Adaptação escrita por paular_GTJ


Capítulo 2
ACIDENTE


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Meu nome é Samanta Abott. Samy para os mais intimos. Brega? Talvez, mas esse sempre foi meu apelido, desde que eu me conheço por gente. Hoje eu tenho dezessete anos e sou... Diferente.

 

Minha vida não foi nenhum conto de fadas, apesar de agora ter um pouco de fantasia e surrealismo. Eu faço parte de um mundo que até onde o bom senso vai, não existe.

 

Eu vivo em um mundo normal, com pessoas normais, que não sabem da existência desse mundo mágico e completamente bizzaro. Por muitas vezes eu senti inveja dessas pessoas, e me perguntava porquê logo EU fui escolhida para fazer parte disso!

 

Eu sempre me achei meio deslocada, como se eu não me encaixasse com nada, mas não era como se eu estivesse pedindo para virar, ahm... anormal? Acho que essa palavra é um pouco forte, mas talvez precisa.

 

Para deixar tudo mais claro é melhor eu começar do começo. Então vamos voltar alguns anos no tempo, mais precisamente há cinco...

 

 

 

CINCO ANOS ATRÁS.

 

 

Meu mundo caiu. Eu não sabia mais onde estava, com quem estava, ou o que estava fazendo. Eu não sabia nem quem eu era. Apenas continuei fixando meus olhos na tela da televisão, imóvel, quase sem respirar, não acreditando no que meus olhos viam.

 

- "Um acidente mata três pessoas agora a pouco, aqui em New York..." - a repórter das “Notícias Agora" anunciou, despertando meu interesse imediato, e me fazendo erguer os olhos para o aparelho.

 

Fiquei nesse estado imóvel quando reconheci a foto das três pessoas do acidente. Meu pai, minha mãe e minha irmã.

 

Eu estava na casa da minha tia, jogando um joguinho chato com minhas primas apenas para matar o tempo. Eu passei o final de semana aqui com elas, enquanto minha irmã estava na praia com os amigos, e meus pais viajaram para visitar uns parentes distantes.

 

Eles haviam ido buscá-la, e agora estavam indo me buscar, havia recebido um telefone deles dizendo-me que estavam chegando daqui há uma hora, e eu deveria ficar pronta.

 

Eu simplesmente não acreditava no que via. Não era possível. Era um sonho, tinha que ser um sonho, ou melhor, um pesadelo. Não sei em que momento as lágrimas vieram, mas quando voltei à realidade, e senti os braços de minha tia amada envolver-me, meu rosto já estava completamente encharcado.

 

O telefone tocou, e meu tio correu para atender. Estavam todos na sala agora, todos em aparente transe, apenas minha tia chorava silenciosamente me abraçando, e com os olhos na TV, do mesmo modo que eu.

 

- Sim, sim... ok, estamos indo! - meu tio falou ao telefone antes de desligar, e se virar para encarar sua mulher.

 

Eles começaram a conversar sobre o que fazer agora, porém eu não queria ouvir nada daquilo. Uma dor enorme começou a me corroer, uma dor que eu não sabia que era possível uma pessoa sentir. Sentei no sofá com as mãos no rosto. Por quê? Por que comigo? Por que agora? Era só isso que eu me perguntava.

 

O telefone não parou de tocar depois que meu tio o desligou. As pessoas queriam falar comigo, dar-me os pezames, contudo eu fazia sinal que eu não iria conversar com ninguém agora. Eu não havia falado uma única palavra desde a notícia. Minha voz talvez não existisse mais, mas não estava com vontade de averiguar, de qualquer modo.

 

(...)

 

Aqueles foram de longe os piores dias da minha vida. Eu nunca havia ido em um velório, nem à um enterro de alguém conhecido antes. E aquele, com certeza, foi o pior que eu podia ter ido.

 

Nunca me deixavam sozinha. Meus tios, avós, primas, amigos estavam sempre me abraçando, e prometendo que aquela dor iria passar, que eu deveria ser forte e supertar aquilo com bravura. Mas como? Como preencher esse vazio tão grande em meu peito solitário?

