado. Eu olhava para a janela, batendo um pé no chão, uma verdadeira pilha de nervos.

— Você pode por favor parar de bater esse pé? — Minha mãe perguntou, com raiva. Eu sabia que meu pai também estava incomodado, ainda mais depois do que eu fiz também no estádio. Mas eu não estou me importando muito com eles.

— Não consigo — falei, suspirando, abaixando a cabeça, ordenando meu cérebro para parar de bater o pé no chão, nas era importante. — Não consigo.

— Tudo bem, deixa, Clara — meu pai pediu, compreendendo. Eu não estou bem fisicamente, minha cabeça está uma enorme confusão, e eu sinto que vou desmaiar, porém no outro segundo, que vou vomitar. Não consigo pensar claramente.

— Mas isso é irritante, Snow! Dá para você ao menos tirar esse sapato?! — pediu, muito irritada agora. Olhei em seus olhos, comprimindo um pouco os meus, séria. Ela manteve o olhar. Orgulhosa.

Tirei os sapatos, afinal, eu não preciso deles se tenho meias.

— Para o carro! — pedi, sem aguentar, já que eu conseguia ver o palácio, a escadaria, e sabia que Peeta já estava lá dentro há tempos.

— O que?! — Meus pais perguntaram juntos, tirando a atenção do celular e do livro, respectivamente. — Ficou louca, Katniss? — Papà disse, sem acreditar. — Está frio lá fora, e pode ser um pouco perigoso! Você já teve uma recaída hoje mais cedo!

Suspirei, batendo ainda mais um pé no chão.

— Não vão parar o carro?

— Não! — exclamaram juntos, como se fosse óbvio.

— Ok — e eu abri a porta, caindo em pé, já que não era necessariamente alto. — Estou indo ver o Peeta!

E comecei a correr em direção a escadaria, ouvindo meu pai gritar para parar todos os carros.

— Katniss! — Minha mãe gritou. — Pare já com isso! Pare de correr agora! Sua louca!

Eu a ouvia, afinal, estava esperando alguns carros passarem, para eu poder atravessar para ir para a escadaria. Mas eu não me importava com ela.

Quando o último passou, ela quase me alcançou, só que eu me virei, vendo meu pai segurá-la pela cintura, enquanto eu ia em passos rápidos.

— Deixa ela correr atrás do que é importante para ela, Clara. Deixa. A gente já fez isso uma vez, agora é a vez dela — ele disse, e eu poderia chorar de emoção por ouví-lo dizer isso, e também por ter visto um traço de verdade no olhar da minha mãe, que nem parecia que tinha me arrebentado mais cedo.

Só que eu preciso ver como ele está, já que sei que Annie e Finnick só amanhã, hoje é impossível, ninguém vai deixar que eu os veja.

Meu pai sorriu para mim, mesmo que um sorriso torto, discreto, eu sabia que estava orgulhoso de mim.

Só que não era tempo de sorrir.

Subi as escadas o mais rápido que pude, ofegante, abri as portas do palácio de uma vez, e olhei para os lados, colocando um pouco do cabelo atrás da orelha, já que o penteado de Johanna infelizmente se desfazia. Ai, lembrei-me que a ala hospitalar fica à esquerda, para onde fui.

Em passos rápidos, passei pelo corredor, quando me dei conta, corria, os lábios entreabertos, desespero, preocupação, todos pareciam exaltados depois do que aconteceu durante a punição de Finnick e Annie. Todo mundo vai ficar assim por esse final de semana, absolutamente, e mais uma vez, Peeta se tornou todo o protagonista da situação, é claro, e eu fui sua coadjuvante, junto com nossos amigos, em um cenário que não há cabimento para esse tipo de coisa.

— Princesa! — Ouvi um mordomo chamar. Não dei ouvidos. Comecei a correr mesmo, empurrando algumas pessoas com educação. Ala hospitalar, onde está a ala hospitalar?

— Cadê ele? — perguntei para Maggs, que saia de um quarto, um pouco preocupada.

— Aqui dentro, acabou de dormir, mas Katniss, não é bom você entrar — disse, preocupada. — Você sabe, eu sou uma das que mais torce para vocês, amo você, amo ele, como da família, mas me escute... não entre lá agora. Ele não está muito bem, em todos os sentidos.

