Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 1
Lama, chuva e muita atenção


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Alguns esclarecimentos prévios:
1 - as postagens serão feitas uma vez na semana (nos finais de semana)
2 - tenham a mente aberta durante a leitura e não se prendam a história dos personagens no livro
3 - desculpem alguns erros de português ou repetição, ainda não tive tempo de rever minuciosamente esse cap.

Boa leitura, deixem comentários, críticas construtivas e qualquer outra coisa que desejam falar!
Beijos ;*



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Bati meu pé impaciente. Não era exatamente uma garota que gostava de esperar, geralmente ter as coisas prontas era comigo mesma. Mas quando se dependia de outras pessoas, era outro problema. Eu aguardava minha bagagem na esteira, mas os homens que a descarregavam não pareciam muito interessados em apressar as coisas. Eu conseguia escutar o barulho alto das malas sendo jogadas de qualquer forma na esteira. Não que eu me importasse com isso, eles poderiam jogar minha mala para qualquer canto, de qualquer forma, desde que elas chegassem à mim. Procurei não me importar muito com a demora, concentrando meus esforços em descobrir qual daquelas malas eram as minhas. Tentei esquecer a represália que parecia estar forçando a entrada de minha mente. Era a voz da minha mãe, mais irritante quando dava uma bronca, falando que eu deveria ter amarrado um laço para identificar a minha mala. Eu não precisava de laços, tinha certeza de qual era a minha mala. Eu a tinha a mais de anos, como esqueceria dela? Laços eram para os fracos.

Continuei na torturante espera, imaginando que horas eu chegaria definitivamente em meu destino. Provavelmente no ano que vem. Dei uma rápida olhada pela grande janela que estava ao lado da esteira. A tarde estava começando a cair. Ótimo, eu já não tinha uma boa visão de dia, imagina de noite, em uma estrada que eu não conhecia, por mais de três horas. Isso ia ser estressante. Voltei meus esforços para as malas. Vi a minha de longe, um pouco mais aliviada. Agora só faltava mais uma. Puxei com dificuldade até o meu carrinho, estava mais pesada do que eu me lembrava. Mas a culpa não era minha. Era da exagerada da minha mãe.

Deitei a mala no carrinho e esperei a próxima. Enquanto isso eu olhei em volta, não tinha sobrado muitas pessoas, a maioria já tinha recebido sua mala. Imaginei que fosse um problema comigo. Talvez o aeroporto de Los Angeles havia ligado para o de Seattle e avisado que eu estava a bordo, a garota que arranjou encrenca com a segurança do local, só por que aquela maldita caixa de metal estava apitando todas as vezes em que tentei passar. Só quando eu ameacei ficar pelada que descobriram uma moeda caída no canto do detector de metal, por isso aquela merda não parava de apitar. Provavelmente haviam ficado com raiva de mim e agora estava descontando nas malas, fazendo com que elas demorassem, ou nem enviadas fossem. Eu ia acabar processando alguém desse jeito.

Quase pulei de alegria quando vi a minha outra mala, tão pesada quanto a primeira, rolar para perto de mim. Porém, por uma intervenção divina, a esteira apitou e brecou. Fazendo com que todas as malas parassem de deslizar. A esteira havia quebrado. Isso era sério? Olhei em volta, notando que a minha frustração não era solitária. Tentei trocar um olhar de cumplicidade com a mulher ao meu lado, que também reclamou, mas ela me olhou ainda mais fula e virou a cara, resmungando com sua amiga que a esteira era uma merda. Bom, eu concordava com ela.

Quase quiquei no mesmo lugar enquanto os homens que descarregavam as malas entraram para ver o problema. Agachados juntos ao início da esteira, provavelmente discutindo pacientemente qual era o problema, os homens não pareciam notar a série de olhares em suas costas. Inferno. Voltei meus olhos para a minha mala, estava somente a dez malas, bem próxima do início da esteira. O problema é que havia uma grade, que não permitia que as pessoas chegassem na boca da esteira. E eu, sinceramente, não poderia esperar.

