– A tinta da impressora acabou – Disse a mulher idosa de cabelos brancos. Em seu crachá estava escrito “Minerva”, imagino que esse deva ser seu nome.

Droga; pensei comigo mesma, enquanto retirava o pendrive do balcão da papelaria. Teria que andar três quadras até uma pequena Lan House que fica o mais próximo daqui, deixei o estabelecimento da velha senhora e caminhei pela rua movimentada calmamente, dando passos curtos.

O dia estava tão frio que fazia minha boca exalar vapor ao respirar, sinto o ar gélido no meu rosto e minhas mãos congelando mesmo quando estão aconchegadas dentro das fofas luvas de lã.

Aproximo-me da porta envidraçada abrindo-a e fazendo o som da sineta que sinaliza a entrada de um freguês tocar, a moça atrás da mesa de madeira olha para mim.

– Precisa de alguma coisa querida? – ela questiona.

Aponto para a impressora, e mostro meu pendrive para a ruiva, Ela acena com a cabeça, e aponta para um computador que fica no canto inferior da sala.

Conecto o pendrive na entrada USB, abro o documento de Word e faço cinco cópias do documento. Vou até a impressora, coleto as folhas e faço uma leitura mental do que está escrito na parte superior da primeira página “Curriculum Vitae” dizia. Voltei ao computador desconectando meu item do mesmo.

Paguei pelos serviços utilizados para a moça ruiva, e sai da Lan House, ainda tenho muitas coisas a fazer ao delongo do dia. Preciso largar esses currículos em cinco lugares diferentes, e talvez, mesmo com a minha condição, ser contratada por uma das localidades comtemplada com a folha que possui meus dados e minhas qualificações.

Caminhei pela calçada fazendo um som diferente com os pés, o chão está levemente úmido, deve ser esse o motivo. O dia está realmente frio, a sensação térmica é abominante. Coloco as mãos nos bolsos na esperança de ter mais um pouco de calor, já que as luvas estão sendo quase que inúteis.

Afundo o rosto na gola alta do casaco que vai até meus joelhos, minha respiração passou a ser realizada pela boca, meu nariz está meio entupido, sinal de quê um resfriado irá me visitar em breve.

A porta da loja de tintas para artesanato está semiaberta, o que facilita a minha entrada. O Local é chamativo, as prateleiras são graciosas, e os tubos coloridos de tinta trazem alegria para o ambiente, pincéis dos mais variados tamanhos estão dispostos em vários copos que ficam encima de um cubo central que serve como balcão.

Sinto uma mão calorosa tocar meu pescoço, aquela mão me transpassa aconchego. Viro na direção do homem ou mulher que está me tocando.

– Hermione? – Ele diz.

Meus olhos arregalam, meus lábios se contraem, minha fisionomia ficou parecida com a de um peixe. Não era um desconhecido, era ele, o garoto, aquele que falou comigo quando retornava para casa após ser despedida. O que ele está fazendo aqui? Por que ele frequentaria uma loja de utensílios de artesanato? Se as palavras saíssem da minha boca já teria feito todas essas perguntas.

– É bom ver você – Ele sorri – Eu trabalho aqui, pode parecer um pouco estranho, minha aparência não é compatível com a arte – ele dá uma gargalhada forte quando termina de falar.

Minha boca se abre em um sorriso estranho. Fecho e abro os olhos para me concentrar na minha tarefa, puxo minha bolsa à frente, abro o zíper e retiro uma folha. Olho para ele novamente, seguro sua mão depositando o papel sobre ela.

– Currilum Vitae – Ele lê – Você está procurando um emprego? – ele questiona.

Balanço a cabeça em concordância. O emprego é o único motivo que me fez estar aqui, pensei mentalmente.

– Bom, eu lhe disse que lhe ajudaria se precisa-se, estaria indo contra minhas palavras se falasse que não posso ajuda-la. Falarei com o dono da Loja, não têm o porquê ele negar a sua contratação, é difícil cuidar de toda a loja sozinho – Ele sorri novamente, seus dentes são muito bonitos.

Meu rosto demonstra felicidade de todas as formas possíveis, me aproximo dele abraçando-o seu corpo está quente, e o meu está frio, foi como lançar um bloco de gelo maciço em uma lareira ardente, possúia uma músculatura aceitável, pude sentir isso em seus braços que se entrelaçavam em meu corpo até minhas costas. Desaproximei de seu corpo voltando-me para a saída.

– Bem, se tudo der certo, na verdade dará certo, você receberá um E-mail durante a noite – Ele diz sorrindo novamente.

Balanço a mão para dizer-lhe adeus, ao fechar a porta e voltar-me novamente para a rua, me deparo com os primeiros flocos de neve da estação, meu corpo não está mais frio, está quente como uma chama incandescente, sinto os flocos caírem sobre meu rosto os pequenos pontinhos gélidos vieram para engrandecer minha alegria, nada mais emocionante do que assistir a neve cair, branca serena e plena, como anjos saltando das nuvens e pousando no chão e até mesmo nos telhados dos grandes prédios.

–-xx—

Beberico como um pássaro desidratado a xícara de porcelana que exala vapor quente e aromático, chá de flor de laranjeira, era tudo o que precisava nesse momento. Deposito a bebida na mesa e puxo meu Notebook para meu colo. Ele está gelado, e minhas pernas sentem um leve desconforto inicial. Após alguns minutos as temperaturas se igualam e essa formicação indesejada se esvai.

Abro meu E-mail com a certeza de que a mensagem estaria lá, mas não a encontrei, desci a página, não havia coisa alguma, a sensação de alegria e conforto se modificaram, murcharam como as flores do jardim após serem ricocheteadas pela neve. Aí me lembro do lixo eletrônico e das inúmeras vezes que mensagens importantes foram parar lá. Clico e me deparo com a mensagem esperada, as flores do meu peito ressuscitaram ardendo em chamas como uma fênix ao final da vida, essa queimação é doce e simpática, é o dobro do que sentia antes, é algo bom e feliz.

Quando abri o E-mail, esperava algo técnico e Estilístico, algo digno da Língua Portuguesa, mas lá estava uma escrita séria e rústica. Não é difícil deduzir quem é a pessoa que digitou aquelas palavras.