Eu estava ofegante, com minhas costas latejando, e ela me diz que eu não posso entrar?!

Maggie... — aproximei-me da senhora, que eu tinha como uma avó, realmente. — Você não faz ideia do quão preocupada eu fiquei. Por favor, eu preciso ver ele, Maggiiiiiiie...

Olhou bem no fundo dos meus olhos, e segurou meu rosto com as duas mãos, um pouco enrugadas por causa da idade, com alguns calos.

— Não acorde-o. Ou serei obrigada a te dar um tapa.

Sorri, quase chorando, dei um abraço apertado, sentindo seu cheiro de infância, um cheiro de açúcar derretido com mel.

Ela riu, dando um tapinha no meu bumbum, cruzando os braços, rindo mais. Sorri sincera para ela, fechando a porta do quarto que Peeta estava, sendo tomada novamente pelo mesmo sentimento de preocupação quando vi o chicote passar por seu rosto, tão forte que o fez cair. Mas é claro que no segundo seguinte ele estava se levantando novamente, mostrando para o que veio, e porque veio.

Seu rosto estava totalmente relaxado, assim como o corpo, e ressonava baixo, quase silenciosamente, fazendo meu coração disparar totalmente desenfreado, observando-o tão calmo, tão em paz. Ele merece uma vida que o deixe assim, com essa expressão, mesmo acordado.

Sentei-me na poltrona que estava ao lado de sua cama, e peguei em sua mão, gentil, dando um beijo, sem me incomodar se o certo, de acordo com a sociedade, era para ser o contrário. Não me importo. Nada que se refere à nós dois é necessariamente normal.

— Não vou acordar você, mas quando estiver acordado, eu sei que não vou poder dizer isso, porque você é louco, e não vai entender... Mas saiba que eu sinto muito orgulho de ter escolhido você. Ninguém mais poderia ser uma escolha melhor — sussurrei, fazendo carinho em sua bochecha direita, com todo o cuidado do mundo, para não acordá-lo. Tirei uma mecha de cabelo que caia em seus olhos, com muito cuidado, com meus dedos mergulhados em seus fios, fazendo carinho em sua cabeça, e em meio ao sono, ele suspirou profundamente, ficando de bruços, aproximando-se mais do carinho, e eu soube que ele realmente estava cheio de sono, o que me fez sorrir. Quando Peeta não está cansado e com sono?

Tinha uma marca recente bem perto de seu olho, por causa do chicote, passando por sua bochecha, só que sou quase especialista em machucados, então reconheço que ia sair em no máximo uma semana se pusesse gelo sobre a marca. No entanto, mesmo que não saísse...

Escorreguei a ponta dos dedos por seu rosto, cada detalhe... cada parte de seu rosto refletem a pessoa linda que ele é por dentro. Eu poderia observá-lo durante toda a vida, e ainda sim, nunca ficar entediada.

A ponta de meus dedos passaram pela sua bochecha, calmamente, para não atrapalhar seu sono, escorregando para sua barba rala, bem curta, mas eu sentia, e simplesmente adorava. Vai ser uma das coisas que o pedirei, para deixar a barba crescer um pouco mais. Adoraria ver como vai ficar.

Depois, a ponta de meus dedos foram para debaixo de seus olhos, onde algumas olheiras leves estavam, mas que passariam depois que descansasse, então próximo ao seu nariz, sardas que eu só tinha notado na foto do formulário, mas agora estava bem mais aparente, com somente a luz amarelada do abajur, meus olhos pesando de cansaço e algumas lágrimas de dor da surra que levei mais cedo. Peeta é simplesmente o oposto do que imaginei para mim. Por isso acho tão incrível.

Beijei seus lábios de forma casta, e deixei-me dormir ao seu lado, com a cabeça sobre as costas das minhas mãos, sentindo sua respiração baixa e fraca por conta do sono acariciar o alto da minha cabeça.

Não poderia fazer isso, mas, segurando sua mão direita, que de forma inconsciente ele segurou a minha, eu dormi, dormi como se não houvesse amanhã, como se eu fosse uma princesa dos livros, e todos meus problemas tivessem sido resolvidos por um beijo encantado de um príncipe.

