Nunca Fui Beijada escrita por Larissa Carvalho


Capítulo 11
Origens


Notas iniciais do capítulo

Foi mal a demora, tenho a internet mais precária do universo.
Desculpem.
Boa leitura



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Eu estava parecendo uma Barbie.

Não uma Barbie loura, isso era trabalho para Vasilissa

Eu estava mais para uma Barbie morena de vestido tubinho vermelho e salto. Não que eu não soubesse andar de salto, eu sabia andar de salto.

Mas Dimitri nunca tinha me visto de salto ou vestido, ou coisa do tipo.

Eu gostava do meu jeito, somente pela proteção. As pessoas se aproximavam de mim, pelo meu corpo, não por mim mesma. Isso que me fazia querer as borboletas. Eu não queria dar meu primeiro beijo, pela idade ou coisa assim. Queria que alguém se apaixonasse pela garota debaixo do jeans rasgado.

E durante muito tempo, eu escondi a princesinha do papai em uma caixa grande debaixo de todos os meus sapatos e botas. Coloquei-o na minha cama e chamei por Lissa. Ela teria bastante trabalho.

***

– Oh, meu Deus... Linda. – disse Lissa, empolgada.

– Linda! – repeti, ainda me equilibrando no salto e virando-me para o espelho. – Eu posso lidar com isso.

– Que horas ele vem te pegar? – perguntou, jogando-se na minha cama.

– Hora nenhuma. – falei. – Eu vou sozinha.

– O que? – perguntou Lissa, com a voz esganiçada. – Rose, a mamãe não está em casa para te levar.

– Eu não ia pedir a ela.

– Você vai sozinha mesmo? – perguntou Lissa. Ela parecia indignada.

– Aparentemente sim. – falei. Virei-me novamente para ela e sorri. Ela desfez a carranca.

– Você é louca. – disse Liss, levantando-se da minha cama. – Mas eu te amo.

Ela me abraçou e eu pude sentir o cheiro do seu perfume.

Tudo bem!

Lissa era totalmente o contrário de mim, mas aquele era o cheiro de alguém que ia parar em alguma cama hoje e não seria a do quarto ao lado.

– Aonde você vai? – perguntei, desfazendo o abraço e encarando-a.

– Encontrar com o Cristian. – disse, desanimada.

– Essa é a cara de alguém que não queria que eu soubesse.

– Não queria. – disse. Eu abri a boca em exaspero, mas ela continuou. – Ele pediu.

– Vasilissa eu sou sua irmã.

– Eu sei, mas a mamãe não foi com a cara do Cristian. – disse, com um olhar desanimado.

– E você ficou com medo de que? – perguntei. – Que eu contasse pra ela? Achou que eu faria isso?

– Não. – disse. Ela pegou minha mão. – Confio demais em você, mas eu fiquei com medo de concordar com ela.

– Liss, você gosta dele. – falei, apertando sua mão. – Eu e mamãe não vamos te amar menos por gostar de um mauricinho.

– Rose! – repreendeu-me

– Foi mal. – disse aos risos. Puxei-a para um abraço apertado e sorri ao me afastar dela. – Eu te amo, e volto antes das onze.

– Oh Rose, a mamãe não está em casa, volte amanha.

Eu corei.

Eu nunca nem tinha beijado alguém, imagina dormir. Era muita evolução para o minha atual situação.

– Ok, não precisa dormir. – disse Lissa, percebendo meu rubor.

– Ok. Volto antes das onze. – ela sorriu em concordância.

E então eu saí do quarto.

Pronta para um ambiente totalmente familiar.

***

A campainha soou ainda mais aterrorizante do que a primeira vez que eu estive aqui. Eu teria corrido dali se Vikka tivesse demorado mais cinco minutos para abrir a porta.

Sem empregadas? – pensei.

Olhei para Vikka e sorri sem graça. Ela estava com uma rasteirinha branca e um vestido rosa soltinho. Seus cabelos presos em um rabo de cavalo e seu rosto com uma maquiagem leve. Eu sorri para ela novamente, dessa vez contemplando sua beleza.

– Nossa... – disse admirada. – O Dimitri vai pirar quando te ver.

Eu corei.

– Ta tão ruim assim? – perguntei aos sussurros.

– Você esta linda. – disse uma voz rouca por detrás de Vikka. Eu engoli a seco ao vê-lo.

