Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 16
Capítulo Duplo: Variante da Lei de Murphy no Amor e Teorema de Ginsberg




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No capítulo anterior...
Os cavaleiros de Atena foram convocados pela S.H.I.E.L.D. para mais uma missão onde deverão lutar pela paz na Terra frente a uma terrível organização criminosa conhecida como Camorra, e cujo líder Benicio Basili está refugiado em um luxuoso hotel-cassino em Mônaco. Com a ajuda dos dotes femininos(?) de ninguém menos que Kanon de Gêmeos, convertido em uma curvilínea moça após um mergulho acidental em uma lagoa encantada; nossos intrépidos guerreiros pretendem atrair o famigerado criminoso a uma engenhosa armadilha, para então capturá-lo e trazê-lo às garras da justiça...

 

Variante da Lei de Murphy no Amor: Se parece bom demais para ser verdade... ...provavelmente é.

 

Casino Royale(1), em Monte Carlo, principado de Mônaco...

Saga de Gêmeos olhava a si próprio no espelho enorme do hotel-cassino de luxo, agora que estava devidamente paramentado para sua missão.

Era certo que nunca teve do que reclamar em relação a sua aparência física. Era um homem muito bem apessoado e tinha consciência disso; embora não fosse exatamente vaidoso. Os olhos azuis e o rosto bonito foram obra e graça dos genes, talvez a única coisa boa que herdou dos pais que não conheceu. O corpo trabalhado era fácil para si de manter em dia com a rotina de exercícios dos treinamentos do Santuário. Os cabelos loiros e longos davam bem menos trabalho do que o esperado, resumindo seus cuidados em lavá-los e desembaraçá-los todos os dias. E, pessoalmente, ele não tinha paciência para ter uma rotina de beleza muito maior do que seus banhos e seus exercícios físicos, ao contrário dos outros belos mais famosos do Santuário.

Mas mesmo apesar de tudo isso, Saga não podia deixar de ficar admirado ao se ver no espelho com o tal smoking que ele deveria vestir em sua missão, e que seguramente era a roupa civil mais bonita e bem cortada que já tivera o prazer de vestir em sua vida.

Estava quase, quase entendendo o chilique do mais famoso belo do Santuário (e vaidoso assumidíssimo) Afrodite de Peixes ao ver que ele teria a oportunidade de usar algo assim.

Terminou de ajeitar o terno, o colete e a gravata borboleta, dando um sorriso de satisfação com o que via no espelho enquanto arrumava os cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. E, a propósito, tinha que concordar com o Kanon em relação a não devolver aquela roupa de jeito nenhum.

— Mas olha aí, que 'cê tá numa estica, hein? - Máscara da Morte, que o esperava na antesala da suíte junto com Camus, Shura e Afrodite, também trajava um smoking. – Vai fazer exame de fezes?

Saga fez um muxoxo.

— O Kanon já está pronto? - Perguntou Shura, compenetrado como sempre ficava em missões, enquanto Afrodite se ajeitava em frente a um espelho.

— Ainda não. E vocês, estudaram a planta do cassino direito?

— Sem problemas, chefe. Já tá tudo devidamente estudado e memorizado, relaxa. - Máscara da Morte tentava afrouxar a gravata borboleta. - Só tá faltando mesmo é a noivinha ficar pronta...

— E o Afrodite, já está pronto? - Saga olhava de soslaio o colega da décima segunda casa, que seguia em frente do espelho agora ajeitando um discreto topete nos cabelos presos.

— Acho que agora ele já deve estar nos retoques finais... - Camus deu um suspiro.

— Eu já estou pronto, só estava averiguando uns detalhes. - Afrodite sai da frente do espelho, um tanto irritado. - Mas você tem que entender, Saga, que nossos tuxedos não são feitos sob medida como o seu, são prêt-à-porter. A sorte é que eu, com minhas medidas perfeitas, consigo o caimento ideal mesmo de um modelo pré-pronto.

— Sei, sei. - Saga rolou os olhos. - Mas vamos revisar os detalhes antes de irmos para lá. Todos os nossos movimentos tem que ser friamente calculados.

— Velho, relaxa! - Máscara da Morte impacientou-se. - Eu não te falei que nós já memorizamos toda a planta dessa joça? Tá tudo tranquilo!

— Tranquilo, sei! E você, Máscara da Morte, se mantenha sob controle, ouviu bem? Eu não quero saber de excesso de violência por aqui. Já nem era pra você ter vindo, você veio porque eu insisti.

— Nossa, tudo bem, eu prometo que não vou cortar nenhuma cabeça. - O italiano riu, fazendo troça da lenda urbana das cabeças cortadas na parede de sua casa que ele deliberadamente ajudara a disseminar utilizando uma ilusão criada pela manipulação de seu cosmos sobre a sua coleção de máscaras mortuárias(2). - A propósito, por que foi que você insistiu tanto pra que eu viesse, então?

— Você e Afrodite fizeram um bom trabalho em distrair as defesas do Santuário para facilitar nossa infiltração durante a batalha contra Hades... - Saga disse, em um tom pensativo.

— Então tá. É pra servir de boi de piranha de novo?

— Não, eu já disse. Eu e o Kanon vamos fazer o contato com o alvo, e vocês ficarão de tocaia dentro do cassino, infiltrados como frequentadores. E, antes que eu me esqueça, senhor Lucchese, não é pra sumir atrás de rabo de saia também não, entendeu?

— Mas umas paqueradinhas pode, não pode?

Saga rolou os olhos, de novo.

OOO

Na suíte ao lado...

— Moça, ainda falta muito pra você terminar esse cabelo?

— Só mais uns minutinhos, senhorita Tiropoulos... (3)

Kanon soltou um suspiro. Já estava há quase uma hora com a maquiadora e cabeleireira dando toques e retoques em seu cabelo, embora não tivesse deixado que ela colocasse muita maquiagem além de um pouco de sombra, blush e batom.

A situação toda era insólita, para dizer o mínimo. Olhava para o espelho, e quem olhava para si de volta era uma das mulheres mais bem arrumadas que já tinha visto na vida. O cabelo preso em um coque fofo, a maquiagem leve ressaltando os olhos grandes e claros, o corpo embrulhado num vestido de artista de cinema, como diria Marin.

Suspirou, resignado. Pois bem, se isso não fosse capaz de atrair o tal mafioso ele não sabia mais o que poderia ser.

— Muito bem, senhorita. Está pronta.

— Ah... - Kanon olhou de novo para o espelho enquanto a maquiadora se afastava. - Muito bom...

— Me perdoe a indiscrição, mas a senhorita está linda de morrer!

— Obrigado...

O ex-rapaz levantou-se, mal e mal podendo disfarçar o desconforto. Não se sentia bem com o fato de estar andando de salto, vestido e maquiagem, posto que nunca (nunca!) tinha feito isso em sua vida. E por mais que soubesse que agora era uma mulher, ainda assim não conseguia se desfazer da impressão vívida de que todos chegariam facilmente na conclusão de que ele era um homem travestido.

Bom, nada contra quem curtia e tudo, mas é que essa definitivamente não era sua praia.

Mas nada, nada naquela história toda estava lhe dando tanto desgosto quanto suas unhas dos dedos das mãos pintadas de vermelho cor de sangue(4).

Andou até a porta da suíte onde estava Saga e os outros, se concentrando mais do que achou que faria para andar em cima dos saltos agulha que tanto encantaram a amazona de Cobra. E ainda tinha essa: ter que tentar andar com elegância em cima daqueles instrumentos de tortura.

