Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 87
Capítulo 87. Remendando do jeito que dá.


Notas iniciais do capítulo

Esse título combina bem com minha situação, quero dizer, eu não tenho vergonha de demorar todo esse tempo? Tenho, mas vamos ler o capítulo e voltar as explicações depois.



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Capítulo 87

Abracei Tony pela cabeça assim que pude colocar minhas mãos nele e sussurrei um desesperado "Por que?" em seu ouvido. Ele retribuiu o abraço e depois me segurou com uma mão de cada lado do rosto, encostando nossas testas e respondeu um insano "Porque eu não presto!".

Ai, mas que demônio! Ele ficou lá rindo da desgraça que ele mesmo havia provocado e só então a clareira se abriu o suficiente pra eu ver os búlgaros vermelhos da cabeça aos pés -a roupa era o que estava menos vermelho ali - com os flashs estalando ao redor de sua comitiva enraivecida.

Ah, Tony, olha o tamanho desses bichos! 

—  Penso que foi os afrricanes e seus feitices sem varrinhas! Expulsem eles da festa! - O capitão búlgaro Evacimoff falou pra quem quisesse ouvir e ainda apontou para o capitão igualmente gigante de Uagadou.

Tony olhou pra mim com aquela expressão sacana de “Tudo parte do plano”, só que dessa vez eu tinha uma Sharam ofendida e inocente do meu lado e não um estúpido corvinal ou um grifinório imbecil, então não estava nada bem!

O cara mal encarado que liderava a poderosa equipe africana não se intimidou nem um pouco com a acusação, pelo contrário, puxou a manga de suas vestes típicas e eu não quis pagar pra ver a miséria que aconteceria depois.

Me chamem de idiota, mas eu acredito na justiça!

—  Pois eu acho que foram os americanos, ô raça desgraçada pra gostar de guerra, não é mesmo? - Falei alto, chamando a atenção pra mim. Tá, eu não acredito tanto assim na justiça... Mas ninguém gosta muito dos americanos, me deixa! Senti dois toques no meu ombro e virei bastante pessimista.

E não era para menos, uma criatura com a cara enfezada e uma trança até a cintura com uma pena presa nos cabelos negros me olhou com raiva. De onde saiu esse cara?

—  E eu digo que foi alguém de Hogwarts, a única equipe comprovadamente sem escrúpulos algum daqui! - O capitão de Salem disse naquele sotaque fodido de lá do outro lado do oceano e eu fiquei pronto para defender minha escola.

Não temos escrúpulos mesmo, mas não ia ser um americanozinho de merda saído de um filme de faroeste qualquer que iria desmoralizar a gente! Mas nem precisei responder a esse insulto, porque Romeo empurrou o garoto pelo peito e tomou a dianteira com seu jeito encrenqueiro de ser.

—  Quero ver você repetir isso sem os dentes, amigo! -O americano até se empertigou um pouco, mas eu sou um milhão de vezes mais Romeo -cadê Segundo pra tomar minha aposta? - pena que o nosso treinador estragou tudo como sempre!

—  Ok, meninos, está claro que foi uma brincadeira de mau gosto e que acusar o outro não nos trará nada de bom. -Harry Potter afastou os dois artilheiros pelo peito, dando um sorriso simpático para a equipe americana. Falso. –  Vamos averiguar com a nossa equipe de aurores o ocorrido e os culpados serão devidamente punidos, enquanto isso não acontece, voltemos a festa!

A música voltou a tocar no mesmo momento, Potter nos deu um olhar de “Se comportem, seus merdinhas!” e seguiu conduzindo os búlgaros para algum lugar mais para dentro da mansão, falando algo ao pé do ouvido do irritado treinador Krum. Olhei para o americano ao meu lado e sorri cinicamente para ele.

—  Você ouviu o homem, vai lá curtir a festa, abrir um cassino, cavar um poço de petróleo, sei lá... -O senhor índio bravo me olhou sem expressão, então o enxotei com as mãos. –  Vai, vai! Vai fazer o que vocês americanos fazem, invadir umas terras, filmar filmes bobos...

