Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 17
Lei de Pudder: Aquilo que começa bem pode terminar mal. Aquilo que começa mal... Terminará pior.


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior...
Os cavaleiros de Atena, convocados pela secreta organização internacional conhecida como S.H.I.E.L.D, estão em uma missão perigosa e ultra-secreta para capturar um dos mais terríveis representantes da Máfia Napolitana em um hotel-cassino em Mônaco. Para isso, Kanon de Gêmeos, agora convertido em uma curvilínea moça, está em uma disputa de pôquer com o objetivo de atrair o mafioso para uma armadilha; contando com o apoio dos outros cavaleiros de ouro e de seu irmão Saga de Gêmeos...



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Sala de Operações Secretas, Atenas...

Shion andava de um lado para o outro, sumamente preocupado.

Algo em sua alma experimentada dizia claramente que aquela missão era uma loucura sem tamanho, e seria um fracasso fragoroso. Não que seus cavaleiros não soubessem agir em situações extremamente desvantajosas, afinal todas as guerras em que estiveram envolvidos estavam aí para provar; mas no momento a peça principal daquela missão era um cavaleiro convertido em mulher e sem a possibilidade de uso seguro de seu próprio cosmo. E isso era, seguramente, o supra-sumo de todas as situações desvantajosas que sua alma experimentada de quase duas centenas de anos conseguia recordar.

Relax, Shion... - A voz irritante de cowboy texano de Nicholas Fury ressoou em seus ouvidos. - Tudo está saindo como o planejado. Benicio Basili está no papo.

Era nessas horas que o Grande Mestre do Santuário tinha ganas de teleportar o coronel para um lugar muito distante. Ou, talvez, pedir a Shaka que o aprisionasse em um dos Seis Mundos; essa também seria uma ótima ideia.

— Fury... - Shion disse num tom baixo, e que era caracteristicamente um dos sinais inequívocos de que ele estava muito, muito bravo. - Se algo acontecer nessa missão, e quando eu digo 'algo' é qualquer coisa mesmo; você é um homem morto.

— Shion, se acalme... - Dohko, colega de longuíssima data do lemuriano, estava realmente preocupado com o amigo que dava sinais inconfundíveis que perderia a compostura com o coronel americano a qualquer momento. - Até agora, está tudo indo como o planejado.

Shion deu um suspiro, e olhou de lado para um espigado Shaka sentado na cadeira, de olhos fechados; e um relaxado Aiolos emplastado no sofá da moderna Sala de Operações Secretas construída no Santuário de Atena. Mais ao fundo, estavam Saori Kido e Julian Solo conversando em cochichos sobre algo; sendo observados pelos cavaleiros de bronze Seiya, Shiryu, Hyoga e Shun, sentados à mesa da copa da sala, em uma ruidosa discussão sobre algo que ele não conseguia discernir bem o que era.

Bem, também não era como se Dohko não tivesse razão. Até o momento tudo corria relativamente bem.

— E, de mais a mais, temos um ótimo time de backup aqui. - Nick Fury resolveu completar. - O que pode dar errado, hein?

OOO

Dias antes, em algum lugar da Sicilia...

O mafioso conhecido como Gennaro Basili era um dos primos de Benicio Basili, sendo assim um dos membros da família que comandava a Camorra com mãos de ferro e sangue. Mas mesmo entre a famiglia, Benicio não era conhecido por seu fino trato e nem pela sua generosidade. E Gennaro, que originalmente deveria ter sido il capo da organização, foi preterido em ocasião da morte do pai em circunstâncias nebulosas.

E que, ele suspeitava, tinham o primo mais velho envolvido até a raiz dos poucos cabelos que lhe restavam na cabeça.

Assim foi que de herdeiro da posição de comando do pai, Gennaro passou a ter que engolir os mandos e desmandos do primo ganancioso e truculento, se convertendo em um capacho daquele homem que lhe roubava o orgulho e a riqueza. Certamente que seu pai se revirava no túmulo, mas também não era como se confrontar diretamente o primo não fosse uma loucura mortal.

Mas pela primeira vez em anos a sorte agora parecia mudar para si, já que Gennaro recebia uma inesperada visita.

Diante de si tinha um homem de macacão vermelho e um capuz vermelho com duas manchas pretas nos olhos lhe cobrindo a cara; e que se identificava como um mercenário.

Não que confiasse em mercenários, mas não perdia nada escutando o que aquele tinha a lhe dizer.

