Meu Psicopata de Estimação escrita por Felipe Araújo


Capítulo 5
Toque a música


Notas iniciais do capítulo

Oi galera, obrigado de coração pelos comentários e pelos acompanhamentos. Estou muito feliz. Segue o próximo e espero que agrade. Boa leitura meus leitores lindjos.



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O sorriso dela transborda sobre sua face. Lucas não consegue tirar os olhos de Ester, a cada instante um jogo de olhar diferente, uma expressão nova, um gesto único. Talvez é a explicação de estarem conversando há mais de uma hora. Lucas sentado em sua cadeira de rodinhas e Ester em sua cama bagunçada de mangás e revistas.

Conversaram sobre música, viagens, lugares que ambos desejavam ir, comidas e gostos prediletos. Tudo fora jogado na conversa, menos aquele assunto que Lucas exitou em questionar. Medo define o que sente. Não quer magoar a garota que acabara de conhecer. Mesmo não aprofundando na vida pessoal da menina, agora sabe que ela gosta de tomar café com leite, mas não muito claro. Gosta de comer macarrão com bacon, de tomar sorvete de abacaxi e limão, que não gosta de usar shorts e que sente medo de dormir com a luz apagada — está explicado a luz acesa tão tarde — sabe que Ester não é o monstro que todos apresentaram pela manhã e sente muita pena dela não ter amigos. Não quer apressar as coisas e desiste de falar sobre o que descobriu. Mesmo se for verdade, ele não vai querer relembrar um passado de dor que a doce vizinha esconde, mas, mesmo assim, ousa e diz chegando mais perto de Ester.

— Gostei de ter passado esse tempo com você, de te conhecer melhor. — Ester concorda.

— Digo o mesmo, porém devo voltar para casa. — Lucas tenta impedir.

— Mas é cedo, não precisa ir agora, minha mãe está preparando o jantar.

— Desculpe, preciso mesmo ir. Podemos conversar amanhã. — A despedida é interrompida com um toque de mensagem vindo do celular de Lucas. Ester frangi a testa, Lucas pega o celular e lê a mensagem sussurrada. Em seguida conta quem estava interrompendo a conversa dos dois.

— Me desculpe Ester, era uma garota que conheci de manhã. — Ester arregala os olhos e queixa.

— Não me disse que havia conhecido alguém da cidade.

— Achei que não tinha importância pra você. — Ela muda de feição e levanta rapidamente da cama de Lucas e vai até a porta, o rapaz dá um salto e em segundos está ainda mais próximo do rosto da garota. — Sabe Ester, queria muito tentar decifrar o que passa em sua cabeça.

— Não queira desvendar o que passa em minha cabeça Lucas. — Ela aproxima seus lábios vermelhos no ouvido do rapaz que chega a tremer, — pois nem eu mesma consigo desvendar.

Ester sai do quarto, Lucas não entende o que ela acaba de dizer, mas decide não perguntar o que aquilo significava. Segue a menina sem ao menos trocar uma palavra, ambos descem a escada de mármore da grande casa e se direcionam a saída. Clara vai até o filho e percebe que o olhar do rapaz passara de animado para embaraçoso. Prefere ficar no silêncio. Os três saem no quintal, Ester deixa a casa com um beijo na bochecha de Lucas e um singelo balançar de mão para Clara. Lucas observa a menina caminhar até a casa ao lado e suspira forte, olhando para sua mãe torce o lábio e vocifera.

— Ela é interessante, muito interessante, mas misteriosa. — Clara abraça o filho e sorri.

— Acho que alguém está com vontade de descobrir quais são esses mistérios, não é?

— É mãe talvez… — Lucas e Clara entram para jantar, entretanto a última coisa que Lucas sente é fome, o que sente na verdade é indescritível e confuso.

**

O ar da casa de esquina da Alameda das Tulipas parece estranho para Ester. O silêncio incomoda a garota que ao entrar em casa vai direto para a cozinha, sobe em uma cadeira e retira uma caixa de sapato de cima da geladeira. Abre a caixa onde existem seringas, agulhas, comprimidos e frascos de remédios. Pega dois copinhos, coloca em cada copinho um comprimido de cores diferentes e agarra uma seringa. Parece que faz este processo sempre, pela organização excessiva. Tudo bem organizado, enfia a agulha na seringa e introduz remédio. Junta tudo em uma bandeja de alumínio, em seguida caminha até o porão. Com um olhar estranho e desconfiado.