O garoto revirou os olhos e depois mandou um daqueles olhares sinistros antes de se afastar de nós.  Romeo deu tapinhas em meu ombro com um sorriso divertido, mas foi o herdeiro Potter que quebrou o silêncio esquisito pós adeus do tio Sam.

—  Já acabou com o festival de preconceitos contra o país alheio? -Virei para encarar James em suas bonitas vestes escolhidas pela mamãe com meu melhor sorriso. 

—  Acabei sim, mas só porque ele foi embora, já que eu ainda nem tinha começado a falar dos fast food e da síndrome dos patriotas heróis de guerra, se aplica a seu pai também, a proposito. -James respirou fundo e depois mandou um sinal ambíguo com a cabeça. –  O quê? Tá tendo um acidente vascular cerebral?

—  Não, Cesc, eu quero falar com você!  - Ele fez menção de ir em embora para que eu o seguisse, só que todos os presentes se posicionaram para ir atrás dele, no caso Sharam, Tony e Romeo. James parou de repente. –  A sós. 

Me virei para os meus três comparsas de crime em diferentes e conturbadas fases da minha vida, cocei o queixo e dei o meu veredito. 

—  Sharam, você está fora, vai atrás do seu capitão para mantê-lo fora de encrenca, os outros dois vem comigo. -A garota me olhou chateada, mas foi sem reclamar muito, já James Potter...

—  Quero falar com você a sós, que parte do “a sós “ você não entendeu? -Eu tenho que explicar tudo a ele? Tenho? Tá, vou explicar a ele, tadinho.

—  O que quer que você tenha a dizer, essas criaturas podem ouvir, eles não precisam ser protegidos de nada. 

—  O inferno vai congelar antes de eu tentar poupar Habermas e Zabini de alguma coisa!-James olhou para nós três, para o teto, para o chão, para a gente de novo e finalmente se deu por vencido. Ainda bem, nunca vi dois minutos mais inúteis do que esses. –  Tá, vamos lá. 

***

Passamos por todos os repórteres bem discretamente e com cara de paisagem, “temos nada a declarar”, passamos também por alguns corredores, portas fechadas e elfos fardados enfeitiçando taças e talheres. Tudo muito estranho. 

Assim que chegamos ao local onde James queria me levar -quero acreditar que só para tratar de assuntos profissionais -paramos para o cabeçudo fazer um simples feitiço, destravando a porta.

—  E então, o que é tão importante que você precisou nos trazer até o outro lado do país pra falar?  - Tony perguntou entediado e James pareceu fazer menção de dizer que não era nem pra ele estar ali, mas o grifinório mudou de ideia no último segundo.

Ou eu posso estar errado e ele apenas ia espirrar, mas a vontade passou.

—  Ok, certo. Na verdade... Na verdade é uma pergunta bem simples, que eu estou, vejam bem, otimista com a resposta, mas de qualquer sorte eu não podia perguntar no meio da multidão, não é?  - James terminou sua frase com uma cara esquisita de quem queria convencer a si mesmo de algo, sinceramente nem sei explicar essa expressão. 

—  Essa é a pergunta? -Romeo perguntou com a mão no queixo, se fazendo de atento. Potter revirou os olhos.

—  Não! A pergunta é: numa escala de zero a dez, o quanto vocês estão envolvidos no que aconteceu lá fora? -James perguntou e depois fez uma cara que até poderia ser descrita como otimista. Eu e Romeo respondemos imediatamente.

—  Zero.

—  Zero, claro. -O loiro deu a deixa para Tony se defender e dar o assunto por encerrado, mas é claro que meu amigo idiota não poderia simplesmente mentir e permitir que todos nós voltássemos para a festa sem culpa.

—  Err... A média geral fica 3 e fração então, se incluirmos Potter fica 2,5 e se incluirmos Lily, que está atrás da cortina, deixamos tudo em 2, o que acham? -Assim que Tony acabou de falar, viramos meio confusos com sua matemática de pirata e a revelação do quinto membro do nosso grupo sorrateiro. 

—  Pottinha, a quanto tempo esteve aí? -A minha amada ruivinha saiu de detrás de uma das cortinas pesadas do escritório, com a cara emburrada.

—  A mais tempo do que vocês, posso garantir! Eu estava fugindo dos jornalistas... Vocês sabem como eles podem ser chatos! -Ela se defendeu, mesmo ninguém acusando ela de nada. –  Sobre o que vocês estavam falando?

