A Dream Twice escrita por laurakr


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

acho que esse foi o maior capítulo que eu escrevi até agora
bom, mais um do leo êêêêêêêê -n



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Parece que não era só a minha manhã que seria uma droga aquele dia. Laila me ligou a tarde e fez um escândalo por eu ter sumido da aula de educação física e não ter falado tchau antes de ir embora. Daí ela começou a me ameaçar e depois a chorar porque eu a estava traindo. Ela está levando esse nosso “namoro” a sério, e não sei se foi por vingança, mas, ela disse que vai vir amanhã à noite em casa conhecer os meus pais. É tão idiota que eu nem tenho mais forças pra contrariá-la. Eu queria que algum tipo de milagre acontecesse e ela explodisse.

Não que eu ligasse de ela vir aqui em casa, é só que seria trabalhoso demais ter que explicar pra minha mãe que eu to namorando esse tipo de garota. Com o meu pai as coisas eram mais fáceis, porque ele já devia estar acostumado comigo tendo uma namorada diferente a cada vez que ele me perguntava se eu estava com alguém, mas aposto que com a minha mãe não seria o mesmo. Que saco. A essa altura eu pensei que nada poderia piorar, até a hora em que o telefone tocou e a minha mãe veio toda feliz trazê-lo pra mim, dizendo que era um amigo meu. Eu não fazia idéia de quem poderia ser, mas se dizia amigo, coisa boa não era...

Peguei o telefone e ela ficou ali olhando pra minha cara toda feliz.

 

- Mãe... Por favor...

 

Ela pareceu se tocar e então respondeu saindo de fininho:

 

- Ok... Já entendi filho.

 

Não sei o porquê de ela ficar tão radiante quando ouve a palavra ‘amigo’. Eu olhei pro telefone e até pensei em desligar, mas se fosse algum recado da Laila, essa atitude só traria mais problemas. Então eu atendi, e a voz que me respondeu era bastante familiar.

 

- Alô?

 

- Leonard? Oi, é o Lucas. Foi mal por te ligar essa hora, você estava dormindo?

 

Eu fiquei em silêncio refletindo sobre a situação por um tempo.

 

- Leonard? Você tá aí?

 

- Ah... To sim, oi é... Porque você ligou? Aliás, como sabe o número do meu telefone?

 

- Você esqueceu que mora na casa do Tony? – o tom de voz era de obviedade.

 

- Desculpa, é que... Ah tem acontecido tanta coisa que... Enfim, porque ligou?

 

- Primeiro, desculpe pelo soco.

 

- Tudo bem, eu mereci.

 

- E segundo... Eu sei que você me pediu que não contasse nada pra Kate, mas achei que ela merecia saber disso então acabei falando tudo. Não, tudo não... Eu não contei sobre você estar apaixonado por ela e nem o lance das cartas, porque isso não tem nada a ver comigo. Mas sobre a Annie eu tive que contar. Não é justo você ter que se sacrificar por nossa culpa.

 

Eu não sei se é porque eu estava cansado e já passava das dez, mas a única coisa que eu consegui fazer ao ouvir isso foi apoiar a cabeça sobre uma das mãos e suspirar pesadamente.

 

- Eu não me lembro de ter perguntado o que vocês acham disso... E eu também não me lembro de ter reclamado da situação ou pedido ajuda. Fiquem fora disso, entendeu?

 

- Olha, nós estamos muito agradecidos pelo que você fez até agora, mas a gente quer tornar as coisas mais fáceis pra você... Então se tiver qualquer coisa que possamos fazer...

 

- Tá eu já entendi, mas não precisam se preocupar com isso. A única coisa que a Laila me pede é que eu seja o namorado dela. Não é tão difícil sabe, a pior coisa que ela fez até agora foi pedir pra vir aqui em casa conhecer os meus pais... Então não tem muito com o que se preocupar.

 

- Deixa de ser idiota. Essa teimosia não vai te levar a lugar nenhum, já disse que vamos te ajudar e você vai aceitar por bem ou por mal. Tchau.

 

E ele desligou na minha cara. Não me deu nem tempo de perguntar como a Kate havia reagido quando ele contou que eu sabia de tudo. Ótimo, era o que tava faltando pra fechar o meu dia com chave de ouro. Mais um problema. Deitei, cansado, e ouvi duas batidas na porta antes da minha mãe aparecer.

 

- Já desligou Leonard? O que seu amigo queria?

 

Me sentei novamente na cama e entreguei o telefone a ela.