Bateu na porta levemente, sendo recebido do outro lado por Camus.

— Você está muito elegante, Kanon. - O francês levantou uma sobrancelha. - Maquiagem leve, vestido perfeito... Très chic.

— Isso não é um elogio, Camus.

— Não, realmente. É uma constatação. - O francês pegou o ex-rapaz pela mão. - Unhas vermelhas, bien sûr...

— Estou quase pra pegar um vidro de acetona e tirar esse negócio. - Kanon puxou a mão que Camus segurava, vexado.

— Por quê? Unhas vermelhas são muito elegantes. Eu pessoalmente gosto muito. Muito mesmo... (4)

Kanon soltou um suspiro irritado.

— Está todo mundo pronto?

— Até agora sim, mas se você demorasse apenas um pouco mais o Afrodite poderia muito bem arrumar alguma outra pendência em seu visual. - Camus acompanhou o ex-rapaz porta adentro.

— Ah. Então descemos até o salão, agora?

Oui, mademoiselle.

— Camus... - Kanon rosnou, recebendo apenas um sorriso de volta.

— Ah, finalmente... - Saga não pôde deixar de reparar na visão encantadora em que se convertera o ex-rapaz e até pensou em fazer uma piadinha avulsa, mas deixou para lá ao perceber também o desconforto da agora moça. - Está pronto, Kanon?

— Mais pronto impossível. - Suspirou o ex-rapaz, resignado. - Vamos acabar logo com isso. Shura, passa o rádio pra equipe de fuga e avisa que nós vamos descer...

OOO

Enquanto isso, numa van preta estacionado nos arredores do Cassino Royale...

— Olha, eu vou te contar, isso é perseguição... - Aiolia estava agastado. - Enquanto eles estão lá no fresquinho dentro de um hotel cassino cinco estrelas, a gente tem que ficar aqui, dentro desse forno.

— Nossa, Aiolia, dá pra parar de reclamar só um pouquinho? Porque, sabe, ficar trancado aqui dentro com você reclamando de cinco em cinco minutos não é a ideia de programa legal de ninguém! - Milo rebateu, irritado.

— Mas bem que o Aiolia tem razão nessa... - Aldebaran completou, aborrecido. - Custava pelo menos o carro ter ar-condicionado, pôxa?

— O carro não pode ficar ligado, Aldebaran. - Mu disse, casualmente, enquanto se abanava com um pedaço de papel. - Então a gente tem que se contentar só com o ventilador, mesmo.

— E esses macacões quentes, pelos deuses? Precisavam disfarçar a gente com esses macacões dentro dessa van calorenta? Olha que nem o inferno é quente desse jeito...

— Gente, parem de bater boca e concentrem na missão, pelo amor de Zeus! - Mu interrompeu Aiolia, irritado como não se lembrava de estar há muito tempo. - Até porque a gente tem que estar atento porque nós vamos ter que estipular a rota de fuga!

— E os agentes da S.H.I.E.L.D. não eram pra estar cobrindo as outras saídas? - Aldebaran perguntou.

— Eles estão, já confirmei pelo rádio. - Disse Milo, num tom entediado.

Nisso, o 'beep' do rádio se faz ouvir no ambiente.

QAP? QAP?(5)

— QRV, prossiga. - Milo levou o rádio a si, num movimento entediado. - Escorpião da equipe Rescue-alfa na escuta.

Capricórnio falando.

— Aaah, graças. Qual o QTH de vocês?

Saindo da suíte.

— Ainda?

A gente tem que se preparar aqui, você sabe. Todos os nossos movimentos são friamente calculados, palavras do líder...

— Hunf. Pois avisa seu líder que da próxima vez, é ele quem vai ficar dentro de uma van quente com o Aiolia torrando a paciência.

— Vai à m****, Milo. - O aludido não se fez de rogado.

E vocês, qual o QTH?

— Entrada de serviço da ala esquerda, como combinado. - Milo respondeu, para acrescentar ironicamente em seguida. - Nós já estamos em posição há mais de uma hora.

Parabéns pra vocês, então. Nós estamos descendo. Fiquem a postos, que agora vamos nos comunicar pelo tal ponto eletrônico(5). Ok?

— Ok. - Milo soltou o botão do rádio comunicador e mudou a frequência do rádio para a que seria usada pela equipe no cassino, para então falar para os colegas. - Olhaí, eles estão descendo.

— Só agora? - A expressão de Aiolia era quase dolorida.

— É.

— Eu tô falando que é perseguição. Ah, porque é fácil não ter pressa se não são eles que ficam dentro desse caixote abafado!

Mu e Milo rolaram os olhos.

OOO

Cassino Royale, no imponente salão de jogos...

— Uau, olha que chique... - Kanon não queria demostrar, mas estava um tanto nervoso. Afinal sentia-se literalmente fantasiado, mas sabia que tinha que tentar fingir naturalidade. Mas o ambiente opressivamente luxuoso não ajudava. - Eu acho que só vi um salão assim em filme, mesmo.

Saga não respondeu, porque o tal ponto eletrônico em sua orelha o incomodava sobremaneira. Nunca tinha usado aquilo antes, e a voz de Nick Fury ou Shion lhe passando uma enxurrada de instruções estava começando a ultrapassar os limites do suportável.

— Ei, que cara é essa? - No meio de tudo isso, ainda ouviu a voz de Kanon. - Faz uma carinha de contente, que em teoria você é um empresário podre de rico que veio aqui se divertir com a prima!

— Mas como é que se aguenta esse negócio na orelha da gente? - Saga deu vazão ao seu incômodo. - É muito ruim ficar com uma pessoa o tempo todo falando no ouvido enquanto você tem que fingir que não tem nada acontecendo...

A risada seca da agora moça o deixou ainda mais irritado.

— Qual é a graça?

— Bem... - Kanon era o único membro da equipe que não estava utilizando o ponto por não ser possível esconder em sua roupa o colar indutor. Em vez disso, carregava um pequeno rádio comunicador disfarçado de batom(5) dentro da bolsa. - Não deixa de ser irônico porque eu juro que eu pensei que de todos aqui, você seria o mais acostumado a escutar vozes que ninguém mais escuta.

— Isso foi cruel, Kanon, até para você. - Replicou Saga, num tom amargado. Kanon não pareceu se importar e apenas meneou a cabeça num gesto de indiferença.

— Equipe tática Alfa um, câmbio. - A voz de Nick Fury se fez ouvir no ouvido do mais velho.

— Diga. - Disse Saga, virando-se para Kanon como se estivessem conversando entre si, para disfarçar a comunicação com a central de operações.

Já fizeram contato visual com o alvo?

— Ainda não, e não vai ajudar se você ficar perguntando de cinco em cinco minutos. Desligue isso e me deixe concentrar...

— Saga... - Kanon tentava chamar a atenção de Saga, que agora fixava o olhar em um ponto inespecífico.

— Que é, Kanon?

— Tessália, queridão. O alvo está na entrada à nossa esquerda, cercado de capangas aparentemente armados, e vai até a roleta.

— Oh.

— O que acha de eu tentar a sorte nos dados, priminho?

É uma chance de aproximação...

— Me acompanha? - Kanon deu um sorriso e ofereceu o braço para que Saga o guiasse até a roleta, o que o outro fez de forma mecânica.