—  Eu não faço ideia, Lily e olha que eu estava participando da conversa.  -Romeo disse divertido para Lily, mas depois virou sério para Tony. –  Qual foi a merda que você fez dessa vez, Zabini?

—  Merda, eu? Eu não faço merda, meu caro, eu so faço coisas boas, o tempo mostrará isso, não tenha dúvidas! O que vocês chamam de merda agora, nossos netos chamarão de “plano genial de duas partes e meia”!

—  Eu quero saber o que houve com essa meia parte de três?  - Perguntei com a mão na testa, porque obviamente Tony acredita que prestou um favor causando aquele climão lá fora. Dai-me paciência! 

—  Devia querer, porque isso muito te envolve! O que diabos você tinha que ir lá se meter na briga de Marikh e Evacimoff? -Tony me perguntou indignado e eu me segurei para não meter a mão na cara dele!

—  Então eu estraguei a meia parte final do plano? Bom, isso quer dizer que já fiz por merecer meus presentes de Natal, antes tarde do que nunca! -Tony me olhou pronto para continuar sua reclamação, mas James nos interrompeu.

—  Ok, ok! Merda feita, vamos em frente, Tony, tem alguma chance de ligarem a pegadinha a você? -Ele perguntou com mais calma do que me resta com o senhor Zabini “estou implorando por qualquer supervisão adulta que eu puder conseguir”.

—  Claro que não e não é “pegadinha”, é um plano genial de duas parte e...

—  Tá, a gente já sabe dessa bosta! -Tony me olhou magoado, mas eu continuei irredutível.  –  O que conversamos sobre você fazendo as coisas sem pensar nas consequências? 

—  Mas eu pensei nas consequências! Independente do que aconteça, Uagadou ou Durmstrang estará na final, então eu estou tratando de desestabilizar eles emocionalmente. -Encarei Tony boquiaberto. Ele não aprendeu nada com aquela história do estádio? –  Eu li em um livro que quando você não se sente querido em um lugar, é muito difícil você se dar bem nesse lugar! Durmstrang pensa que estão sabotando eles, Uagadou se ofende por ter sido cogitada primeiro como culpada... Os não bem-vindos!

—  Onde você leu isso? -Lily perguntou desconfiada e não é para menos.

—  No livro de tortura que Scorp está fazendo, está lá no capítulo sobre tortura psicológica em crianças. -Eu abri a boca, assim como James, mas a gente meio que não soube o que falar. –  Eu tenho que dizer, o loiro sabe o que está fazendo...

Depois dessa declaração, a sala caiu em um silêncio estranho, todo mundo provavelmente pensando em como denunciar Scorp para os aurores antes dele fazer um genocídio em Hogwarts e provavelmente só eu pensando que ele realmente levou adiante aquela ideia imbecil do livro de torturas.

E Tony não estava pensando em nada, porque Tony não pensa.

—  É, eu devia ter ouvido Potter... Não queria saber de nada disso, adeus, cambada de loucos. -Romeo foi embora sem cerimônia e eu fiquei tentando achar a luz no fundo do poço que era ser chamado de louco por alguém como Romeo Habermas!

—  Zabini, se você for pego, saiba que qualquer perda para Hogwarts repousará em seus ombros. -James bateu nos ombros de Tony enfaticamente para fazer valer seu ponto. –  Espero que possa dormir com isso.

—  Eu posso sim, obrigado pela preocupação.  -Tony disse irônico para as costas de James já saindo pela porta. Claro que o grifinório não o deixaria com a última fala.

—  O inferno vai congelar antes de eu me preocupar, Zabini... Vai congelar! -Ele falou teatralmente o final, já no corredor, fora do alcance de nossos olhos. 

—  Que babaca... -Tony resmungou e eu respondi na lata.

—  Babaca é você, que não consegue nos dar um segundo de paz! -Ele me olhou ofendido. –  Você não ia coisar Weasley no pomar?

—  Eu ia, mas o pai dela a interceptou para falar com uma velha esclerosada qualquer, olha, vou te dizer, tem horas que eu só queria que ela fosse órfã!  - Tony olhou culpado para Lily, que o encarou brava. –  Sem ofensa, ruivinha, órfãs podem ter primos e tios.