— Então, senhor...

— Wilson. Wade Wilson(1), às suas ordens. - O encapuzado respondeu com a voz abafada, enquanto meneava a cabeça.

— Muito bem, senhor Wilson. Por que o senhor acha que tem algo que me interesse?

— Porque eu tenho, senhor Gennaro Basili. - O outro abafou um riso. - Eu tenho informações que representam uma oportunidade de ouro para você. De ouro cravejado de brilhantes, vale salientar.

O italiano retorceu o rosto mal proporcionado. Já não gostava de mercenários, e aquele na sua frente ainda tinha a tendência de tagarelar um tanto.

— E por que eu deveria confiar num americano como o senhor, que vende os seus serviços a quem pagar melhor?

— Ora, mas eu não sou americano, se isso o deixa mais tranquilo.

— Não é?

— Não.

— E tem diferença?

— Bem, na verdade não. Mas, em relação a isso, eu me vejo como um verdadeiro representante do capitalismo, e não de um eventual país. Pagando bem, que mal tem? É o lado bom de ser um mercenário, embora vocês achem que mercenários não tem honra, não tem palavra, não tem coração, nem sentimentos... Perdão, eu divaguei, isso acontece comigo com certa frequência. Mas enfim, eu tenho algumas informações que vão te interessar bastante. Posso lhe chamar de você, não?

O italiano meneou a cabeça afirmativamente, já meio tonto com o falatório do mercenário.

—...Bem, muito bem. A propósito, senhor Basili, eu lhe ofereço minhas condolências ainda que tardias pela morte de seu pai...

— Sim, sim, obrigado...

—...De nada. E compreendo que a morte de seu velho pai, naquelas circunstâncias obscuras, deva ter te deixado em uma situação delicada. Você sabe, em relação a outros membros da família. Que assumiram o controle da organização, quero dizer. E que te deixaram, bem, a ver navios.

— Está insinuando algo a respeito de minha lealdade, senhor Wilson?

— Não, claro que não! Imagine! Eu sei o quanto o senhor é um homem leal e cioso aos interesses de sua família. Claro, com certeza. Mas imagine, apenas imagine, se as autoridades estivessem atrás de seu primo Benicio Basili...

— Elas estão, Sr. Wilson, eu já sei disso. A CIA está atrás dele, começaram uma investigação por ele ter colaborado com informações sigilosas para os soviéticos.

— Oh, sim, claro que estão. Mas não é a CIA quem quer um pedaço dele. É a S.H.I.E.L.D.

— S.H.I.E.L.D?

— A própria. - O mercenário encapuzado agora andava em volta do italiano. - E um passarinho verde me contou que eles estão, neste exato momento, organizando uma mega-operação para apanhar seu primo no Hotel Cassino onde ele está... escondido, digamos assim; e trazê-lo sob custódia para algum país da Europa Ocidental. Para ser mais exato, a Grécia.

— Isso seria ruim. - Gennaro ponderou.

— Oh sim, claro. Afinal, se ele for apanhado, com certeza irá pleitear benefícios; como redução de pena dentro de um programa de delação premiada. E isso, creio eu, colocaria todos vocês em risco, já que ele não hesitaria em entregá-los numa bandeja de prata. Estou errado, Sr. Basili?

— Não.

— Mas agora, vamos fazer um exercício imaginativo: Imagine se, durante essa missão da S.H.I.E.L.D, algo dá errado e, por uma fatalidade do destino, seu amado primo acabasse mortalmente ferido...

Gennaro Basili levanta uma sobrancelha.

— ...Claro, o senhor ficaria muito triste, realmente devastado com tamanha tragédia. Não ficaria?

Agora, o italiano solta um risinho de lado, percebendo perfeitamente onde o mercenário queria chegar.

— ...Mas, como bom homem responsável e ciente de seus deveres, mesmo com tamanha dor no coração o senhor assumiria os negócios da família, para o bem de todos...

Gennaro não tinha como negar: a ideia que o encapuzado americano lhe apresentava era perfeita.

— Muito bem, Sr. Wilson. E o que o senhor ganharia em troca?

— Bem, além de uma nova e inestimável amizade... - Wilson deu um risinho abafado. - ...Algumas dezenas de milhões de dólares americanos em uma conta bancária em um paraíso fiscal seriam um presente de bom tom. Não acha?