Ainda sou uma princesa, e recebi alguns beijos apaixonantes, mas todos de um garoto de uma realidade totalmente diferente da minha, com toda a sinceridade amarga para cima de mim, e uma coragem implacável ganhou o meu coração, mesmo fora da disputa, ele saiu vencedor. Só que eu não ligo para quem ele é, não ligo para quem ele foi, e sim para todos os efeitos positivos que exerce sobre mim.

Em momento algum julguei Annie e Finnick, que só faltavam morrer tamanha vergonha estavam para me contar o que aconteceu entre os dois, que estavam apaixonados, desejavam a saída de Finnick da Seleção. Eles estavam – e estão – apaixonados, isso é o que importa, independentemente de todas as circunstâncias, de todas as falas, de todas as pessoas, é o amor. Amor.

Amor.

O sentimento que me trouxe até aqui, correndo, assim que chegamos ao palácio e descobri para onde Peeta tinha tinha ido, aos passos apressados, deixando meus pais para trás, juntamente com meu cachecol e celular, sem me importar com absolutamente nada.

Sorriso — ouvi Delly sussurrar, acordando-me, três horas depois que dormi ao lado de Peeta, que ainda dormia serenamente. — Você precisa ir para o seu quarto. São oito da noite.

Apenas assenti, e senti quando soltei a mão de Peeta. Passei só mais uma vez os dedos por seus cabelos, para não atrapalhar o seu sono, e depositei um beijo em sua bochecha, por eu estar morrendo de sono, aceitando Delly envolver minha cintura com seu braço, pedindo para eu colocar um braço ao redor de seu pescoço. Ela deu duas olhadas para trás antes de sairmos. Parecia muito preocupada, queria falar alguma coisa.

— Você quer conversar? — perguntei, tirando o braço de seu ombro, para deixá-la mais à vontade.

— Não convém à você, Sorriso — disse, sorrindo torto. Parecia muito triste. — Hoje só era para ser um dia especial, e aconteceram tantas coisas ruins... Mas outras boas, não é mesmo?

Assenti, deixando minha cabeça em seu ombro.

— Sim, com certeza. Eu acho. Eu espero, em nome do Senhor Jesus — riu, assentindo. — Quer dizer, o dia foi muito mais ruim do que bom. Aliás, o que temos de bom para hoje? Nada. Absolutamente nada.

— É... — concordou, em um tom realmente triste. O problema é que eu estou tão cansada, com tantas dores, que nem pude reagir. Delly é a mais próxima à mim, no final, de todas as meninas, incluindo Johanna, e eu me importo demais com tudo o que as envolvam. Coloquei em meu cérebro para amanhã a perguntar sobre a razão de estar tão triste assim. Ela chegou há duas semanas, mas parece que eu a conheço há dois anos ou duas décadas, de tão boa e tão bem que sua companhia me faz.

— Hoje foi um dia cheio — Johanna comentou, quando cruzei a porta do quarto, praticamente dormindo no ombro de Delly enquanto caminhava. — Muitas emoções, princesinha.

Ri, mesmo grogue de sono, assentindo, me jogando na grande cama do meu quarto.

Eu sabia que Finnick e Annie tinham passado a primeira fase, de sobreviverem juntos às punições públicas, agora começa a segunda, que era adaptação, então a terceira e última: a vida juntos.

Amanhã eu não pararia para nada, muito pelo contrário, sei que me dedicaria especialmente ao caso deles, com meus conselheiros mais sinceros, para dar-lhes o melhor que posso.

Eles estão provavelmente passando por alguns problemas devido ao que aconteceu, mas estão juntos, com todo o amor que podem oferecer um pelo outro, o que é crucial. Mas como o amor não sustenta ninguém fisicamente, vou amanhã de manhã, no primeiro horário, investigar absolutamente tudo para que permaneçam juntos e bem. É minha obrigação fazer isso, uma dívida.

— Johanna — falei, sentindo Madge tirar meus calçados. — Eu senti sua falta.

A morena grávida riu.

— Mas não pense que ficarei por aqui por muito tempo. Só por um mês tomando conta de você, porque a Delly precisa descansar. Ali, ela está quase dormindo.

