Meu Psicopata de Estimação escrita por Felipe Araújo


Capítulo 15
O Prefácio para a morte.


Notas iniciais do capítulo

Olá, gostaria de dizer que essa semana foi a pior já vivida por mim em questão de escrita. Fiquei com bloqueio e tudo mais, não conseguia escrever, estava maaaaaal. Então quando a inspiração chegou, aproveitei e corri para atualizar, e saiu o que saiu, acho que ficou bom, porem muito suspense. Acabei que enrolando mais ainda (minha intenção) espero que gostem e aguardo vocês nos comentários seus lindjos. Boa leitura, beijos de psicopata.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/645041/chapter/15

O único companheiro de Mathias na fria tarde do dia, é uma xícara quente de café. Sentado em sua cadeira giratória, em frente a uma grande banqueta cheia de papéis e relatórios, ele tenta esquecer os olhos tristes que o persegue nesses dias. Os olhos mais lindos que já verá na vida são de Clara. Os olhos brilhantes, mais claros que um rio de águas profundas perderam sua majestade. E é isso que o faz perder o rumo, quer ver novamente aquele lindo olhar que foi lançado para ele na madrugada de uma truculenta noite. Mas não conseguiria se não encontrasse o pequeno Patrick.

Lê e relê artigos de jornais antigos da época dos assassinatos na casa dos Castrinni, atrás de nomes ou algo que pudera levar até suas suspeitas. Mesmo com um pé atrás, não conseguiu de maneira alguma um mandato para vasculhar a casa de Ester, pois o caso que envolve a jovem já havia sido resolvido, e como ela estava na delegacia com os Oliveira na noite dos assassinatos, não tinha nada para intimá-la. Porém algo diz para o delegado, existem coisas escondidas na casa da linda jovem.

Mathias dá um gole em seu café quente, aperta os olhos para a tela do notebook… Nada! Não consegue nada, aquilo o revira de cabeça para baixo. Sozinho no escritório ele tem pensamentos, lembra o motivo de ter virado um policial devoto há lei. Foi há dez anos, quando perdeu tudo o que tinha para bandidos.

Em uma noite chuvosa, levaram sua razão de viver. Jennifer sua filha e Olivia a esposa, mortas em um assalto. Um simples e “besta” assalto. Ele fecha os olhos e não consegue esquecer a expressão de ódio dos marginais, pedindo que ele entregasse o carro e tudo que tinha. Mesmo entregando seus pertencesses, os bandidos atiraram. Dois tiros no peito de Olivia, um na cabeça de Jennifer e um no peito dele mesmo. Um único sobrevivente, mas naquele momento, Mathias queria a morte. Não sabia como viver sem sua família. Por vingança entrou para a polícia, ele mesmo prenderia os bandidos que tiraram sua áurea. Mathias é um homem forte e destemido, mudou drasticamente o policiamento da pequena cidade. Em menos de um ano como delegado resolveu muitos casos e prendeu muitos delinquentes, inclusive os que queria prender.

Essa motivação o faz soar frio, não ficara em paz até achar o filho de Clara. Quer ajudar a moça, não quer vê-la passar por tudo que ele passou. Mas ainda precisa de uma coisa, apenas uma testemunha. Em meio ao seu devaneio, o seu celular vibra. Numero não salvo, quem poderia ser? Levou sua mão até o aparelho e coloca no modo de “alto-falante”.

— Alô, Delegado Mathias?

— Quem fala?

— Lucas Oliveira.

— Lucas? O que foi, aconteceu algo?

— Sim, preciso de você.

— Pode falar!

— Descobri verdades que jamais acharia possível. Ester realmente é culpada das mortes, seu irmão tá vivo. — Os olhos de Mathias lagrimejaram de surpresa, ele levanta da cadeira e vocifera, quase berrando.

— Como tem certeza?

— Não tenho totalmente certeza, por isso preciso de você. Sei que não pode entrar na casa dela sem mandato, seria uma invasão de domicílio, já que não tem como provarmos que ela está envolvida, mas temos que entrar lá.

— Não posso!

— Você é minha única esperança, se não entrarmos e descobrirmos que Edgar está vivo, meu irmão pode morrer e nunca mais veremos ele, por favor, me ajude. — A voz do delegado sucumbi em silêncio, Mathias pensa em tudo que acabara de lembrar, — papai — a voz de sua filha vem em seus ouvidos. Ele morde o lábio, aperta o punho e respira fundo.

— Tudo bem, vamos investigar, ninguém precisa saber, não é?