Gennaro sorriu. Apesar de saber que o indivíduo à sua frente era careiro, ele tinha plena certeza de que a quantia que desembolsaria era um dos melhores investimentos que já lhe apareceram.

— Metade agora, metade ao término do serviço?

— Parece-me um bom acordo, Sr. Basili...

— Então temos um trato, Sr. Wilson.

OOO

De volta ao presente, no Cassino Royale...

Saga estava agora positivamente nervoso.

Conhecia seu irmão o suficiente para saber que, depois que aquela chave titilante foi colocada no pote de apostas, Kanon faria de tudo para faturar aquele monte. E, bem que ele sabia, seu irmão não era o tipo de pessoa que costumava medir esforços para conseguir o que queria.

O cavaleiro de Gêmeos quase teve um piripaque ao ver a agora moça esticar as costas de modo que seu decote se aprofundasse o suficiente para atrair a atenção dos presentes. Coçou o nariz, já quase arrancando o ex-rapaz daquela mesa; porque sua intuição lhe gritava que aquilo não acabaria bem.

Para sua sorte, o crupiê solicitou um intervalo antes de recomeçar a nova rodada de apostas.

Saga quase saltou sobre a agora moça que saía da mesa, ainda de olhos fixos na chave no pote.

— Kanon, o que pensa que está fazendo? - Disse o mais velho baixinho, entre os dentes.

— O que você acha? - Disse a agora moça, deixando o decote ainda mais provocante. - Criando uma distração!

— Como assim distração, seu demente? - O outro se exasperava. - Kanon, pelo amor de todos os deuses do Olimpo, não se esquece do por quê de nós estarmos aqui, por favor!

— Saga, deixa eu te explicar direitinho uma coisa: Você tá vendo aquela chavezinha no pote, lá? Então, aquilo é uma Ferrari. Fer-ra-ri, aquele carrinho vermelho bacana que todo homem gostaria de ter na garagem, sabe? E aquele marreco lá tá jogando a dele no pote, que está ali chamando pelo meu nome, não tá escutando?

— Kanon...

Relaxa, cara, que eu já bolei um plano na minha cabeça, então tudo vai dar certo! Com o meu talento pro jogo eu ganho aquele pote, faço uma graça pro Basili, e daí nós encaçapamos o babão mafioso e ainda arremato aquele carro pra mim! Não tem como dar errado!

É necessário aqui se dizer que, se tinha uma coisa que fazia até os pelos da nuca de Saga se arrepiarem, era isso: Ouvir o irmão dizendo que tinha um plano infalível que não tinha como dar errado.

— Kanon, pelo amor de Atena... Esquece isso. Deixa esse jogo pra lá, por favor.

— Saga, lindinho... - A agora moça aumentou a doçura na voz, mas fez patente ao outro sua ironia. - Confie em mim. Vai dar tudo certo! Eu vou faturar o pote e seduzir o velho, não tem com que se preocupar! Até orque 'nós vivemos num mundo materialista, e eu sou uma garota materialista'(1).

Saga suspirou, desconsolado.

OOO

Enquanto isso...

Numa sala de segurança do hotel, um grupo de mafiosos mantinha a monitorização da área por câmeras de segurança.

Mas aqueles mafiosos ali presentes não estavam cuidando da segurança de Benicio Basili: Eram parte da equipe de Gennaro, chefiada pelo mercenário mascarado de macacão vermelho, conhecido por Deadpool(2).

— Ô, das 'bola preta' nos olhos, cadê os tais cavaleiros de ouro que 'cê disse que iam 'tar aqui? - Perguntou um deles.

— Eles estão, idiotas. - O mercenário tagarela apontou então para um dos monitores. - Está vendo esse do cabelo curto ali, junto com um de cara de florzinha? É um deles.

— Como que 'cê sabe?

— É pra isso que me pagam bem, sua besta quadrada. Senão eu passava a vida aí, no seu lugar.

O mafioso fez um muxoxo, e um dos monitores mostrou a imagem do jogo de pôquer que acabava de voltar do intervalo.

— Olha só... - Disse outro deles. - Vai começar o jogo de novo.

— E aí, o tal cara botou mesmo a Ferrari na mesa de jogo? - O que falara primeiro perguntou.

— Botou.

— Interessante... - Deadpool meteu-se entre os dois, olhando o monitor que dava uma vista da mesa. - E a gostosona ali, quem é?

