Shikamaru estava assistindo a seu filho enquanto este praticava atirar kunai em alvos. O campo de treinamento que eles estavam agora ficava nas terras do clã Nara, o mesmo que Shikamaru usara quando era mais jovem. Ter seu próprio campo de treinamento era uma boa maneira de manter suas habilidades escondidas, para que as pessoas não saibam como seu jutsu funciona ou quão bom você é – ou não é.

Depois de ver algumas das kunais de seu filho acertarem o alvo – e muitas outras errarem feio – ele estava teorizando sobre o que poderia estar acontecendo.

“Eu desisto!!! Eu não consigo fazer isso!” Seu filho se sentou em uma pedra próxima, emburrado.

Frustrado. Como a mãe dele. Shikamaru sorriu com este pensamento.

Qualquer um que pensasse no seu filho como uma cópia a carvão sua, definitivamente não conhecia ele ou Shikadai. Ou Temari. Shikadai podia se parecer com ele, mas ele compartilhava muito mais características com a sua mãe do que com Shikamaru. Como essa.

Assim como a sua mãe, Shikadai ficava muito chateado se ele não conseguisse fazer algo com perfeição. Se ele não podia fazer algo da melhor maneira possível, ele não queria fazê-lo. Bem, Temari provavelmente não desistiria, ela continuaria tentando até que ela conseguisse fazer. Desistir era uma característica de Shikamaru, no fim das contas.

Mas o que estava desconcertando Shikamaru não era que seu filho estivesse errando o alvo – era como ele estava errando. Seria normal se algumas das kunais de seu filho atingissem o alvo e outras errassem por 2 ou 3 centímetros. Mas isso não era o que estava acontecendo. Algumas das kunais de seu filho atingiam exatamente a mosca, enquanto outras passavam a quase meio metro de distância – ou até mais.

Algo definitivamente estava errado.

“Isso não faz nenhum sentido, sabia!? Eu estou mirando exatamente no mesmo lugar. Elas tem exatamente o mesmo peso também. E a mesma forma e tamanho... Eu conferi todas elas!” Ele gritou as últimas palavras, e então adicionou em uma voz mais silenciosa, desconsolada. “Mais de uma vez...”

Shikamaru encarou seu filho, tentando evitar o sentimento de pena e tristeza.

“Vamos terminar por hoje.” Ele disse, se dirigindo para a casa deles.

–--

“Ei Temari, olhe para mim.”

Ela levantou os olhos do artigo que estava lendo para olhar para ele, não muito contente. ‘Espero que seja importante.’

“Agora, feche um olho.” Ela fechou o esquerdo. “Eu me movi?”

“O que?!” Ela perguntou, franzindo as sombrancelhas.

“Okay... Deixe-me ser mais específico. Olhe para .... Aquele quadro lá.” Temari estava completamente consciente agora, perguntando onde Shikamaru queria chegar. “Agora, use seu braço para apontar para ele.”

“Para quê tudo isso?” Ela obedeceu, de qualquer forma.

“Agora feche um olho.” Novamente, ela fechou o olho esquerdo. “Ele se moveu? Seu braço ainda está apontando para o quadro?”

“Não. Está cerca de 15 centímetros para a direita. Porque?”

“Agora abra os dois olhos, aponte para o quadro de novo, e feche seu olho direito. Ele se moveu agora?”

“Sim, 12 centímetros para a esquerda.”

Ele franziu as sombrancelhas. Temari tinha uma co-dominância ocular muito incomum. Shikadai poderia estar sofrendo de algo relacionado a isso. Mas isso por si só não explicaria a performance de seu filho. Dominância ocular não é um problema, e não faz com que você erre seu alvo. Shikamaru tinha seu olho direito dominante, o que significava que a imagem com os dois olhos ficava na mesma posição que a imagem com somente seu olho direito aberto. Mas Temari, por exemplo, mesmo tendo co-dominância ocular, era bastante precisa quando se tratava de atingir seus alvos, estejam eles se movendo ou parados. Ele ainda tinha que descobrir o que realmente estava afetando a precisão do seu filho.

Temari ainda estava o encarando atentamente quando ele falou de novo.

“Você pode apontar para o quadro de novo?” Ela não fez nenhuma pergunta agora, apenas esperando pela explicação do seu marido. “Feche um olho, e me mostre onde você vê o quadro.”

“Agora, o mesmo com o outro olho.” ... “Com os dois olhos abertos, aponte para ele. Agora feche-os. Abra-os novamente.”

“Ainda estou apontando para o quadro.”

“De novo.” Ela fez como pedido. “Mesmo lugar?”

“Mesmo lugar.”

“De novo...?”

“O mesmo.” Ela olhou para o seu marido, que parecia estar em pensamento profundo. “Você pode me dizer agora para quê isso?”

“Shikadai está com dificuldade em acertar os alvos.” Temari ergueu suas sombrancelhas, surpresa e confusa. “Eu pensei que poderia estar relacionado a algum problema de visão, porque ele acerta alguns com facilidade, mas ele erra outros por quase meio metro, as vezes até mais. Você tem uma co-dominância ocular bastante incomum, mas-“

“Você está dizendo que eu sou estranha e que é minha culpa que o seu filho é ruim em atirar?”

“MAS -” Ele continuou, como se não tivesse sido interrompido. “você não parece ter qualquer problema. Então, é alguma outra coisa. Mas está relacionado a visão dele.”

