O Máscara escrita por MileFer


Capítulo 17
Qualquer Coisa


Notas iniciais do capítulo

Oioi meus anjinhos ♥

Esse capítulo é bem especialzinho por que foi escrito totalmente para acalmar o coração de vocês rsrsrs mas não garanto isso no próximo!

Enfim, mil beijos e muuuuuuuito obrigada pelos comentários carinhosos que vocês têm deixado para mim. Fico imensamente feliz em recebê-los!

♥ ♥



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Rafael sentia que caminhava sobre o chão que lhe levaria diretamente à morte.

Seu coração palpitava forte, ansioso para vê-la. Ele, por outro lado, sentia uma vertigem estranha tomar seu corpo, quase o obrigando a voltar. Se se deixasse abalar pela covardia outra vez, provavelmente magoaria Adélia e irritaria profundamente Fordy - se ele soubesse. Desde que interditara seu pai naquela tarde, o velho ainda não havia dado nenhum sinal de vida, exceto o de mandar uma criada para levar seu jantar.

Mesmo ela não lhe dando informação alguma, Rafael decidiu presumir que aquela mulher familiar estava lá a mando de Fordy, já que mais ninguém tinha autorização para ir lá. Ela entrou tão silenciosamente que Rafael quase se assustou ao se deparar com uma mulher magra e pequena colocando seu jantar sobre sua mesa.

Ficara tão irritado com a presença dela que gritou-a, ordenando que ela saísse. Bastou uma olhadela para seu rosto para que ele se arrependesse de ter sido tão estúpido. Era a criada de Adélia, e provavelmente a única funcionária que restara além de Fordy. Mesmo sem pedir desculpas, ele tentou se redimir sendo o mais educado que podia, dispensando-a após observá-la repousar um pedaço de papel ao lado de uma taça de vinho.

Não pôde ficar menos curioso, ainda mais com o olhar de cúmplice que ela o lançou, antes de se retirar. Ele afastou o desconforto que sentiu e correu para o bilhete, mais faminto por ele do que pelo próprio jantar.

Rafael,

Sinto-me imensamente grata por se preocupar com o meu bem-estar. E agora pelo bilhete que me mandara a pouco tempo, demonstrando isto. Sinto muito em informá-lo que não poderei sair hoje, mas ficaria feliz em vê-lo.

Por isso, convido-o formalmente a conversar comigo, no meu quarto. Se estiver disposto, é claro.

Atenciosamente,

Adélia Moretz.

Ele teve que reler algumas vezes aquele bilhete, e até sentou-se em sua poltrona por um momento, tentando assimilar o que estava escrito ali.

Ela estava agradecendo por um bilhete; mas qual? Não se lembrara de ter mandado bilhete algum para ela naquele dia, embora quisesse o ter feito.

Desejava saber como ela estava. Se ainda estava chorando ou se estava com raiva dele pelo o que acontecera. Será que ela o culparia?

Ele releu o bilhete; parecia escrito de forma doce, gentil. Não arrogante ou odiosa.

Mas o que ela queria conversar com ele, afinal? Se fosse para culpá-lo, ou se estivesse com raiva dele, ela não lhe escreveria um bilhete como aquele, certo? Provavelmente o estaria xingando nele, acusando-o.

Argh!

Ele não suportou a ideia de ser culpado por Adélia, embora sua consciência pesasse. Era ou não culpa dele? Se fosse, Adélia nunca mais iria querer falar com ele, embora já não falasse muito.

Rafael queria ajudá-la, queria vê-la naquele momento. Mas e ela? Queria vê-lo naquele momento?

Ela não especificara a hora, e aquilo deveria significar alguma coisa.

Se estiver disposto, é claro

Bem, ele estava muito disposto. Só queria saber dela. Se Adélia ainda estivesse muito irritada com ele… Aquilo lhe pareceu pouco importante quando decidira sair de seu quarto, meio frenético, para vê-la outra vez.