— Ah... Sei não. Ela tava com o loiro altão ali atrás. Aliás, ela acabou de dar um tombo nos outros jogadores da mesa. 'Cê viu?

— Sorte de principiante... - Respondeu o outro mafioso, enquanto Deadpool analisava a cena toda. - Agora enquanto isso o chefão tá lá todo saliente pra cima da coitada.

— Eu já disse que quem gosta de homem é viado, mulher gosta é de dinheiro... - disse o mafioso que falara primeiro, enquanto olhava Benicio Basili se colocar ao lado da moça loura e bem vestida que ele vinha tentando bolinar há tempos. - Vê se tem cabimento aquele velho feio faturar uma lindeza dessas.

— Está certo, meu caro, é de grana preta que mulheres desse calibre gostam. - Disse Deadpool, ainda entre os dois mafiosos que olhavam os monitores. - Mas nada temam, rapazes, que a hora da revanche de vocês já vai chegar... E, se quiserem, depois de apagar o chefão vocês podem se divertir com a loira. Eu faço esse gosto pra vocês. Mas, claro, depois que eu também ter meus momentinhos com ela...

— E os outros cavaleiros que estiverem ali no meio, a gente faz o quê?

— Depende. Vocês curtem só mulheres ou homens também servem?

OOO

— Urgh... - Mu, um tanto mais calmo depois de sua explosão, sentiu um arrepio desagradável lhe percorrendo a espinha.

— Que foi? - Aldebaran perguntou.

— Sei lá, senti uma coisa ruim, um mau pressentimento...

— Xi, é melhor prestar atenção, porque o Mu é psi... psiqui... Arrrh, paranormal. Pronto.

— Mas que bicho burro, viu... - Aiolia deu um riso seco. - Não sabe nem falar direito...

— Nossa, parem tudo e se curvem em respeito; falou o cara mais inteligente do Santuário, agora. - Milo irritou-se de novo. - Lógico que eu sei o que é psíqui...co, eu só tenho dificuldade de falar essa palavra às vezes, não pode?

— Não, bicho burro.

— Agora, eu sei outras mais difíceis. Quer ver? - Milo empinou o nariz, em claro sinal de provocação.

— Gente, pelo amor de todo o panteão do Olimpo, chega! - Até mesmo Aldebaran estava se irritando. - Até porque nós temos que ficar concentrados na missão, e não brigando feito criancinhas de jardim de infância.

Os dois sossegaram, e o silêncio voltou a reinar na van; mas Mu não se sentia melhor. Fosse isso um mau pressentimento, era daqueles muito maus mesmo...

OOO

— Dá uma olhada! - Um dos mafiosos chamou a atenção para uma câmera de vigilância. - Recomeçou a partida de pôquer.

— Essa loira boazuda tá um caso sério. - O outro mafioso suspirou. - Bem que o chefe aí disse que nós vamos poder brincar um pouquinho com ela, porque eu vou cobrar essa promessa. Ah, se vou.

Deadpool fez um muxoxo por baixo da máscara. Os dois pobres diabos nem imaginavam que eles não viveriam para ver o fim daquele dia, posto que sua missão era clara em não deixar testemunhas. Mas era melhor que eles seguissem se enganando.

Na outra câmera de vigilância, porém, um dos camareiros que prestavam serviço ao hotel passou desapercebido, embora o rapaz de traços orientais chamasse um tanto de atenção naquele meio. E ainda antes que alguém notasse nas câmeras, o rapaz rapidamente saiu do alcance da vigilância.

Ikki tinha acabado de fugir da câmera do corredor onde estava, numa mania que tinha em todas as suas missões. Seus instintos de lobo solitário lhe disseram sempre para evitar ser capturado em videotape, porque muitas das missões que ele desempenhava em nome do Santuário para instituições como a CIA e a S.H.I.E.L.D beiravam a ilegalidade. Isso quando não envolviam espionagem e contra-espionagem em território comunista.

Bem, não que fosse esse o caso agora; já que a parte realmente ilegal da coisa seria desempenhada pelos cavaleiros de Ouro em geral, e por Kanon e Saga em particular. Era verdade que ele não imaginava Saga fazendo algo fora de seus princípios morais, mas Kanon era certamente capaz de guiar o irmão pelos caminhos da malandragem para uma missão bem sucedida. Nem que fosse aos golpes.