Vikka sorriu para mim, como quem sabe que aquele jantar tinha um duplo sentido. Não para mim, mas para Dimitri. Ele estava perfeito. Sua blusa social preta, com dois botões desabotoados, alinhada à calça jeans.

Ele estava sorrindo.

– Com licença, não posso deixar o Mase sozinho. – disse Vikka, saindo em disparada.

Eu continuaria olhando para Dimitri, se ele não tivesse me feito perceber que eu ainda estava parada na porta. Ele estendeu sua mão para mim e eu a peguei, finalmente entrando na casa.

Assim que ele fechou a porta com a mão livre, se ofereceu para pegar a minha pequena bolsa prata, e eu aceitei. Ele colocou-a em cima de uma mesinha de vidro perto da porta e percebeu o quão confortável fiquei com as mãos livres.

Seu olhar parou em meu vestido tubinho social. O vermelho do tecido refletiu em seus olhos chocolate, fazendo-me corar. Ele levou às mãos ao meu cabelo, que estava preso apenas em uma parte, e acompanhou os cachos caídos em cascatas pelas minhas costas.

Ele sorriu.

– Você está linda. – disse, olhando-me intensamente.

– Obrigada. – murmurei.

E nós fitamos um ao outro.

Aquela corrente passou por mim, como algo avassalador. Eu deixaria ele me beijar, mas seus olhos desviaram dos meus e ele se afastou, dando-me seu braço, para que eu me apoiasse ali e acompanhasse ele, como uma perfeita dama.

Mesmo com meu saltinho vermelho, nunca ficaria do tamanho ou maior que Dimitri. Eu desci alguns degraus com sua ajuda e já estávamos caminhando em direção ao que eu pensei ser a sala de jantar.

Eu deveria estar totalmente acostumada com tudo isso. Mas na verdade, não estava. Odiava tudo que lembrasse meu pai, e principalmente, o dinheiro dele.

Respirei fundo e estava pronta para entrar naquela sala.

Dimitri puxou-me lentamente e quando percebi já estava com meus olhos em cada lustre ou detalhe daquele cômodo enorme. Olena estava com um vestido verde e longo. Seus cabelos negros, presos em um coque, que deixavam-na mais jovem e bonita.

Ela e Dimitri tinham o mesmo olhar e sorriso, assim como Vikka.

O garoto ruivo, Mason já estava em sua própria bolha com Vikka, sentados a um lugar específico da enorme mesa. Confesso a desorientação que senti, mas logo toda a minha educação em ser uma dondoca filinha de papai, voltou.

Lissa sempre foi melhor nisso do que eu.

– Oh, você é a Rose, certo? – perguntou Olena. Ela tinha um sorriso fantástico. Ela veio até mim e me abraçou, como a minha mãe me abraçava.

– Sim. – disse, assim que ela se afastou.

– Oh, como já disse, sou Olena. – ela sorriu para Dimitri ao meu lado. – Sou a organizadora do jantar e quem preparou toda a comida. Espero que goste Rose.

Eu sorri.

– Claro. – falei. Ela sorriu ainda mais, dirigindo-se à cozinha.

Eu e Dimitri sentamos à mesa, de frente para Vikka e Mason. Ele sorriu para mim e eu fiz o mesmo. Quando olhei para Dimitri, ele estava fitando Mason de um jeito forte. Não era como alguém que estava com a mão na perna da irmã dele, mas como alguém que tinha outros motivos.

Eu encarei-o por um tempo, enquanto ele fitava Mason, mas acabei desistindo, voltando à estaca zero, quanto a ficar confortável.

Depois de meia hora, em silencio, Olena chegou com mais uma de suas empregas e com a comida. Meu estomago agradeceu. Era o primeiro prato. Tinham muito garfos e facas, e eu engoli a seco, quando a empregada depositou o prato de sopa à minha frente.

Poderia ser um hambúrguer. – pensei.

Dimitri olhou para Olena irritado.

– Mãe, disse pra fazer algo simples. – disse.

Olena olhou para mim espantada, e arregalou os olhos.

– Oh Rose, me perdoe... – começou.

– Tudo bem. – interrompi-a. – Eu não importo.

– Mas... – tentou continuar, apontando para os garfos e facas.

– Está tudo bem. De verdade. – falei, sorrindo.

Peguei a colher, ao mesmo tempo em que Vikka, e comecei a pegar pequenas porções da sopa. Olena pareceu admirada, assim como Dimitri, o resto do jantar.