OOO

Em outro ponto do salão de jogos do cassino...

— Olhem que gente bonita e elegante que está em torno da gente! - Afrodite estava empolgado, apesar do desgosto inicial de saber que ele estaria usando um smoking prêt-à-porter Hugo Boss e não o tão cobiçado smoking Armani feito sob medida de Saga. Mas enfim, não era como se ele tivesse em seu armário um Hugo Boss legítimo. E para sua sorte a roupa realmente caíra bem em si, como em seus outros colegas. - Isso é que é ambiente! Olha que luxo! Vocês prestaram atenção no tapete persa da entrada? E naquele lustre de cristal? Eu aposto que é feito com cristais Baccarat legítimos!

— Ah... - Shura estava se sentindo um pouco deslocado; dado que, como cavaleiro que era, estava muito pouco habituado a um ambiente tão luxuoso e não estava entendendo patavinas da longa enumeração dos sonhos de consumo que Afrodite estava tendo a chance única de ver ao vivo e a cores. - Eu não sei não... Eu acho que eu prefiro ambientes mais... Informais, sabe...

— Eu não acho, eu tenho certeza. - Máscara da Morte também se sentia deslocado e incomodado com a gravata borboleta em volta de seu pescoço. Podia contar com folga nos dedos de uma mão as ocasiões onde usara uma gravata borboleta e um smoking. - Eu não vejo a hora de tirar esse negócio.

— Isso porque vocês tem mesmo alma de gente pobre. Pelos deuses, uma oportunidade de ouro dessas pra vocês tentarem ver o que é elegância, luxo e finesse e vocês ficam aí reclamando.

— Luxo, sim, Afrodite... Mas o resto, ficaram devendo. - Disse um Camus pouco impressionado. - Eu realmente não estou vendo elegância e finesse por aqui, sinceramente. Bem que eu digo que o dinheiro tira a pessoa da pobreza, mas não tira a pobreza da pessoa...

— Ai, Camus, como você é chato... - Afrodite fez um muxoxo, enquanto parava diante de um espelho na parede do salão para conferir (pela enésima vez) sua aparência.

— Eu não estou sendo chato, só estou constatando que o tanto de dinheiro que é movimentado por esses jogadores compulsivos seria muito melhor empregado pelo hotel para comprar coisas que realmente valem a pena.

— O quê, por exemplo? - Shura ficou curioso.

— Obras de arte. Muito bonito o lustre e o tapete persa, mas eu não vi uma obra de arte digna de se admirar por aqui. - Camus respondia o colega enquanto alçava a mão até a bandeja de um dos garçons que circulava pelo ambiente, para pegar uma dose de uísque. - Aquela escultura da entrada era uma falsificação grosseira de uma peça de bronze de Rodin. E as pinturas na parede? Todas de péssimo gosto...

— Camus, não era bom você beber no meio da missão.

— Shura, por quem você me toma? Apesar dos seus pesares, vocês nunca me viram perder a compostura com bebidas; ou com o que quer que seja. Menos, sim? - Camus tomou um pequeno gole da bebida, para em seguida fazer uma careta de desgosto e abandonar o copo num canto. - Agora eu me decepcionei de verdade.

— O que foi?- Perguntou Máscara da Morte, um tanto surpreso de ver o colega colocar o copo de lado.

—Eles estão economizando na bebida. Isso que eles estão servindo como uísque doze anos não deve ter nem a metade disso.

— Sério? - Shura tomou um gole e, pouco tempo depois, rebateu. - Não tô sentindo diferença.

Recebeu um olhar gélido do francês em resposta.

— Ei... - Máscara da Morte interrompeu a charla. - Parece que o Saga e o Kanon vão fazer contato com o alvo. Eles estão na roleta.

— Ótimo. - Suspirou Camus, impassível. - Melhor nos separarmos para cobrir a área. E Afrodite, pelo amor de todos os deuses, saia de perto desse espelho, sim?

OOO

Kanon e Saga estavam na roleta, vendo outros apostadores fazerem suas jogadas enquanto esperavam a aproximação do mafioso.

Saga, especificamente, batalhava contra a impaciência causada pelo maldito ponto em seu ouvido e a voz de Nick Fury lhe dando ordens.

— Eu juro que vou tirar esse troço da orelha. - Ele disse, entre dentes, inclinado em direção da agora moça.

— Saga, faz o que você quiser, mas me deixe concentrar pra ver como eu vou me colocar dentro da mesa de pôquer que eles estão montando.

— Estão?

— Claro.

— E não é só entrar lá e jogar?

— Não. Acha o quê, que é assim, você vai chegando e entra numa mesa de jogo em que só tem tubarão? Nada. Só pra você saber, tem que ter dinheiro do buy-in pra entrar...

Buy-in?

— É, Saga, você paga pra entrar no jogo. Fora, claro, que também tem que ter como cobrir o cacife.

— Cacife?

— É, Saga. Não sabe o que é cacife?

— Não é uma expressão que traduz seu poder de fogo, compra, barganha... como quem diz que você tem como bancar algo que você diz, é ou faz?

— Esse é o sentido figurado da palavra, animal. O sentido literal é o que vem da mesa de pôquer, onde ele corresponde ao quanto é apostado no decorrer do jogo.

— Ah? Não sabia...

Kanon soltou um bufido impaciente e rolou os olhos.

— Também não é minha obrigação saber de tudo isso, não? - Saga franziu um pouco o cenho. - Eu nunca fiz questão de saber jogar cartas na minha vida. Porque eu...

—...Acha isso perda de tempo. Sei. Mas olha aí como é a vida: Agora você precisaria de conhecimentos de carteado pra fazer essa missão acontecer. Fora, claro, que sua vida teria ficado bem menos enfadonha se você soubesse jogar um pouquinho que fosse.

Agora foi a vez de Saga rolar os olhos.

— E quanto é o valor desse cacife? - Perguntou o mais velho dos gêmeos.

— Numa mesa dessa? - O ex-rapaz arregalou os olhos. - Capaz de nem ter cacife, então o céu é o limite. Mas, bem... Isso é um problema da S.H.I.E.L.D, não nosso...

A agora moça parou, pensativa, para então se colocar mais ao lado de Saga.

— Que foi?

— Ele está do nosso lado. - Respondeu Kanon, num sussurro. - E está conversando com o crupiê que está organizando a mesa...

Saga levantou os olhos, vendo que Kanon tinha razão. E, num gesto fluido, sem querer acabou derrubando sua taça de champanhe, respingando uma boa parte do líquido na agora moça.

— Ei! - Protestou o ex-rapaz, para logo em seguida ver Saga arregalar os olhos em uma consternação que ele sabia ser fingida.

— Oh, me desculpe! - Saga seguia fingindo o acidente, o que acabou chamando a atenção do crupiê e, como esperado, do alvo. - Mil perdões!

— Ah... - Kanon sentiu sua surpresa desvanecer-se ao ver que a manobra de Saga tinha dado certo. - Não tem problema... Só gostaria de um guardanapo ou um lenço para...

— Aqui, minha jovem. - O mafioso logo estendeu um lenço de linho em sua direção, com um olhar amistoso mas algo sugestivo. - Fique com o meu...

— Ah, não precisa, obrigada... - Sorriu amavelmente a agora moça.

— Imagine, mia bella, faço questão. Até porque seria um pecado ver um vestido tão bonito ficar sujo, ainda que seja de champanhe, não?