Ele, mesmo, estava ali para servir de 'anjo da guarda' da agora moça, e tinha ordens expressas de resgatá-la assim que identificasse qualquer sinal de perigo. Mas não podia dizer que o ex-rapaz não estivesse fazendo um bom trabalho em distrair Benicio Basili.

— Ô japa, tá aí pensando na morte da bezerra? - O chefe dos camareiros, um sujeito grande, meio gordo e chato como ele só, veio interpelá-lo ao ver que ele estava pensativo ao invés de trabalhando para manter a ordem no salão.

— Desculpe, senhor. - Fênix respondeu, forçando um pouco o sotaque para sustentar o disfarce de estudante de intercâmbio em Mônaco. Mas pensava com seus botões que era a última missão em que Nick Fury o colocava de 'ralé'.

OOO

Enquanto isso, no salão de jogos do Cassino Royale...

Kanon continuava no jogo, agora violento como nunca, principalmente porque nessa rodada ele estava participando mais ativamente. Bem mais ativamente. Sua estratégia consistia em empurrar o calvo endinheirado que empenhou a Ferrari no pote de apostas para fora da partida, e de quebra fazer os outros dois jogadores se arriscarem mais em seus jogos. A sucessão de boas mãos que lhe vinham também ajudava, e atrapalhava o quase ex-dono do carro cuja chave repousava no monte.

Aquele monte era seu, ele sabia.

Depois do fim de outra rodada, o crupiê pediu mais um intervalo. Kanon levantou-se, pois precisava ir ao banheiro, e ficou bem feliz de ver que Benicio Basili não veio atrás de si para mais uma sessão de tentativas de bolinação explícita. Já estava ficando impaciente com tanta mão boba, e a bexiga cheia do momento não ajudava em nada a diminuir sua irritação.

No caminho do banheiro feminino (tinha que relembrar de tempos em tempos que era para lá que ele ia), pensava que realmente essa era uma diferença entre homens e mulheres: Em seu atual corpo ele tinha mais dificuldades de aturar uma bexiga cheia. Isso em batalhas poderia ser um problema, considerando a dificuldade que as mulheres tinham de se aliviar desse problema em qualquer lugar, como podiam fazer os homens... Mas, vá, tinha que admitir que não era um problema assim tão grave. E também tinha todo o lado positivo de poder entrar no banheiro das mulheres e nos vestiários femininos sem despertar comoção, o que antes lhe era impossível.

Despreocupadamente, abriu a porta do banheiro feminino e viu que todas as portas estavam fechadas; menos uma, que estava entreaberta. Empurrou a porta já com um tanto de pressa, mas sem se dar conta de que aquele sanitário estava ocupado.

Só que ele nunca imaginaria o que via ali.

— Ahh, amapôan, aqui tá ocupado, sai! - Disse a voz anasalada da tal loira pernuda de quem Afrodite estava atrás, em pleno ato de estar sentada no vaso ao fazer uso dele.

E Kanon, apesar da situação vexatória da moça e da sua própria, não pôde evitar um olhar furtivo para as partes 'interessantes' da moça, abaixo da linha de sua cintura.

Só que não esperava, mesmo, ver o que vira ali.

Sentiu o rosto arder em choque.

— Eh... Ah... Desculpe... - Saiu ventando daquela cabine, para entrar em outra já desocupada e sentar no vaso. E ali pôde externar seu choque, ainda que em silêncio.

"P*** que pariu!" - Pensava Kanon sem parar, quase esquecendo da partida de pôquer. Levantou-se, lavou as mãos e saiu do banheiro feito um raio.

No meio da missão, acabara de aparecer uma outra missão.

OOO

Saga aguardava próximo a mesa de jogos, ainda em intervalo, enquanto praguejava mentalmente pela irresponsabilidade do irmão. E de seus colegas de missão também, vá lá.

Foi interrompido em seus devaneios por um ex-rapaz um tanto atarantado, que o puxou para um canto.

— Saga, você acaba de receber uma incumbência! - O ex-rapaz tentou falar em voz grave, não dando muito espaço para réplicas ou tréplicas.

— Kanon, do que você está falando? Porque se for alguma coisa que tenha a ver com ajudar você a tentar levar aquele carro, pode esquecer que...

— Shhh, cala a boca! - Kanon instou, cortando o raciocínio do irmão. - Não tem nada a ver com isso! É outra coisa, mais séria!

— Como é? - Saga franziu a testa numa careta. - Mas que diabos...

