Segredos Amargos escrita por S Pisces


Capítulo 12
Capitulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638127/chapter/12

Ela sentia o sangue pulsando em seus ouvidos e fazia de tudo para manter a respiração constante e a expressão impassível. Alguém estava armando para ela. Alguém queria pega-la. Alguém sabia quem era ela. Mas a pergunta que todos faziam era: Quem?

“Pode ser qualquer um.” ela ouvia a voz de Maria

“Tem que ser alguém com poder, afinal, estamos falando de uma agente secreta do governo americano. Somente os nossos superiores sabem quem nós somos, não é fácil obter tal informação.” O que Pepper falava fazia total sentido.

“Será que temos um informante ou delator entre nós?” Maria pergunta alarmada.

As três mulheres se entreolham. Não, aquilo não seria possível.

“Acho que devemos nos concentrar no que essa pessoa pode estar querendo com a Nat.” Pepper fala.

Natasha ainda se sentia meio aérea. Assim que entrou no escritório foi bombardeada pelas novas informações que lhe causaram um temor diferente. Ela sabia de todo o perigo que rodeia sua profissão e consequentemente sua vida, mas ainda assim, ela vivia sobre camadas e camadas de mentira, falsos passaportes, falsos nomes, nacionalidades, origens, mentiras que protegiam sua verdadeira vida e garantiam seu anonimato.

“Será que sabem sobre o Steve?” a pergunta trespassa seus lábios sem que ela perceba.

As duas mulheres que falavam algo, param abruptamente e encaram a ruiva. Elas estavam tão preocupadas com a integridade física da amiga que sequer pensaram no marido da mesma. Natasha as observa ansiosa, seus olhos clamando por uma resposta negativa que ela sabe que as amigas não podem dar.

Sua visão vai se tornando embaçada e quando a mesma percebe as lagrimas já descem pelo seu rosto, o que a princípio, assusta as duas outras mulheres. Elas nunca haviam visto a ruiva chorar.

“Nat....” as duas falam ao mesmo tempo indo até a ruiva e a abraçando.

O mundo havia desabado sobre os ombros dela. Seu casamento estava em crise, sua carreira estava ameaçada assim como seu anonimato e talvez, até a vida de todas as pessoas que a rodeiam.

“Eu preciso fazer uma ligação.” Ela fala se desvencilhando dos braços das amigas.

“É melhor você se acalmar um pouco, o Steve pode descon...”

“Não é para o Steve.” Ela esclarece interrompendo o aviso de Pepper.

“Tudo bem.” Maria concorda dando espaço para a ruiva, que pega o celular e se encaminha para a pequena varanda que dava para a rua.

Ela disca o número que sabia de cor e aguarda, sentindo um misto de emoções se misturando dentro de si.

“Alô?” a voz masculina com forte sotaque russo atende no oitavo toque.

“Pai... é a Natasha” a ruiva se identifica, insegura.

13 anos atrás...

A garota havia acabado de chegar de uma missão de campo, sua primeira. Ela havia levado uma pequena surra, mas nada que diminuísse sua animação e orgulho por tê-la concluído com sucesso.

Os passos são abafados pelos tapetes da casa e pela grossa meia que ela usava, mas todo esse cuidado não foi suficiente para se desvencilhar das perguntas do pai, que a esperava sentado numa poltrona velha na sala de estar.

“Natasha?” a voz soava baixa, calma, como somente a voz do pai poderia soar. “Onde você estava? E por favor, não minta para mim.”

A ruiva engole seco. Ela temia contar a verdade para o pai por vários motivos. Ele era um homem pacificador, que lutara em guerras pelo seu país e no final, acabou se refugiando e criando seus filhos em solo estrangeiro. Um homem que vivera pela família e tivera seu primeiro casamento, com a mulher que considerava ser o grande amor da sua vida, destruído pelas mentiras.

‘A verdade é o bem mais precioso que você pode dar a alguém.’ Essas eram as palavras que ele vivia repetindo, tanto para a filha adolescente, único fruto bom do seu primeiro casamento quanto para os pequenos gêmeos de 4 anos. Até certa idade, a filha mais velha havia mesmo dado esse bem mais precioso, mas havia um ano que ela vinha ignorando as palavras do pai por um ‘bem maior’. Além do mais, ele repudiava a violência e não consideraria as ações da filha menos que criminosas, terroristas. ‘Quem é você para decidir quem é certo ou errado?’ ela ouvia a voz dele a recriminando em cada nova missão.

Ele mesmo já tomara o papel de juiz para si e até hoje carregava a culpa, o fardo das mortes que causara consigo mesmo. Matar pelo país não havia lhe dado nenhum reconhecimento ou orgulho. Para ele matar ou morrer pela pátria não passava de pura ilusão. Um falso patriotismo que era vendido para ganhar soldados e algum saldo de mortos em guerras.

Ele tentara com afinco convencer a filha disso, mas ao chegar em solo americano, com a menina de apenas 10 anos, depois de terem sido abandonados pela mulher que negligenciara tanto o casamento quanto a maternidade, foi difícil não se deixar levar por todo aquele sonho americano. A filha até tentava esconder, mas ele via em seus olhos a cada 4 de julho todo o amor que ela passara a nutrir por aquela terra, por aquelas pessoas e o quanto ela valorizava os ideais no qual o país foi fundado: ‘Democracia e liberdade’.

As coisas ficaram ainda mais difíceis após seu segundo casamento com uma americana. O nascimento dos gêmeos Wanda e Pietro Maximoff Romanoff logo em seguida foi o que precisavam para conquistar o Green Card.

“Papai, eu estava no colégio e....”