 

- Mãe... Amanhã eu vou trazer uma garota pra você conhecer.

 

Ela pareceu surpresa com a notícia. Ou será que foi com a minha expressão enquanto dava essa notícia?

 

- Sua namorada?

 

- É... Mais ou menos isso...

 

- Bem, que horas ela vai vir?

 

- Provavelmente à noite.

 

Ficou pensativa por um momento e logo em seguida me deu um beijo de boa noite – até hoje eu não entendia o porquê disso, talvez fosse coisa de mãe. Pra falar a verdade, achei que ela fosse soltar fogos de artifício ou coisa parecida quando descobrisse que eu tinha uma namorada, mas ela estranhamente estava calma.

 

- Mãe... Tá tudo bem?

 

- Claro meu filho! Eu só estava me perguntando se ela me ajudaria a fazer o jantar... Bem, boa noite e durma bem.

 

Antes que eu tivesse qualquer reação ela saiu e fechou a porta. Estranho... Muito estranho. Mas ah, eu não queria mais pensar em nada. O melhor era dormir mesmo, e foi o que eu fiz. Acordei no dia seguinte prevendo confusão. Mas depois que você pensa melhor sobre isso, se dá conta de que não seria tão ruim ver a Laila tentando cozinhar alguma coisa. Então eu disse pra minha mãe que seria interessante se as duas fizessem o jantar juntas. Ela pareceu gostar bastante da idéia e foi logo pra cozinha, não largou o livro de receitas o dia todo – provavelmente escolhendo qual seria a melhor delas. Enquanto isso eu fui dar um jeito na bagunça do meu quarto. E depois na da sala também. Não costumava fazer isso quando morava só com o meu pai, mas depois que mudei pra cá percebi que minha mãe parecia ter algum tipo de “que” com fazer as tarefas de casa junto com a família, porque ela sempre ficava feliz quando eu a ajudava.

O dia tinha passado rápido. Rápido demais até. Tomei um banho e me troquei. Uma camisa preta, calça jeans e tênis. Meu cabelo estava mais bagunçado do que o normal, mas não me importei. Era a Laila afinal. E eu não fazia a mínima questão daquilo tudo.

A campainha tocou e a minha mãe atendeu. Meu pai não estava em casa devido ao trabalho – sim ele trabalha até mesmo nos sábados à noite – e eu desci pra receber a “tão esperada” visita.

 

- Olá, você deve ser... A...

 

Minha mãe estava parada segurando a porta aberta, enquanto Laila sorria – como se fosse uma menina pura e inocente – ainda sem entrar. Salto alto – de um rosa vibrante – e um vestido branco, bem colado ao corpo, acompanhado de uma faixa com um pequeno laço que envolvia sua cintura – era daquele mesmo tom de rosa vibrante que os sapatos. Os cabelos – dos quais ela tinha tanto orgulho em dizer que eram naturais – estavam presos em um rabo de cavalo. Até parecia estar indo pra uma festa ou coisa do tipo.

 

- A namorada do Leonard – Laila emendou, ainda sorrindo.

 

Eu não sei se era só impressão, mas a minha mãe não emitia uma aura muito amigável, apesar de ter retribuído o sorriso e a mandado entrar com toda a educação do mundo. Então elas começaram a conversar sobre a casa, os móveis e as fotos. Laila parecia uma santa falando daquele jeito. Mas eu não conseguia prestar atenção em nada quando olhava pra roupa dela. Porque eu ficava imaginando ela cozinhando alguma coisa enquanto vestia aquilo. E a cara dela quando descobrisse que teria que fazer o jantar... Seria impagável.

 

- Leonard, você está rindo do que?

 

- Ah... Nada não mãe, desculpe.

 

Eu devia ter dado algum tipo de gargalhada sinistra, porque as duas estavam me olhando de um jeito estranho. Então a minha mãe se virou novamente pra ela e perguntou:

 

- Mas então... Como é que vocês se conheceram?

 

Laila pareceu um pouco assustada com a pergunta, e me olhou como quem pedia ajuda.

 

- É amorzinho, conta aí, como a gente se conheceu? – eu poderia fazer um comercial de pasta de dentes, se sorrisse do jeito que sorri ao dizer aquilo.

 

E ela ficou extremamente irritada. Sério. Não que eu me importasse, estava rindo muito por dentro. Então ela começou a inventar um monte de histórias enquanto minha mãe fingia se interessar por todas elas – apesar de tudo, eu sabia quando ela não estava gostando de alguma coisa – e eu assistia televisão, entediado. E tudo continuou assim por uma meia-hora, até que a minha mãe se levantou e disse animada:

 

- Bem... O que acha de comermos alguma coisa?