Percebe que alguma coisa aconteceu ao ver a pequena porta do quarto escondido de Edgar aberta. Derruba no mesmo instante a bandeja com os remédios no chão, correndo em disparada até o corredor. E seu maior medo é concretizado, Edgar sumiu.

— Merda, não idiota, não era para sair do quarto. — Ester corre desesperada, sai do quarto, pega uma seringa do chão e coloca no bolso. Sobe os degraus de concreto do porão desajustada e parte a procura do irmão. Passa antes por todos os cômodos da casa, procura dentro de armários e de baixo das camas, mas ele não se encontra. Uma tonelada de culpa cai sobre a menina, mas Ester sabe onde seu irmão foi, e tem certeza que ele estará lá.

Coloca uma blusa, suas botas de cano alto, amarra firme seu cabelo em um rabo de cavalo, pega uma lanterna na garagem e suspira. Corre sem perder o folego para trás de sua casa, percorre uma trilha em um terreno vago que sai diretamente na floresta de pinheiros.

A noite é agradável, sem nuvens e estrelado. Mas o vento sopra forte, fazendo a menina apertar a blusa em seu peito, enquanto mira a lanterna em uma trilha pisada sem folhas no meio da mata. Ester parece aflita, não só com o desaparecimento do irmão, e sim com outra coisa. Seus olhos sempre alerta dançam de um lado a outro a cada passo dado em uma direção incerta. Murmura para si mesma, palavras indecifráveis, algo como chingos e resmungos. Não sente medo, mas sente desconforto pelos pequenos barulhos ao seu redor. Grilos e cigarras gritam no escuro fazendo o ar medonho expandir. Ester anda vários minutos apenas com a luz da lanterna necessária, pois a lua sumirá entre as folhas. Engole a seco o seu medo e torce o lábio quando uma cabana de madeira isolada entre os arbustos ganha espaço. Uma luz fraca aparenta iluminar o moquiço. Decidida limpa o seu rosto soado e parte até a cabana.

Ester chega e entra sem bater na porta velha e decrépita de madeira. A menina avista uma vela acesa sobre um armário, uma cama sem colchão caindo os pedaços e um tapete vermelho do começo do século. Ela revira os olhos e mira a luz da lanterna no tapete e retira-o do chão revelando uma passagem com manchas de dedos formadas com sangue.

— Edgar, não acredito que fez de novo. — Ester abre a tampa de madeira expondo uma escadinha de ferro enferrujada. Com muito cuidado ela desce. E o que encontra é uma cena devastadora.

Edgar está de costas, sentado em uma cadeira. Sobre uma mesa a sua frente um corpo de uma garota aberto. As tripas e entranhas da menina dentro de potes de vidro ao lado do rapaz. Ele trabalha em limpar o estômago da moça como se ela fosse um porco abatido. Nem mesmo percebe a presença de sua irmã que não fala nada. Aponta a luz da lanterna por todos os cantos, pôr a vela acesa no cubículo não ser suficiente. A cada passada de luz Ester torce o lábio em forma de expressar sua surpresa. Ossos humanos pendurados decoram o lugar. Mais e mais potes com restos mortais empoeirados estão em prateleiras improvisadas. E o que mais surpreende Ester é a roupa feminina em uma ossada.

— Então é aqui que deixou o corpo da tia Meire apodrecer maninho. — Edgar não responde e continua dançar com a lâmina sobre a carne da garota morta, fazendo escorrer sangue como se fosse uma fonte de malignidade. — Ester pega do seu bolso o seu celular, vai nas músicas na pasta “Jazz”, escolhe a música “Misty de Sarah Vaughan” e deixa tocar, colocando o celular no chão, ao som agradável da voz doce e delicada da cantora, a menina pega seringa que trouxe com ela, retira a proteção da agulha e dá um passo para frente, porém para quando Edgar solta a faca e deixa de se mexer. Por alguns instantes tudo se cala, mas Ester não quer pagar para ver, salta em direção ao irmão cravando a seringa em seu pescoço injetando o líquido em seu corpo. Edgar rangi os dentes, coloca suas mãos encharcadas de sangue na boca e cai no chão.

— Edgar, não era para sair de casa, olha o que fez, matou só ela ou matou mais?

— Ester...

— Me responda! — Vocifera, levantando o irmão do chão. Edgar para de se retorcer e começa a gargalhar. Uma gargalhada alta e terrível.

— Eu achei que ela era você, fiquei cego quando a vi se pegando com um homem na mata.