Levantei um pouco a cabeça, e ri, vendo Delly sentada na poltrona perto da janela, com o rosto apoiado na mão e os olhos fechados. Realmente, ela faz coisas que muitas delas não conseguiram fazer por mim juntas, mas não quero que saibam.

— Sem a Annes vai ser um pouco triste, mas vamos conseguir — Madge disse, levantando-se, com meus sapatos nas mãos, sorrindo torto. — Nós precisamos mudar os curativos, Katniss.

— Tudo bem — falei, suspirando, sentando-me ma cama, tirando a jaqueta, mordendo meu lábio inferior, pois ardia muito agora. — Eu ainda não tomei o comprimido azul.

— Por isso que você está toda suada com o quarto esse frio todo — Johanna lembrou-me, repreendendo-me, me passando um copo cheio de água e o comprimido, enquanto Magde tirava minha blusa, começando a tirar os curativos, que doíam demais.

— Ai, olha ai, ai, ai, ai! — falei, arqueando as costas, com raiva, mas não consegui segurar a risada por razão alguma, se eu só tinha razões para morrer de tanto chorar.

— Você só pode estar ficando louca, Katniss — Johanna disse, rindo, e também para aliviar a situação, ajudando Madge com as feridas por cima, já que desfazia meu penteado alto, e já iniciava uma trança embutida apertada que passava pelo lado direito da minha cabeça e terminava no lado esquerdo, para não me incomodar por causa das minhas costas.

— Porque você não viu a cara que a minha mãe fez, quando sai correndo antes do carro parar, subindo os degraus da frente do palácio, em busca de Peeta, que não apareceu mais depois que entrou segurando Annie e Finnick. Meu pai segurou ela, e mandou eu ir.

Contei, sorrindo, e as dores nas minhas costas não me incomodavam mais por causa de um outro comprimido que servia como uma anestesia que não dava sono.

— Eu queria ter assistido, mas nos trouxeram de volta em outro carro — Johanna contou. — Delly pareceu em estado de pânico, talvez deva ser por isso que ela está dormindo ali — virei-me para a outra morena rapidamente, sorrindo. Delly dormia serenamente, com os lábios fechados, a expressão serena, parecia uma adolescente de 15 anos dormindo. — Ela e o Peeta se conhecem, não é?

Assenti, voltando a olhar para as minhas mãos.

— Desde crianças. É de se imaginar, mas mesmo que não conhecia, vocês viram a cena toda — meu coração disparava de preocupação só de me lembrar de Peeta caindo no chão, e se levantando, mesmo com a bochecha sangrando um pouco.

— Sim... Troy mandou eu fechar os olhos, eu fiquei nervosa.

— Ah, não sei como conseguiram olhar! — Madge disse, colocando novas bandagens na minha pele, depois de limpar tudo. — Quer dizer, você, Katniss. Corajosa sua atitude. Aliás, o que esperar? É sobre o futuro rei de Panem que estamos falando.

Corei, mas não consegui conter o sorriso, e sabia que elas estavam da mesma forma.

— E é mesmo. Ontem eu falei tudo para ele, e ele disse sim — Johanna e Madge gritaram, rindo.

— AI MEU DEUS! — disseram juntas, e Johanna sem dúvidas pularia se não estivesse grávida. — Ai meu Deus, sua sem vergonha! Nem nos conta!

Ri, fechando os olhos. Foi o Espírito Santo que as colocou na minha vida, sem dúvidas, porque eu não sei se eu estaria viva se não fosse por todas elas, sempre me fazendo sorrir, me divertir, esquecer-me dos principais e mais fortes pesadelos por alguns segundos.

— Ele com certeza disse sim! E eu vi o olhar que trocaram, pareciam que conversavam antes de tudo aquilo acontecer! — Johanna disse, boquiaberta, sentando-se no chão, com as pernas cruzadas, deixando sua barriga ainda mais bonita. — Você ama ele? Porque eu sei que ele te ama, na verdade, desde o começo.