—  Nem se dê ao trabalho de se indignar, Lily, essa aí é uma causa perdida! 

—  Por que você tá tão mau comigo? Brigou com seu... O que quer que você sabe quem seja seu? -Ele me perguntou cínico e eu já ia mostrar a ele o meu sabe o quê na sabe cara dele, quando Lily resolveu nos interromper.

—  Antes que vocês comecem com suas palhaçadas, eu tenho notícias sobre a missão do Ocaso que você me deu, Cesc. -Tony olhou surpreso, mesmo sabendo do que se tratava, acho que ele só não entendeu o porquê de Lily não estar guardando segredo pra ele. –  E sim, Tony, eu sei que você está metido com o Ocaso também, quero dizer, nem você, muito menos Cesc seriam capazes de desvendar o mistério deles sozinhos, mas juntos...

—  Vou ignorar que você subestimou nossa inteligência tendo ganhado ao longo dos anos tantas provas dela, porque estou curioso, o que você e sua gangue mirim descobriram sobre o caso de Hogwarts? -Perguntei interessado para uma Lily misteriosa.

—  Eu tenho três notícias: uma horripilante, uma tenebrosa e uma até que legalzinha, vai. -Ela disse o final com um sorriso, mas depois voltou a expressão séria.  –  Qual vocês querem primeiro?

—  A horripilante, gosto de começar pelo pior. -Tony concordou com minha escolha com a cabeça e Lily sorriu como a senhora dos destinos horripilantes.

—  É bem provável que nenhum de nós vá concluir os estudos em Hogwarts.  -Eu e Tony abrimos a boca para retrucar,  mas Lily foi mais rápida. –  Uma perspectiva horripilante mesmo, eu sei, mas a parte tenebrosa é que nem sequer há a certeza de que alguém voltará a estudar lá algum dia!

—  Nhé... Hum... -Tony fez um sinal de mais ou menos com as mãos e uma expressão de dúvida. –  Acho que essa parte tá mais horripilante do que a primeira.

—  Ficamos em dúvida quanto a classificação das notícias, mas a parte meio que boa é mesmo meio que boa, querem ouvir? -Ela disse “meio que empolgada” então deixamos ela continuar a falar. –  Há grandes chances da gente pelo menos finalizar esse ano, viva!

As mãozinhas de jazz de Lily não trouxeram nenhuma alegria para o cenário,  Tony ficou lá digerindo a notícia, mas eu estou disposto a ensinar a essas crianças uma lição valiosa sobre o jornalismo.

—  Cadê as evidências, menina? Quer dizer que eu dou livros, tempo e paciência pra três pirralhas do segundo ano e vocês me voltam com uma profecia “meio que alguma coisa não definida”? -Falei sério com Lily, mas ela se virou entediada para Tony.

—  Ele realmente brigou com o Voldemort dele, não foi? -Tony ainda fez que sim com a cabeça, antes que eu o encarasse sério. 

—  Mas ele tem razão, Lily. De onde você tirou essas coisas? -Pottinha fez uma cara bem profissional, se ela tivesse uma gravata em seu traje de festa, teria ajeitado nesse exato momento. 

—  Vocês receberão as evidências em mãos assim que as aulas voltarem, só queria dar a notícia primeiro. -Ela parou na minha frente, ajeitou meu traje e depois deu tapinhas maternais no meu braço. –  Boa sorte contando isso para os Iconoclastas, querido. Você vai precisar.

Assim que Lily saiu da sala, coloquei minhas mãos no bolso, pensando em como ela está certa, só o piti de John será épico, mas sem evidências, eu é que não vou dizer nada.

—  Essa ruivinha do capeta não tem provas, ela só disse isso pra deixar a festa azeda para a gente. -Tony disse sabiamente e eu concordei com a cabeça. –  Mas se ela estiver certa... Estamos fodidos.

—  Não tem como ela estar certa, como três livros de história poderiam dar a ela pistas tão claras do futuro? -Perguntei em retórica, mas nem foi Tony que respondeu.