Tomando o maior impulso de coragem que já me ocorrera durante toda aquela viagem, joguei minha bolsa com os documentos no ombro, subi na esteira e comecei a pular as malas, em busca da minha. Eu escutei alguns gritos de advertência, mas não podia parar agora. Eu precisava daquela mala! Eu ainda tinha uma merda de viagem por três horas!

Os homens que tentavam arrumar começaram a gritar comigo. Não ligando para isso, mas corando furiosamente, eu consegui chegar na minha mala, estava ofegante de pular tantas outras, mas feliz comigo mesma por não ter caído no percurso. Puxei minha mala pesada, mostrando o dedo para eles, quando começaram a gritar novamente comigo. Arrume essa merda, então, eu quis falar, mas acho que meu dedo foi à guisa de explicação.

Sai puxando minha mala por cima de outras, descobrindo que a maioria das pessoas estavam começando a se mover em busca de suas malas também. Isso ia ser um prejuízo para o aeroporto. Algumas pessoas também vinham pulando malas na minha direção. A série de gritos e advertências voltou com mais força. Eu via alguns seguranças se aproximado, falando em seus rádios e com suas faces severas, as sobrancelhas unidas - aquela expressão que diz encrenca. Eu provavelmente seria considerada a líder do movimento e torturada para servir de exemplo. Não era algo que eu estava interessada no momento. Parei de pular as malas - suando no processo de levantar a minha própria - e desci quando a grade acabou. Corri até meu carrinho e a joguei de qualquer forma lá. Antes que qualquer guarda viesse atrás de mim, empurrei correndo meu carrinho para fora das portas de desembarque. Eu ainda escutava os gritos de advertência quando sai.

Suando em bicas pelo esforço e pela a corrida, eu tirei meu casaco pesado e o coloquei no carrinho. Agora eu só precisava encontrar algum local que alugava carros. Sai em busca do stand, o encontrando quase na saída do aeroporto lotado de Seattle. Havia uma fila enorme. Bufei, mas não vi outra saída. Estava fora de questão pagar um táxi, iria sair uma fortuna.

A fila durou muito mais do que eu esperava. Já estava de noite quando eu consegui alugar o carro. E eu só me irritei ainda mais. Seria ótimo, eu ia chegar quase de madrugada para no dia seguinte ter aula. Isso ia ser maravilhoso. Primeiro dia de aula com cara de sono e mal humor pela noite mal dormida, ia ser perfeito. Não que seria perfeito de outra maneira, primeiro dia de aula é sempre uma bosta, mas era o meu último ano, eu não ia morrer na praia.

Abri a porta do Peugeot sedan cinza escuro. Joguei minha bolsa ali e então abri o porta-malas, puxando as duas malas pesadas para cima. O carro até deu uma abaixada, mas não havia modo mais suave de fazer aquilo. Eu estava correndo contra o tempo - e contra a ansiedade de saber que provavelmente me perderia durante o trajeto. Fechei com força e então entrei no carro. Ótimo, ele era manual. Isso ia ser complicado.

Engatei a primeira e sai suavemente com o carro. Suei ainda mais quando lutei naquele estacionamento apertado, a direção pesada me obrigado a exercitar os músculos dos braços e costas. Sai do estacionamento com um alívio e cansaço nos braços. Tentei tirar da mente as horas que eu ainda teria pela frente.

***

Não foi mal de todo. Errei alguma entradas importantes, mas em menos de duas horas eu me encontrei ultrapassando Hoquiam. A chuva começou a cair mais forte quando adentrei na Península de Olympic. Meu destino era um pouco após Forks, La Push. Eu tentei ver toda essa mudança por um lado positivo, pelo menos eu estaria próxima da fronteira com o Canadá, poderia fugir para lá se não suportasse mais La Push. Eu tentei me manter atenta ao caminho, já que a chuva era forte demais para ser despercebida. Tentei não pensar nesse ano que passaria com meu pai. Isso ia ser embaraçoso. Ainda mais com a nova mulher dele, ainda mais embaraçoso.

