A Maldição do Tigre - por Ren escrita por Lelis


Capítulo 7
Capítulo 6 - Selva


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores.
Aqui vai mais um capítulo.
Lembrando que as conversas em hindi estão em itálico.



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A viagem de caminhão foi horrível. Aquele motorista dirigia igual um louco. Passei a viagem inteira tentando dormir, sem sucesso.

Depois de três horas, o motorista parou em uma cidade pequena. Agora que paramos, vou dormir um pouco, estou com sono, tenho dormido mal nas últimas noites, por causa da ansiedade. Enquanto o motorista abastecia o caminhão, Kelsey veio dar uma rápida olhada em mim e depois foi comer.

Passaram alguns minutos e a porta foi aberta.

Meus Deuses! Não se pode mais dormir em paz!

Era Kadam. Me transformei em homem e saí do caminhão.

– Oi, Ren. Já combinei com o motorista, eu vou te soltar e ele vai embora. Vou deixar um carro na estrada para quando voltarem. Tem certeza de que quer mesmo fazer isso?

– Sim, tenho certeza.

– A Srta. Kelsey não vai gostar. Eu prefiro contar tudo agora.

– Eu sei o que estou fazendo, Kadam. – eu estava começando a ficar irritado – Você não confia em mim?

– Não é isso, senhor. Mas se ela ficar com muita raiva, pode não querer ajudar.

– Eu sei que ela vai ajudar. Kelsey é uma pessoa boa. Ou você duvida disso?

Agora eu estava irritado, percebi que não gostava quando falavam ou pensavam algo ruim de Kelsey.

– Não, Senhor.

– Então chega de discussão. Tem que ser assim.

Algo atraiu minha atenção para o restaurante e vi Kelsey nos observando.

– Kelsey está olhando para nós.

Fomos para trás do caminhão, para ela não nos ver.

– Só mais uma coisa. – eu disse – Kelsey trouxe pouca roupa. Como ela vai ficar mais tempo conosco, quero que compre roupas para ela, por favor. Compre também alguma coisa especial, algo azul e bonito.

– Como quiser.

Eu entrei na jaula e me transformei em tigre. Kadam foi atrás do motorista. A porta foi aberta e olhei inocentemente para Kelsey. Ela voltou ao restaurante, provavelmente para pagar a conta.

Era agora. Temos que agir rápido, antes que ela volte. Kadam abriu minha jaula, saí e me sentei na beira da estrada. O motorista entrou no caminhão e foi embora.

– Boa sorte, Ren. Cuide da Srta. Kelsey.

Dizendo isso, Kadam também foi embora.

Assim que saiu do restaurante, Kelsey percebeu a falta do caminhão. Era meio difícil não perceber, né. Olhando em volta, ela viu a mochila, a pegou e conferiu se estava tudo lá.

Ela não me viu aqui? Acho que não. Deve estar muito preocupada, se não viu um tigre branco parado no meio da estrada! Me mexi fazendo barulho. Kelsey se virou e me viu. Alívio passou rapidamente pelos seus olhos, antes que voltasse a se preocupar.

– Ah, não! Que maravilha. E o Sr. Kadam ainda disse que tudo ia dar certo. Ah! O motorista deve ter roubado o caminhão e soltado você. O que eu vou fazer agora?

Na verdade, até aqui tudo deu certo, rajkumari. Esse era o plano.

Kelsey voltou para o restaurante, que também era um mercado. O que ela foi fazer lá? Voltou com uma corda e petiscos de carne.

Opa! É melhor não deixar ela me amarrar, se quero que me siga.

Comecei a entrar na selva, torcendo para Kelsey me seguir. Ela não me decepcionou e veio atrás de mim, sempre me chamando.

Resolvi não ir muito rápido, pois ela não estava acostumada a andar na selva. Depois de alguns minutos, ela diminuiu o ritmo e disse:

– Ren, por favor, pare. Precisamos voltar á cidade. Logo, logo vai escurecer.

Continuei andando como se ela não tivesse dito nada. Comecei a andar em ziguezague, assim ela perde o senso de direção e não vai saber para onde fica a cidade.

HAHAHA. Como sou mal!

Estava me divertindo, fazia muito tempo que não ficava “livre”. Comecei a brincar com Kelsey, eu ia devagar, e sempre que ela ia me pegar, eu corria.

Sempre que Kelsey ficava um pouco para trás, eu virava para olhá-la e ter certeza de que estava bem e me seguindo. Quase meia hora depois, percebi que ela parou, quando me virei, vi que estava exausta. Me senti culpado, devia ter parado para ela descansar. Eu sou um burro egoísta, estava tão preocupado em fazê-la se perder e distraído com minha liberdade, que nem percebi seu cansaço. Voltei até Kelsey.

