Narrado por: um vampiro irritado

            Eu estava dirigindo para a casa da Mizi. Tinha acabado de amanhecer e ela estava no banco do carona dormindo. Depois da noite do encontro dela, eu pensei que as coisas seriam diferente e que talvez ele me tratasse de um jeito diferente. Bem algumas coisas estavam diferente pra mim, embora eu lutasse pra que esse desejo não começasse nem a nascer dentro de mim. Mizi era minha amiga, não podia ser nada além disso, eu não deveria me deixar levar por expectativas idiotas. Mas parece que para ela aquilo não significou nada, ela ainda sorria pra mim, ainda brigava comigo, ainda queria minha companhia, ainda me divertia com seu jeito insano.

            - Que cara é essa Heid? – ela disse de repente com a voz carregada.

            - Nada – eu respondi sem olha-lá.

            - Diga! – ela me olhou de lado.

            - É que... Mizi, ultimamente você só dorme. Toda vez que está comigo está dormindo.

            - É claro... essa vida dupla me deixa muito cansada. – ela bocejou, como que para comprovar o que tinha acabado de dizer.

            - E não tem como você ficar só m pouco mais de tempo acordada não? As vezes... bem algumas vezes parece que eu até sinto sua falta.

            - Desculpe Heid...

            - Não me peça desculpas...

            - Ei – ela me interrompeu – eu estava sendo irônica. Desculpe-me por não ser uma vampira perfeita que pode ficar com você 24/7

            - O que é 24/7???

            - 24 horas por dia... 7 dias por semana!

            - E Mizi... que papo é esse de vampira?

            - Deixa pra lá Heiderick!!!

            Chegamos perto da casa dela, onde eu sempre a deixava, na esquina da rua para que seus pais não dessem por conta do carro e ela foi irritadinha pra cama dormir mais um pouco. Eu dirigi pela cidade, a luz do crepúsculo matutino cobrindo tudo. Acabei parando em um bar – um bar humano e normal

            - Quer um drink rapaz? – o homem que servia atrás do balcão ofereceu. Era um homem gordo, mas de aparência jovem.

            - O que você me sugere? – perguntei desanimado, fosse o que fosse nem mesmo me embriagar eu podia.

            - Um Cawboy!

            - Vou aceitar este então.

            Aceitei a bebida, e fiquei mexendo-a no copo, sem nenhuma intenção de tocar nela. Bebidas humanas não tentam meu paladar e só fazem mal ao meu corpo. Uma mulher se sentou ao meu lado, era humana.

            Eu sabia que ela estava me ‘dando mole’, e pude sentir o cheiro doce e sedutor que vinha dela. Um cheiro que misturava flores, provavelmente de algum perfume caro, misturado ao cheiro quente de seu sangue. Primeiramente eu pensei em convida-la para o meu apartamento, com serias intenções de leva-la lá (nem preciso dizer pra quê né?!!) Depois, eu quis convida-la sem inteções de leva-la (tenho certeza que também não preciso dizer pra quê!!!). Sabe o que eu acabei fazendo? Fui pra casa, sozinho, detei no meu caixão e dormi a tarde inteira. Bem, não é bem dormir no sentido literal, é ficar lá, se excluindo, apenas deitado descansando o corpo, sentindo o sangue que não corre mais se esvair em cada respiração, ir embora devagar, é não pensar nem sentir nada. Um vampiro poderia ficar anos nessa condição.

            Lá, na escuridão do meu caixão eu pensei na Mizi. Miziara. O nome que não mais abandonava minha mente. Acho que os humanos chamam isso de sonhar.