—  O passado nada mais é do que um futuro que já aconteceu. -Eu e Tony olhamos para a porta do lugar secreto que James conseguiu,  que de tão secreto só faltava ser o local de aparatação de Rita Skeeter!

—  Ah! Olá, Enrique, estávamos falando de você a um segundo atrás, que coincidência!  - Olhei irritado para Tony, que só sorriu cínico, já se esgueirando para ir embora. –  Se me dão licença, tenho que... Olha, melhor não saberem, meus planos estão um pouco maquiavélicos hoje.

—  Chega de planos por hoje, Tony! -Ele sorriu misterioso para mim e depois deu uma piscadela para um Enrique entediado na porta.

—  Os planos são o que nos diferencia das Lulas-gigantes! Isso e a capacidade de amar sem preconceito... Das Lula-gigantes, claro. Tenham uma boa festa, crianças. -Depois dessa o grande idiota saiu de fininho, acompanhado pelo sorrisinho de Enrique.

—  E você faz o quê aqui? Não devia estar pajeando sua namorada nova? -Péssima escolha de palavras, porque a expressão de Enrique escureceu na hora.

—  Na verdade isso me lembra porque eu estou aqui: a minha “namorada nova” está nesse exato minuto chorando feito a Murta lá no banheiro do final do corredor e eu estou bem certo de que a culpa é toda sua! -Ele me disse bravo, novamente fazendo valer essa nova mania irritante de me empurrar. Eu vou quebrar a mão dele se ele fizer isso de novo!

—  Minha culpa? Como pode ser minha culpa se eu não botei os olhos nos cabelos falsos dela desde aquela hora? -Ele olhou indignado. –  Devia saber que uma coisa assim aconteceria! Francamente, uma ruiva, Enrique? Olha o tipo de gente que namora ruivas, Tony é o exemplo mais extremo, mas não tenha dúvida que todos os namorados de ruivas tem uma idiotice em comum!

—  Você é uma criatura muito irritante mesmo, hein? Agindo como se a culpa não fosse toda sua! Quem foi que disse que ela era minha namorada para começo de conversa,  hein? -Sorri para a raivinha dele. Ah, sim, alguém tinha que fazer o trabalho sujo. –  Agora ela tá lá chorando porque eu tive que desmentir a história toda na frente dos meus pais! Não dava para mentir para eles, né? 

—  Desde quando? Mesmo não sabendo de algo específico, tenho certeza que houve um “sim, mamãe, estou preparado para os NIEM's, não se preocupe” em algum lugar da história.  -Ele fez força para não rir e eu continuei sabendo que tinha ganhado a causa. –  Vamos substituir esse “não pude mentir” por um “não estava afim”, ok?

—  Não estava mesmo, mas eu ia ser obrigado a fazê-lo!  Graças a Circe que eu tenho consciência e não menti para ninguém!  - É o quê? Novamente ele prendeu o riso. –  Eu tenho consciência, Cesc, diferente de você. 

—  Nunca fui apresentado a ela, ela tá bem? Estava em coma esse tempo todo? -Dessa vez ele riu. –  Sério,  Enrique, vai consolar a garota, você não quer o peso da dor dela nas suas costas,  vai por mim!

Ele podia até duvidar, mas uma vez que tomamos conhecimento da dor das nossas ex, se houver um pouco de consciência realmente envolvida, então a culpa não terá mais fim! Ele me olhou desconfiado.

—  Isso do alto da sua experiência de 11 anos de vida? -Respirei fundo para não partir para a violência.  Ele segurou meus braços. –  Ok, ok, brincadeirinha, não vim aqui para te irritar, vim por um outro motivo.

—  Não vou te ajudar a colocar chifres na pobre Weasley, ela tem muitos primos para ser seguro! -Tentei me livrar do aperto dele, mas o idiota é muito forte!

—  Não, você vai fazer melhor! Você vai me ajudar a despartir o coração dela! -Eu parei de me debater e o olhei por sobre o ombro.

—  Você quer dizer remendar o coração dela? -Depois eu que falo errado, o cara nasceu aqui e fica inventando palavras!

—  Não é como se você fosse ser o príncipe dela! Não, você só vai até o banheiro da Murta loira de boticário e vai dizer que não é tão legal assim namorar comigo, que na verdade ela fez um bom negócio! -Ele me soltou e eu o encarei sem paciência. 