– Eu devia saber. No instante em que paro, você volta. Espero que esteja contente. – brigou comigo.

Ela está com raiva de mim. Me senti pior do que antes. Kelsey amarrou a corda na minha coleira e se virou, sem saber que direção seguir.

– Muito obrigada, Ren! Onde estou? O que estou fazendo? Estou perdida na Índia, no meio da selva, à noite, com um tigre pela corda!

Kelsey está com muito medo. Me sentei ao lado dela, para confortá-la.

Está tudo bem, não vou deixar nada acontecer com você.

Deixei ela descansar por alguns minutos. Então me levantei e comecei a puxá-la pela corda. Voltamos a andar.

Anoiteceu e Kelsey pegou uma lanterna na mochila, que eu nem sabia que existia. Eu estava procurando um lugar para dormirmos, era perigoso para Kelsey ficar andando à noite pela selva, sem contar que ela precisava descansar. Mas estava difícil, não conseguia encontrar uma área aberta. Chegamos em um local onde a vegetação era cheia de espinhos, comecei a empurrar as plantas, de modo que Kelsey pudesse passar sem se machucar; apesar de rasteiras, as plantas me arranhavam bastante, mas nem me importei, eu me curava rápido, só o que importa é Kelsey não se machucar.

Finalmente achei um local em que podíamos passar a noite, farejei o ar para me certificar de que não havia nada perigoso e, como não havia, fui me deitar na grama.

– Bem, acho que isso significa que passaremos a noite aqui. – resmungou Kelsey, enquanto tirava a mochila – Ótimo. Excelente escolha. Eu daria quatro estrelas se o serviço incluísse chocolates no travesseiro.

Ela começou a mexer na mochila e pegou uma blusa ( que amarrou na cintura), garrafas de água e barras de cereais. Abriu duas barras e me ofereceu, peguei uma de sua mão e engoli.

– Será que um tigre deve comer barras de cereais? Você provavelmente precisa de alguma coisa com mais proteína e a única coisa com proteína aqui sou eu. Mas nem pense nisso. Meu gosta é horrível.

Tenho certeza que seu gosto é ótimo, bem melhor do que essas barras de cereais.

Comi as duas e Kelsey comeu uma. Ela começou a juntar madeira para fazer uma fogueira, conseguindo acende-la na terceira tentativa. Fazendo uma tigela improvisada, ela me deu água, bebi tudo, estava com muita sede, não tomei nada desde que entramos na selva, fiquei lambendo a sacola, até que Kelsey me deu mais uma garrafa de água.

Acho que ela já foi escoteira, pois sabe se “virar” na selva.

Ouvi um uivo perto, me levantei e fui correndo na direção daquele som. Tinha que afastar qualquer animal selvagem dali, não podia deixar machucarem Kelsey. Quando cheguei perto do outro animal, vi que era um caracal pequeno. Rosnei para ele, o ameaçando, ele rosnou também, mas, como eu era muito maior que ele, o caracal fugiu. Voltei para onde Kelsey estava e comecei a me esfregar nas arvores, para deixar meu cheiro e espantar possíveis predadores.

– Nossa, Ren, você deve estar com uma coceira e tanto.

Não é coceira, rajkumari, estou apenas marcando meu território e protegendo você.

Kelsey se preparou para dormir e deitou, colocou as mãos sob o rosto e começou a chorar silenciosamente.

Aquilo me feriu muito, mais do que eu imaginava. Vê-la chorando. Eu não queira que ela sofresse, e muito menos por minha culpa.

De repente, Kelsey se sentou, parecia assustada com alguma coisa, se enrolou bem na colcha, cobrindo cada parte do corpo, acho que para evitar que algo entrasse, e deitou de novo. Mas ela não relaxou, começou a se virar para a selva. Eu tinha que fazer alguma coisa.

Me levantei e deitei ao seu lado, encostado em suas costas, para que ela sentisse que eu estava ali, a protegendo. Comecei a ronronar para acalmá-la; afinal, segundo alguns dizem, o ronronar de um tigre afasta pesadelos. Espero que seja verdade.

Passaram-se alguns minutos e Kelsey dormiu. Fiquei olhando as estrelas, sentindo o cheiro delicioso dela e pensando em como iria contar para ela sobre a maldição, mas só conseguia pensar em Kelsey chorando. Por mais que eu tentasse esquecer, aquela imagem sempre voltava à minha mente.

