Paris, junho de 1791

Estava cada vez mais difícil para Sophie continuar vivendo ali. Desde a morte de sua mãe, as coisas têm piorado. Seu pai estava cada vez mais ausente, tentando fazer tudo o que podia e o que não podia para sustentá-la. Embora fosse banqueiro, seu salário nunca fora o suficiente. A senhora que cuidava de Sophie estava ficando velha e cansada demais, o senhor Lindell - secretamente - sempre soubera que nada, dinheiro algum ou qualquer pessoa, poderia substituir a mãe de Sophie.

A garota não se conformava em ter que continuar trancafiada naquela casa, enorme porém sufocante, aprendendo a se tornar dona de casa e a cuidar de uma família. Ela sabia o quão injusto aquilo era.

Com a França no meio de uma revolução, com tantas reviravoltas, fazia a família Lindell (ou o que sobrara dela) ficar ainda mais preocupada. A Assembleia Constituinte acabara de concluir a constituição, o que de fato não era ruim, mas com tantos contra-revolucionários por aí, nunca poderia se saber o que iria acontecer...

— SENHORITA LINDELL!

Não era de surpreender que a senhora Vangarff estava chamando a atenção de Sophie aos gritos novamente, isso já havia acontecido inúmeras vezes, cada vez mais frequente, ora, não é culpa da pobre garota se era mais interessante divagar sobre os crescentes problemas quanto a aula sobre costura.

Para não levar sermão, Sophie logo desculpou-se e disse que não isso não iria acontecer mais, uma tremenda mentira, é claro. Retomando a aula, entre agulhas e tipos de tecidos, lá se via a garota divagando novamente. Ela só não sabia que poderia ser tão perigoso desta vez.

Ao se dar conta de onde estava, Sophie soltou todo o ar dos pulmões. Estava no meio de uma clareira, em uma floresta. Perguntava a si mesma se não estava louca, talvez estressada demais, mas tudo aquilo era tão real quanto a pequena criatura alada em frente a seus olhos. Se é que podia ficar mais surpresa, ela teria ficado, podia mesmo aquela criatura ser uma fada?

Fechando os olhos com força, a garota tentou retomar a realidade, ela era uma garota, futuramente seria uma dama, moça de família, dona de casa (mesmo que não fosse sua vontade), ela teria que se comportar como uma e parar de fantasiar.

A fada continuava lá, e mais criaturas tão estranhas quanto ela se aproximavam de Sophie. Homenzinhos com meio metro de altura, orelhas pontudas e roupas esquisitas a olhavam com tanta curiosidade quanto a garota olhava para ela.

— Afinal, quem é você? — perguntou o homenzinho que parecia o líder do pequeno grupo.

— Eu sou Sophie. — a garota respondeu com o resto da voz que conseguiu encontrar.

Tantas criaturas fascinantes em um só lugar! Alguns animais também se aproximavam da clareira, pássaros com plumas coloridas, raposas com olhares audazes, cervos com uma pelagem tão bonita, que Sophie teve que se conter para não correr e passar a mão. A fada continuava perto dela, assim ela pode analisar melhor, a fada tinha asas finas e brilhantes, que batiam tão rápido quanto os olhos dela podiam acompanhar, vestia um simples vestido de folha, mas o mais extraordinário era os olhos, pretos como o carvão, exatamente como os de Sophie.

— E o que a trás aqui?

— Receio dizer, mas não faço ideia. Alguns minutos atrás eu estava em minha própria casa e aí PUF apareci aqui...

— Puf? Não faço ideia do que isso possa dizer, — gargalhou alto e continuou — então bem vinda ao Bosque!

Mal sabia Sophie que sua vida acabara de tomar um caminho drástico ao sorrir e se aproximar daquelas criaturas.