— Ah, muito obrigada, senhor...

— Benicio. Pode me chamar de Benicio.

— Muito obrigada, senhor Benicio.

— E qual sua graça, mia bella?

— Eu sou... Tessália Tiropoulos.

— E o senhor que te acompanha, é seu consorte?

— Não, ela é minha prima, quase criada como irmã. - Apressou-se Saga, agora estendendo a mão para cumprimentar o alvo. - Saga Tiropoulos.

— Ah, sim... - Benicio, apesar de ter cumprimentado Saga, não tirava os olhos da agora moça. - É a primeira vez de vocês aqui em Mônaco?

— A minha sim. - Kanon respondeu, com um sorriso amável. - Saga vem sempre por aqui, mas a negócios. Dessa vez eu o pedi que me trouxesse...

— E que negócios faz o senhor, Tiropoulos?

— Minha família atua no ramo de construção de barcos... - Saga repetiu o script recebido pela S.H.I.E.L.D, onde usava a coincidência de ter o sobrenome igual ao de uma das famílias gregas mais influente na construção e de comércio de barcos. Embora não houvesse nenhum grau de parentesco real, por ora seria uma afirmativa convincente.

— Oh, sim, claro. - Benicio Basili deu um sorriso, ainda encarando insistentemente a agora moça, que fingia que nada acontecia. - Não sabia que entre os Tiropoulos havia uma beleza tão ofuscante como a sua, senhorita Tessália.

Bem, depois dessa ficou difícil fingir que nada acontecia.

— Ah... - Kanon engoliu a cantada. - Obrigada, o senhor é muito gentil.

— Com licença... - O crupiê chamou polidamente o italiano. - Sobre o jogo...

— Sim, claro. - O mafioso voltou sua atenção ao crupiê. - A mesa está pronta?

— Falta um jogador.

— Oh. - O rosto de Benicio Basili ficou um tanto mais sombrio, numa demostração indireta do quanto aquele homem detestava ser contrariado.

— Ah... Que jogo, senhor Benicio?

— Oh, mia bella, estamos montando uma mesa de jogo de pôquer.

— Eu... posso participar, Saga? - Kanon virou-se para o outro, com voz pedinte e biquinho. - Acho tão lindo esse clima de cassino, de jogo, acho tão sexy...

— Ah? - Saga fingiu surpresa ao ouvir a pergunta, se controlando para não trair sua vontade de estourar em gargalhadas enquanto via Kanon encarnar o papel de loira bonita mas não muito inteligente que adoraria estar em uma mesa de jogo. Mas era uma oportunidade dourada, não tinha como negar. - Tessália, não sei se é uma boa ideia, afinal faz tanto tempo que não a vejo jogar...

— Oh, sim, claro! - Já Benicio Basili adorou a ideia, especialmente depois de ouvir aquela loira sexy dizer que achava jogo de pôquer... sexy. - Não só a mesa estaria completa, como a bela loira por quem seus olhos estavam hipnotizados estaria agora na mesma mesa que ele, pronta para ser impressionada pela sua habilidade. - Aliás, cara mia, faço questão que você se sente ao meu lado!

— Ah, mas o Saga tem razão, eu nem sei jogar muito... - Kanon seguia encarnando o papel que se prestara a representar, que estava funcionando muito bem.

— Não há problema algum, querida. Eu posso ensinar você a jogar direitinho... - O mafioso disse num tom sedutor que fez Kanon se arrepiar involuntariamente.

Saga, apesar de saber que aquilo era esperado, arrepiou-se também. Sabia que uma parte da missão, a de fazer contato com o alvo, estava cumprida; e agora se iniciaria a fase de atraí-lo. Mas não pôde evitar o mau pressentimento.

— Então, em alguns minutos tudo estará pronto, senhores e... senhorita. - O crupiê fez uma reverência discreta para então dar seguimento aos preparativos.

Saga e Kanon trocaram um olhar entre si. O verdadeiro jogo, porém, tinha começado.

OOO

Conseguirá Kanon infiltrar-se com sucesso na mesa de pôquer e usar seus dotes para atrair o perigoso capo da Máfia para a armadilha montada pelos intrépidos cavaleiros de Atena? Conseguirão os outros cavaleiros presentes no cassino cobrir a segurança da infiltração, mesmo que Afrodite siga se admirando nos espelhos do lugar? E conseguirão Milo, Mu e Aldebaran sobreviver à terrível van abafada e ao mais terrível ainda mau humor de Aiolia?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned...

 

Notas de rodapé 

1 - A referência é, claro, o Cassino Royale de 007 - Cassino Royale, com Daniel Craig como James Bond. Só que o Cassino Royale de 007 é em Montenegro e esse é em Mônaco. Okey?

2 - Bem, eu já disse isso no capítulo quatro, mas nessa leitura de StS, o Máscara da Morte não pendura cabeças na parede de sua casa, mas sim 'molda' máscaras mortuárias nos rostos de suas vítimas para colocá-las nas paredes da quarta casa. E, durante a execução de seus golpes, ele usa sua coleção de máscaras mortuárias (uma alusão ao nome Deathmask escolhido por Kurumada para o cavaleiro de Câncer, que remonta do costume de algumas regiões da Europa - e também na Sicilia- de moldar Máscaras de cera no rosto dos mortos para preservar sua aparência, hábito antigo que persistiu até o século XVII e deu origem ao Museu Mme. Tussaud's...) para criar uma 'base' para que seu cosmo transforme as ditas máscaras imagens de cabeças decepadas (muito embora, eu ache as representações do mangá e do anime muito mais parecidas com máscaras entalhadas na pedra do que cabeças em si, mas como o fandom fala tanto dessas malditas cabeças, embora eu sinceramente ache que foi mais uma falha de roteiro de MK e cia.). Eu peguei a ideia emprestada de Daga Saar (uma escritora que eu recomendo muitíssimo para los que hablan y leen español), e me pareceu muito mais condizente com esse universo aqui, em particular, do que um servidor de Atena que corta cabeças pra pendurar na parede. Mas todo o resto de escabrosidades ele fez, como moldar máscaras nos rostos das pessoas que assassinou. Mas né, ele agora é um cavaleiro redimido.

3 - Os nomes de Saga e Kanon, nas certidões de nascimento de minhas fics, são Saga e Kanon Tiropoulos. Só pra constar, antes que alguém venha reclamar o nome. Se bem que eu acho que isso é coisa de jardim de infância, mas né, tem gente pra tudo, então...

4 - Nota da autora: Não entendo a chateação, o esmalte é o vermelho clássico da DIOR lindo de morrer. E a ideia... é de uma leitora bacana! Stella de Aquário, taí o Kanon de unha verrrrrmelha! Chique no úrrrtimo! E quanto ao Camus gostar de unhas vermelhas... Sorry, não resisti, é uma piadinha ao fato de que no mangá ele pinta (!) as unhas de verrrrmelho. Homem de unha VERRRMELHA, gente. Como assim não pode e assim não dá, ele nesse universo aqui gosta de mulher de unha vermelha ao invés de matar sua vontade com os próprios dedinhos e um vidro de Rebu. Okey?