— Saga, eu vou ter que voltar pro jogo, certo? Mas você vai sair daqui, achar o Afrodite e manter ele longe da tal loira pernuda! Longe, ouviu bem?

— Hã? - Saga exasperou-se. - Kanon, deixa de bestice, vá. A nossa missão é aqui, e mesmo que não fosse não vou ser eu a sair atrás do Afrodite pra lembrá-lo de suas obrigações. Eu não tenho mais saco pra isso!

— Saga, é uma emergência! Uma emergência emergentíssima!

— Conversa, Kanon! Nós não temos tempo pra isso agora!

— A honra dos cavaleiros de ouro está em jogo!

— Por que estaria?

— A tal loira pernuda é encrenca! Encrenca grande!

Saga revirou os olhos.

— Tá, e se ela for? É problema do Afrodite.

— Não! É problema de todo mundo! Nossa imagem será manchada pra sempre! Os cavaleiros de ouro...

— Kanon, pelo amor de Zeus, deixa isso pra lá! - Saga já estava perdendo a paciência. - E o que tem demais a tal loira pernuda, afinal? É até bem bonitona, se você quer saber. Eu mesmo, se não estivesse de serviço, ia...

— IA P**** NENHUMA, ENTENDEU? - Kanon alterou-se. - Não fala isso nem de brincadeira! -

— Kanon, eu não estou te entendendo. Qual é o grande problema da loira pernuda, então?

— Então, Saga... O problema dela é que ela tem muita perna, sabe? - Kanon não sabia se deveria dizer; afinal se a história vazasse os Cavaleiros de Ouro também estariam com a 'honra' em risco.

— Hã? Ué, e qual o problema de um par de belas pernas compridas? Eu pessoalmente gosto muito...

— Saga, se liga! Não é o tamanho da perna, é o número de pernas que ela tem, entende?

— Kanon, você não andou tomando nada alcoólico não? Porque você não está fazendo sentido nenhum. Como assim o número de pernas que a moça... Oh! - E finalmente a ficha de Saga cai, substituindo a cara amarrada de antes por uma expressão de absoluto assombro. - Você não tá querendo dizer que...

— Entende agora a gravidade da situação?

— Mas... Mas... - Saga agora parecia aturdido. - Mas gente, até eu ia pensar que... Gente... Gente...

— Então, eu também. Mas já pensou se o Afrodite vai lá sem se dar conta e... Tenta alguma coisa? Uma história que fará empalidecer o tal evento da Casa de Libra. Já parou pra pensar na sanha com que o Hyoga, por exemplo, vai explorar essa história?

— Mas... Como você soube?

— Ah... - Kanon engoliu em seco. - Eu estava no banheiro feminino, a porta da cabine estava destrancada e...

— Você... Viu?

— Bem... Vamos ver pelo lado bom da coisa: Sabe aquelas horas em que você fica animado fora de hora? Então, ganhei uma ótima memória pra cortar o 'funcionamento' do negócio...

— Gente. Gente... - Saga ainda estava aturdido.

— Saga, pare de repetir 'gente' que nem papagaio. Você precisa impedir o Afrodite. Rápido, vai! - Kanon disse, empurrando seu irmão para longe da mesa de jogo.

Saga parou para ver a agora moça se afastando, e pensou que realmente deveria procurar o colega de armas para evitar essa situação.

Só que Kanon ele, inacreditavelmente, se esqueceram de um detalhe: Saga tinha o ponto na orelha para falar com Nick Fury. E, naquele exato momento, o ponto estava ligado...

OOO

— COMO É QUE É? - Seiya, que tinha acabado de ouvir no rádio então em viva voz de Nick Fury o que os cavaleiros de Gêmeos discutiam, estava em polvorosa. - Peraí, deixa eu ver se eu entendi: A moça de quem o Afrodite tá dando em cima não é bem uma moça? 'Cês tão de sacanagem!

— Eu sabia! - Hyoga vibrava. - Esses cavaleiros de Ouro aí nunca me enganaram! Ficam aí tudo pagando de machão mas na hora do 'vamos ver', dá nisso aí...

— Mas cara... - Shun tentava contemporizar. - Vai que é uma daquelas que não dá pra dizer mesmo. Nem o Saga percebeu...