Eu mal reclamava da quantidade de pratos e muito menos parecia assustada com tudo aquilo. Para mim, foi apenas mais um jantar como qualquer outro. Mas dessa vez, eu não estava com vontade de ir embora.

Quando esperávamos pelo café, Vikka e Mason nos contavam os planos para depois da escola. Vikka ainda ia continuar no colégio, mas Mase reforçava que queria Vikka para casar, então mencionou uma casa perto da faculdade de direito que Vikka queria fazer.

Eu sorri. Assim como Olena. Dimitri parecia longe.

– E você meu filho? – perguntou Olena. – O que pretende? Já estamos à apenas alguns meses do fim da primeira fase de sua vida.

– Mãe, isso não é um vídeo game.

– Acho que é. – murmurei. – Você tem que passar pelas fases difíceis e pelas fáceis.

– E quanto a você, Rosemarie? – perguntou Olena.

– Quero ser escritora. – falei. Encolhi os ombros ainda com o olhar dela em cima de mim.

– Por quê? – perguntou Olena. Fitei-a, respirando fundo.

– Porque eu quero fazer parte da diferença. – ela abriu um sorriso, então continuei. – Quero mudar o mundo, ao invés de esperar para ser mudada. Se qualquer palavra é capaz de fazer a diferença... – eu sorri para ela. – Então eu vou conseguir.

– Excelente! – disse Olena. Eu corei, abaixando a cabeça.

Senti o olhar de Dimitri em mim, mas não o encarei para confirmar. Só abri um pequeno sorriso, enquanto Olena ia atrás dos cafés.

***

– Vem. – sussurrou Dimitri. Estávamos na sala agora, ele pegou minha mão e saímos devagar para algum outro lugar que eu desconhecia.

Passamos pela sala de jantar e chegamos até uma porta de vidro de correr. Eu sorri. Ele abriu a porta e deu espaço para que eu fosse primeiro. Eu apenas o fiz.

Caminhamos um ao lado do outro pelo caminho de pedra, com cuidado para não pisar na grama verde. Avistei a piscina e a luz da lua refletida nela. Eu sorri.

Ele pegou minha mão e me puxou devagar para outro caminho.

Caminhamos por alguns segundos, até que eu avistasse um jardim iluminado. Eu abri a boca, e ele sorriu. Eu amava qualquer tipo de planta e ele sabia. Na aula de ciências, eu sabia absolutamente tudo a respeito e ele não pareceu tão admirado agora com a minha euforia. Caminhamos até um banquinho ao redor de todas as rosas presentes ali e eu sorri.

Sentamos um ao lado do outro e eu sorri. Ele parecia tão acostumado ao lugar, que me fez ficar confortável.

– É lindo. – falei. Ele continuou em silencio por algum tempo.

– Minha mãe costumava passar mais tempo em casa. – disse. – Ela pensou em cada detalhe daqui.

– E agora? – perguntei, encarando-o.

Eu já tinha percebido a revolta de Dimitri com Olena, mas não sabia o real motivo. Agora, com ele falando isso, com seus olhos tristes... Eu pude ver que tínhamos mais em comum com nossos pais, do que eu imaginava.

– Agora ela esqueceu-se dos filhos e só vive para os negócios.

– Mas ela cozinhou hoje. – falei.

– Por sua causa, Roza. – disse, finalmente encarando-me.

– Minha causa? – perguntei. Eu não pude evitar um sorrisinho.

– Sim. – disse. – Ela gostou de você.

Agora, foi a minha vez de olhar para o nada.

– Como assim? – perguntei. – Ela mal me conhece.

– E eu também. – murmurou. Eu fitei-o. – E já gosto de você da maneira mais intensa.

– Você não sabe o que está dizendo.

– Eu sei. – disse, remexendo-se no banco. – Eu quero você na minha vida, Roza.

– E se eu não for à pessoa certa pra sua vida? – perguntei.

– Eu vou saber que eu tentei. – falou.

Eu respirei fundo e sorri.

– Acho que preciso ir pra casa. – falei.

– Já? – perguntou.

– Sim. – falei.

Ele assentiu.

– Posso te levar? – perguntou depois de algum tempo.

– Sim. – repeti. – Você pode.

E então, ele sorriu.

O sorriso que tirou meu ar.

***

Na segunda de manha, mamãe ainda não tinha voltado de Seattle. Ela tinha ido resolver problemas do bar antigo e deixado o bar atual fechado por esses dias. Então, nada de trabalho para Dimitri, Lissa e eu.