—  Devo terminar o discurso com um “sei por experiência própria”? 

—  Não se atreva! -Sorri para a indignação dele. –  Você só vai lá, usa sua lábia de vendedor de pó de asa de fada para fadas e a convence a parar com a ceninha! Minha mãe é muito delicada e acha que eu sou insensível, então preciso disso resolvido ainda hoje.

—  Tá, eu não vou nem dizer nada sobre sua insensibilidade, chega a ser um insulto a roteirista das nossas falas colocar um presente desses na minha mão.  -Enrique sorriu esperançoso com meu tom conformado. –  Tá, eu vou falar com a garota, mas se não der jeito, você casa com ela.

—  E se você der, eu caso com...

—  Vai se foder! - Ainda pude ouvi-lo rindo atrás de mim. Babaca.

***

Mal chegamos na frente da porta do final do corredor e já dava para ouvir o choro de Dominique Weasley. Não era uma coisa sutil e delicada, era choro mesmo! Enrique me olhou entre o assustado e o enojado, mas não havia nada de culpa em sua expressão.  Insensível dos pés a cabeça!

Fiz sinal de silêncio pra ele, que concordou, então bati na porta. O choro silenciou e deu lugar a uma super fungada, seguida de um rosnado indignado.

—  Está ocupado! -Havia um pouco de sotaque francês e energia, então ela não estava completamente morta. Bati novamente. –  Já disse que está ocupado, idiote!

—  Eu ouvi da primeira vez, talvez eu esteja atrás de você e não do banheiro!  - Falei com a porta, que dessa vez não respondeu nada. –  Dominique... Posso te chamar de Dominique? Então... Olha, eu sei que as coisas não estão indo bem como você havia planejado, mas se você pudesse abrir...

—  Eu não vou abrir a porta para você,  seu grrande pedaço de merde! -Ai como eu detesto o francês! Ela continuou sua indignação.  –  E pode dizer ao idiote do seu amigo que é para ele morrer na boca de um lobisomem, se ele estiver aí com você! 

Eu olhei para Enrique que fez uma expressão falsa de “que desnecessário “, mas na verdade era bem necessário sim, quem sabe nos últimos segundos de vida na boca do lobo ele se arrependa? Acho difícil dado o histórico de quase mortes dele, mas nunca se sabe...

—  Ele não está aqui e eu vou falar por cima da porta mesmo: me desculpe, eu não devia ter feito aquela brincadeira com o lance do namoro,  era uma piada interna na Sonserina e eu não devia ter envolvido você nisso...

—  Era uma piada? -Ouvi ela se encostar na porta e fiz uma careta, porque isso podia ter piorado as coisas. Enrique deu um aperto em meu braço. Já sei, já sei!

—  Não! O lance de Enrique não namorar nunca era uma piada, não você! Ele nunca antes tinha repetido uma garota, ainda mais publicamente, então eu fiz a brincadeira, não achei que alguém levaria a sério, quero dizer, é de Enrique Dussel que estamos falando!

Ele me olhou ofendido e eu revirei os olhos. Sussurrei um “você quer que eu resolva isso ou não?” . Ele fez um gesto para eu prosseguir com a abordagem.

—  De qualquer forma, se era pra levar algo que eu disse a sério, você devia ter lembrado das minhas palavras do ano passado. -Mais silêncio, mas dessa vez Enrique me olhou curioso. –  Ele não servia para Rose pelo mesmo motivo que não serve para você, caras como ele não dão bons namorados, ponto final.

—  Podia dar... -Ela suspirou atrás da porta e eu soube que ela havia sentado no chão do outro lado. Me abaixei para ficar mais ou menos da altura dela. –  Ele era tão bom comigo, do jeito que um namorado tinha que ser!

—  Eu sei disso, caras como ele se especializam em te fazer sentir especial, é um olhar diferente, um apelido carinhoso, um lugar só de vocês... Na verdade ele está tentando te convencer que é única, colocando um apelido para não trocar seu nome e tem lugares assim com outras milhares de garotas! São uns babacas profissionais. -Olhei para Enrique e ele estava encostado na parede, sem parecer nem estar escutando o que eu estava dizendo.

