Tris

Era quase dez horas da manhã quando eu e Tobias passamos pela porta da clínica de ultrassonografia. Ele segurava a minha mão, que estava um pouco suada. Eu estava nervosa pra saber qual seria o sexo das crianças.

Zeke e Shauna estavam jogados em um dos sofás da sala de recepção. Eles tinham mandado mensagem, avisando que viriam aqui para, pelo menos, estarem presentes nesse momento. Os dois realmente estavam quase tão ansiosos quanto eu e Tobias.

— Graças a Deus vocês chegaram — Shauna diz, se levantando do sofá e me dando um abraço — Já estava começando a acha que vocês tinham desistido de saber o sexo das crianças e iam começar com aquela palhaça de surpresa pra quando os bebês nascerem — Ela faz uma pausa e respira rapidamente — Eu já estava mandando Zeke ligar pra Tobias e mandar vocês chegarem logo porque eu estou nervosa.

— Shauna, respira — Eu digo, rindo. Shauna era muito descontrolada e nervosa, o que as vezes chegava a ser cômico. Ela era muito mais ansiosa do que eu era e se não fosse a minha barriga que estava começando a ficar enorme, as pessoas achariam que ela que estava grávida.

A secretária da clínica nos avisa que eu breve faremos um exame. Shauna e Zeke voltam a se jogar no sofá e Tobias se senta no outro sofá. Eu, ao invés de me sentar ao seu lado, aviso que vou ao banheiro. Desde de o início da gravidez, eu estava indo muito ao banheiro, o que eu achava extremamente inconveniente.

Vou no banheiro, lavo as minhas mãos e depois encaro o meu reflexo no espelho. Respiro fundo, tentando fazer com que todo o meu nervosismo deixe o meu corpo.

Volto para a sala de espera e me sento ao lado de Tobias, que passa seu braço pelos meus ombros, me puxando para mais perto dele. Eu encosto minha cabeça em seu peito.

— Vocês querem o quê? — Zeke pergunta, sorrindo pra nós dois e dando um beijo em Shauna em seguida.

— Eu não sei — Tobias diz, rindo — O que vier vai ser sensacional. Dois meninos, duas meninas, um casal — Ele da de ombros — Tanto faz. Eu só quero muito saber.

— Eu também não tenho uma preferência — Eu digo, rindo — Só quero entrar naquela sala logo, porque eu tô muito curiosa pra saber — Tobias dá um beijo na minha testa e em seguida dá uma risada.

Alguns minutos depois nós somos instruídos a ir pra a sala do médico, para fazer o exame. Eu respiro fundo e entro no local segurando a mão de Tobias. Shauna e Zeke nos acompanham. Nem eles tinham muitas palavras nesse momento. Acho que o que todos nós queríamos, na verdade, era saber isso logo e poder realmente a pensar em nomes e em como seria a carinha dos bebês.

O médico começa uma conversinha fiada e a minha vontade é de mandá-lo calar a boca e começar o exame logo. As pessoas adoravam enrolar e isso me tirava do sério profundamente.

— Então vamos lá descobrir se vão ser meninos, meninas ou um casal — Ele diz se levantando da cadeira e eu sufoco a minha vontade de dizer um “finalmente” em voz alta. Tobias olha pra mim e sorri. Eu sorrio de volta. Era impossível ficar de mau humor quando ele sorria dessa forma.

Eu me deito no lugar indicado e fito os olhos de Tobias, que está sentado ao meu lado. Shauna e Zeke observam em silêncio, mas também me parecem ansiosos.

— Eu não aguento mais esse silêncio — Shauna diz, fazendo Zeke dar uma risada — Alguém inventa um assunto, pelo amor de Deus. Até parece que isso é um velório e não a ultrassom dos meus afilhados — Ela começa a andar de um lado pro outro, e eu dou uma gargalhada.

Shauna tinha o dom de fazem qualquer ambiente ficam engraçado. Ela não era muito de medir palavras, o que fazia com que eu gostasse mais ainda dela.

— Deixa eu pensar meu repertório de assuntos pendentes — Zeke diz, franzindo a testa — O jogo dos Lakers ontem. Uriah provavelmente está namorando mas não quer me contar com quem. Shauna tem alergia a frutos do mar e teve reação alérgica ontem.

— Desde quando você tem alergia a frutos do mar? — Eu pergunto, franzindo as sobrancelhas. Nós já tínhamos comido frutos do mar várias vezes juntas e ela nunca tinha tido problema.

— Desde que comecei a namorar Zeke, aparentemente — Ela diz, suspirando e fazendo uma careta pro namorado.

— Passando mal com comida? Disso eu entendo. O nome disso é gravidez — Tobias diz, dando uma risada — Tris passava mal até com café, que é carro chefe da base alimentar dela. Eu se fosse você dava uma checada, Shau.

— Só as duas crianças de vocês são o suficiente na minha vida — Shauna responde, batendo três vezes na mesinha de madeira — Eu não quero filho pra chamar de meu não. Pelo menos não agora.

— Um mini Zeke seria um pesadelo, realmente — Tobias fala, fazendo com que Zeke desse um tapa na cabeça dele.

— Algumas pessoas desenvolvem alergias com o passar do tempo — Eu digo, rindo — Shauna conseguiu a proeza de ser uma delas. Parabéns, amiga. Você acabou de acabar com todas as nossas futuras idas aos restaurantes de frutos do mar.