— Mas gente, vamos combinar: Até onde eu sei, tem umas coisas que não dá pra ignorar, né... - Shiryu tentava ser imparcial, sem sucesso. - Tipo, 'cê olha lá no pescoço da menina e tem um gogó? Complicado...

— Vou te falar... - Hyoga, por sua vez, se sentia vingado. - Mas desse Santuário aí eu só ponho a mão no fogo pelo meu mestre, porque o resto? Pfff... Não ponho nem uma unha, que detesto cheiro de carne queimada! E Shun, vem cá, de que lado você tá, hein? Já esqueceu do quanto esse povo fez da nossa vida um inferno com aquela história da Casa de Libra?

— Deixem a Casa de Libra em paz! - Dohko se intrometeu, porque nem ele aguentava mais a série de insinuações de que sua casa zodiacal foi vítima após o referido episódio. - Eu já disse que não quero mais ouvir ninguém falando desse assunto!

— Xi, então é melhor tapar os ouvidos... - Aiolos disse de si para si. - ...Porque é só o que passa na programação da Rádio Peão do Santuário.

— O que disse, Aiolos? - A voz anasalada de Shaka o interrompeu.

— Ah? Eu não disse nada não.

— Você deveria criar vergonha e se concentrar em nossa missão, Aiolos. Esses meninos também. Estamos no meio de uma missão importante e eles, em vez de se concentrar e acalmar as mentes, estão se regozijando da má sorte de um colega de armas...

Aiolos rolou os olhos enquanto o outro começava seu monólogo, pensando seriamente em se levantar e ir até o grupo que agora fazia uma certa algazarra na mesa onde estavam sentados.

— Epa, Hyoga, não vem falar do teu mestre não, hein, que eu já ouvi uns boatos aí... Esse negócio de muita amizade entre homem é complicaaaado...

— Ué, mas se for por isso de homem que vive grudado com amigo... O povão pode começar a falar de você e do Shiryu, sabia, senhor Seiya Ogawara?

— Eh, mas que história é essa, rapá? Conversa esquisita é essa? Eu e o Shiryu somos 'tudo homem comprometido'! Ainda mais agora que o Shiryu e a...

— Seiya, cala a boca! - O aludido quase pulou no pescoço do colega. - Não tá vendo que não dá pra falar desse assunto aqui?

— A gente devia mesmo era deixar esse assunto pra lá, que esse negócio de ficar comemorando a desgraça alheia é chato demais! - Shun resmungou. - E olha que sim, sou eu quem está falando, que fui o grande prejudicado com essa história toda. Afinal, quem foi que perdeu a garota por conta de um boato espalhado por gente maldosa, hein?

— E por isso você vai defender o Afrodite? - Hyoga ainda não acreditava na bondade do amigo.

— Por que não? - Andrômeda levantou uma sobrancelha. - Dos cavaleiros de Ouro, ele foi um dos únicos que não tirou meu couro com a história dos possíveis acontecidos na Casa de Libra. Agora, bem que se fosse o Milo, ou o Aiolia, a história era diferente...

— Epa, pera lá. - Aiolos finalmente levantou-se do sofá onde estava escarrapachado, interrompendo o monólogo de Shaka. - Mas também, o que vocês queriam que o Aiolia pensasse, hein? Um chega carregando o outro no colinho, todo molhadinho, dizendo que o outro introduziu seu cosmo ardente no seu corpo congelado? Puxa vida, até EU ia pensar bobagem se ouvisse uma dessas!

— ...E lá vamos nós de novo... - Andrômeda encolheu-se na cadeira, suspirando, enquanto Hyoga já estufava o peito para tentar se defender, alegando o habitual 'não tem nada demais nessa história e são vocês que só pensam besteira'.

OOO

Enquanto o assunto ainda rendia na sala de operações secretas, Kanon já havia retomado seu posto no jogo de pôquer onde agora lutaria para colocar suas agora manicuradas mãos de unhas vermelhas cor de sangue no pote de apostas ao centro da mesa.

Sem sentir o olhar reprovador de Saga em suas costas, ele teria bem mais liberdade para fazer jogadas mais agressivas na mesa. Ou melhor, ainda mais agressivas.

Mas ele mesmo tinha que admitir que o jogo lhe favorecia. Estava recebendo uma sucessão de boas mãos, e o calvo endinheirado estava lhe poupando bastante esforço em sua estratégia de tirá-lo do jogo, pois estava fazendo isso praticamente sozinho. Tão comprometido estava ele com o afã de ganhar de volta seu carro, que passou a jogar com ainda menos cautela. E o fato de que às vezes chegava perto de seu intento apenas o fazia jogar novas rodadas com mais afinco.