5 - O código que eles estão usando na comunicação via rádio é o código internacional Q (disponível na wiki pra vcs darem uma olhada). E o aparelho de ponto eletrônico usado pelos cavaleiros é composto por um pequeno aparelho que é encaixado dentro do canal auditivo (de modo a ficar imperceptível ao olho nu, mesmo para pessoas ao seu lado nos casos de aparelhos menores) e um colar indutor colocado em volta do pescoço por baixo da roupa, muito usado por equipes de segurança, espiões e repórteres... Eu realmente não sei se essa tecnologia estava disponível nos anos oitenta (por pesquisas preliminares, acredito que sim mas eu não 'agarantho') mas vamos simplesmente aceitar que, por ser um equipamento fornecido pela S.H.I.E.L.D, nesse caso eles desenvolveram essa tecnologia avançada para a maior discrição possível na comunicação entre seus agentes. Okey? E o mesmo vale para o 'batom' comunicador de Kanon.

OOO

 

 

Como o Nyah não deixa acrescentar capítulos após a história ser marcada como completa e eu não tenho a opção de desmarcá-la, o próximo capítulo será postado aqui - logo depois desse. 

É a vida. 

Assim sendo, on with the show. 

No capítulo anterior...s cavaleiros de Atena, convocados pela secreta organização internacional conhecida como S.H.I.E.L.D, são enviados para uma missão em Mônaco onde deverão atrair e capturar o terrível e perigoso mafioso Benicio Basili, que comanda os negócios da Máfia Napolitana conhecida como Camorra. Com a ajuda dos dotes femininos de Kanon, cavaleiro de Gêmeos e general Marina de Poseidon convertido em uma curvilínea mulher pelas graças de um mergulho involuntário nas águas mágicas de uma lagoa na China, os intrépidos defensores da justiça enfim conseguem fazer contato com o alvo, para atraí-lo para uma engenhosa armadilha...

 

Teorema de Ginsberg: Você não pode vencer. Você não pode empatar. Você não pode nem mesmo abandonar o jogo.

 

Cassino Royale, Principado de Mônaco...

Saga de Gêmeos acompanhava o mafioso Benicio Basili com os olhos, tentando disfarçar sua apreensão enquanto via os olhos do mafioso passear pela figura da agora moça. Que, aparentemente, estava fazendo um bom trabalho em atrair o alvo, diga-se.

Mas algo dentro dele lhe dizia que algo estava errado. Fácil demais.

Não disse nada enquanto Kanon acompanhava o mafioso e o crupiê até a mesa de jogo, e saia que dali para frente não entenderia patavinas do que estava por acontecer naquela mesa. Apesar de saber sim os rudimentos de uma partida de pôquer, não tinha habilidade para sustentar um jogo de buraco, quanto mais uma mesa de pôquer daquele porte.

Bem, talvez o 'finado' Ares tivesse, mas ele decididamente não.

Enquanto isso, outra parte de seu cérebro se divertia enquanto via o irmão, agora uma mulher linda e bem-vestida, lutar para discretamente se livrar do já patente assédio do mafioso, que o guiava até a mesa de jogo pela cintura com uma mão que teimava em baixar mais em seus quadris do que o recomendável. 'La vendetta è un piatto che si mangia freddo'(1), diria Máscara da Morte, e bem que Saga lamentava não ter uma câmera fotográfica para registrar o momento.

Afastou os pensamentos jocosos, tinha uma missão a cumprir.

O crupiê aproximou-se do ex-rapaz, polidamente, para falar do seu valor de buy-in, no que foi reprimido pelo mafioso que logo se gabou:

— Ora vamos! Coloque a mocinha para jogar, que o passe dela fica por minha conta!

Kanon sentou-se na mesa, um tanto incomodado pela proximidade do mafioso ao seu lado, cuja mão-boba estava perigosamente próximo de sua coxa. Mas mandar o cidadão às favas não era uma opção.

— Ora, Basili... - Disse outro membro da mesa, um senhor de meia idade, magro e mal-encarado. - Trouxe uma patinha para jogar conosco?

— Oh sim... A jovem senhorita quer um pouquinho de diversão. Não é, benzinho?

— Ah... - Kanon fez um esforço para fazer sua melhor cara de mocinha inocente. - Eu sou Tessália.

— Muito prazer, senhorita Tessália. - O homem mal-encarado sorriu, mostrando um dente de ouro brilhante na boca. - Será realmente muito agradável contar com sua presença aqui.

Kanon reprimiu, no fundo de sua alma, a vontade de rir da cara daqueles pobres coitados na mesa. Mal sabiam eles com quem realmente estavam lidando...

— Pois bem, senhores... - Disse o crupiê, já dispondo os lugares na mesa e tomando as cartas para embaralhar. - Como vocês sabem, o valor do blind é de mil dólares, a começar pelo jogador à minha esquerda.

Saga arregalou os olhos, involuntariamente. 'Mil dólares?', pensou consigo, porque pelo pouco que sabia todos ali teriam que apostar mil dólares, para começar. Mas Kanon não parecia dar mostras de preocupação. Internamente, deu de ombros, já que aquele, como o irmão dissera, era um problema da S.H.I.E.L.D.

OOO

Cassino Royale, no salão...

Camus e Shura seguiam vigiando o salão, na ala oeste do mesmo. O capricorniano, porém, já estava ficando estressado, e quando isso acontecia seu humor piorava um tanto.

— Olha, eu detesto ser pessimista e tudo, mas você há de convir comigo que essa missão aqui tem tudo pra dar errado. - Shura franziu a testa, enquanto acompanhava um Camus impassível. - Ambiente fechado, prédio de andares, cheio de civis dentro, e tudo gente rica.

— Hum-rum. - O outro cavaleiro meneou a cabeça.

— Uma bela de uma emboscada, isso sim.

— Hum.

— Eu realmente queria saber o que se passa na cabeça daquele americano imbecil de colocar a gente numa ratoeira dessas. Porque olha, só ele mesmo pra planejar uma captura num lugar que nem esse aqui. Perfeito exemplo de 'falar é fácil', porque não é ele quem tem que fazer...

— Fique tranquilo, Shura... Nós temos o time de resgate e o time de apoio para nos amparar, caso alguma coisa dê errado.

— Time de resgate que você diz é a van com o Mu, o Aldebaran, o Aiolia e o Milo dentro? - Shura franziu a testa, agastado. - Nossa, estou me sentindo bem melhor agora. Obrigado, Camus...

OOO

Enquanto isso, dentro da van...

— P*** que pariu, abre essa janela que eu vou morrer de calor aqui dentro! - Exasperava-se Aiolia. - A gente não pode nos comunicar por cosmo, não pode tirar esses macacões, não pode abrir a janela desse caixote... Falta mais alguma coisa?

— Falta, você calar a boca. - Respondeu Milo, ríspido.

— E ainda por cima ter que ficar aqui perto desse lulu estressadinho que fica o tempo todo me enchendo. Socorro! Cadê a cordinha? Eu quero descer dessa m****!

— Lulu? - Aldebaran levantou uma sobrancelha, enquanto Mu rolou os olhos.

— Ah, vai falar que você não sabe quem é o dublê de poodle do Santuário? - Aiolia deu uma risadinha, compartilhada com Aldebaran, que seguramente sabia do que o outro falava. - Bota uma coleirinha de strass no pescoço desse aí que fica o próprio.

— Até parece que alguém aqui tem moral pra me chamar de dublê de poodle. - Milo fez um muxoxo. - Especialmente os senhores aí.

— Ei, nem vem, eu nunca tive a falta de senso de cortar meu cabelo cacheado repicado e com franjinha pra ficar parecendo um lulu de madame tosado! - Aiolia imediatamente replicou. - Vai negar que você não fez isso?