 

- Ah, eu acho ótimo! – disse Laila, sorrindo.

 

- Então venha comigo, que se demorarmos ficará muito tarde não é? – minha mãe se levantou empolgada e foi em direção a cozinha.

 

- Como? – Laila parecia muito confusa.

 

Eu sorri.

 

- Você vai ajudá-la a fazer o jantar, não é maravilhoso?

 

Haha, realmente era! A expressão de horror que surgiu no rosto dela foi a melhor. Acho que nunca terei a chance vê-la novamente no estado em que ela se encontrava agora. Ficou paralisada por um tempo até ouvir minha mãe chamá-la novamente. Então ela se virou pra mim, dava pra ver o ódio queimando nos olhos dela:

 

- Você tá fazendo isso de propósito não está Leonard?

 

Eu a fitei.

 

- É só um jantar, não consegue nem mesmo fazer isso?

 

Ela não me respondeu.

 

- Foi você que pediu para conhecer os meus pais.

 

Ela se levantou do sofá e foi em direção a cozinha. Atrás da sala onde estávamos havia uma mesa de jantar. Era bem grande até, considerando que somos uma família de três pessoas. Do lado da sala de jantar havia uma pequena parede tampando parte da cozinha – que não era muito grande – enquanto a outra parte era visível por ter apenas um balcão, onde geralmente jantávamos. Dava pra ver a sala, e a porta dali. Laila fazia de tudo pra tentar agradar a minha mãe, e cada vez que cometia um erro tentava se controlar pra não dar um chilique e jogar todas aquelas panelas no chão. Seu cabelo já estava meio solto e o vestido branco, possuía agora várias manchas de molho, sem contar seu rosto e braço por onde havia bastante farinha espalhada. Minha mãe não fazia nada, cortava algumas batatas, mas na maioria do tempo só dava instruções. O que era muito estranho, já que quando ela cozinhava comigo, fazia a maior parte das coisas. Talvez fosse um pouco de crueldade, mas a verdade é que eu não estava mais ligando pra nada daquilo e não via a hora que a Laila se cansasse e fosse embora pra eu ficar em paz.

 

- Eu vou ao banheiro e já volto. – eu disse enquanto subia a escadas correndo. Pra minha sorte, o banheiro ficava no andar de cima.

 

Aproveitei essa desculpa pra entrar no meu quarto, fechar a porta e me deixar cair sobre a cama. Demoraria um bom tempo até que eu voltasse pra sala novamente. E eu teria acabado dormindo ali mesmo se não ouvisse a campainha soar. Quem seria à uma hora dessas? Eu não estava esperando ninguém e que eu saiba, minha mãe também não. Decidi descer para ver quem era, e quando estava saindo do meu quarto pude ouvir minha mãe, do andar abaixo, dizer emocionada:

 

- Nem consigo acreditar que estão aqui! Á quanto tempo! Me dêem um abraço vai...

 

Algum parente distante? Meu susto teria sido menor, se fosse realmente isso. Conforme descia as escadas, ia ouvindo minha mãe falando coisas do tipo “como vocês cresceram!” ou “porque você pintou o cabelo?” e aí eu desci tão rápido que quase acabei caindo. Quando cheguei na sala, me assustei mais ainda. Eu não sabia o que é que tinha sido mais surreal. O Lucas e a Kate aparecendo na minha casa àquela hora. Minha mãe abraçando a Kate desesperadamente ou a Laila estar lá vendo tudo, coberta de farinha e suja de molho com a mesma cara de espanto que eu deveria estar. Olhei pro Lucas, e nem precisei perguntar nada pra ele me responder:

 

- Viemos aqui pra falar com você.

 

Kate conseguiu se soltar do abraço da minha mãe e completou:

 

- Desculpe, parece que deveríamos ter ligado antes de vir. – ela olhava pra mim, se referindo a Laila quando disse isso.

 

Mas a minha mãe estava muito afobada pra nos deixar ter qualquer tipo de conversa. Puxou a Kate e o Lucas pela mão e praticamente os empurrou no sofá.

 

- Imagina! Vocês são praticamente de casa, podem vir à hora que quiserem – então ela direcionou o olhar pra mim – e Leonard, porque não me disse que os conhecia? – mas ela não me deixou responder, porque começou a falar novamente – E vocês, já jantaram? Estou preparando um macarrão delicioso, tá quase pronto.