— Obrigado, muito obrigado. Tenho mais uma coisa para dizer.

— Me diga tudo que sabe.

— Sheyla filha de Lusia sabe de muita coisa e quer entrar com uma denúncia, está indo para a delegacia.

— Ótimo, diga para ela vir, terá uma recepção digna.

— Vamos entrar hoje, me encontre na minha casa as oito da noite. Vamos planejar um meio de tirar Ester de dentro da casa dela.

— Tudo bem. — Ele desliga a chamada.

Mathias parece decidido, no momento um homem adentra o escritório. Antes do policial dizer algo para o delegado, ele pega sua maleta, seus pertences e exclama.

— Vou ter que dar uma saída, e não sei se volto hoje. Fique responsável de responder meus e-mails e tudo que for necessário. — O jovem a sua frente pergunta:

— Mas onde vai, delegado?

— Confidencial, Oscar, confidencial. — Mathias pega a chave do carro, bate no peito do rapaz dando um sinal de adeus e some, deixando o jovem desavisado da situação.

**

O corpo pálido treme no ritmo do desespero. Os lábios roxeados balançam fazendo os dentes do garoto quase trincarem. O frio invade seu corpo magricela, a água podre tenta de todas as formas invadir suas feridas infeccionadas. Patrick encontra-se enjaulado junto com o corpo de uma mulher em estado avançado de decomposição. Medo, ele já não sente. Apenas dor, uma dor insuportável que não sai, pode ser psicológica ou vinda de seus ralados que ornam com sua pele fazendo parte do garoto. Sente saudades de sua mãe. Saudades de todos, e não entende o motivo de estar ali, apodrecendo junto com os pedaços de corpos. Já não tem mais voz de tanto gritar por ajuda. Sente fome, sede, vontade de vomitar... O odor de sua urina misturada com o apodrecer da carne dos cadáveres as vezes o faz desmaiar, talvez o único momento que tem paz. Quando está desacordado.

A cada barulho, Patrick entra em pânico, poderá ser o seu demônio em particular vindo “brincar” com ele, ou simplesmente alguém vindo salvá-lo. Mas a última opção fica apenas em esperança, sabe que será difícil encontrá-lo, nunca encontraram os corpos que estão ali, como achariam ele? Escutou passos, alguns ruídos estranhos quebrando o silêncio tenebroso que paira sobre o lugar. Em seguida o estrondoso som da passagem se abrindo. Patrick se encolhe no fundo da jaula, com lágrimas caindo de seus olhos fundos e abatidos.

Passos caem sobre a água rala do chão, sapatilhas delicadas são sujas. Canelas lisas e brancas misturam-se na podridão. Ester veste um vestido negro até seus joelhos com várias camadas deixando-o armado sobre suas pernas, os cabelos lisos soltos jogados sobre os ombros. Um batom extremamente vermelho e uma fina maquiagem destacando os olhos. Aqueles olhos que suspiram o medo e a crueldade. Ela segura um chicote, e a balança rindo.

— Querido, vamos brincar? — Ela agacha sobre a jaula e rindo histericamente, retira de seu vestido uma arma.

— Vai me matar? — Patrick soluça de medo.

— Claro que não. Seu irmão ainda vai te ver, só quero que saia dai e venha até meus braços, quero lhe dar um abraço bem forte.

— Não, você vai me machucar. — A doce voz da garota se transforma, agora berra com autoridade.

— Desgraçado, saia do fundo dessa maldita gaiola de ratos e venha aqui, se não quiser morrer e não ter a chance de ver sua mamãe e seu irmão. — Em prantos e tremendo o menino sai da gaiola, leva as mãos a cabeça com medo do que pode receber naquele lugar. Mas Ester aponta a arma e faz ele sentar em uma mesa.

— O que vai fazer?

— Bom, seu irmão logo vai encontrar você. E acho que está muito “inteirinho”, temos que chocar o Lucas, não concorda? — Patrick apenas chora, e Ester manda:

— Tira a sua camisa. — Ele balança a cabeça que não. Ela aproxima-se dele e dá um tapa no rosto do menino, ele soluça com suas lágrimas e faz o que ela manda. O corpo magro dele esta agredido pelos quase três dias sem comida, sua costela aparece entre a pele, e seu estômago desaparece. Ester guarda a arma e segura firme o chicote.

— Não me machuque.

— Vai gostar, agora vire de costas. — Patrick vira, Ester morde o lábio e dá um sutil sorriso de canto. Ergue o rosto para cima em estado de excitação, levanta o chicote de couro e com violência acerta a pele fraca do menino de doze anos.