— Ei, meu cabelo não é cacheado! Ele é ondulado, é diferente!

— Ondulado nada! Ondulado é o meu, o teu é cabelo ruim mesmo!

— Não é, não!

— É, sim! Cabelo ruim, pixaim, sarará!(2) - Aiolia agora esmerava-se em dar adjetivos pouco lisonjeiros ao cabelo do colega. - E não contente com essa palha seca que você chama de cabelo, você ainda foi lá e tosou ele na petshop mais próxima de Rodório pra ficar com cara de poodle-toy!

— Ah, esperem aí... Nós vamos falar de cabelo? - Milo irritou-se, dando um tapa no banco onde estava sentado. - Então tá, nós vamos falar de cabelo. Então, com que direito logo você, senhor Aiolia Cajuzinho(3) de Leão, vem falar dos meus cortes de cabelo?

— Cajuzinho?

— Sim senhor: Ca-ju-zi-nho.

— Que m**** é essa, Milo?

— É o quê? Vai negar agora que pintava o cabelo de Acaju?

Aldebaran não conseguiu conter uma gargalhada.

— Ai minha infinita paciência... - Mu resmungou, afastando as madeixas lisas enquanto massageava as têmporas. - Gente, vamos mudar de assunto, por favor?

Mas foi solenemente ignorado pelos dois colegas em contenda.

— Epa, epa, epa! Eu não pintava meu cabelo de Acaju não! - Aiolia protestou. - A cor que eu usava era castanho médio!

— Deixa de mentira, gatinha!

— É verdade! - O outro exaltou-se.

— E como uma tintura castanho-médio ficava vermelhinha daquele jeito, hein? - Milo sorriu de lado, desafiador. - Deixa de conversa fiada que você pintava os cabelinhos de acaju. A-CA-JU!

— Mentira!

— Aiolia, eu vi a caixa! Tava escrito lá: Imédia Excellence de L'Oreál Paris, cor ACAJU!

— Foi a tonta da Lithos que comprou errado!

— E mais tonto foi você que NÃO VIU que era outra cor de tintura! Aí depois quer ter moral pra falar dos outros, tinha muita graça mesmo! Vai falar o quê agora, que o acaju ressaltava a cor dos seus olhos, gatinha?

— Ora, pois ainda assim fiquei melhor do que você ficou com aquele cabelo horroroso!

— E isso você diz se baseando em que espelho, mesmo? Porque que eu me lembre, aquele cabelo cor de chico foi a coisa mais ridícula que eu já vi na minha vida!

— Olha, pessoal... - Um já preocupado Aldebaran agora tentava contornar os ânimos. - Acho que era melhor vocês deixarem isso pra lá, hein...

— E cala a boca você também, Touro, que você com aquele cabelão oxigenado não ficava atrás! - Soltou um Milo já possesso.

— Ui, socorro, o bichinho vai apelar, que medo! - Aiolia disse, irônico. - Apelão!

— Falou o que nunca apelou no Santuário, nossa! - Milo devolveu. - Mas é muito cínico mesmo e...

— CHEEEEGAAAA! - Mu, logo ele, finalmente perdeu as estribeiras. - Calem essas malditas bocas de vocês ou eu JURO que vou teleportar vocês para a P*** QUE OS PARIU! EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊS BRIGANDO COMIGO NO MEIO, CACETE!

Um sepulcral silêncio se instaurou na van, e três pares de olhos estavam agora cravados no lemuriano.

— Tão olhando o quê? - Mu perguntou, ainda um tanto alterado, já um tempo depois de ter a van imersa em silêncio com os olhares dos amigos em cima de si.

— ...Nossa, Mu, como você tá estressado, hein? - Aiolia começou a resmungar. - Desse jeito você vai é ficar velho cedo, sabia? E não vai ter longevidade lemuriana que dê jeito. Eu, hein?

— ...Fora o exemplo que fica dando pro Kiki quando dá esses pitis cheio de palavrão no meio. Pelo amor dos deuses! - Completou Milo. - E eu que pensava que o pessoal lá do Tibete era zen... Engano meu, né! Tá precisando meditar com o Shaka, viu?

Aldebaran, ao ver a expressão agora desconsolada do defensor da Casa de Áries, rolou os olhos.

OOO

Enquanto isso, Afrodite e Máscara da Morte seguiam ao longe, na ala leste, observando o movimento na mesa de jogo onde Kanon se instalava, enquanto Saga o vigiava mais de perto.

— E aí, tem algum capanga do poderoso chefão a postos? - Máscara da Morte disse ao outro, discretamente.

— Vários. - Respondeu um Afrodite compenetrado. - Não é pra dar uma de Shura nem nada, mas isso aqui tem todo o potencial de dar bode.

— Esse povo da CIA é tudo um bando de maricona mesmo. Porque na hora de ter uma missão que a m**** pode feder, aí correm pra botar a gente pra dançar. - O italiano resmungou. - Mas pelo menos tem umas gatas pra gente ficar olhando.

— Olha, até agora não achei nada que valesse a pena.

— Nossa, novidade! - Máscara da Morte fez um muxoxo. - Por quê? Dessa vez elas têm o dedo mindinho do pé torto?

Afrodite rolou os olhos.

— Vem cá, vamos parar de encher meu saco pra prestar atenção no que a gente tem pra fazer? Até porque eu tô a fim de que isso tudo acabe logo sem grandes acontecimentos.

— Ué, mas eu que achava que você até que curtia uma emoção a mais...

— Eu curto, mas é que eu realmente não estou a fim de estragar essa roupa. Porque nem a pau que eu devolvo esse smoking. Não mesmo.

— Ave, Rudy... É muita questão de ficar com essa fantasia de pinguim. Porque eu tô doido por ação. E a roupa que se lixe.

Afrodite, porém, fez ouvidos moucos para a última declaração do italiano; e se pôs a andar no salão enquanto era seguido pelo outro.

Porém, no meio do caminho, seus olhos foram atraídos por uma figura no salão.

Uma figura alta, de cabelos loiros platinados perfeitamente penteados, rosto anguloso mas simétrico, olhos esverdeados, maquiagem perfeita e um vestido decotado e de fenda nas pernas mais caro ainda do que usava o ex-rapaz; arrematado com um casaco de peles que deve ter custado a vida de algumas (muitas) martas e chinchilas. Isso sem falar nas joias de tirar o fôlego.

E eis que o cavaleiro sueco conhecido por sua beleza se viu em uma situação raríssima: ficar de queixo caído pela beleza de outro alguém.

— Ei, Rudy, que é que tá pegando?

— Olha aquela mulher ali! - Afrodite apontou discretamente para a figura no salão.

— Que é que tem?

— É linda!

Máscara da Morte reparou então com mais atenção à mulher que o colega apontava, já que não era todo dia que ele achava uma mulher linda. Aliás, isso era raro o suficiente para se estranhar.

— Ah... - Máscara franziu um pouco a testa. - Meio altona, né? Não sabia que 'cê era chegado numa loirona pernuda.

— Olha o par de pernas que ela tem! Como que eu não ia ser chegado numa maravilha dessas?

— Mas é bonita mesmo... Mas sei não, tem alguma coisa esquisita...

— Esquisito é você, que não tá acostumado a pegar mulher bonita de verdade, fica só pegando essas barangas horrorosas que você pega.

