Jon

Os Outros estavam cada vez mais próximos. Eles passaram um tempo longe. Foi como se eles recuassem para buscar mais força de uma fonte oculta e agora começassem a voltar com toda fúria. Alguns em pequenos grupos até tentaram escalar a Muralha, mas foram logo derrotados. Mas Jon sabia que o pior estava por vim.

Jon sabia que não poderia sair da Muralha, logo ele seria necessário na grande batalha. Mesmo antes de Melisandre mandar a carta que dizia que era para ele não sair da Muralha. Que não daria tempo para ele voltar a Winterfell. Ele já sabia disso. O que ele também sabia é que seria necessário uma espada em chamas. Mas a sua espada continuava fria e da mesma forma que antes.

Ele havia pesquisado e lido muito sobre a Luminífera e a história de como a primeira espada foi acesa ainda o enchia de arrepios. O primeiro Azor Ahai havia tentado acender a espada de várias formas, mas somente obtém sucesso quando temperou o aço da espada com o sangue da amada Nissa Nissa, enfiando a espada no coração dela e a matando. Depois disso a espada nunca mais havia sido fria. A espada havia ficado quente, tão quente como Nissa Nissa havia sido em vida.

Jon esperava que dessa vez não fosse necessário chegar a um extremo desses. Esperava que algum ritual fosse capaz de acender a espada sem ser necessário matar ninguém. Mas toda vez que pensava isso conseguia lembrar somente da espada que Stannis havia tido. A espada que nunca havia sido a Luminífera.

“Ela era fria...”- pensou Jon se lembrando da espada de Stannis- “Ela não produzia o próprio calor. A verdadeira espada tem que ser o fogo puro.”

Para que a espada de Stannis fosse acessa não foi derramado sangue, o aço da espada não foi temperado com a alma de ninguém, ele achava que talvez fosse isso que faltasse. Jon tinha muito medo de esse seu pensamento está certo. Não queria que ninguém morresse. Ele se sentiria culpado por toda vida se alguém morresse para acender a espada, principalmente porque se a linha de pensamento se mostrasse correta a pessoa o coração a ser transpassado pela espada tinha que ser de alguém que amava. O primeiro azor ahai havia matado a amada esposa Nissa Nissa.

Nos escritos não tinham nada sobre o que havia ocorrido com o Azor Ahai depois da grande batalha, mas Jon sabia que o homem não havia mais sido o mesmo.

“Ele deve ter sentido falta da Nissa Nissa pelo resto da vida. Depois da batalha ganha o que é uma espada em chamas comparada ao calor de uma mulher?”- Jon pensou com tristeza. Pensar nisso o fez se lembrar de Melisandre e dos abraços quentes dela.

Jon sabia que havia a possibilidade, em um caso em que nada mesmo se mostrasse capaz de acender a espada, dele ter que transpassar a espada pelo coração de Melisandre. Ele acha que caso chegasse a esse ponto não teria coragem de fazer o que o primeiro azor ahai fez. Não seria capaz de matar a sua esposa. Principalmente porque eles tinham uma filha juntos. Se ele fizesse isso o que ele falaria para Lyanna quando ela perguntasse pela mãe?

“Não vai ser necessário a machucar. A espada vai acender de outra forma”- pensou ele em uma tentativa de se acalmar, mas como das outras vezes não funcionou.

Ele resolveu sair sozinho e andar um pouco para se acalmar e colocar os pensamentos no lugar. Enquanto andava ele se pensava em como tudo isso havia começado. Se lembrou da noite em que foi traído por aqueles que considerava seus irmãos. Se lembrou das facadas que foram dadas naquele dia e seu coração doeu por causa da traição. Pegou-se se perguntando por onde andariam as pessoas que lhe traíram. Eles haviam fugido, mas Jon não sabia para onde e nem sabia se ainda estavam vivos... Não iria pensar nisso.

Ao pensar na noite em que foi esfaqueado se lembrou novamente de Melisandre. Lembrou de como ele havia renascido somente por causa dela. Se não fosse por causa dela tudo teria sido diferente...

Lembrou também de como ela havia cuidado dele, logo após seu renascimento e de tudo que ocorreu até aquele presente momento. O reencontro com seus irmãos de coração, as vitórias ganhas e o nascimento de suas filhas. Quando pensou nas filhas deixou uma lágrima escorrer pela morte da Melony e outra pela saudade de Lyanna.

Sem que soubesse o porque começou a pensar novamente naquele terrível pesadelo que teve há pouco tempo.O pesadelo que ele sempre tentava manter afastado de sua mente, mas que pelo jeito sempre ia o perseguir. Ficou preocupado com os que ficaram em Winterfell e naquele momento começou a pensar que as terríveis cenas poderiam ser simbólicas. Poderiam representar que após a batalha nada seria como antes, ou então que as pessoas que amava morreriam durante a batalha ou depois.

O que Jon mais desejava no mundo todo era que outra pessoa fosse o Azor Ahai renascido. Queira que outra pessoa tivesse que lutar contra os Outros com a espada lendária. Ele não queria lutar, queria está em Winterfell quando o inverno chegasse. Com Melisandre, a filha, os amados irmãos de criação e Dany em segurança. Ele queria que Dany ficasse com ele também. Ele a amava, desde a primeira vez que viu. Era uma forma de amor diferente...

Ao pensar nela se lembrou de todas as vezes que Melisandre havia lhe dito que ela era a sua noiva de fogo. Se lembrou dos sonhos que teve com Dany e dos sonhos que ela lhe contou que havia tido com ele antes mesmo deles se conhecerem. Sem saber o porque ele lembrou da luminífera e de Nissa Nissa novamente. Só que dessa vez ele ficou pensando se o coração que tinha que ser transpassado era o Dany, pois Melisandre sempre lhe disse que a sua noiva de fogo era Dany e não ela. A idéia o deixou muito triste. Da mesma forma que ele não tinha coragem de fazer mal a Melisandre ele também não tinha coragem de fazer mal a Dany.

Dany era de seu sangue. Era irmã de seu pai Rhaegar. Ele não seria capaz de a matar. Ele não seria capaz de matar ninguém.

“Talvez a espada lendária não seja necessária. A Dany tem dragões. Eles podem fazer o papel da espada em chamas.”- pensou Jon tentando ter esperanças, mas as esperanças novamente escaparam quando ele lembrou que a profecia do azor ahai dizia que uma espada mágica era necessária.

O passeio de nada serviu para o acalmar. Ele acabou ficando mais nervoso e preocupado. Tinha muitas perguntas, mas nenhuma resposta. Um vento frio bateu em seus cabelos e aos seus ouvidos o vento parecia dizer uma frase que há muito tempo Ygritte havia lhe dito:

–Você não sabe nada, Jon Snow.

O tempo poderia ter passado. Ele poderia não ser mais Snow. Ele poderia ter virado rei, ter sido pai e ter vencido batalhas. Porém no fundo de seu coração ele sentia que ainda não sabia nada que realmente importava.

Ao se lembrar de Ygritte sentiu uma súbita saudade. Ele sempre se lembraria dela com carinho, apesar de ter se casado. Tinha noites que ele sonhava com ela morrendo em seus braços e sentia remorso. Tinha noites em que sonhava que tinha sido a sua flecha que a acertou, mesmo que não tenha sido. Pensar em seu primeiro amor apenas lhe deu mais certeza de que ele não seria capaz de matar Melisandre ou Dany. Se ele tinha pesadelos e sentia um certo remorso pela morte de Ygritte, que não havia sido sua culpa, como ele se sentiria se matasse alguém que amasse apenas para acender uma espada?