Passei todo o meu domingo tentando entender como alguém como Dimitri tinha gostado de mim. Procurei me certificar de que meu sobrenome não tinha sido mencionado em nenhum lugar, e não tinha.

Lissa estava terminando de fechar seu armário quando o sinal tocou. Eu a vi tremer para a próxima aula. Matemática. Eu sorri, a minha era literatura.

Lissa sorriu enquanto se afastava e eu procurei dar força através do olhar. Tínhamos um tipo de ligação que nem irmãs de sangue tinham. Caminhei lentamente até a sala, e me sentei na frente para a aula do Sr. Clark.

A sala foi preenchida aos poucos e eu pude notar o olhar assassino de Tasha Ozera para mim. Tudo bem, eu também não deveria encarar de volta, eu acabei de entrar na escola e não queria confusão com ninguém, mas eu não evitei meu olhar Rose Hathaway para ela.

Senti-a tremer. Eu sorri com isso.

– Oh Rose. – disse o Sr. Clark, tirando-me de meus devaneios.

– Olá, Sr. Clark. – disse, sorrindo.

– Tenho a impressão de que gostará da aula de hoje.

– Sério? – perguntei, animada.

– Sim, querida. – disse, afastando-se.

Eu teria sorrido e pensado mais a respeito dessa aula se Dimitri não tivesse se jogado na cadeira ao meu lado. Ele parecia exausto. E eu sorri. Ele nunca sentava à frente nas aula de Literatura.

– Deixe-me adivinhar. – murmurei, fazendo-o me olhar. – Sexo selvagem a noite toda?

Dimitri bufou.

– Só se fosse com você. – disse, com seu sorriso mais cafajeste.

– Teria que casar, camarada.

– Sem problemas. – disse. Eu corei.

Ele continuou me olhando com aquele sorriso, juraria que ele poderia dizer mais coisas, mas o Sr. Clark começou a falar, e eu sorri aliviada.

– Parece que a maioria veio hoje. – disse o Sr. Clark, sorrindo. – Esta segunda está boa para um trabalho temático.

A classe caiu em múrmuros e reclamações. Eu sou a única que continua com a boca fechada e não me importo com atividades extras de literatura. E o senhor Sr. Clark sabia disso.

– Oh, fiquem quietos. – disse o Sr. Clark, parecendo cansado. – Acho que vocês vão gostar. Serão trios que eu escolherei, e terão que fazer um resumo de uma obra específica em forma de redação.

Outro múrmuro começou na sala, mas logo cessou quando o Sr. Clark pareceu irritado, coisa complicada, pois ele sempre estava totalmente zen.

Ele começou a colocar as peças de Shakespeare que os trios deveriam expor ideias e depois se voltou para nós novamente com uma folha A4 em suas mãos tremulas.

– A megera domada – disse o Sr. Clark. – Ficará com Tasha, Jesse e Christian.

Tasha pareceu zangada e dirigiu seu olhar para Dimitri que olhava para o nada, totalmente distraído. Eu desviei meu olhar do dela, antes que alguém se machucasse ali. E não seria eu.

– Hamlet, serão: Alicia, Natalie e Joshua. – continuou. Eu olhei para Dimitri, e ele fitou-me, sorrindo. Meu coração parou por alguns segundos. – Romeu e Julieta, serão: Dimitri, Ivan e... – ele demorou alguns segundos para continuar. – Rosemarie Hathaway.

Mini infarto em 3, 2, 1...

***

– Já tem alguma ideia do que podemos fazer? – perguntou Dimitri ao sairmos da sala

– Amanha podemos nos encontrar para fazer alguma prévia do trabalho. É só para o mês que vem.

– Por mim tudo bem. – disse parando no meio do corredor. – Tenho treino, mas podemos ir juntos para o trabalho.

– O bar está fechado hoje. – disse.

– Oh, Janine viajou, certo?

– Certo.

Ele assentiu.

– Podemos comer então, depois da escola.

– Tudo bem. – falei. Ele sorriu e começou a se afastar.

E lá estavam elas, as borboletas novamente.

Eu continuaria ali falando com ele e pensando no quão ansiosa eu estava para comer vendo seus olhos chocolate. Não tinha coisa melhor, mas uma mão se fechou no meu braço.

– Adrian? – perguntei.

Ele estava sério e com o olhar estranho. Se não o conhecesse diria que estava com raiva de alguma coisa ou de alguém. Mas não entenderia os motivos.

– Precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

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