Queria que bater em sua porta também fosse pouco importante, ou menos agonizante. Estava ofegante por debaixo da máscara, embora mal houvesse corrido. Seu peito se apertava ainda mais contra suas costelas, e sua pele pinicava. Estava nervoso? Ele engoliu em seco, fechando os dedos em punho, pronto para bater.

Mas não conseguiu. Rafael não sabia explicar, mas sua mente lhe implorava para que ele voltasse. Mesmo não querendo se acovardar, ou mesmo sabendo que ela provavelmente estaria esperando por ele… Simplesmente não conseguia.

Era um covarde, um fugitivo. Era tão frouxo que quase desmontara naquele momento, quando a porta se abriu vagarosamente diante de seus olhos.

A mulher em sua frente o encarava fixamente, como se estivesse procurando algo nele. Não estava surpresa por vê-lo, mas algo em sua expressão fazia seu rosto se iluminar.

Nunca estiveram tão próximos assim, exceto há muito tempo atrás.

Depois de um momento de silêncio entre os dois, Jeniffer sussurrou:

—Ela estava esperando por você - ela disse, tentando manter a voz firme. Seu peito estava apertado. Ela mal conseguia ver seus olhos, mas sabia que eram iguais aos seus, e isso aumentou ainda mais a vontade de encará-los de perto. Ela deveria mandá-lo entrar, mas estava distraída demais com sua estatura. Ah, ele havia crescido tanto…

—E eu por ela.

Sua voz a distraiu, lembrando-a o que ela tinha que fazer. Ela assentiu e sorriu, tentando lhe mostrar que ela estava ali, com ele… Com eles. Mas Rafael passou por ela, apenas assentindo com a cabeça em forma de agradecimento.

Ela engoliu a bile em sua garganta, fechando a porta consigo. Antes de se afastar de ambos, para lhes dar privacidade o suficiente, Jeniffer lhe indicou o caminho até Adélia, que estava abraçada consigo mesma na varanda, enquanto murmurava algo para si.

Rafael parou no meio do caminho, observando-a por tempo suficiente para sentir vontade de desistir.

Adélia estava tão distraída em sua canção triste que mal notara a figura atrás de si, observando-a silenciosamente. Sentiu um gelo na espinha ao vê-lo parado ali, com sua forma sinistra. Ela procurou por Jeniffer, que estava atrás dele, sentada em uma poltrona enquanto lia um dos livros chatos de Adélia. Quando o olhar da mulher encontrou o dela, Adélia respirou um tanto aliviada. Bom, desta vez não estava sozinha, e se sentia um pouco mais segura.

Rafael sentiu-se um tanto idiota por ainda estar parado, então deu um passo à frente, e depois outro, em direção a Adélia, que o recebeu com um sorriso sem graça.

Ela estava tão simples, tão aparentemente leve que Rafael se sentiu mal por esperar encontrá-la ainda aos prantos. Usava um suéter branco e uma calça escura. Seus pés descalços estavam entrelaçados timidamente, e seus braços protegendo seu corpo da brisa fria. Seus cabelos estavam soltos, com algumas madeixas batendo em seu rosto sereno.

—Rafael - ela disse; sua voz soando tão mais suave do que a brisa que acariciava sua nuca - espero que não o esteja atrapalhando.

Ela brincou, ou pelo menos foi a sua intenção. Ele, por outro lado, negou em um gesto de cabeça tão ligeiro que Adélia perguntou a si mesma se ele o tinha feito.

Por mais que tivesse muita coisa para falar naquele momento, e quisesse muito fazê-lo, Adélia não sabia muito bem como. Desde que mandara aquele bilhete, até o fim da tarde, ela o esperou. Tanto que, quando anoitecera, ela já nem esperava vê-lo mais, pensando no motivo que o levara a rejeitá-la.

Talvez ele não a quisesse ver por que a culpava? Ou por que estava envergonhado?

