Eu não estava no clima para contar histórias. Não desta vez. Principalmente se eu tivesse de lembrar que minha mãe era louca o suficiente para namorar aquele que se tornaria Voldemort. Mas ainda assim eu não podia deixar de pensar no quanto ainda eu não sabia.

Com certeza havia muito mais segredos por aí, segredos que poderiam mudar o mundo, talvez, e eu estava completamente à nora. Ignorante da situação. O que mais minha mãe escondia? O que ela havia deixado de me contar? Era mais do que eu pensava, eu suponho.

Enquanto ouvia vagamente Harry contando que eu tinha ido para a Corvinal, ele para a Grifinória e Daph para a Lufa-Lufa, olhei bem para Sean. Ele não tinha mudado nada, efeitos do glamour que escondia sua verdadeira idade.

Já os outros mostravam sinais de amadurecimento. Matt estava um pouco mais alto, seu cabelo parecia mais curto e ele demonstrava os sinais dos músculos que ele teve antes, quando eu o vi pela primeira vez.

Todos estavam um pouco mais altos. Inclusive Harry, que quando o conheci era magrelinho e baixinho. Agora ele parecia mais saudável. Reparei também que Mione não tinha aqueles dentes proeminentes, pareciam que ela havia cuidado disso. Seus cabelos caiam em cachos que pareciam naturais e o ar selvagem deles não estava presente.

Ron parecia ser o mais alto de todos nós, perdendo apenas para Sean, é claro. Luna e Gina ainda conservavam um ar infantil, por serem mais novas, mas ainda assim tinha crescido bastante em comparação ao ano anterior. E Draco agora parecia um príncipe, com as feições aristocratas e pose altiva.

Daphne, apesar de eu não lembrar como ela era antes do segundo ano, nesse meio tempo em que passamos juntas percebi que ela também mudou. Seu cabelo parecia mais longo e seus olhos brilhavam de alegria. Ela não parecia mais a Princesa de Gelo ignorante e seca que eu tinha ouvido falar. Ela parecia feliz. Atribuí essa felicidade a nós, que nos tornamos amigos dela, uma família.

Sim, família. Parecia que isso era o que nos definia. Não era o dever que nos unia, nem uma missão em particular, eram nossos laços. Era o fato de sorrirmos ao estarmos juntos. Todos nós, ─ os dez de nós, ─ nos completávamos. Juntos nós éramos mais fortes!

─ E então Sirius foi considerado inocente e Rabicho foi para Azkaban, o seu lugar de direito. Mas, não ficou muito tempo por lá, o infeliz...! Ele fugiu... ─ Ron falou, tirando-me de meus pensamentos.

─ O que? ─ Indaguei confusa. ─ Sirius, livre? Rabicho fugiu de Azkaban? Mas o Ministério não impediu isso? O que aconteceu?

Harry revirou os olhos percebendo que eu não havia prestado atenção e resumiu:

─ Nada de mais aconteceu, a não ser que Sirius fugiu. Um anônimo entregou Rabicho para o Ministério publicamente, então eles não tiveram escolhas a não ser libertar Sirius. E como você deve ter ouvido, Rabicho foi preso, mas escapou. Aparentemente o Ministério achava que ninguém poderia passar pelos dementadores. Nem mesmo um animago. Pelo visto eles não aprenderam o suficiente com a fuga de Sirius.

─ Ah. ─ Acenei compreendendo. Parece que os duendes do Gringotes estavam apenas esperando algo acontecer para entregar Rabicho. ─ E onde está Sirius agora?

─ No Saint Mungus. O Ministério pagou um tratamento contra os dementadores para ele. ─ Mione respondeu.

─ Isso é bom. ─ Sorri. ─ Só isso aconteceu?

─ De relevante, sim. ─ Sean deu de ombros, antes de me olhar sério. ─ Você quer contar sobre sua mãe ou eu conto?

Ponderei sobre minhas opções. Eu contar ou Sean contar? Olhei para Harry, que franzia a testa, apreensivo, e decidi contar eu mesma.

─ Eu conto. ─ Respondi. ─ Bem, eu descobri que minha mãe tinha um noivo. Ela iria casar com ele, aparentemente. Grande foi meu horror quando eu descobri que esse noivo dela era ninguém menos do que o próprio... ─ Hesitei, mas Matt apertou minha mão, encorajando-me. ─ ...Tom Marvolo Riddle. Lord Voldemort. ─ Terminei.

─ O que? ─ Harry exclamou chocado. ─ Como ela pode?

─ Eu não sei Harry. Eu realmente não sei! Ele não tinha feito nada de mais naquela época, então eu acho que ela pensava bem dele, ou algo sim. Talvez... Talvez... Eu não sei... ─ Mordi os lábios, preocupada.

─ Porque eles não se casaram? ─ Mione franziu a testa.