 

- Precisa de ajuda com alguma coisa? – disse Kate, prestativa.

 

Pensei: Pronto, se a Kate for pra cozinha agora, a Laila mata ela.

 

- Imagina! Claro que não, a Laila já está me ajudando não é Laila? – o final da frase saiu um pouco mais gritado, para que pudesse ser ouvida da cozinha.

 

Tudo bem, talvez a Kate nem precisasse ir até lá, pra Laila querer matá-la.

 

- Bem, eu vou terminar de fazer o jantar. Depois disso quero saber por onde vocês andaram, ouviram? – ela se dirigia aos dois como se ainda fossem crianças.

 

Eu sentei, cansado, ao lado da Kate, onde minha mãe estivera á pouco tempo.

 

- O que foi isso?

 

- Desculpa Leonard, a gente não sabia que ela estaria aqui – Lucas dissera – senão, não teríamos vindo.

 

- Não isso... Eu estava me referindo a minha mãe.

 

- Ah é... Ela gosta bastante da gente. – a voz vinha do meu lado direito.

 

Por um momento eu esqueci que estava sentado ao lado da Kate. Ela parecia nervosa com a situação, pelo jeito que a última frase saíra. Mas eu não estava ligando. Pelo contrário, preferia que ela tivesse esse tipo de reação do que agisse indiferentemente. Mas talvez fosse pelo fato de que essa era a casa do Tony. Ou por ter visto a minha mãe. Ou pela Laila estar lá, fazendo o jantar. Tudo era muito bizarro. Tentei prolongar o assunto, pra que o clima não ficasse pior.

 

- Estranho... Fiquei me perguntando o porquê de ela estar tratando a Laila tão mal, e eu pensei que fosse por ciúmes ou alguma coisa do tipo. Mas quando você apareceu, ela te tratou tão bem que desconsiderei essa idéia.

 

Então a Kate abriu um sorriso... Não era triste, mas também não era feliz.

 

- A primeira vez que eu vim aqui, ela também me fez cozinhar.

 

Apesar de desconfortável, não pude deixar de me sentir curioso.

 

- Ela te tratou mal? Igual a Laila?

 

Então ela deu uma risada um pouco mais alta, e disse sorrindo:

 

- Pior, bem pior. Eu não fazia idéia de como cozinhar alguma coisa, e eu acho que fiz a maior sujeira que uma pessoa seria capaz de fazer em uma cozinha, e olha que era um bolo.

 

Eu fiquei olhando pra ela, o nervosismo tinha sumido e eu nunca a tinha visto falar tão animadamente sobre alguma coisa. Não que ela estivesse animada, porque do jeito que eu falo você imagina uma pessoa animada mesmo, mas comparado ao jeito como ela age normalmente, aquilo era sim, estar animada.

 

- Quando começou a sair fumaça do forno – ela continuava a contar – e a sua mãe saiu correndo pra tirar o bolo de lá, a única coisa que restou foi uma forma totalmente preta. E o que tinha dentro parecia mais carvão do que... Seja lá o nome que se poderia dar àquilo.

 

- E o que você fez?

 

- Começou a chorar – Lucas respondera antes dela. – É a cara dela fazer isso.

 

Ela fez uma cara feia pra ele, antes de continuar.

 

- É... Eu comecei a chorar. E depois a gritar com a sua mãe – ela riu quando falou isso – e depois... Ela jogou farinha em mim. Muita. Quando o Tony chegou a gente tinha transformado a cozinha em um campo de batalha. De comida é claro.

 

Coloquei a mão sobre a testa, rindo. Fazer aquilo era a cara da minha mãe.

 

- E depois?

 

Ela sorriu.

 

- Viramos amigas.

 

Então nós ficamos em silêncio por um tempo. Só se podia ouvir ao fundo o barulho de coisas caindo e a minha mãe apontando os erros de Laila em voz alta. O clima ficou estranho devido ao assunto anterior, e a Kate resolveu usar uma desculpa pra sair dali.

 

- Eu vou ao banheiro.

 

A mesma desculpa, que eu usei. Ela subiu as escadas e ficamos eu e Lucas na sala. O mesmo silêncio continuou até minha mãe nos chamar pra ajudar a pôr os talheres e pratos na mesa.

 

- Onde está a Kate, Leo?

 

- Ela foi ao banheiro, mãe.

 

- Então chama ela, que eu já vou servir.