Ela até pensara em mandar outro bilhete, anulando o convite do anterior. Poderia se desculpar e agradecer por inscrito, já que não se sentia obrigada a conversar com ele.

Mas então uma súbita sensação de frescor vinda das roupas que Jeniffer organizava com ela a fez recordar-se de algo. Dele, especificamente.

Adélia ainda se sentia um tanto envergonhada por tê-lo abraçado antes. Mas algo dentro de si queria mais daquela sensação.

Não era ele, e sim o que aquilo significou para ela.

Ela ainda podia sentir pequenos fios do que sentira mais cedo, lhe trazendo pequenas poções da paz que só sentiria se estivesse em casa.

Agora, encarando-o, Adélia já não tinha certeza do que sentira antes. Ele lhe parecia rígido, impenetrável outra vez. A máscara lhe causava pequenos tormentos, fazendo-a se lembrar de Adam e das coisas ruins que falara e fizera. Tanto que, por um momento, Adélia imaginou que talvez fosse ele por baixo dela, escondendo-se para machucá-la outra vez.

Perdida, ela desviou o olhar de Rafael para o céu acima dele, sentindo suas pernas tremerem. Ela agarrou o parapeito com tanta força que sentiu seus dedos perderem a cor.

Estava prestes a chorar? Ela não podia. Não podia simplesmente se deixar abalar por Adam outra vez. Ela era forte, certo?

—Adélia… - Se Rafael fosse esperto o suficiente, saberia como começar aquela conversa sem parecer tão entediante ou infortuno. Mal sabia como agir naquele momento, muito menos o que falar.

Ela, por outro lado, recusava-se a encará-lo, chegando até a fechar os olhos com força ao ouvi-lo falar seu nome.

Será que… Ela o estava culpando agora? Mostrando sua raiva?

Rafael recuou um pouco, hesitante.

—Eu sinto muito - ela disse, abrindo os olhos, mas sem encará-lo. - Pensei que conseguiria, que seria fácil, mas não é…

Rafael ficou confuso. Do que ela estava falando?

—Tente outra vez - ele murmurou, receoso. Era o que Fordy costumava lhe dizer, quando Rafael era pequeno e desistia de jogar xadrez com ele só por que perdia todas as vezes que tentava. Não lhe pareceu apropriado dizer aquilo, levando em conta o fato de que não fazia à menor ideia sobre o que ela estava falando.

Adélia respirou fundo várias vezes, antes de encará-lo outra vez.  Ela abriu e fechou os lábios várias vezes, até finalmente conseguir falar.

—Eu não consigo encará-lo agora - ela murmurou, resistindo ao máximo à vontade de desviar o olhar. Desejou não ter mandado o bilhete, e aquilo a fez se sentir culpada.  Sabia que ele era inocente em relação ao que acontecera naquele dia. Sem falar que não conseguia esquecer sua vulnerabilidade no encontro que tiveram a pouco tempo, quando ele a deixou sozinha no jardim. Ela quis culpá-lo por aquilo, e não por causa do que acontecera naquela tarde.

Mas por que era tão difícil assim? Não fora Rafael quem a machucara; na verdade, fora ele quem a salvara. Fora ele quem lhe dera aqueles pequenos fragmentos de paz…

—Está me culpando - era para ter soado uma pergunta, mas a aceitação fora mais rápida. Rafael sentiu sua garganta se fechar, e seu peito doer.

Mal podia acreditar. Não queria acreditar…  

Quando Adélia não respondera, ele sentiu seus lábios se contraírem em uma linha rígida.

—Você me lembra ele - ela sussurrou, tão baixinho que esperava que ele não escutasse.

Mas aquelas poucas palavras soaram como um tapa para Rafael. Ela o estava culpando e comparando-o com ele? Com Adam?

Ele semicerrou os olhos, irritado.

—Você não me conhece - disse, tentando manter a voz calma. Adélia franziu a testa e, antes que falasse algo, Rafael a interrompera. - Eu nunca machucaria você, Adélia. - Ela lhe lançou um olhar confuso, seus lábios tremendo como se estivesse prestes a chorar. - Eu não sou como ele.