“Você acha que ele deveria usar óculos?”

“Não, não. Ele não tem problemas de acuidade visual. Ele pode calcular distâncias muito bem. Está mais ligado a direções. Ele reclamou que ele estava mirando elas todas no mesmo lugar, mas eu estava asssitindo e ele estava, levemente, atirando em diferentes direções.” Ela franziu o cenho, sem ter certeza se ela estava entendendo o que Shikamaru dizia.

“Sabe, cerca de 92% dos humanos preferem a mão direita, mas apenas dois terços tem preferência pelo olho direito. Isto significa que muitas pessoas destras possuem o olho esquerdo dominante. Há também, é claro, aqueles que são canhotos mas com o olho direito dominante. Idealmente, a dominância ocular e a lateralidade deveriam ser do mesmo lado.”

“O motivo pelo qual o olho dominante e a mão dominante não são sempre os mesmos é porque ambos hemisférios do cérebro controlam os dois olhos, mas cada um é responsável por metade do campo de visão. De fato, embora as pessoas tendem a pensar que dominância é o uso mandatório de apenas um lado, na verdade é mais como um espectro, que varia entre os dois extremos, e dominância ocular pode mudar de acordo com a direção do olhar. Portanto, uma pequena porção da população não tem nenhum olho dominante. Estranhos, como você.”

Ela rolou os olhos, enquanto ele abria um sorriso convencido. “Eu não sou estranha.”

“Não, você não é.”

–--

“Então, hoje, antes de você começar, eu gostaria de fazer alguns testes. Você conferiu suas kunai?”

“Sim...”

“E então...?”

“Elas são todas iguais. Nenhuma diferença que eu possa ver.”

“Bom. Você não irá usá-las agora.” Seu filho ergueu as sombrancelhas. ‘Tão filho da Temari...’

“Eu quero que você olhe para aquele alvo e aponte para ele. ... Estique seu braço, Shikadai.”

“Isso é problemático...” Shikamaru rolou seus olhos. ‘Tão filho meu, também...’

“Faça isso. Agora, feche um olho. O que você vê?”

“Eu não estou mais apontando para o alvo.”

“Bom. Agora abra seu olho e feche o outro. Agora?”

“Se mexeu de novo.”

“Mantenha ambos os olhos abertos. Você ainda está apontando para o alvo?”

“Sim.”

“Agora feche eles, mas mantenha seu braço parado. Abra.”

Ele franziu a testa assim que seus olhos se abriram. “Não está mais no memo lugar.”

Shikamaru suspirou. A condição do seu filho era um pouco pior que ele imaginava. Ele viu Shikadai abrir e fechar seus olhos mais algumas vezes, antes que ele falasse.

“Ótimo!” Ele não soava como se fosse algo ótimo realmente. “Eu não posso mirar porque meus olhos ficam mudando minha vista, mesmo que eu não me mova!”

“Então, não mire. Pelo menos, não com seus olhos. Olhe, este é um... uma condição inusual. Parece que seu cérebro não consegue decidor qual campo visual ele prefere, vamos dizer assim. Você pode corrigir isso usando apenas um olho para mirar, mas eu não recomendaria isso. Fechar um olho em batalha não é prático, além de ser arriscado. Significa que você terá um campo de visão menor, e estará mais suscetível a ser atacado ou ver algo se aproximando de você. Isso também poderia evoluir para ambliopia.”

“Então eu deveria apenas jogar e torcer para atingir o alvo?” A voz de Shikadai era incrédula, e quase fez Shikamaru rir.

“Eu nunca disse isso. Tudo que eu estou dizendo é que você não pode contar com seus olhos para definir localizações precisamente.” Ele rápida e precisamente pegou uma de suas kunai e atirou em direção ao alvo, sem tirar os olhos de seu filho. A kunai acertou na mosca. “Visão não é o seu único sentido, garoto. Se seus olhos não funcionam como deveriam, então lide com isto da maneira que você pode. Shinobi são aqueles que suportam, lembra?”

Shikadai assentiu, ouvindo atentamente.

“Apenas porque sua dominância ocular não está bem definida, não significa que sua visão é inútil agora. Por onde eu vejo, eu posso dizer que você enxerga perfeitamente bem, você pode calcular distâncias muito bem, e você percebe cada detalhe. Isso, combinado com seus outros sentidos, será mais que suficiente para você acertar os seus alvos. Você sabe, visão é superestimada. As pessoas tendem a confiar demais em sua visão, e é por isso que elas são tão facilmente enganadas por ela. Especialmente para nós, Nara, que usamos as sombras, nós devemos aprender a suspeitar da nossa visão, e usar nossos outros sentidos. Veja bem, suspeitar, não descartar. Entendeu?”

“Eu...... Eu acho que sim.” Shikadai respondeu. Shikamaru deixou um sorriso orgulhoso se espalhar pelo seu rosto.

“Pronto para tentar agora?”

Seu filho deu aquele sorriso confiante que lembrava o de sua mãe, e Shikamaru não pode evitar e sorrir também.

Desta vez, seu filho olhou para o campo de treinamento, fechou seus olhos, ouviu o vento, sentiu seus arredores com sua sombra. Ele então abriu os olhos, encarou o alvo e atirou sua kunai. O sorriso dele era satisfeito.

“Aqueles perdedores nunca vão me alcançar.”

O próximo passo seria ensinar ele a controlar aquela língua afiada dele. E da sua mãe.