Mordi os lábios, adquirindo uma expressão pensativa. Pensei nas expressões de pavor de Finnick e Annie antes de serem levados para a punição pública, e o pior medo para eles era perder um ao outro, e não pela humilhação, a punição. E sim de perder o outro. Lembrar no olhar dos dois novamente me fazia querer chorar, tamanho medo, desespero, sinceridade, amor. Não tenho esse olhar para com Peeta, eu sei que não, e nem ele também para mim, afinal, não fomos postos em nenhuma situação assim. Mas... é tão estranho e idiota, provavelmente, mas... eu sinto, eu tenho uma certeza de que se fosse o contrário, sei que Peeta se importaria mais com a minha vida do que com a própria, e eu me importo desde já mais com a vida dele do que a minha. Isso é amor? Sacrificar-se por outra pessoa?

— Não estou certa, sinceramente — admiti. É um sofrimento ter que falar meus sentimentos em voz alta. — Mas eu o considero mais do que qualquer outro garoto. Não consigo dormir se algo aconteceu com ele, eu tenho que saber como está, o que houve, exatamente. Sem contar que eu não preciso beijá-lo para o encontro valer à pena. Isso é sempre o de menos quando nos vemos, é algo como a cereja do bolo, uma situação especial, que torna as coisas ainda melhores.

— Querida... se isso não for amor, o que sentem um pelo outro, eu não estou grávida de uma garotinha — sorri, mas me sentindo um pouco triste, no fundo, por nunca conseguir descobrir o que virá a seguir na minha vida.

De repente, tudo na minha mente se soltou, perdendo o sentindo, e eu fiquei um pouco sufocada, precisando endireitar minha postura. Um sentimento de que tudo ia ficar mais confuso do que realmente é tomou conta de mim, e isso me deixou realmente me sentindo diferente, confusa.

Quase perguntei onde estava, tamanha dor de cabeça que tive, em um piscar de olhos.

— Ai meu Deus — murmurei, tocando as têmporas, fechando meus olhos, abaixando o rosto, com os cotovelos sobre minhas coxas. Muita dor.

— O que houve, Katniss? — Madge perguntou, preocupada, tendo ajuda de Johanna para tirarem do meu corpo a calça escura, e me colocarem em um vestido de seda azul claro, para ajudar na cicatrização dos meus machucados.

— Estou com muita dor — falei, baixo, prendendo a respiração. Minha cabeça queimava como uma fogueira acesa há dias. — Por favor, eu preciso de morfina. Eu preciso agora.

Em um piscar de olhos, Johanna limpava meu braço, e Madge acordava Delly, que sabia lidar melhor com isso, tanto que é ela quem aplica agora.

Não consegui falar mais nada, de tanto que a queimação da cabeça começou a se alastrar pela minha espinha dorsal, e cortes do que aconteceu mais cedo me vieram à cabeça, assim como da minha mãe me lançando com fúria contra o espelho. Senti meu corpo cair de novo, mas eu estou sentada, ainda.

— Mantenha ela acordada — Delly pediu, mesmo com uma feição de puro cansaço, assim como as outras duas, me tratou como se eu fosse ela mesma, ou alguém que amasse demais. Não era de fetiche de nenhum enfermeiro me tratar com tanto cuidado. Quis agradecer, mas tudo estava confuso demais. Só sabia que Madge me segurava, mantendo-me sentada na cama, porque eu não tinha forças nem mesmo para fechar a minha mão. Johanna segurava meu braço, fazendo carinho, sorrindo torto para mim, na intenção de me fazer esquecer do que acontecia.

Senti a morfina se misturar com o meu sangue, e logo eu pude fechar meu olhos, suspirando profundamente, sentindo a dor passar lentamente, minhas pupilas diminuírem, por terem dilatado um pouco, eu sei.

— Obrigada — agradeci, olhando para as três, que estavam realmente preocupadas, um tento assustadas. Senti vergonha de mim mesma, por precisar que elas percam partes das próprias vidas somente para me ajudar.

— A gente só quer você bem, Katniss, não se preocupe — Delly disse. Eu via tanta sinceridade nela toda, que me constrangia. — Você precisa descansar.

Assenti, suspirando, me virando, ficando de barriga pra baixo, deixando algumas lágrimas escorrerem pelos meus olhos por razão alguma. Ou talvez por tudo.

— Seu pai pediu para ficarmos com você aqui essa noite — Delly disse baixinho, deitando-se de barriga pra baixo ao meu lado, fazendo carinho no meu cabelo, olhando-me nos olhos. — Não precisa chorar, ok? Você nunca esteve sozinha, e não é agora que vai ficar.