“Sem mentiras Natasha!” o pai exclama. “Eu sei que você não estava no colégio. Eu sei que tem matado aula e.... eu quero ouvir de você a verdade.”

A garota suspira. Era obvio que mentir não era mais uma opção e ela temia o que viria a seguir. Seria expulsa de casa? Renegada? Obrigada a crescer longe dos irmãos?

“É verdade. Eu tenho mentido.” Admite enquanto tentava protelar o inevitável. “Eu não posso contar a verdade, mas você merece sabe-la.”

O pai permanecia sentado, a expressão impassível. Ela respira fundo, olha nos olhos do pai e a verdade jorra dela como um rio. Ela conta desde o momento que foi levada para o suposto acampamento, no qual o pai pensava se tratar de aprimoramento esportivo, até sua última missão, da qual ela havia acabado de chegar.

“Eu lamento ter mentido, mas o senhor não entenderia.” Ela fala, diante do silencio do pai.

“Eu entendo.” O pai admite a surpreendendo “Eu já fui jovem, já amei minha pátria e fui capaz de ir a guerras por ela. Com toda certeza eu entendo.” Ela abre um pequeno sorriso “Mas isso não quer dizer que eu aprove.” O sorriso se desfaz.

“Pai eu...” ela tenta se desculpar, mas as palavras ficam perdidas em algum lugar dentro de si. O que poderia dizer?

“O pior é a mentira. Toda essa mentira.” É perceptível a decepção na voz do homem “Eu espero que você não seja traída pela pátria que tanto ama.” Ele completa e sai da sala, a deixando só.

“Natasha?” a incredulidade na voz do homem é quase palpável.

“Desculpe papai, sei que não devia estar ligando, mas...” o que dizer?

“Faz tanto tempo.” o pai soa saudosista “Aconteceu alguma coisa filha?” ao ouvir o pai a chamar de filha, novas lagrimas vem aos olhos da ruiva.

“Faz muito tempo que você não me chama assim.” Ela comenta tentando segurar o choro.

“Eu não concordo com o que você faz, mas isso não muda o fato de você ser minha filha.”

“E os meus irmãos pai?” ela pergunta pelos gêmeos. Ela queria manter o tema afastado o máximo possível do seu trabalho.

“Eles estão bem. No colégio.” O pai informa e ela suspira aliviada. “Você não ligou no aniversario deles.” o pai lembra num tom repreensivo.

“Eu esqueci.” Admite “Mas eu vou compensa-los.” Garante.

“Você sabe quantos anos eles completaram?” a pergunta a pega de surpresa. Ela pensa um pouco a respeito e tenta fazer as contas.

“16?” chuta incerta.

“17.” O pai a corrige.

“Desculpe, eu realmente não lembrava.”

“A culpa não é sua. Eu os afastei de você.” Após a noite em que ele descobriu tudo, ela saiu de casa e passou a morar sozinha. Algum tempo depois mudou de cidade e depois de estado. Ela e os irmãos passaram a se ver cada vez menos e o único contato que eles tinham, era no aniversario deles, quando ela mandava algum presente e um cartão. “Eu gostaria que vocês se reaproximassem. Passassem a ser irmãos de verdade. Você sempre foi tão atenciosa com eles.” O rumo que a conversa estava tomando, definitivamente não era o qual a ruiva esperava.

Pelo que ela lembrava, havia mais de um ano que ela falara com o pai pela última vez e mesmo não a tratando mal, havia sido uma conversa rápida e quase impessoal, graças aos longos anos e distanciamento entre eles. Ela não pode comparecer ao enterro da madrasta e por tal motivo, os irmãos haviam se recusado a falar com ela pelo telefone, obrigando o pai a atende-la. Agora, ele insistia para que ela fosse mais presente e a tratava quase como antes. Alguma coisa estava errada, mas ela não estava com cabeça para descobrir o que.

“Eu preciso desligar agora.” avisa “Mas eu prometo compensar os gêmeos. E prometo ligar mais vezes.”

“Filha, eu sinto sua falta.” O pai fala por fim.

“Eu...” as lagrimas a sufocam e tudo o que ela faz é desligar o celular.

A princípio ela só queria ter certeza que o velho pai e os irmãos estavam bem, mas durante a ligação ela percebeu que não sabia o real motivo por trás daquilo. Talvez só quisesse confirmar o quanto ela era destrutível no campo emocional. Primeiro não conseguiu o amor da mãe, depois destruiu sua relação com o pai e foi impedida de viver com os irmãos, agora seu casamento estava indo para o ralo enquanto ela assistia a tudo de mãos atadas, sem saber o que fazer.

Ou no fundo ela só quisesse poder dizer ao pai que ele estava errado, que ela não fazia nada daquilo pelo país, no começo sim, mas era apenas uma desculpa. Ela matava porque gostava. Se arriscava porque amava a adrenalina correndo nas veias. Segurar uma arma lhe proporcionava um prazer quase indescritível. E ao pesar essas coisas, ao analisar sua vida desde o momento que aquilo começara, ela sempre chegava à conclusão que havia encontrado seu lugar no mundo.

Lugar esse que alguém, em algum lugar, planejava deixar vago o mais breve possível.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que muita gente está sentindo falta do casal, mas peço que entendam que toda essa "demora" é justificável. Eu preciso explicar e deixar claro as motivações de cada um, porque breve as coisas vão tomar rumos esperados e ai pra não ter que explicar o passado de cada um (já que a fic é UA) eu conto agora e o resto será apenas os dois. Acreditem, virão capítulos inteiros Romanogers... só peço um pouco mais de paciência.
Até sexta :)