 

- Tá...

 

Subi e fui em direção ao banheiro, mas ela não estava lá. A porta estava aberta e a luz apagada. Andei mais um pouco até o fim do corredor, e pude vê-la. Fiquei olhando pra ela durante um tempo. Ela, ali naquele quarto... Quantas vezes ela já tinha estado lá?

Segurava o porta-retratos e sorria, depois, foi até a prateleira de livros e passou o dedo por cada um deles. Até que chegou na cômoda e pegou a caixinha de presentes.

 

- Ei, o jantar está pronto. – eu fingi que havia acabado de chegar.

 

Ela se assustou e devolveu a caixinha ao seu lugar. Então me olhou.

 

- Desculpe... Eu não pretendia entrar aqui.

 

- Não tem problema... Você já deve ter estado aqui mais vezes do que eu. – estava apoiado na entrada da porta.

 

Ela sorriu e pegou a caixinha novamente. Fez um gesto com a mão na qual a estava segurando e perguntou:

 

- Você sabe o que é isso?

 

- Não. – eu menti e mudei de assunto – Bonita a foto... De vocês quatro. – entrei no quarto e peguei o porta-retratos na mão.

 

Ela deixou o que segurava em cima da cômoda e deu mais uma olhada no quarto, enquanto dizia:

 

- Acho que é a única foto decente que temos... – ela ficou melancólica de repente – Desculpa... Por ter dito aquelas coisas pra você. Sobre namoro e tal... Eu nunca pensei que você estivesse nos ajudando. Mesmo por que... Eu nem imaginava que você sabia de tudo. Agora eu vejo que seria idiotice se você não soubesse.

 

- Eu que tenho que pedir desculpas, por fingir que não sabia de nada.

 

- Você mentiu. – era uma afirmação.

 

- Não. Você que nunca me perguntou.

 

- Tem razão – ela sorriu, e depois ficou melancólica novamente – mas eu ainda não te quero por perto.

 

Consciente ou não disso, ela com certeza sabia como me machucar.

 

- É tão difícil assim... – coloquei o porta-retratos sobre o criado mudo, enquanto perguntava, calmamente - Ter que me ver todos os dias?

 

 

                 Ai estava ela de novo, tentando desviar o olhar. Tentando fugir.

 

Me aproximei e a encarei. Estava sem saída, pois eu havia parado entre ela e a porta, então ela virou de costas, tentando me evitar. Será que ela não se dá conta... Que isso só faz com que eu queira que ela olhe pra mim, cada vez mais? E quando isso acontece... Eu simplesmente não consigo me controlar. Eu a puxei pelo braço e a virei de frente pra mim.

Ela estava chorando, e cobriu o rosto com as duas mãos, enquanto falava com a voz embargada:

 

- Desculpe Leonard... É... É sim... É muito difícil... Por vocês se parecerem tanto... Desculpe – ela chorava cada vez mais, conforme as palavras saiam – eu não queria... Ter que dizer isso pra você, não queria ter que dizer isso pra ninguém... Mas é extremamente difícil...

 

Ela estava ali na minha frente, chorando que nem criança. E a culpa era minha. E eu sabia disso. Então porque que é que mesmo assim, ao vê-la naquele estado, eu continuei ali parado? É porque ela estava chorando... Ou porque eu sentia que se saísse dali, significaria que eu estava desistindo dela? Sinceramente, não faço a mínima idéia. Talvez fossem as duas coisas.

 

- Tudo bem Kate... Pode chorar... Você pode falar isso pra mim quantas vezes quiser...

 

- Não... Não é justo com você... Você não tem culpa... – ela soluçava agora.

 

Eu a abracei... E menti. Era o melhor que eu sabia fazer, então eu menti.

 

- Ei, não seja idiota... É claro que isso não vai me magoar, olha... Não estou nem um pouco triste com isso... Eu até fingiria ser o Tony agora, se você me pedisse. – eu tentava soar divertido.

 

Então ela se afundou naquele abraço e me apertou forte. E eu não sabia mais... Se era mesmo eu quem ela estava abraçando.

 

- Que cena mais linda. – a voz irônica vinha da porta do quarto.

 

Kate me soltou rapidamente e eu me virei para ver quem era. Laila estava parada na porta, com o cabelo todo bagunçado e completamente suja de farinha e molho. Chegaria a ser cômico, se a situação não fosse tão preocupante.

 

- O que você quer? – cara, eu estava muito irritado, muito mesmo.