Funguei, assentindo.

— Vão mesmo passar a noite aqui comigo? — perguntei e elas sorriram, assentindo. Quase sorri. — Mas só se usarem algum pijama meu para dormirem melhor!

Quinze minutos depois, Johanna estava deitada à minha esquerda, Delly à direita e Madge na ponta, comentando sobre a vida de alguns famosos, para fazerem eu me sentir melhor. Realmente deu certo, ainda mais depois que Delly colocou várias músicas para tocar, e cantaram juntas, me deixando um pouco mais feliz, embora sentindo uma saudade gigante de Annie, de quando ela estava aqui. Mas precisei arquivar temporariamente.

Abracei Delly antes de dormir, e ela me abraçou também, deixando nossas testas coladas, assim como Finnick.

— Amanhã você precisa me dizer porque está tão triste — sussurrei, de olhos fechados.

— Só se você melhorar — disse de volta, no mesmo tom, me fazendo sorrir. Era como uma irmã que muitas vezes eu não posso ter. O quadro de saúde de Prim vem piorando, a ponto que quase não posso vê-la na frequência que eu gostaria.

Antes de eu dormir, coloquei os fones de ouvido, por amar ouvir música antes de dormir, sem contar que me acalma, e a música Sucker for Pain tocou, chamando-me atenção para o começo da letra.

Eu te torturo

Me dê as mãos através das chamas

Eu te torturo

Sou um escravo dos seus jogos

Sou apenas um otário atraído pela dor

Eu quero te acorrentar

Eu quero te amarrar

Sou apenas um otário atraído pela dor

E é exatamente o que acontece comigo, com toda a minha vida, se o amor fosse uma pessoa, se todos os meus sentimentos e pensamentos fossem pessoas. Eu sou apenas uma otária atraída pela dor. Só pela dor.

 