 

Meu pai tinha uma irmã que morava em Forks, uma cidadezinha chuvosa de Washington. Sua casa ficava no meio de uma divisa de com uma praia chamada La Plush.

 

Meu pai morou lá antes de vir para cá, e conhecer minha mãe. Eu tinha algumas fotos naquele lugar de quando era mais criança, porém não lembrava de minha tia e muito menos da praia.

 

No entanto, quando me viu, minha tia, surpreendentemente, me reconheceu.

 

- Samanta, querida! - ela deu um meio sorriso que não chegava a seus olhos, muito vermelhos por sinal - Como você cresceu! Acho que nem lembra mais de mim, não é?

 

Neguei com a cabeça singelamente. Não falava mais do que o necessário nesses últimos dias. Pronunciar palavras em voz alta me causava dor.

 

Estávamos na casa da minha avó, e agora fazia uma semana do acidente. E, para variar, a casa sempre estava lotada. Aquilo estava começando a me perturbar um pouco. Será que ficar um pouco sozinha é pedir muito?

 

- Meu nome é Ingrid - ela sentou do meu lado - Sua tia... Eu sinto muito querida! - comentou ao ver que eu não estava muito atenta à conversa - Mas sabe, isso passa. É claro que não será logo, mas você tem que acreditar nisso.

 

Respirei fundo e não respondi. Era só isso que eu escutava ultimamente, mas eles não entendiam realmente a minha dor, não é? Como era possível que a dor e a perda de um pai, uma mãe e uma irmã posso passar um dia? Impossível.

 

- Eu sei que você deve estar pensando que isso são apenas palavras, não é?

 

Não respondi de novo, apenas encarei minhas mãos, e tentei controlar as lágrimas para não virem de novo. Como era possível que eu ainda as tivesse? Passei a maior parte do tempo chorando nos últimos dias. Será que eu nunca iria secar? Minha cabeça doía um pouco por causa do choro!

 

- Eu passei por isso também, querida! - Ingrid falou depois de um tempo em silêncio monótono.

 

Eu a olhei pela primeira vez. Ela era muito parecida com meu pai, e isso fez o buraco no meu peito doer ainda mais. Desviei o olhar do dela, de volta para as minhas mãos.

 

- Não todos de uma vez! - sussurrei com a voz fraca e rouca. Refleti se minha voz iria desaparecer por falta de uso, mas não me importava.

 

- Sim, todos de uma vez! Seu pai nunca lhe contou que nós tínhamos outro irmão?

 

Arrisquei um olhar para ela novamente. Ingrid tinha os olhos um pouco desfocados, possivelmente revivendo o passado. Ela respirou fundo e me olhou, deu um meio sorriso triste e continuou.

 

- A dor é horrível, parece que nunca irá passar. As pessoas ficam dizendo-lhe que deve ser forte e aceitar, mas como, não é? Como ser forte se tudo que você mais quer é se juntar a eles? Aceitar se você não entende o por que disso estar acontecendo justo com você?!

 

Continuei olhando-a, agora espantada. Ela estava descrevendo exatamente o que eu sentia. Ela, de fato, me entendia. Não era como os outros que diziam 'eu sei como você se sente' apenas para tentar te consolar.

 

- O que você fez? - questionei tão baixo que ela podia não ter ouvido.

 

- Fui embora. - deu de ombros - Ficar aqui era insuportável. Seu pai também achou uma boa idéia, e assim nós nos mudamos com nossos avós para Forks. Lá não havia lembranças, e nem recordações. Apesar de ter sido lá em que meu pai e minha mãe nasceram e foram criados, eles se mudaram logo para cá, e na verdade fomos criados com eles até o dia do... bem, sabe. - suspirou.

 

- Mas meu pai voltou! - franzi a testa.