 

- O que eu quero...? O que eu quero?! – ela começara a gritar – Sua mãe me manda vir te chamar porque a droga do jantar que eu quase morri pra fazer está pronto, e quando eu vejo você está aqui abraçado com essa daí, agora você tem a CORAGEM de me perguntar o que eu quero?

 

O que eu queria no momento, era esganá-la. Kate saiu correndo e empurrou a Laila ao passar por ela. Não era um sinal de guerra ou coisa do tipo, ela só queria abrir caminho, mas parece que Laila não havia entendido isso. Coberta de farinha, ela saiu correndo atrás de Kate, e eu bem atrás dela.

 

- Lucas, segura a Laila aí em baixo! – eu gritara do segundo andar.

 

Mas era tarde. Laila já havia começado o discurso.

 

- O que aconteceu? – minha mãe perguntava, surpresa com tudo aquilo.

 

- Porque você não pergunta pra sua queridinha ali?

 

Laila estaria soltando veneno se fosse uma cobra. - não que estivesse muito longe de ser uma.

 

- Parece que um só não foi o suficiente, não é Kate?

 

E quando eu cheguei na sala, a Kate estava lá, dando um tapa – muito bem dado por sinal – na cara da Laila. Confesso que se ela não tivesse feito isso, eu mesmo o teria feito. A vontade que eu sentia agora, era de expulsá-la dali a chutes ou coisas do gênero. E olha que eu sou contra a violência, ainda mais quando se trata de mulher. Mas a Laila merecia.

Ficou tão chocada com a situação, que o seu queixo até caiu. A Kate por outro lado, parecia bem certa do que queria.

 

- Se você falar mais alguma coisa vai apanhar tanto que eu juro que nem os seus pais vão ser capazes de te reconhecer. – depois disso, ela tomou fôlego e se dirigiu a minha mãe – E me desculpe Beth pela bagunça, parece que não vou poder ficar para o jantar dessa vez. Até mais.

 

E a minha mãe sorriu, como se nada tivesse acontecido e disse num tom amigável:

 

- Imagina, eu que me desculpo. Volte mais vezes. – teve até direito a tchauzinho.

 

Lucas estava chocado e paralisado, assim como eu e a Laila – que deveria estar em choque isso sim. Kate o puxou e ele me olhou com cara de “o que diabos foi isso” e eu respondi com outro olhar “não faço a mínima idéia”. O silêncio durou pouco depois que eles saíram e a porta se fechou, pois minha mãe disse cansada: 

 

- Parece que não teremos jantar hoje. Bem, limpem essa bagunça que eu já vou dormir. – ela ia subindo as escadas quando parou de repente e olhou para Laila – E, ah... Eu se fosse você tomaria um bom banho quando chegasse em casa, porque olha, sua aparência está horrível. Quando foi que se sujou tanto?

 

Ela então me mandou um beijo de boa noite e subiu. E me deixou ali sozinho com aquele problema.

 

- Laila... Você pode ir pra casa, deixa que eu cuido de tudo aqui. – não que eu estivesse com dó, eu só queria me livrar dela o mais rápido possível, antes que sobrasse pra mim.

 

Mas ela ainda estava completamente chocada e sem reação, então eu aproveitei pra levá-la até a porta e chamei um táxi.

 

- Não se preocupe, ele disse que ia vir rápido. Eu até ficaria com você aqui na frente, mas tenho que limpar a bagunça lá de dentro. – tentei soar triste ao dar a notícia.

 

Quando ela pareceu ter se recuperado do choque e abriu a boca pra falar, eu fechei a porta e entrei. Meu Deus... Como era possível acontecer tanta coisa em uma só noite? Caí sobre o sofá e recuperei um pouco de ar, aquilo fora cansativo demais. Olhei pra minha camiseta, ainda molhada. Ela realmente tinha me abraçado... E eu não precisei forçá-la ou nada do tipo. E então... Por mais feliz que aquilo tenha me deixado, não era possível evitar de lembrar do que ela havia me dito. Estava guardando tudo... Fingindo não se importar... Só pra que eu não ficasse magoado? Que tipo de garota era aquela? Droga... Ela não faz sentido nenhum. Mas ainda havia muitas coisas com as quais se preocupar, e eu não estava falando da bagunça que me esperava na cozinha. Dessa vez... Talvez não fosse tão fácil assim manter a Laila de bico fechado.

 

- Droga...

 


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Notas finais do capítulo

qualquer erro me avisem, isso que dá escrever de noite...