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Notas finais do capítulo

Bem, pessoal, esse foi o capítulo, com menos Peetniss tendo um envolvimento mais físico, porém, deu para ver como a Katniss se sente, agora, com toda a situação, e que temos algumas coisas bem intensas para acontecerem ainda, sem contar que tem a Prim, com os ataques, e ninguém sabe, por enquanto, mas teremos mais dela no próximo bonus, posso garantir, assim como a família da rainha, os irmãos dela, que eu nunca nem cheguei a falar sobre eles, porém a Katniss os ama muito, e vão ser uma ponte para o Peeta saber mais sobre a nossa princesa esculpida do mármore, e fazer eles conversarem, inclusive, porque... sinto cheiro de briga, briga séria depois do que aconteceu durante a punição de quem realmente era os amantes desafortunados!
Vamos aos spoilerrsssssss (sotaque de Minas, porque eu amo Minas, e quero ir pra lá morar, se alguém quiser me aceitar)
Nome do capítulo: Como se eu fosse te perder
Música: Like I'm gonna lose you, Meghan Trainor ft. John Legend
"Mas eu não conseguia compreender aquilo tudo. Não sabem que é o Finnick ali? O melhor amigo de todo mundo, simpático, confiável, gentil e engraçado, que nunca poderia fazer mal à vida de ninguém?
Empurraram Finnick com toda a raiva do mundo, fazendo-o ficar de pé na frente da pilastra rude, onde prenderam suas mãos com força, agoniando até mesmo quem só assistia a cena, assim como sua cintura, deixando suas costas nus, depois que tiraram fora sua blusa de forma nem um pouco cuidadosa. De antemão, jogaram Annie no chão, forçando-a ficar de joelhos, prendendo as mãos dela com força completamente desnecessária, prendendo suas palmas para cima.
— Este crime é punível de morte! — exclamou, ainda mais alto. — Mas em sua misericórdia, a princesa Katniss poupará a vida desses dois traidores. Vida longa à princesa Katniss!
A multidão, em coros, gritaram "Viva à princesa Katniss!" quatro vezes, mas quando olhei para a Princesa, ela estava com os olhos fechados, desviando o rosto, como se repugnasse tudo aquilo. Posso jurar que vi uma lágrima no rosto de Katniss, com toda a certeza.
Voltando meus olhos para a cena, onde ninguém conseguia desviar."
"Finnick gemeu, mexendo-se quando a vara abriu um corte grande em suas costas, que foi o fim para mim. O corte pegou de seu ombro direito até uns dois dedos antes da cintura. Era um corte em todos os Direitos Humanos.
Olhei para Amélia, que estava com os olhos marejados, abraçada ao próprio corpo, mas seus olhos se encontraram com os meus. Não precisei trocar nenhuma palavra, sei que ela entendeu que eu queria ir e me esforçar para algo quanto aquilo tudo se resolvesse. Em um leve manear com a cabeça, ela fez que não, e aquilo acabou comigo, tanto quanto ter ouvido o homem mascarado gritar um "Quatro!", e os berros de Annie preencherem meus ouvidos.
Só que eu não sou alguém que gosta de obedecer por tanto tempo assim. Já são quase três meses seguindo milhares de regras e respeitando limites. Uma hora a gente cansa e precisa agir por nós mesmos.
Levantei-me, com uma expressão séria, passando por Blane, já que Cato e Calvin estavam nos dois assentos abaixo, mas no mesmo gabinete que nós.
— Peeta! Aonde você vai?! — Calvin perguntou, sem acreditar.
— Tentar salvar a vida de alguém — respondi, passando por ele, e depois pela porta, que fechei atrás de mim, sentindo o olhar de Katniss e sua família sobre mim, assim como dos meus irmãos."
Sem dúvidas, vai se parecer bastante com o livro A Elite, porém, eu dei mais drama, misturando com o espírito de Jogos Vorazes e com a narrativa de todo o meu espírito de justiça que não posso colocar em prática.
Espero que tenham gostado, com todo o coração, e o próximo capítulo já está com a Leeh. E o próximo do próximo está na metade j´å! Vou deixar um trecho pra vocês, porque hoje é um dia muito, muito, muito especial!
— A gente precisa mesmo conversar — sussurrei também, enquanto ela me ajudava a pegar as coisas que eu deixei cair. — Seu aniversário foi há três dias e não nos falamos nesse meio tempo.
— Pensei que tinha esquecido — sussurrou rapidamente, encenando muito bem que tinha sido acidental tudo do meu estojo cair no chão.
É difícil de acreditar, mas sim. No dia da punição de Finnick e Annie, Delly completou dezoito anos, assim como exatamente duas semanas trabalhando no palácio. No dia mesmo, eu nem consegui me lembrar, por causa de toda a situação, somente na tarde do dia seguinte, e fiquei me sentindo muito culpado, mas Layla e Julia me ajudaram e compraram para mim um cordão com uma pérola azulada com o dinheiro que dei para o presente, só que é difícil encontrar Delly por aí, sinceramente. Graças a Deus eu a encontrei.
— Como eu poderia me esquecer da data mais esperada do ano para nós dois? — e me levantei, pegando tudo, dando uma olhada dentro de seus olhos únicos, cor âmbar, como se tivessem derretido açúcar neles, quase queimando, e gerou a cor perfeita que são os seus olhos.
Aquele frio na barriga de antes voltou, inesperadamente. Senti um pouco de medo, um arrepio na espinha que foi até a minha nuca.
— Não se atrase — sussurrou de volta, então logo se virou, voltando a caminhar tranquilamente na direção oposta pela qual eu deveria seguir."
Espero que vocês tenham gostado, e eu espero ansiosamente para saber o que vocês estão achando, e quais são as suas expectativas para os próximos capítulos, e eu vou mudar razoavelmente o roteiro do livro, justamente para não ficar muito enjoativo e alongar demais, mas bem, vamos ter um pouco de pause no climazinho de romance que pairava sobre Peetniss, tendo mais ênfase na parte política, mas não se preocupem, porque vai dar tudo certo *gargalhada*
Bem, pessoal, foi isso! Beijão! E MUITO OBRIGADA POR ESSE ANO INCRIVEL QUE VOCES ME DERAM! ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ Eu sou grata demais a Deus por cada um de vocês! ♥
Ps.: tem mais spoilers no capítulo anterior, hein?! *espiando vocês com um sorriso torto, feliz, e muito, muito, muito animada*