Eu estava indo passar um tempo com John. Um tempo que acabou por me ser mais imposto do que alternativo. A vida em Los Angeles se tornou um pouco mais sufocante do que minha mãe imaginara. Nós havíamos mudado no ano retrasado, foi bom no início, mamãe com seu novo emprego em um bom hospital, trabalhando mais do que era paga, isso não tinha dúvidas, mas a vida de enfermeira não era fácil. Foi lá que ela conheceu seu atua marido, um cara dois anos mais novo do que ela, de uma índole um pouco questionável e horríveis hábitos higiênicos. A minha convivência com Jack se tornou mais do que insuportável, se tornou intolerável. E não era de toda culpa dele, eu tenho a completa consciência de que fiz tudo o que podia para transformar a vida dele em um inferno. E consegui, na verdade.

Meu plano de separá-los saiu melhor do que eu imaginara. Mas nem de todo perfeito. Mamãe ficou extremamente triste, não só comigo, mas com o término. Eu achei que ela fosse superar com o tempo, mas não aconteceu. Então engoli todo o meu orgulho, convenci Jack a voltar e sai de casa. Para minha mãe, no início, foi a pior decisão que eu decidira tomar. Jack também foi contra, e foi muito gentil - mais gentil do que em qualquer outro momento que eu passei com ele - ao dizer que tentaria mudar, se eu também tentasse. Mas esse era o problema. Eu simplesmente não ia com a cara daquele babaca, e se foi esse babaca que minha mãe escolheu, quem era eu para proibi-la? Ele de fato nunca fez nada contra ela, suas atenções geralmente eram em mim. O problema de Jack é que ele era mais do que autoritário, era um ditador de merda. E, eu também reconheço isso, quem mandava na minha casa era eu. Para, de repente, um cara chegar e achar que poderia tomá-la de mim. Sim, foi bem na primeira vez em que ele foi em casa, a frase "as coisas estão prestes a mudar sua pirralha" ficou implícita durante todo o encontro. E não melhorou quando ele finalmente se mudou.

Abri um sorriso quando me lembrei do inferno que eu havia feito. Sendo considerada sempre por minha mãe a vítima. Eu era boa nisso, pelo menos com a minha mãe. Passar-se por boazinha não era tão difícil quando se tinha uma mãe extremamente culpada pela situação em que colocara a filha: com um marido que não gostava dela. Eu abusei disso um pouco demais, mas, honestamente, eu não me arrependo um dia sequer e uma situação sequer.

O que me fez recuar não foi a tristeza de minha mãe - embora isso tenha sido um agravante - foi quando eu notei o quão egoísta estava sendo. Um dia, uma hora, eu iria sair de casa, iria seguir com a minha própria vida. E quem ficaria com a irresponsável e impulsiva da Vahiné? Ninguém. E eu não queria isso. Então passaria esse último ano com John, não era muito tempo. No ano seguinte eu iria para a faculdade e estaria livre dali. Tudo ia ficar bem... Exceto que eu ainda tinha que enfrentar 365 dias com John e sua esposa nojenta. Por que é que meus pais tinham um dedo tão podre? Era claro que eles nunca se deram exatamente bem, mas parece que foi o último relacionamento saudável deles. Depois disso foi um barranco de péssimas escolhas.

Passei por Port. Angels quando a chuva abrandou um pouco, mas não parou. Meu telefone tocou e, admito, fiquei chocada que houvesse sinal no meio dessa tempestade e desse fim de mundo. Era John.

Eu nem gastei muito temo com ele. Estava dirigindo, passando por Port. Angels, era o suficiente para ele. Desliguei e voltei a atenção para a estrada.