Olhei para Kelsey, ela estava tranquila agora, em seu sono. Ela era tão linda, tão preciosa para mim. Eu não podia deixar nada de ruim acontecer à ela, eu tinha que protegê-la.

Eu prometo que vou protegê-la, iadala.

Depois de um bom tempo, resolvi dormir.


Sonhei com Kelsey. Nós estávamos nadando em uma cachoeira e então nos beijamos, os lábios dela eram tão macios. Quando paramos de nos beijar, ela disse:

– Ren, acorde. Minha perna está dormente.

Tentei beijá-la de novo, mas ela me empurrou e disse:

– Vamos, Ren. Mexa-se!

– Pare com isso, iadala – resmunguei – eu quero te beijar de novo.

– Ren! É serio!

Ela me sacudiu e empurrou mais forte. E eu acordei. Percebi que estava em cima da perna dela. Bocejei e rolei para o lado, saindo de cima dela.

Kelsey levantou, guardou a colcha na bolsa, começou a pisar na fogueira, para ver se tinha apagado totalmente, e ficou se queixando, dizendo que odeia acampar e ficar andando na selva.

Hoje ela acordou de mal humor.

Depois de guardar tudo, ela pegou a corda; fiquei a olhando e torcendo para não me amarrar. Então ela guardou a corda e disse:

– Muito bem, Ren. Estou pronta. Para onde vamos hoje?

Comecei a andar, abrindo caminho pela selva para ela passar. Resolvi ir devagar, para Kelsey não se cansar muito. Também fazia paradas freqüentes para que pudesse descansar.

Percebi que Kelsey observava a selva, as plantas, os animais e a mim (principalmente quando passávamos por cervos). Acho que ela esperava que eu os caçasse. Mas não iria fazê-lo, mesmo estando com fome. Eu tinha que levá-la até Phet e protegê-la, minha fome pode esperar.

Durante o tempo que caminhávamos, fiquei pensando em como contar à ela sobre a maldição, procurando alguma forma de não assustá-la. Mas não consegui pensar em nada.

Parei em um riacho para beber água, Kelsey bebeu de sua garrafa. Ela sentou em uma pedra e pegou duas barras de cereais, comeu metade de uma e me deu o restante. Ela começou a mexer na bolsa .

– Será que ele queria que eu me perdesse aqui?

Fui até ela e me sentei ao seu lado.

– Não. Isso também não faz o menor sentido. Que motivo ele teria para me trazer até a Índia só para fazer com que eu me perdesse na selva? Ele não poderia saber que você me traria até aqui ou que eu o seguiria.

Me senti culpado, mais uma vez, por tê-la enganado.

– Acho que o Sr. Kadam é só um escoteiro muito bem preparado.

Após alguns minutos, levantei, andei um pouco e me virei para esperar Kelsey, que começou a resmungar, mas levantou e me seguiu. Ela começou a passar repelente e, do nada, esguichou aquele negocio em mim, o cheiro daquilo era forte e me fez espirrar, fato que ela achou graça.

– Então, Ren, aonde estamos indo? Você age como se tivesse um destino em mente. Por mim, voltaríamos para a civilização. Portanto, se você puder encontrar uma cidade, eu ficaria muito grata.


Já estava de tarde quando chegamos a casa de Phet. A casa era bem simples e estava silenciosa, percebi que ele não estava.

Nos aproximamos do muro e eu pulei sobre ele, assustando Kelsey sem querer.

– Ren! Você quase me matou de susto! Faca um ruído antes, sei lá.

Desculpa, iadala, não queria te assustar.

Kelsey estava para bater na porta quando olhou para mim e disse:

– Precisamos fazer alguma coisa com você primeiro.

Ela pegou a corda e foi em direção a uma arvore. Estava claro que iria me amarrar naquela arvore, eu não queria que ela fizesse isso, mas a segui, hesitando um pouco. Quando cheguei perto, depois dela me chamar bastante, ela me amarrou e, percebendo que eu não tinha gostado, disse:

– Sinto muito, Ren, mas não posso deixá-lo solto. Isso assustaria as pessoas. Prometo que volto assim que puder.

Kelsey começou a voltar para a casa de Phet. Me transformei em homem e tirei a coleira. É agora, esse é o momento de me revelar para ela. Respirei fundo e disse a primeira coisa que me veio a cabeça:

– Isso é mesmo necessário?

Kelsey se virou para mim, assustada e ficou me olhando.

– Oi, Kelsey. Sou eu, Ren.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Beijos.



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