─ Eles se separaram, acho que em ‘79, que foi quando tudo ficou mais sério. Voldemort se empenhou ainda mais na guerra, passando a usar os métodos mais macabros em seus ataques. Pelo visto ele a amava e não levou bem a separação. ─ Sean contou. ─ Mas não sei o motivo. Ela nunca quis me dizer.

Harry abaixou a cabeça, com a testa franzida, parecendo pensar seriamente.

─ Acha que se ele voltar ela volta com ele? ─ Ele indagou, olhando-me.

Congelei, percebendo que essa pergunta poderia ser minha ruína.

─ Lya! ─ Sean exclamou e eu percebi que, em meu desespero interior, sem querer eu tinha nublado a sala com sombras. Soltei meu controle sobre elas, vendo a escuridão sumir e respirei fundo.

─ Não precisa responder. ─ Harry levantou-se e veio até mim. ─ Nós vamos lidar com isso... Juntos! Ela pode até não ser minha mãe biológica, mas eu passei a considerá-la uma mãe. Isso me afeta tanto quanto a você.

─ Eu sei Harry. O que me afetou mais foi que eu realmente não sei a resposta para isso. ─ Suspirei e abracei, antes de soltá-lo e sorrir. ─ Obrigada, maninho. ─ Agradeci. Ele sorriu de volta e voltou a sentar-se.

Todos ficaram em silêncio por alguns segundos, pensando no que lhes tinha sido revelado, mas logo Ron puxou assunto.

─ O que vai acontecer no próximo ano? Logo é as férias de novo...

Franzi a testa, pensando se eu dizia ou não. Resolvi dizer, assim já planejávamos antes de tudo.

─ O Torneio Tribruxo. ─ Comecei. ─ É aí que Voldemort volta. Eu sei, é desesperador saber que ele vai voltar tão cedo. Mas é verdade. ─ Respirei fundo. ─ Os campeões de antes foram Harry e Cedric Diggory para Hogwarts, Fleur Delacour para Beauxbatons e Viktor Krum para Durmstrang. Talvez devêssemos arrumar uma forma de deixar só Harry como o campeão de Hogwarts, para poupar a vida de Cedric.

─ Eu... ─ Harry hesitou. ─ Eu não quero participar do Torneio, Lya.

─ Eu sei Harry. ─ Sorri tristemente. ─ Mas vão colocar seu nome na taça, não tem como evitar.

─ Mas, Lya... Eu tenho uma ideia! ─ Ele exclamou, me olhando esperançoso e eu congelei. Ah, não! Lá vem!

─ Não! ─ Disse rapidamente. ─ Não, não e não! Nem pensar! Não quero nem saber o que é, mas se me envolve... Não!

Sean começou a rir a me ver na defensiva e olhou conspiratório para Harry.

─ Lya, você vai mesmo deixar seu irmãozinho enfrentar isso sozinho? ─ Ele começou docemente e eu o encarei feio.

─ Sean...!

─ Não, deixe-me falar, Lya. Você é egoísta, só quer saber de você mesma. Porque não pensa no Harry também? ─ Sean estreitou os olhos. ─ Sabe que as chances dele passar por isso sem perder algo são mínimas...!

─ Não é não. Eu confio em Harry, ele vai conseguir. ─ Retruquei, o interrompendo.

─ Mas ele não está feliz com isso! ─ Sean não desistiu, e eu comecei a achar que eu estava metida em um complô. Eles estavam me fazendo de tonta, tenho certeza. ─ Você quer mesmo que Harry seja mal encarado, mal falado, desacreditado, odiado e sendo alvo como ele foi da ultima vez?

─ Não estou me apiedando! ─ Levantei, cruzando os braços e os encarei com os olhos estreitos. ─ Mas digam logo o que querem. Só não pensem que estou concordando!

─ Você vai concordar. ─ Harry sorriu vitorioso. ─ Eventualmente.

─ Lya, nós estamos te manipulando. ─ Sean disse francamente e eu prendi o riso. Como se eu já não soubesse disso... ─ E nosso plano é ótimo. Vai ser nossa maior vitória... Mas dependerá só de você, Lya! Você terá de arriscar a sorte. Aceita ou não?

─ Como é que é? ─ Arqueei uma sobrancelha indignada. ─ Vocês querem que eu aceite sem nem ao menos saber o plano?

─ Sim. ─ Harry respondeu. ─ Você topa ou não?

Fechei os olhos, irritada comigo mesma por saber que eu não diria não, antes de abri-los novamente e os encarar.

─ Bem... ─ Comecei lentamente e todos olharam para mim atentamente. ─ Eu não recuso uma aventura, vocês já deviam saber disso. Enrolaram demais, deviam simplesmente colocar o plano em ação, eu concordando ou não. Mas, enfim... Sim, eu topo. O que vocês planejam?

Sean sorriu maquiavelicamente e eu descobri tudo. Era mais um de seus planos malignos, e desta vez, Harry estava concordando. O que foi que eu fiz, Merlin? Porque concordei?

─ O plano é o seguinte, Lya...