Shauna ia me dar uma resposta, mas o médico chama a nossa atenção e aponta para um ponto no monitor. Eu confesso que nunca via nada nos monitores. Pra mim era só um borrão em preto e branco. Me abstenho de fazer esse comentário em voz alta. Era bem capaz do doutor começar a me explicar o que era o que e enrolar pra dizer o sexo das crianças.

— Parabéns mamãe, parabéns papai — O doutor diz, olhando de mim para Tobias e sorrindo — Vocês terão dois meninos.

Eu dou um sorriso e Tobias me dá um beijo em seguida. Caramba. Dois meninos. Eu já podia imaginar o alto nível de hiperatividade que eu  teria pela frente. Zeke comemora como se os Bulls estivessem acabado de ganhar um campeonato e Shauna manda ele abaixar o tom da voz, já que ele estava dentro de um consultório médico.

— Tris, você está saudável e as crianças também — Ele continua a falar — Vou escrever uma receita para caso de você começar a ter dores fortes nas costas. O peso das crianças pode causar isso — Ele concordo com a cabeça e me levanto da cama de exames, me dirigindo ao banheiro em seguida.

Tobias me dá um abraço forte assim que eu deixo o banheiro e me jogo em seus braços.

— Você tem alguma noção de como vai ser ter três homens em casa? — Ele pergunta, dando uma risada e me fazendo rir.

— Ainda bem que eu não sou apegada a bens materiais — Eu digo, já imaginando as coisas que seriam quebradas por conta de correria, brincadeira com bola e discussões encaloradas — Nem ligo muito para coisas bagunçadas — Eu digo, rindo. Tobias era muito mais organizado do que eu — E melhor ainda, eu sou a rainha da casa e mando em tudo.

— Definitivamente — Ele responde, me dando um beijo. Shauna e Zeke me abraçam em seguida.

Nós nos despedimos do médico, que me entrega a receita com os remédios indicados, e caminhamos vagarosamente para o estacionamento da clínica.

— Já sei — Shauna diz, olhando o relógio — São quase onze da manhã, o que significa que vocês dois não vão voltar pra empresa antes do almoço — Ela respira fundo — Nós podíamos ir ao shopping e começar a compra do enxoval — Ela bate palmas — Depois almoçamos por lá e todo mundo fica feliz.

— De acordo — Eu digo, rindo. Tentar negar compras para Shauna seria causar uma dor de cabeça desnecessária na gente, sem contar que eu também queria comprar alguma coisa para as crianças. Começar a montar o guarda roupa delas ou até mesmo o quarto era maio que firmar que isso ia acontecer e que estava dando certo.

E eu precisava de coisas que dessem certo para continuar firme. Eu sempre fui o tipo de pessoa que não sabe lidar com coisas que não consegue controlar e saber que agora eu podia controlar o que comprar, como comprar e pra quem comprar, me deixava com a cabeça muito mais segura.

Nós combinamos qual shopping ir e eu ando em direção ao carro de Tobias. Zeke e Shauna se dirigem para o carro deles. Tobias abre a porta pra mim e me ajuda a entrar. Em seguida ele dá a volta e entra pela porta do motorista e da partida no carro.

— Como você está? — Ele pergunta, sorrindo pra mim e fazendo carinho no meu rosto.

— Feliz — Eu respondo sinceramente — E ansiosa — Eu acrescento e ele concorda.

— Bate aquela vontade imensa de pular os próximos cinco meses só pra descobrir como vai ser a carinha deles, né? — Ele pergunta, sorrindo novamente. Eu concordo com a cabeça — Eu queria que eles tivessem seus olhos. São lindo.

— Se eles se parecerem com você será perfeito — Eu digo, dando um sorriso pra ele — Dois mini Tobias seria o sonho da minha vida. E provavelmente o terror dela quando eles crescerem. Imagina quando me apresentarem as minhas futuras noras — Eu digo, dando uma risada e me sentindo meio atônita. Eu não queria pensar que eles iam crescer.

— Antes de focar nas crianças virando adolescentes, eu acho que eu devo te informar que eu era o projeto de capeta quando era criança, então se prepara se eles forem iguais a mim — Ele diz, dando risada — Pergunta pra minha mãe que ela vai te contar umas histórias muito loucas e engraçadas. Eu deixava ela doida.

— Tenho dó da sua mãe — Eu digo, pensativa — E de mim. E de você. Imagina a gente tentando controlar essas crianças quando tiverem uns cinco anos — Eu digo, rindo — Eu já estou até me imaginando tentando dar bronca e caindo da risada.

— Eles vão ser ótimas crianças — Ele diz — Espero que grandes frequentadores da sala da diretoria na escola.

Eu olho pra ele e balanço a cabeça.

— Se a gente for chamado lá, você é quem vai tentar explicar pra diretora que eles estão realizando um sonho seu — Eu digo, dando uma gargalhada. Ele me acompanha, provavelmente também imaginando a cena.

— Eu amo você, Tris — Ele diz, delicadamente, com um sorriso grande e bonito no rosto.

— Eu também amo você, Tobias — Eu respondo, sorrindo pra ele.

Tobias estaciona o carro ao lado de Zeke e todos nós nos dirigimos para a entrada principal do shopping.