Fazia muito tempo que eu não vinha para esses lados dos Estados Unidos. Há dois anos, quando eu tinha 15 anos, desisti de tentar entender a escolha do meu pai por suas mulheres e de entender aquele local. Tão primitivo e precário, que ninguém parecia fazer nada para mudar. De fato, nem tinha internet quando eu ia para a casa dele. E, naquela época - ainda nesta - era a pior coisa do mundo para uma adolescente. Pelo menos eu me certifiquei de colocar alguma tecnologia naquela casa, enviando um modem pelo correio. Eu instalaria amanhã.

Finalmente eu entrei em Forks, meus braços já doendo e meus pés também. Eu estava louca para ir me deitar. Dormi um pouco antes de enfrentar o dia de amanhã. O carro ficou ainda mais gelado, tentei ligar o aquecedor, mas um zunido estranho preencheu o silencio do carro, desliguei e rezei para que aquilo não provocasse algum mal funcionamento no carro. Passando pelas casas escuras, eu notei como nada ali havia mudado, exatamente como La Push, nada mudou. Não eram nem 23h e tudo já estava apagado. Rolei os olhos. Ia ser um ano e tanto.

Sai de Forks mais animada por estar chegando em alguma casinha confortável, quente e pronta para relaxar. Mais meia hora e eu estaria na casa do meu pai, com a songa monga da Jane.

Eu entrei novamente em uma estrada que era cercada pela floresta. Era a única coisa que eu sempre gostei em La Push e Forks. Sua floresta. Embora elas fossem verdes demais, ainda eram bonitas. Eu conseguia apreciar os vários tons de verde que cobriam cada centímetro daquela floresta. Ou os raros animais que possuíam em sua orla. Geralmente John me acompanhava nas minhas visitas aventureiras, só para se certificar de que eu não ia muito longe. Era algo que eu sempre me irritei. O mais legal daqueles passeios era ir fundo na floresta, não ficar onde a claridade ainda entrava. Havia um canto da floresta, em que sua mata era tão densa que parecia estar de noite, em pleno dia.

Eu só fui tão longe uma única vez. Foi a única que John me permitiu. Era muito criança, não me lembro com riqueza de detalhes, mas me lembro da sensação de liberdade que correu por mim. Até que alguma coisa me atacou. Não foi um ataque tão feio. Só me garantiu um arranhão nas pernas, garras eu acho, não tenho as marcas, eu era nova demais. John me encontrou sangrando - sabe-se lá Deus como. Nunca mais tive permissão de ir longe demais.

Passei pelas casinhas pequenas, precárias e de madeira. Sabendo exatamente onde tinha que ir. A casa de meu pai ficava longe do centro, no final da River Drive. De frente para o rio da Quillayute River. Era a melhor vista da cidade, com certeza. É claro que não era lá muito legal quando alguns navios e barcos pesqueiros acordavam para trabalhar, fazendo o barulho do mar ainda mais intenso, mas era um preço a se pagar. La Push não era um local com muita escolha de moradia. Isso, é claro, se você não queria morar no meio do mato. E só de alguém de fora comentar sobre desmatar um pouco aquela região, era basicamente linchado gentilmente para fora da cidade.

Parei carro no lamaceiro que meu pai chave de garagem. Já vendo duas caminhonetes ali. Estacionei o mais próxima que eu pude da entrada de casa, não querendo me molhar muito. Sabendo mais do que qualquer outra coisa sobre como era o tempo nesta parte do mundo, puxei meu casaco de chuva recém comprado e o vestido. Ele também era mais quente do que a minha jaqueta jeans.

Puxei o capuz para cima. Vi através da chuva as luzes da varanda se acendendo e o corpo alto e largo de meu pai saindo meio curvado para não bater a cabeça no teto. Rolei os olhos, quantas vezes eu disse que ele tinha que arrumar aquela entrada? Acho que todos os dias em que o vi bater a cabeça ali.

Sai do carro. Não tivemos tempos para conversar amenidades ou observar um ao outro. Abri o porta malas e arranquei as duas dali. Ele me ajudou com a segunda, já correndo com ela para dentro. Eu demorei um pouco mais, pois estava bem pesada. Cheguei mais do que encharcada na varanda. De longe acionei o alarme. John mantinha a porta aberta para que eu entrasse, mas eu hesitei por um momento. A realidade mais escancarada do que eu achei que seria. Eu passaria um ano inteiro naquele lugar, um lugar onde a única coisa agradável era a floresta e a praia. Onde eu estava com a cabeça?