—Então pare com isso - ela murmurou, com a voz embargada - e me deixe ir embora.

—Eu não posso - ele sussurrou ferozmente, resistindo à vontade de agarra-lhe os ombros.

—Por que não? - Ela exigiu saber, já com lágrimas nos olhos.

A mínima possibilidade de vê-la ir embora o embaraçava. Deixá-la ir sem que antes mostrasse o pouco que sentia… O deixava quase louco.

Mesmo conhecendo-a a tão pouco tempo, Rafael não poderia negar que havia alguns sentimentos armazenados por ela. Não queria que Adélia o odiasse; sentia-se completamente impotente quando a via; sentia-se rejeitado quando ela era dura com ele só para mantê-lo longe e, o pior de tudo, sentia-se um monstro por mantê-la ali, mas um covarde por não saber deixá-la partir.

No fundo, por mais que mostrasse o contrário, Rafael desejava que um dia Adélia retribuísse qualquer sentimento que não o fizesse se sentir amaldiçoado, por que acordara acreditando que talvez ela fosse a única que poderia entendê-lo em meio ao caos de que era formado.

Mas agora ela lhe implorava para que a deixasse partir. Que a deixasse…

—Você não entenderia - ele disse, assistindo sua expressão mudar de tristeza para algo mais sombrio. - Eu simplesmente não posso…

—Então me diga o por que— ela murmurou ferozmente, dando um passo em sua direção, ficando cara a cara com ele. - Está mentindo para mim. Mente o tempo todo…

—Eu não minto - ele defendeu-se, sentindo-se vergonhosamente vulnerável. - Eu não estou mentindo para você, minha bela… - Ele parou, fechando os olhos e gaguejando um pouco. Esperou que ela falasse algo, mas não o fez. Rafael abriu os olhos devagar, captando aos poucos a expressão confusa de Adélia.

Ela o encarava como se ele houvesse falado em outra língua, mas não fez nada. Ficou ali, um tanto chocada, ainda o encarando, esperando que continuasse.

—Eu não estou mentindo para você, Adélia— ele repetiu, cautelosamente. Adélia, por outro lado, ainda continuava com a mesma expressão confusa, mas decidida a não encará-lo.

Rafael esperou um pouco, assistindo-a fechar os olhos e morder os lábios.  Estava negando-o naquele momento, fazendo-o se sentir mal. Talvez não fosse a intenção dela, mas Rafael não conseguia evitar se sentir mal ao ser tratado daquela maneira.

—Adélia, você poderia… - ele pediu, quieto. - Poderia me encarar por um momento, por favor?

Adélia hesitou, mas assim o fez. Não havia nada ali que a surpreendera, nenhuma expressão. Apenas uma máscara lisa, dura e assustadora refletindo seu rosto.

—Você pode me contar o que quiser e vou ouvi-la. Pode me pedir qualquer coisa que eu farei o que estiver ao meu alcance - ele parou, fechando os olhos por um momento. Depois de uma pausa e de muito hesitar, Rafael esticou seu braço cautelosamente, em direção a ela, que o encarava fixamente.  Ele tocou sua mão direita espalmada no parapeito, roçando seus dedos enluvados nos dedos nus dela. Depois, vendo que ela não resistiria, ele se permitiu cobrir sua mão com a dele, fazendo o mesmo com a esquerda. - Você pode ser minha melhor amiga também.

— E o que eu não posso? - Sua pergunta o surpreendera. Ela não parecia mais prestes a chorar.

Adélia também retribuiu ao seu toque, pressionando sua palma na mão dele.

Rafael lançou um olhar para suas mãos entrelaçadas, pensando por um momento.

—Você não pode me pedir para deixá-la partir… - Ele observou sua expressão se fechar e endurecer, como se ele a tivesse ofendido. - Sem antes me dar uma chance de prová-la que posso ser melhor do que você pensa.