— Ah, meu Deus, pare! — No exato momento da chicotada, um vergão vermelho é criado, e em poucos instantes o sangue escorre. Patrick cai no chão, chorando de dor. Ester fica fora de si e induz mais chicotadas no menino agora em todos os lugares do corpo, pois ele se mexe de um lado a outro no solo molhado.

As feridas são criadas nas pernas, braços, torço, pescoço, rosto, em todos os lugares de Patrick. Depois de vários movimentos, ela cansa e para. O pequeno geme de dor, mergulhado em seu próprio sangue, sem forças. Ela sorri e limpa o sangue que salpicou sua pele. Depois do mártires ela pega na perna do menino quase desacordado de dor, e o joga novamente na jaula.

— Fique ai! — Ele desmaia pelos ferimentos. Ela respira fundo e seu celular vibra. Mensagem de Lucas. “Me encontre em casa.” — O que aquele puto quer? Ele nem imagina que sei que teve a conversa com a maldita da Sheyla, mas vou fazer seu gosto, estou curiosa para saber o que ele vai me dizer.

Ester tranca o que prende o menino desmaiado e ferido. Deixa ele apodrecendo e desaparece do cubículo do inferno.

**

O veículo Toyota Hilux preto acelera de volta para casa, levando a família de Samantha. A menina ainda chora a morte de seus amigos, sua mãe encontra-se no banco da frente e o pai dirige. A mulher de cabelos impecáveis e grisalhos destacam-se em um rosto cheio de cirurgias plásticas. A exuberante Senhora Matilde mesmo naquela terrível situação mantinha uma face neutra, já o calvo Senhor Felix não tira os olhos da filha que em desespero não indaga uma palavra.

— Não quero voltar para casa, pai. — A senhora responde com uma voz firme.

— Sam, vamos mudar para a Europa, seu pai conseguiu ser transferido para lá, porém temos que manter a postura. Como vamos nos mudar assim, de repente?

— Mãe, ele matou eles na minha frente, naquela casa. — Ela berra, e o velhaco tenta acalmá-la.

— Filha, vamos passar apenas esse resto de semana, vamos tentar relaxar.

— Relaxar? Quando fecho os olhos eu vejo aquela máscara de ferro horrível, matando eles, matando eles. — Ela entra e desespero.

— Vamos procurar ajuda quando chegarmos em casa, você precisa descansar, ficamos o dia inteiro no cemitério, olha está anoitecendo.

— Não, eu sei que temos que sumir daqui.

— Bobagem, filha. — Os olhos de Sam percorrem o caminho junto com o carro em alta velocidade. Seu pensamento se desmorona junto com seu desespero em pensar naquela noite de terror. Sabe que não está segura, e seus pais não imaginam o que ela viveu.

A cada piscada um flash. Não consegue desviar o pensamento daquela escabrosa máscara, a violência que presenciou. Vitor, ele foi quem tinha salvado sua vida, queria ter dito para o garoto que gostava muito dele. Que vai sentir falta das bobagens e das brincadeiras. Porem não havia tido tempo de se despedir, de dar um adeus que seus amigos mereciam. Ela lembra de Érica, das conversas de melhores amigas, da diversão sem fim na época do ensino médio. E George, com seu jeito todo carente e ao mesmo tempo bruto, o que seria dela sem os três. Mesmo gostando de Anne, o sentimento que nutre pelos mortos é de mais. Foram com eles que ela compartilhou os melhores momentos, se pudesse voltar no tempo...

Sam começa lembrar de Ester, lembra de tudo que fez com a menina e fica agoniada, seus pelos arrepiam, ela não queria… Sabe que seu ego e sua vontade de ser superior faz seus atos subirem de mais, e sabe que não deveria ter mexido com a estranha de Santa Monica. Mas agora era tarde, por mais que o medo invadisse seu corpo, ela não sentia remorso, gostou do que fez. Entretanto pagaria por tudo, mesmo sabendo que a polícia não desconfia da ruiva, ela sabe que de alguma forma aquele homem é amigo de Ester.

A garota pega o celular e olha suas redes sociais. Muitas mensagens de força e apoio, e muitas mensagens de agressão. Alguns acham que foi errado o que a popular fez com a pobre Ester. E foi assim que Samantha continua seu caminho, sem saber que do lado de trás do carro na caçamba Edgar vinha escutando a conversa da família. Com sua faca, deslizando a lâmina como se estivesse dançando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem, agora deixem suas criticas :*