Sendo uma pessoa tão impaciente quanto eu, John abriu ainda mais a porta, em um claro sinal para que eu entrasse de uma vez. Passei por ele pingando, e contive o sorriso de alegria quando passei encharcada pela porta. Feliz por saber que isso aborreceria um pouco Jane.

Ela, diferente de Jack, nunca fez absolutamente nada contra mim. Sempre passional, agradável e gentil. E isso me irritou no início, eu sempre achei que ela fosse uma falsa, mas parece que ela sempre fora assim. Isso não mudou em muito na nossa relação. Eu ainda não gostava dela pelo fato de ser ela. Passível demais. Sim, eu gostava de uma boa briga. Pelo menos Jack proporcionava isso.

- Jane e Austin estão dormindo. Não faça muito barulho. - foram as boas vindas de meu pai.

Fechei os olhos por um momento. Merda, eu havia me esquecido de Austin. A filha de Jane de seu casamento passado. Eu nunca vi a menina mais de uma vez, nas férias em que eu vinha para cá, ela viajava para a casa de seu pai, em Hoquiam. Nos vimos no dia do casamento de meu pai, mas ela sempre foi muito na dela, nem conversamos. Tem a minha idade, eu acho.

Decidi me preocupar com a garota depois, eu já ia ter um dia difícil amanhã.

Mas o que me fez rolar os olhos não foi o fato de Austin, a preciosa Austin, estar dormindo com a preciosidade de sua mãe. Era o fato de que não tinha como não fazer barulho em uma casa que naturalmente já rangia como uma velha com artrite. Tentei, realmente tentei, não fazer nenhum barulho, mas era quase impossível. Eu estava escorregando, com uma mala mais pesada do que eu. Não tinha como não fazer barulho.

Subi as escadas, que continuaram a ranger naquele silêncio sufocante.

- Você vai dividir o quarto com a Austin. - John me dizia enquanto eu subia as escadas. Procurei não resmungar com isso. Eu já sabia que aqui só havia dois dormitórios. Enquanto Austin estava com seu pai eu ficava em seu quarto.

Pensei se continuava com uma cama de viúva, se eu teria que dividir a cama com a garota. Mas me surpreendi ao ver duas camas de viúvas. Uma em cada extremidade do quarto, o que não era muita coisa, o que as dividia era uma pequena mesinha com uma luminária. O quarto era simples, uma escrivaninha com um computador obsoleto e um armário. Mas pelo menos tinha seu próprio banheiro, então eu só esperava que a preciosa Austin fosse higiênica.

- Ela separou um canto do armário para você hoje de tarde. - John sussurrou, mas nem foi preciso. Austin ainda estava acordada e nos olhou quando entrei no quarto.

Era muito parecida com Jane e até um pouco comigo, mas isso devia ser por que ambos os casamentos falidos de John e Jane foram com pessoas daqui mesmo. Que não conseguiram se manter em um local tão precário, mas seus parceiros amavam demais a comodidade que tinham para ir conhecer o mundo.

Austin tinha os mesmos cabelos castanhos que os meus, só o os seus eram de um liso impecável e brilhoso. Já o meu era cacheado e um pouco armado. Sua pele era marrom-avermelhada, enquanto a minha era mais clara, um rosado - Vahiné vinha de Forks, não La Push. Austin tinha os olhos amendoados e pretos de Jane, já eu tinha os olhos castanhos claros de John. Ela era mais alta e mais robusta do que eu, nisso eu puxei Vahiné, corpo pequeno e de proporções pequenas também. De fato, ela parecia mais velha do que eu.

- Boa noite. - eu disse o mais educada que pude.

- Boa noite. - ela disse baixinho e corou bem forte, dava para ver suas maças do rosto mais vermelhas ainda.