Os lábios dela se entreabriram, e seus olhos piscaram freneticamente. Ela desejou poder se esconder naquele momento, principalmente por que suas bochechas arderam, ficando coradas. Ele parecia ocupado demais encarando suas mãos juntas para notar seu rosto vermelho, o que deu-lhe um súbito alívio.

Tempo suficiente para ela lançar uma olhadela para Jeniffer, que parecia entretida no livro. Percebendo o olhar insistente da garota, Jeniffer o retribuíra apenas com uma piscadela, para não incomodá-los demais.

Adélia fechou os olhos e inspirou com força, sentindo um leve frescor no ar. Aquele frescor

Ela lembrou-se dele desta vez, e não de seu pai. Lembrou-se do alívio que sentira, da necessidade de segurança que fora saciada quando enlaçou-o com seus braços, trazendo seu corpo para junto ao seu em um abraço desesperado.

Adélia sentiu, pela primeira vez desde que acordara ali, desde que o vira, um pouco de si mesma. Do que era sua vida antes de ir parar lá, antes de Adam, ou antes, de Rafael.

— Então é só isso o que quer? - Ela perguntou, suavemente. - Que eu fique para que você possa provar que pode ser melhor do que está sendo agora?

—Não é só isso… - Ele respondeu, com um tom de voz envergonhado. Rafael sentiu-se um tanto patético naquele momento. - Adélia, admito que nem o meu melhor poderá fazê-la ficar.

Adélia assentiu, pois tinha que concordar com ele.

—Aqui não é o meu lugar, Rafael - ela confessou, sentindo-se um tanto mal por admitir aquilo para ele. Rafael poderia ter crescido ali, mas Adélia não. Não estava acostumada aquela vida de confinamento redobrado - muito embora não fosse tão diferente assim no Instituto Florence. Lá pelo menos ela tinha amigas, poderia telefonar para os pais e ainda se divertia. Ali, com ele, tudo o que Adélia sentia era medo, saudades de casa e um tédio tenebroso, fazendo-a odiar quase tudo ao redor.

Como podia se sentir em casa daquela maneira?

Graças aquele pensamento, ela já não sentia o fragmento de paz que outrora a fizera se sentir bem.

Você não entende - ela continuou, tentando se explicar sem parecer rude ou indiferente. - Não somos compatíveis. Você vive aqui a mais tempo do que eu, cercado por tudo isso - ela indicou o jardim e o mundo além dele com um gesto de cabeça. - Eu… Eu era livre.

Aquele sentimento de impotência a invadiu de novo. Era um sentimento que lhe causava calafrios, um vazio profundo que a fazia se sentir tão leve que poderia desabar com qualquer coisa.

Adélia se perguntou como poderia mudar tão rápido de sentimento. A um segundo atrás, estava sentindo-se bem o suficiente para não desabar, mas agora tudo o que queria era que Rafael fosse embora. E Jeniffer também.

Estava prestes a mandá-lo embora quando Rafael apertou suas mãos entre as deles, esquentando-as sem ter noção.

—Não a culpo por isso - ele disse, afagando seus dedos. - Por querer ir embora. Por me odiar…

—Eu não o odeio - ela rebateu, interrompendo-o. - Eu só… Você me deixa desconfortável na maioria das vezes. E tenho certeza que não reajo bem a isso.

Ela lembrou-se de cada momento em que havia sido rude com ele, só para se defender. O que poderia fazer?

—Não a culpo por isso também.

Adélia encarou seus olhos, quase escondidos. Eram tão claros que quase se sobressaíam sob a máscara, mesmo à meia luz que vinha do quarto. Eram absolutamente expressivos, como se tentassem dizer algo que sua boca não conseguia.