— Rudy, vai por mim... Eu sei que esse negócio de sexto sentido é coisa de boiola, mas eu tenho um desses aí que é especial pra mulher-armadilha...

— Olha, se não é pra ajudar não atrapalha, certo? - Afrodite respondeu ao colega, ríspido. - Eu vou lá tentar uma aproximação.

— Epa, mas nós não 'tamos em missão?

— Eu só vou lá saber o nome da moça, oras! - O sueco completou, já se afastando enquanto o italiano resmungava alguns impropérios impublicáveis.

Ainda assim, o guardião da quarta casa mantinha os olhos no colega, que conseguiu entabular uma rápida conversa com a tal loira pernuda, e que parecia bastante animada.

"E não é que o filho da mãe tá lá cantando a pernuda?" - Pensava Máscara da Morte, retorcendo os lábios enquanto o colega parecia ter sucesso em sua aproximação. - "Depois eu que levo a fama de sumir pra catar mulher."

Aproximação essa, aliás, que não passou desapercebida pelos outros dois cavaleiros no salão.

Shura soltou um suspiro desolado.

— Mas é o cúmulo, viu? - Shura impacientou-se. - Agora olha lá o Afrodite de conversinha com a loirona.

— Hum? - Camus olhou atentamente para o vizinho de casa zodiacal, que seguia conversando animadamente com a dama. - E de onde saiu essa moça?

— Eu sei lá onde ele se arrumou essa pernuda aí. - O outro resmungou. - Nem pra se concentrar na missão aquele tonto serve. Olha lá a situação, sério. Tudo bem que é bonitona, mas precisava ser logo agora?

— Hum... - O francês levantou um sobrolho, mas terminou por dar de ombros. - É bonita sim, mas... Não acharia que ela passasse pelo 'padrão Afrodite de qualidade'...

OOO

Enquanto isso, Kanon tomava posição enquanto o crupiê terminava os preparativos. Em suas tentativas de fugir do já ostensivo assédio do mafioso Basili, ele viu Afrodite interagindo com uma mulher loira e até mais alta do que ele; mas deu de ombros, embora Saga continuasse a observar a cena com cara de pouquíssimos amigos.

Bem que ele devia atazanar o irmão para que ele desamarrasse a cara e deixasse o sueco se divertir com o que ele, em outros tempos, definiria como 'cabritona'; mas naquele exato momento ele estava bastante ocupado em se manter ao largo das tentativas agora explícitas de bolinação do italiano ao seu lado.

Ah, os sacrifícios que ele estava fazendo por essa missão. E depois dessa ainda tinha gente com coragem para dizer que ele não tinha postura adequada para ser um cavaleiro...

Então, o crupiê sinalizou que começaria a distribuir as cartas. "Salvo pelo gongo", pensou o ex-rapaz, enquanto o mafioso recebia as cartas assim como ele agora fazia. Percebeu então sobre si o olhar atento de Saga, que entendeu que o jogo iria começar, e sorriu de si para si ao ver a cara que o irmão fez ao vê-lo colocar na mesa o valor do pingo, junto com os outros jogadores.

Recebeu sua mão, que, rigorosamente, não tinha coisa alguma. Mas bem, era o começo do jogo, podia administrá-lo com tranquilidade. Ainda mais com o fato de que, bem, não era seu dinheiro indo para aquele monte.

Ao mesmo tempo, Saga seguia de olhos pregados no irmão, que realmente convencia muito bem como uma mocinha despreocupada numa mesa de endinheirados apostadores. Ele mesmo, não sabendo a verdade, a tomaria como uma linda riquinha qualquer se divertindo naquela mesa. E, bem, a ideia era exatamente essa: não seria necessário ganhar a partida; tudo que Kanon deveria fornecer ali era uma distração para que ele conseguisse atrair o tal mafioso até a emboscada que eles armaram. E, enquanto o ex-rapaz seguia jogando na mesa, Nick Fury seguia falando em sua orelha direita; embora desgraçadamente Saga não pudesse responder sem dar bandeira, já que estava sozinho...

A não ser, claro, que quisesse ser tomado como doido. E ser tomado como o doido que ouve vozes, fala sozinho ou tem 'dupla personalidade' era algo que ele evitava mais do que diabo fugia da cruz.

OOO

Mais adiante, um sorridente Afrodite de Peixes retorna ao posto que ocupava antes, com a loira e alta dama acenando charmosamente ao fundo.

— E aí, faturou a grandona?

— Para tua inveja, carcamano, a grandona é uma fina herdeira alemã que atende por Kathleen Bismarck. Linda e rica, iguaria que você não está acostumado. - O sueco respondeu. - E já já ela vai estar bonitinha nos meus braços pra descobrir o que é que o loiro aqui tem.

— Rapaz, sei não. - Máscara da Morte torceu os lábios. - Tem alguma coisa me dizendo que essa moça aí é encrenca.

— Encrenca é o teu senso estético inexistente na hora de escolher suas parceiras.

— Sei... - Máscara da Morte soltou um muxoxo. - Ainda por cima usa um casaco de pele!

— Que é que tem? Um casaco daqueles é coisa finíssima!

— Vem cá, florzinha, 'cê tem ideia de quantos "bichinhos indefesos" morreram pra fazer aquela porcaria lá? - Colocou o italiano, fazendo com os dedos um sinal de 'aspas' no momento em que se referiu aos animais.

— Hein? - Afrodite não pôde reprimir um riso seco. - E desde quando você liga pro que é feito de bichinhos indefesos? Logo você, o cara que pendurava rostos de gente morta na parede?

— Tá, eu não ligo; mas não era por isso que todo mundo me crucificava naquele Santuário? 'Nossa, que horror, ele pendura máscaras de gente morta na parede!', não era o que todo mundo falava? Pois pior é essa aí, que usa os restos dos bichos pendurados no corpo!

— Máscara... - Afrodite não sabia se ria mais ou ficava incrédulo. - Mas é um pouco... Diferente, não acha?

— Onde? Eu não tô vendo diferença nenhuma. Aliás, tem sim: Nem foi ela que matou os bichos, no meu caso eu pelo menos tive a decência de matar todas as minhas 'vítimas' eu mesmo! Eu não me aproveitei do árduo trabalho dos outros desse jeito.

Afrodite rolou os olhos.

OOO

Kanon olhava para suas cartas, mantendo o rosto despreocupado embora sua mente trabalhasse a todo vapor durante o jogo ainda de poucas rodadas, mas que se mostrava violento como poucos em que já participara.

Pudera, seus habituais 'patos', ou seja, parceiros de jogo que se aventuravam a jogar com ele; tinham bem menos posses do que os presentes ali.

Benicio Basili também adotava uma postura tranquila na mesa, o que lhe dizia que ele não era o mau jogador que ele pensara que ele fosse. Apesar da arrogância e das óbvias tentativas de lhe impressionar (e das ocasionais mãos bobas que ele esquivava já com certa dificuldade). Mas era experiente, sem dúvida, e ainda tinha um revés adicional: era difícil de se ler em suas expressões e cacoetes. Num jogo onde ele estivesse empenhado em ganhar, certamente daria trabalho.

O magro mal-encarado que o 'saudou' no início, porém, era quase um profissional. Tinha uma expressão facial sisuda até quando sorria, e uma ótima leitura de jogo. Mas Kanon logo identificou seu cacoete: quando recebia uma boa mão ele sorria tão discretamente quanto o costume nas mãos ruins, mas mostrava o dente de ouro.