- Vou deixar você confortável, não esquece que amanhã tem aula. - John disse um pouco desconfortável pela falta de intimidade que rolou entre nós duas. Esse era o John de sempre, buscando um modo de escapar de qualquer situação desconfortável. Ele fechou a porta delicadamente, como o covarde que era nesses momentos. Nunca foi uma pessoa de muito tato.

Eu procurei não me sentir uma intrusa. Seria o meu quarto também, por um longo ano. Puxei as malas desajeitadamente pelo quarto pequeno, parando ao lado da minha cama, que ficava próxima a janela.

Austin se levantou rapidamente e me ajudou a ajeitar as malas para que nenhuma caísse e fizesse muito barulho.

- Obrigada. - eu disse jogando a bolsa de ombro no chão, ela estava molhada.

- Talvez você queira tomar um banho. Me dê seu casaco, eu coloco ele para secar, vai precisar dele amanhã. - a sua voz não passou de um murmúrio. Austin não era tímida, era completamente introspectiva. Então talvez eu não teria um problema com uma meia-irmã abusiva e ciumenta com suas coisas. Mas de qualquer forma eu não podia falar muito, era o nosso primeiro contato desde o casamento de nossos pais, ou seja, há seis anos.

Eu aceitei a toalha que ela me ofereceu e lhe dei meu casaco, mas esse não era o meu único. Eu aproveitei a culpa que Jack sentiu durante minha última semana para extorquir quase todo o dinheiro que ele tinha em um armário novinho em folha, desde os sapatos até os casacos de frio. Não senti nenhuma culpa nisso. Jack vinha de uma família abastada de Los Angeles, era cardiologista, não sofria com a economia do país como o resto de nós.

Entrei no banheiro minúsculo suspirei, meio passo era a distância da pia para a privada, e dois passos até o box. Haviam duas prateleiras, uma vazia e uma quase vazia. As coisas de Austin não eram muitas. Eu não tinha muita bugiganga como maquiagem, nunca liguei para isso, mas, novamente, não me importei em fazer Jack comprar alguns cosméticos para mim. Ele parecia mais do que feliz em me comprar as coisas, como se estivesse me pagando pelo tratado de paz... O que de certa forma ele estava.

Tomei um banho rápido, eu queria era dormir. Nem o cabelo eu lavei, e ele estava úmido pela chuva. Amanhã iria acordar um caos. Ótimo.

Sai do banho enrolada na toalha, as roupas molhadas eu as dobrei delicadamente e as coloquei no cesto de roupa suja, na porta do banheiro. Austin já havia voltado e estava secando o chão. Eu me senti um pouco mal por isso.

- Desculpe pela molhadeira.

- Está tudo bem, o tempo aqui não é nosso amigo. - ela disse tranquilamente. Percebi que havia passado o pano seco primeiro nas minhas malas e depois no chão. Droga, isso era desconfortável.

Eu deitei a mala no chão e a abri. Busquei por meu pijama novo de calça e camiseta de algodão. Os coloquei, mais do que satisfeita pelo tecido confortável. Eu estava agitada demais para dormir, era como se a chuva lá fora não me acalmasse. Na verdade, nunca acalmou, La Push e Forks criaram um pânico dentro de mim quando se tratava de tempestades. Eu simplesmente pirava quando uma acontecia. O que acontecia com frequência aqui, então eu teria que me acostumar.

Sentei na cama e tentei sentir o sono, mas não consegui. Austin terminou de secar e saiu do quarto com o pano molhado. Eu me senti ainda mais inquieta. Iria entrar em combustão se não fizesse alguma coisa para me cansar o suficiente para dormir. Eu tentava deixar a realidade à margem de meus pensamentos, para que eu não surtasse no meio da noite, pegasse minhas coisas e voltasse para Los Angeles, onde você poderia considerar correto um local que havia praia, pois tinha como acompanhamento o sol. O que não acontecia aqui.