Adélia sentiu pena dele. Se ela estava em uma situação ruim…

—Sinto muita saudade casa – ela confessou para ele, suspirando. Adélia aproveitou aquele silêncio para respirar um pouco e tentar relaxar a mente, mesmo estando na presença dele. Depois de um tempo, ela continuou um pouco mais determinada: - Dê-me uma chance para falar com meus pais. Um telefone, uma breve mensagem... – Ela engoliu em seco, encarando seus olhos. – Qualquer coisa.

Pode me pedir qualquer coisa que eu farei o que estiver ao meu alcance— fora o que dissera para convencê-la. E agora tinha a chance de lhe provar aquilo, embora não fizesse à menor ideia de como faria.

—Qualquer coisa – ele respondera-a, retribuindo seu olhar. Rafael assistiu, um tanto encantado, enquanto um sorriso de agradecimento iluminava o rosto de Adélia. Ela mal podia acreditar...

—Está falando sério? – Ela sussurrou, arfante. Queria gritar com a alegria que sentiu quando ele assentiu vagarosamente.

Adélia ficou encarando-o por um momento, em especial seus olhos. A pouca luz que vinha do quarto não era o suficiente para que ela os encarasse de fato; tudo o que via eram as sombras claras de suas íris e um leve franzido em suas pálpebras, como se estivesse semicerrando-os.

 

Você pode ser minha melhor amiga também.

 

Adélia desvencilhou-se do toque de suas mãos, afastando-as apenas para ter espaço o suficiente para passar entre seus braços e chegar até seu peito. Ela enlaçou seus braços ao redor dele, desta vez um tanto mais cautelosa. Adélia sentiu uma brisa fria dançar por sua nuca quando ele tocou suas costas com as pontas dos dedos, primeiramente, para depois espalmar suas mãos sobre ela.

Por principio, aquela era sua melhor forma de lhe agradecer, mas o simples gesto de abraçá-lo por estar se sentindo feliz fez uma sensação estranha percorrer seu corpo.

Aquela sensação lhe era familiar. Não era o alívio que sentira como da primeira vez, ou a paz; era como uma linha tênue que a percorria desde os calcanhares até onde as mãos dele estavam repousadas. Era como um leve arrepio insistente, frio, mas... Reconfortante. Como se estar nos braços dele fosse a coisa certa a se fazer naquele momento.

Adélia fechou os olhos e, quando tornou a abri-los, captou o olhar penetrante de Jeniffer sobre ela. A mulher a encarava por cima do livro, sendo visível apenas seus olhos. Não parecia chocada, surpresa, ou que a estava advertindo. Estava apenas encarando-a, assistindo àquilo tudo de forma neutra, mas intensa. Tão intensa que deixou Adélia desconfortável, como se ela estivesse fazendo algo “meio” errado.

Constrangida, ela afastou-se de Rafael e, sem jeito, tentou encará-lo. Mas agora estava envergonhada demais.

— A princípio – ela sussurrou, encarando seus pés descalços ao invés de encará-lo – eu queria te agradecer por... – ela engoliu em seco, recordando-se da ardência no braço, onde Adam a agarrara. – Você sabe. Por me salvar.

Ela riu um pouco, tentando afastar o constrangimento. Mas Rafael não esboçou nem mesmo um sorriso por debaixo da máscara.

Não tinha visto o ato por aquele lado, onde ela o via como herói. O ódio que sentira pelo pai no momento havia cegado-o de tal maneira que mal recordava muito bem suas atitudes. Lembrava-se apenas do desconforto que sentira quando Adélia o abraçara, ou do momento em que desabara depois de deixá-la em segurança no quarto.

Rafael a encarou por um momento, captando um pouco da vermelhidão de suas bochechas. Estava envergonhada por tê-lo abraçado? Ele também estava um pouco, embora muito mais petrificado.

Ele deixou que suas mãos escorregassem até seu antebraço, os quais Rafael segurou com delicadeza.

—Por nada, Adélia – ele sussurrou, fixando no fundo de sua mente o sorriso doce e envergonhado que ela dera em seguida.


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