 

- Verdade! Depois de muitos anos ele resolveu voltar, e finalmente enfrentar o passado. Foi então que conheceu sua mãe. Acho que ele passou a encarar a cidade um pouco melhor depois disso. - ela sorriu um pouco olhando o chão.

 

Concordei uma vez, não sabia o que falar. E com certeza, falar dos meus pais não era muito fácil agora. Entretanto aquela ideia era um tanto atraente para mim. Sair deste mar de lembranças podia me fazer bem, talvez.

 

Não sabia como ficaria minha guarda agora, talvez com meus avós, mas a ideia de permanecer aqui com eles, com essas lembranças diárias não me agradava nem um pouco.

 

Perguntei-me se poderia ficar com Ingrid, apesar de não conhecê-la bem, com certeza ela poderia me ajudar, uma vez que passou pelo mesmo quando era menor.

 

- É uma boa idéia! - concordei por fim.

 

Ingrid me olhou por um momento, talvez se perguntando se eu estava falando com ela, ou comigo mesmo - pelo meu tom de voz tão baixo.

 

- Sair daqui - expliquei a encarando - Seria uma boa ideia!

 

A mulher abriu um sorriso um pouco mais alegre do que todos os outros que ela dera naquele dia.

 

- Oh querida, se você quiser ficar comigo, acho que pode ajudá-la nesse momento. Depois, se você quiser voltar quando achar que está melhor...

 

- Sim - concordei de imediato.

 

- Falarei com sua tia, e cuidarei da sua guarda, tudo bem? - ela parecia feliz, como se fosse tudo que ela quisesse-me "adotar".

 

Pensar nisso me doeu um pouco, eu era uma órfã agora.

 

Ingrid começou a me contar sobre Forks, sobre seu trabalho, sobre as escolas e tudo que havia por lá. Tudo parecia bem monótono e entediante, uma cidade pequena com poucos habitantes e fria. Afastei esse pensamento rapidamente, afinal, esta poderia ser minha chance para recomeçar minha vida.

 

Eu tinha apenas doze anos, mas nada seria igual agora, e viver aqui onde as lembranças e recordações estavam em todos os cantos não seria nada saudável.

 

Ingrid me fez chamá-la de tia, e eu já estava começando a gostar dela. Ela era bem parecida com meu pai, tanto fisicamente quanto na personalidade. Acredito - e espero - que nos daremos muito bem.

 

(...)

 

Quando acordei no dia seguinte, minha avó veio conversar comigo sobre essa ideia mirabolante que eu estava tendo. Pediu se eu queria realmente sair daqui, e se fosse o caso ela não me impediria. Fiquei mais aliviada com isso, achei que minha avó não permitiria que eu fosse embora, e me obrigasse a permanecer ali com ela.

 

Minha guarda passaria para Ingrid, e ela já me ligara pedindo minhas cores preferidas para pintar o meu novo quarto. Falou, inclusive, que já estava providenciando minha matrícula no meu novo colégio.

 

Eu estava em época de férias, e com isso, eu não chegaria no meio do ano letivo na escola de lá. Outra coisa boa seria essa mudança. Novas pessoas, novos colegas, e novos amigos.

 

Acho que não suportaria a ideia de enfrentar olhares de pena por todos os cantos da escola. Eu iria sentir falta dos meus amigos, mas na verdade eles não eram muito próximos de mim para que isso me fizesse sentir presa aqui.

 

Depois de dois meses estava tudo resolvido. Minhas malas estavam prontas, o documento da minha nova guarda também, e agora eu estava em um avião, com Ingrid do meu lado, rumando para minha mais nova casa.

 

Era estranho estar indo embora. Mas esses meses que se passaram me fizeram ter certeza que eu estava fazendo a coisa certa. Era torturante ficar naquela cidade, cheia de lembranças.

 

Suspirei fundo, e fechei os olhos refletindo sobre as voltas que a vida dá e como tudo mudou em apenas dois meses. Eu teria simplesmente que me adaptar.

 

Naquele momento, eu não fazia idéia de como minha vida mudaria ainda mais...


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