Sai da cama e abri o armário e as malas. Merda, não caberia tudo naquilo. Só os casacos eram grossos o suficiente para ocupar um bom espaço. Eram dois casacos de chuva e quatro casacos de frio, com dois sobretudos quentes. Dentro das portas do armário haviam quatro gavetas. As duas primeiras estavam vazias e eram fundas e espaçosas, o que compensaria um pouco. Os sapatos ficavam na parte debaixo, em um buraco no final do armário. Suspirei e comecei a tirar das malas as roupas. A primeira mala era basicamente só para os casacos, por isso era a mais pesada. Os pendurei e apertei um pouco os casacos de Austin. A escutei quando entrou no quarto.

- Nossa... - ela soltou e depois se calou.

Eu lhe dei o meu sorriso mais simpático.

- Sinto muito, acabei exagerando nas compras.

- Não tem problema... - ela se sentou em sua cama. Eu continuei meu serviço, mas sentia o olhar dela em mim. Depois de alguns minutos isso estava começando a me irritar. - Você quer ajuda?

- Hm... O que? - eu me surpreendi novamente. - Não está cansada?

- Não. Dormi muito de tarde. - ela se levantou e se sentou ao meu lado. - Posso ajudar?

- Claro... - eu disse um pouco hesitante.

Austin estava tímida, mas suas mãos delicadas pegaram no casaco e o pendurou com muito cuidado. E então eu notei, por mais que parecesse que ela quisesse esconder isso de qualquer forma, provavelmente fora alertada por John e Jane como meu temperamento era. Ela estava animada com a ideia de que eu viera morar aqui. Eu conseguia ver isso no fundo de seus olhos negros. Ela não estava apenas animada, estava deliciada.

Então eu também notei o quão solitário deveria ser morar em La Push. Tudo bem, você tinha seus amigos na escola, e saia com eles nos finais de semana, mas dentro de casa era aquele silencio sufocante, com apenas o barulho das ondas ou da chuva. Não tinha nada além daquilo naquela cidade insossa. Qualquer novidade era bem vinda. E Austin parecia apreciar demais o fato de sua meia irmã estar vindo morar com ela. Mas era tímida demais para demonstrar, então o que contava com ela eram as pequenas coisas. Como ficar acordada até tarde me esperando, ou secar o chão, ou me ajudar com as malas.

- Sabe, você pode usar se quiser. - eu disse a ela sobre as roupas. - Não é muito mais alta do que eu. Deve te servir também.

Ela analisou discretamente os casacos. Um pequeno e tímido sorriso escapou.

- Obrigada. - e voltou a me ajudar.

Passamos boa parte da noite arrumando lugar para as minhas coisas. Algumas calças jeans tiveram que ficar na parte debaixo dos casacos, assim como também havia algumas roupas dela ali. Na mesinha que separava nossas camas era onde as roupas íntimas ficavam, eram apenas duas gavetas, ela liberou uma para mim. Eu soquei tudo ali, sem me importar muito com isso. Nós não conversamos mais. Eu estava cansada o suficiente agora. Empurramos as duas malas paras para debaixo da cama e nos deitamos, sem dizer mais nada.

Eu virei as costas para ela. Não querendo que ela visse as lágrimas escorrendo. Chorei o mais silenciosamente eu pude. Odiando o dia de amanhã, por que eu não era muito boa em fazer amizades. Era o tipo de menina que tinha uma grande amiga e apenas. Mas essa grande amiga estava em um lugar tropical como Los Angeles. Ela provavelmente também estava chorando, nossa despedida tinha sido triste. Eu prometi que voltaria nas férias, mas ia ser complicado os meses antes das férias.


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Notas finais do capítulo

E é isso por enquanto! Espero que tenham gostado, sei que capítulos iniciais são meio chatos e mais do mesmo, mas espero que continuem acompanhando.
Novamente me desculpo pelas repetições, erros de português e etc, vou tentar reler ela durante a semana e fazer as alterações necessárias.
Deixem comentários e pensamentos, se quiserem.
Até a próxima!
;*



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