Porém, viu o magro mal encarado que o chamou de patinha sorrir, e mostrar o dente de ouro.

"Droga", pensou o ex-rapaz, imaginando que ele recebeu uma boa mão. E, pela forma como ele disfarçou o sorriso em seguida, era uma mão muito boa. Benicio Basili, por sua vez, seguiu tão hermético quanto antes.

Olhou para sua mão, que tinha um full house, uma boa jogada. Mas não sabia se tão boa a ponto de desarmar o magro do dente de ouro, que agora parecia ter rosto de cera. Uma vozinha em sua mente, essa já velha conhecida e boa conselheira, lhe sussurrou para usar um pouquinho de cosmo e ganhar uma 'ajudinha' para ler o velhaco. Mordeu a parte interna da bochecha, realmente tentado pela chave que repousava lânguida a seus olhos. "Só uma espiadinha", a voz lhe dizia, "ninguém vai perceber"...

...Mas só não o fez porque sabia que, se ele elevasse um tiquinho de seu cosmo que fosse, em uma fração de segundo Saga estaria ali pronto para lhe tirar da mesa pelos cabelos se preciso fosse.

Suspirou, e fez uma aposta modesta. Não brigaria pelo pote, não daquela vez.

Todos baixaram seus jogos, e ele não estava errado: o magricela tinha um Straight Flush simples, e seu full house não bastaria para lhe tirar aquele monte. Tivesse apostado para valer, teria talvez saído do jogo.

Mas nem tudo estava perdido, já que o calvo agora era oficialmente o ex-dono de sua Ferrari, que agora estava nas mãos do magro velhaco. Benício Basili, que também tinha apostado alto pelo pote, tinha caído fora.

De qualquer forma, para ele essas eram boas notícias...

Então, uma mão repentinamente cravada na raiz de sua coxa esquerda o fez voltar à realidade de outro problema.

— Muito bem, mia bella... - O italiano sussurrou sedutoramente em seu ouvido. - Agora eu posso me concentrar em nosso jogo, capisce?

O ex-rapaz engoliu em seco, com os olhos arregalados, antevendo enormes problemas.

OOO

Conseguirá o intrépido time de cavaleiros administrar a aparição de Deadpool na história que, mesmo que eles ainda desconheçam, acabará por complicar suas vidas? Conseguirá Saga impedir que Afrodite cometa um erro de avaliação que , segundo Kanon, maculará a honra e a moral dos cavaleiros de Ouro? E conseguirá a nossa agora moça seguir no jogo que vale uma Ferrari Testarrossa, apesar das cada vez mais ousadas investidas do mafioso Benicio Basili?
Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!
Stay tuned...


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Notas finais do capítulo

Notas de rodapé e Google translator:

1 – We live in a material world and I am a material girl – Madonna, no tempo em que ela era A MADONNA. Certo?

2 - Deadpool (Wade Wilson) é um personagem de HQ, um super-anti-herói (e por vezes vilão, mesmo) do Universo Marvel, publicado pela Marvel Comics, atuando como um mercenário que usa alta tecnologia, sendo conhecido pelo seu humor negro. Deadpool foi criado por Rob Liefeld e Fabian Nicieza e apareceu pela primeira vez como um vilão em The New Mutants #98 (Fevereiro de 1991).
Apelidado de "Merc with a mouth" (algo como "mercenário tagarela"), ele inicialmente parecia uma paródia do vilão da DC Comics (o também mercenário Slade), mas com sua popularidade ganhou estilo próprio. É um mercenário que usa alta tecnologia e conhecido por sua capacidade de destruição, humor negro e refêrencias satíricas culturais. Assim como Wolverine, Deadpool é um produto do Projeto Arma X, do governo canadense. Depois que o Arma X curou seu câncer lhe dando um fator de cura artificial (extraído de Wolverine), Deadpool foi deixado desfigurado e mentalmente instável.

Outra participação mais que especial das HQs do Universo Marvel aqui em Sui Generis! E, quanto ao local de nascimento de Wade Wilson, na HQ não fica claro, mas ele aparenta ser canadense; uma vez que foi arrolado pelo governo canadense para o projeto Arma X. Mas, na real, seu local de nascimento é desconhecido.




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