—  Como sabe disso? Você é idiota em muitos sentidos, mas não nesse... Ou é? -O final veio com um pouco de raiva, como se ela fosse abrir a porta e me bater caso eu fosse.

—  Você tem razão, eu não sou, mas eu sou um dos caras para quem eles se gabam. -Enrique dardejou o olhar pra mim, então me corrigi. –  Não Enrique, ele não se gaba, mas só porque os boatos já fazem isso por ele.

Não melhorou muito a expressão do acusado, mas o que ele queria que eu dissesse? É pra ele parecer um monstro. 

—  Vocês garotos são todos uns idiotas, como eu vou saber qual é o cara que não está apenas querendo se dar bem? -Ah, a pergunta de um milhão de galeões, mas vamos lá. 

—  O cara certo não vai fazer joguinhos, não vai ficar mandando indiretas ou sendo misterioso, quem quiser namorar você vai apenas dizer isso, porque essas coisas são bem simples. -Eu disse categórico, porque pelo bem ou pelo mal, ao menos essa garota vai poder eliminar um monte de candidatos a Don Juan de Hogwarts da sua lista, eu estou fazendo um favor a ela. 

—  Mas e se ele for tímido?  - Revirei os olhos, porque isso é um clássico. 

—  Até os tímidos precisam superar seus medos, porque se eles forem maiores do que a vontade de estar com você... Sinto muito, mas ainda não é o cara certo. -Tiro John como exemplo, a chance do loiro não era grande e mesmo Sharam tomando a maior parte do risco para si, o corvinal teve que fazer a sua parte.

—  Você faz parecer tão simples. - Ela resmungou e eu aproveitei a deixa para me levantar. Enrique me olhou sério e eu fiz um “o quê?” sussurrado.

—  Na dúvida, Dominique, assim que você sentir que pode ser algo sério, deixe claro o que você acha que está acontecendo, idiotas fugirão, os menos idiotas ficarão, mas ainda poderão ser perdedores, isso só funciona para uma categoria, existem várias e...

Ouvimos o trinco se abrindo, então Enrique se enfiou na primeira porta que encontrou pelo caminho. Uma Dominique com o rosto um pouco inchado e vermelho do choro saiu hesitante com um sorriso leve.

—  Você podia ser meu personal romance, o que acha? -Ela disse divertida e eu sorri simpático. 

—  Eu causaria mais problemas do que sou capaz de resolver... -Ela riu e eu resolvi falar sério.  –  Desculpe pela brincadeira, eu aprendi minha lição, se isso te consola.

—  Eu acho que não precisarei de consolo por um bom tempo, você me deu muito no que pensar, obrigada. -E tendo dito isso, ela saiu andando como uma garota decidida, que com fé em Merlin só voltará a cair nas garras de algum sem noção no final do ano que vem.

Oremos.

Assim que ela virou a esquina, Enrique saiu de seu esconderijo com uma cara de enterro, devidamente ignorada, já que eu estava fazendo a minha ainda não patenteada dancinha da maturidade emocional. Essa estava fazendo falta no acervo, vou te dizer.

—  Você acabou de perder todo o respeito que o universo estava te dando.  -O senhor desmascarado falou sem humor algum.

—  Ninguém me dá respeito, ele já é meu desde o berço e você devia estar feliz, eu resolvi seu problema! -Ele me olhou sério, depois foi embora, sem me dizer nada. Gritei para o corredor vazio, assim que ele sumiu de vista. –  Seu ingrato! 

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem pela demora, eu não estava conseguindo pensar em tudo que precisava pôr nessa festa, então para o bem de todos, resolvi que vamos passar mais um capítulo nela, só assim vou sentir que coloquei tudo que planejei e acho que algumas de vocês vão gostar muito do que o próximo capítulo trará... Como estou misteriosa!

De qualquer forma, tenham paciência comigo, estou preparando meu projeto para a qualificação do mestrado e não estou tendo muito tempo, se eu demorar e isso incomodar vocês, sintam-se a vontade para perguntar o que aconteceu, que eu tentarei dar uma explicação, um prazo e até respostas para curiosidades q possam surgir.

Mas vou tentar manter a frequência semanal.

Bjuxxx