— Não era eu, sou muito mais bonita. - Fala enojada com o rosto morto a sua frente

— Matei ele e trouxe ela. — Ester solta o irmão e anda de um lado a outro entre ossadas e o mal cheiro como se aquilo não importasse para a menina. Ela não sente medo. Ester não sente nada.

— Não importa, ninguém nunca vai desconfiar que foi você, já que está morto. Mas não disse para não sair mais de casa.

—Você sumiu.

— Eu não sumi, eu apenas queria um pouco de ar. — Edgar esmurra o corpo estripado da moça sem vida sobre a mesa e joga os restos mortais dela ao chão. Grita como se suas veias do pescoço fossem explodir.

— Você queria ar? Eu não tenho ar, eu só tenho você. Somos um só, não existe nem mesmo o ar entre nós dois. Você mesmo disse, você me fez matar nossos pais. — Ele chora, Ester corre ao encontro do irmão ensanguentado e segura seu rosto, tocando seu nariz no dele. Fala sussurrando.

— Não me faça lembrar disso. Eles morreram, porque eles nos separariam. Tirariam você do porão e nunca mais eu o veria. Tivemos que matar eles, só assim ficaríamos juntos para sempre.

— Eu sei, mas não suporto pensar que está longe de mim. Já disse que somos um só irmãzinha. —Ester toca delicadamente seus lábios nos lábios do irmão. Que começa a relaxar pelo remédio que faz seu coração desacelerar.

— Vamos embora, agora temos que limpar essa bagunça, e jogar cal em tudo para que o cheiro não se alastre pela redondeza.

— Eu gosto dessa música, eu gosto... — Edgar parece outro, sua face mostra um homem tranquilo e sorridente.

Ester pega um saco no chão e abre, jogando o que tem em seu interior sobre todo o sangue e o corpo. Não que aquilo extinguiria o odor podre do lugar, mas acreditavam que ameniza. Edgar sorri para a irmã enquanto trabalha em limpar o sangue em suas mãos e Ester pensa em uma maneira de Edgar nunca descobrir sobre Lucas.

***

No quarto de Lucas uma conversa é traçada entre ele e Anne pelo celular. Trocam mensagens há mais de tempos sem parar. Lucas conhece mais da menina que não teve oportunidade de conhecer pela manhã. E fica feliz em conseguir tantos amigos. Ele responde mais uma mensagem, enquanto deitado toma um copo de leite e prepara-se para dormir.

Lucas
Então me conte mais sobre essa festa Anne de sábado...
22:32


Anne
Então Lucas, é uma festa típica que fazemos todo mês.
22:32


Lucas
Típica? Mas, não é todo mês? kkkkk
22:33


Anne
Modo de dizer, bobo. Vai toda a galera, Samantha, Vitor, Érica, George e mais uma galerinha.
22:33

Lucas respira e sorri para a tela de seu celular. Ergue as sobrancelhas e relaxa enquanto digita,

Lucas
Mas então, vai ter bebida? Sabe estou precisando relaxar.
22:34

Anne
Claro que vai ter, geralmente temos que levar as bebidas, arrecadamos, mas como você é meu convidado.
22:35

Lucas
Convidado ou não eu levo uma vodca.
22:36

Anne
Estou gostando de ver garoto da cidade grande.
22:37

Lucas
Me conte sobre o lugar que vai rolar a festa.
22:37

Anne
É um galpão abandonado, uma antiga fabrica de madeira no meio da mata de pinheiros. O lugar é bem grande e bem legal, não tem como explicar. Você vai gostar.
22:38


Lucas
Então é no meio do nada, posso levar alguém?
22:39

Anne
Claro, mas quem seria? Desculpe perguntar rsrsrs
22:40

Lucas
Vou chamar a Ester.
22:40

Lucas envia a mensagem e soa sua mão esperando uma resposta. Quer ver o que Anne fala sobre Ester, quer provar que ela não é a estranha de Santa Monica. Mas a janela de Anne aponta “escrevendo”, e no mesmo instante some, volta o processo diversas vezes. Passa alguns minutos e ela não responde. Até que Lucas envia:

Lucas
Algum problema?
22:58


Anne.
Não, nenhum!
22:58

A conversa acaba. Lucas solta seu celular ao seu lado e olha para o teto, pensando na festa que vai rolar no final de semana, e quais serão as surpresas que o aguarda.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Altas tretas estão por vir rsrsrs