O outro jogador, um senhor calvo e magro que também fedia a dinheiro, era inicialmente o mais agressivo nas jogadas e o que mais vinha fazendo raises para aumentar os valores de aposta; mas isso mesmo o levou a perder já um bom dinheiro no monte. Dali, ele seria o primeiro a cair fora.

E ele fazia jus a seu disfarce de mocinha airada na mesa, mantendo um perfil discreto e sem grandes surpresas. Mas estava sendo divertido ver os três jogadores se alternarem e o montinho de fichas crescer no centro da mesa.

Bem que ele sabia que não seria necessário ganhar o jogo, porque não era; mas ver todas aquelas fichinhas se acumulando no monte lhe dava uma certa 'fissura' que ele adorava sentir desde o começo de sua adolescência na ilha, onde aprendera a jogar pôquer por influência dos marinheiros e vagabundos com quem tinha amizade... Apesar da reprovação veemente de Shion, devido ao fato de que sua existência deveria ser um 'segredo'; e para o desespero de Saga, que se empenhava o quanto podia para fazer valer os desígnios do Grande Mestre como o bom cachorrinho do Santuário que ele era. E, como era de se esperar, quanto mais Shion e Saga tentavam evitar que ele seguisse se misturando com a 'ralé' da ilha, mais ele mergulhava no ambiente que eles tanto se esmeravam em reprovar, claro.

E ele gostava do jogo porque ele era bom nisso. Muito bom. Afora seu raciocínio analítico que o fazia bom em matemática, ele também sempre soube 'ler' as pessoas com perfeição; e isso melhorou muito com o treinamento em artes marciais que recebeu na ilha e no Santuário, através dos mestres que instruíram a ele e a Saga. Então, para si era muito fácil entender as entrelinhas de rostos, expressões faciais, gestos e posturas de uma mesa de jogo.

E, ali, ele tinha uma vantagem adicional: Ninguém naquela mesa, nem mesmo Benicio Basili, lhe colocava um tantinho de fé que fosse.

Todos receberam suas cartas, e Kanon deu um relance nos seus parceiros.

— Mesa - Disse ele sem quase nem sentir, vendo os outros dois jogadores olharem fixamente para si.

O magrelo mal-encarado não ficou atrás. Jogou o corpo para trás, e com um sorriso de canto também igualou a aposta inicial. E Benicio Basili olhou para a agora moça com um sorriso de orelha a orelha.

Mia bella está entrando no ritmo do jogo! - Ele riu. - Mesa.

— Bem... - O senhor calvo e magro remexeu-se na cadeira, mal conseguindo conter sua satisfação. - Hora de aumentar a emoção do jogo, não?

E empurrou um montinho de fichas no monte, que em dinheiro equivalia a uma pequena fortuna.

Kanon sentiu seus 'adentros' coçarem. Pelo que acompanhava do jogo, sabia que o calvo devia ter uma boa mão; mas tinha a tendência de ser extremamente otimista em suas avaliações. Já ele, nesse momento, segurava uma quadra; mão relativamente rara em um jogo em que não havia coringas.

O senhor calvo estava visivelmente agitado aos olhos treinados da agora moça.

— Espere, vou aumentar a minha aposta. - Kanon disse mais uma vez sem pensar enquanto empurrava mais fichinhas no pote, porque seu interior lhe gritava que aquele pote era dele.

Todos olharam para si, e ela mais uma vez deu um sorriso doce na mesa. Mas algo lhe falava (e devia ser sua consciência, de novo) que se ele seguisse jogando assim acabaria colocando a perder o disfarce que estava montando.

Mas, bem, não é como se ele fosse famoso por ouvir o que sua consciência tinha a dizer.

E, era verdade, seu raise tinha acabado de colocar muitos ali em uma situação delicada. Ou eles desistiam daquele jogo e minimizavam as perdas, ou pagavam para ver. E ninguém dava mostras de que recuaria.

— Então podemos mostrar as cartas, senhores? - A voz do crupiê chamou todos à realidade.

Todos baixaram os jogos na mesa; tendo até então o calvo o melhor jogo com um full-house, Basili uma trinca e o mal-encarado dois pares. E Kanon reprimiu com dificuldade o sorriso que teimava em brotar em seu rosto quando baixou sua quadra, a jogada que lhe daria o pote.

— Olha, Saga, eu ganhei! - Puxou as fichinhas coloridas para si, fingindo uma falsa surpresa por ter ganho o pote. Saga, porém, mal disfarçava a dureza em seus olhos, posto que já percebia que o irmão estava se empolgando no jogo.

O senhor calvo bufou sob o olhar do crupiê, já que para fazer aquela aposta ele acabara com suas fichas. Assim, precisava de algo que o avalizasse para continuar no jogo, ou teria que sair. Tirou do bolso uma chave e colocou no centro da mesa, sob o olhar arguto e divertido dos outros jogadores.

Saga engoliu em seco. O homem já tinha perdido dinheiro o suficiente para garantir uns bons dois anos de despreocupadas idas suas ao Harém, com direito a noitadas de rei; mas agora ele levava a coisa para outro nível.

Sentiu um buraco em seu estômago ao olhar a chave que ele colocava no centro da mesa, e a apreensão apenas cresceu geometricamente ao ver as pupilas dos olhos do seu irmão literalmente se dilatarem ao ver o objeto tilintando em direção ao centro do pote.

Uma chave de uma Ferrari. Uma Ferrari Testarossa legítima, dava para ver pelo formato da chave e do chaveiro de cavalinho.

Kanon passou discretamente a língua nos lábios; num cacoete que passara desapercebido por todos naquela mesa, mas a seu irmão gêmeo jamais passaria.

"Agora a p**** ficou séria..." - Pensou Saga enquanto soltava o suspiro mais apreensivo de sua nova vida até então.

E os olhos da agora moça permaneciam fixos na chave no pote.

OOO

Conseguirá Kanon resistir à tentação e não partir com tudo para cima do pote cujo prêmio é uma Ferrari Testarrossa legítima? Conseguirá Saga, além das suas responsabilidades na missão, também cumprir seu papel de bom irmão e proteger a agora moça das bobas mãos do criminoso Benicio Basili? Conseguirá Afrodite ter sucesso com a rica herdeira de pernas longilíneas, ou Máscara da Morte tem razão quando afirma que isso é uma cilada? E, por fim, reinará então a paz dentro da van que abriga nosso intrépido time de resgate?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned...

Notas de rodapé e Google translator:

1 - 'A vingança é um prato que se come frio': um popular ditado italiano.

2 - Antes que me acusem de discriminação ao cabelo cacheado (hahahahaha), lhes informo que a pessoa que vos escreve tem cabelo BEM mais cacheado do que o do Milo! E NÃO faz escova progressiva! HÁ!

3 - Referência ao episódio G, onde Aiolia se diverte com uma caixa de tintura vermelha para cabelos e, na colorização, fica com os mesmos na cor... mogno, pra ser delicada. No popular: a-ca-ju, cor bastante utilizada por senhoras de idade para cobrir os brancos. E senhores também; e por onde são chamados, em algumas regiões deste meu Brasil Varonil, de 'cajuzinhos'. Especialmente os homens; e dentre estes, os com pouco cabelo na cabeça ou os já anteriormente grisalhos demais para que uma coloração passe desapercebida (o mais popular ainda 'engolir um urubu').


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