POV Lolie

Depois que a Piper simplesmente tacou o Nico e a Thalia dentro do porão, Bianca, chegou na casa da Annie.

“Oi, você que é a Lolie?” ela me perguntou sorrindo, depois de me dar um abraço. “Prazer, eu sou a Bianca, irmã do Nico.”

Ela se sentou no sofá, ao lado de Percy.

“Mas e aí, pessoal, cadê meu irmãozinho?” ela perguntou, enquanto bagunçava os cabelos de Percy.

Todos se entreolharam, ninguém querendo explicar o que estava acontecendo. Até que Percy tomou a iniciativa.

“Então, priminha...” ele começou. “É que... Tem essa amiga nossa, a Thalia... ela e o Nico andam brigando muito e... meio que a gente resolveu ajeitar as coisas e...”

A essa hora Bianca estava com as duas sobrancelhas levantas, e as duas mãos na cintura, esperando uma explicação decente.

“Vai, Percy, para de enrolar e explica logo!” ela bronqueou.

“Tá... então, Bia, o negócio é o seguinte: a gente trancou os dois no porão. E eles estão lá agora.”

Ela franziu as sobrancelhas, uma ruguinha se formando entre elas, igualzinho quando Nico o fazia. Olhou-nos como se fossemos loucos.

“Deixa eu ver se eu entendi. Vocês trancaram o meu irmão no porão com uma menina que ele não gosta pra ver se eles se entendem?” Percy assentiu, um pouco receoso. “É, parece plausível.”

Todo mundo começou a rir, todos aliviados. Bianca levantou e perguntou onde era o tal do porão, e Annie mostrou onde era. Ela foi até lá. Escutamos Bianca falando alguma coisa, e logo depois o barulho de uma porta se fechando. Logo depois, Bianca reapareceu na sala.

“Achei que seria bom explicar mais ou menos a razão de eles estarem lá. Pra eles saberem o que tem que fazer para sair de lá e tal.”

Todos começaram a conversar com a Bianca e, sem o Nico por lá, me senti um pouco deslocada. Até que Bianca veio se sentar do meu lado.

“Então Lolie... não quero parecer intrometida nem nada, nem fazer um interrogatório, mas qual é a sua relação com o Nico?”

Fiquei um pouco constrangida com a pergunta, mas ainda mais com o fato de eu não saber exatamente o que dizer. Pensei um pouco antes de responder.

“Bom, eu acho que é... tipo uma amizade colorida, sei lá.” eu respondi, um pouco envergonhada. “Quer dizer, a gente não namora nem nada, mas também não ficamos exatamente... Nós somos tipo amigos que se beijam.”

Ela riu com a minha explicação.

“Lolie, não precisava ficar nervosa não!” ela disse, ainda rindo. “Eu só quero o bem do meu irmão, e se é isso que tá fazendo ele feliz, então tudo bem por mim. Além disso, eu sei o que é estar num relacionamento indefinido.” Ela piscou para mim.

Ficamos mais de meia hora conversando sobre um monte de assuntos, e eu fui percebendo que a irmã do Nico era realmente muito gente boa.

Em determinado momento, enquanto eu conversava com Connor, Silena pediu para que todos calassem a boca. Ficamos em silêncio por uns instantes.

“Tá tudo muito quieto lá em baixo.” Ela observou. “Quanto tempo faz que eles tão lá?”

“Exatamente uma hora e meia.” Annie conferiu no relógio.

“Eles pararam de brigar.” Connor disse, fazendo uma cara de espanto “Não é melhor conferir se ninguém morreu?”

“É, acho bom.” eu concordei.

“Deixa que eu e a Lolie vamos então.” Ele falou, e me puxou até o porão.

Nós dois agachamos ao lado da porta. Prestei mais atenção nos sons, e percebi que uma música estava tocando lá embaixo. Aliás, não uma música qualquer. Era “Something”, dos Beatles.

Connor colocou o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. Ele destrancou a porta sem fazer barulho, e a abriu de uma vez.

E eu observei, muda, Thalia e Nico se beijarem bem embaixo de mim.

[...]

Agora, estavam os dois sentados no sofá da sala, um em cada ponta, os dois meio envergonhados, olhando para baixo. Bianca de pé em frente a Nico, batendo o pé em sinal de reprovação. Nico me lançou um olhar arrependido, e eu só rolei os olhos.

“Então, senhores, vão nos explicar o que tava acontecendo lá embaixo?” Connor quebrou o silêncio.

“Nada que te interesse.” Thalia soltou, entre os dentes, com raiva.

“Vocês queriam que a gente se entendesse.” Nico disse, tentando acabar com o climão.

“NÃO DESSE JEITO, PORRA!” Bianca bradou.

“Bianca, calma, eles tem o direito de se explicar, pelo menos.” Eu tentei acalmá-la.

Bianca lançou um olhar fulminante para Nico, e depois para Thalia, que se encolheu no sofá. Eu sei que não deveria, afinal, ela estava beijando o meu Nico, mas eu sentia um pouco de pena de Thalia naquele momento.

“E então, vão explicar? Ou vão fingir que não aconteceu nada?” Bianca perguntou, irritada.

Um silêncio desconfortável se instalou ali. A tensão no ar era quase palpável. Nico olhou para Thalia, com uma expressão de sofrimento. Thalia olhou para Nico, suplicando com os olhos. Nico abaixou a cabeça novamente, e balançou a cabeça levemente.

“Eu... nós. Nós vamos explicar” Nico declarou.

“Estamos esperando.” Bianca falou, ainda batendo o pé, com os braços cruzados.

Nico bufou e endireitou as costas. Thalia continuava olhando para baixo. Eu estava ali, de pé em frente a Nico, um pouco decepcionada com ele, mas sem querer demonstrar.

“Não foi nada demais.” ele disse, baixo. “Não significou nada, Lolie, eu juro.” Ele continuou, em um tom de súplica, os olhos me implorando perdão.

“Nada mudou.” Thalia completou, uma lágrima escorrendo por sua bochecha. E então ela saiu em disparada pela escada.

[...]

POV Thalia

Eu estava encolhida, a cabeça entre os joelhos, na cama de Annie, as lágrimas escorrendo livremente pela minha face. Eu não podia acreditar no quão babaca Nico fora. Como assim não significou nada? Ele fora tão carinhoso comigo, tão... meu.

Joguei meu corpo contra a cama, e enterrei o rosto no travesseiro, abafando meu choro. Nada mudou. Nada mudou. Nada mudou., eu repetia para mim mesma, como um mantra. Nico não era meu. Para ele, tudo aquilo não tinha passado de um beijo.

Escutei o ranger da porta, e soube que alguém tinha entrado no quarto, mas não me dei ao trabalho de levantar a cabeça. A pessoa sentou-se ao meu lado, e senti sua mão acariciar meus cabelos, o que me fez chorar ainda mais. Eu queria que fosse Nico me consolando. Que fosse sua mão quente e macia afagando meus cabelos. Mas sabia que não era ele. As mãos dele não eram destinadas aos meus cabelos, e sim aos de Loretta.

“Thalia...” a pessoa sussurrou baixinho, e eu identifiquei a voz de Connor. “Você quer conversar?”

Levantei a cabeça um pouco, e tentei controlar o choro. Sequei minhas bochechas com as costas da mão. Sentei-me ao lado dele, e ele me abraçou. Eu enterrei minha cabeça na curva de seu pescoço, e me permiti chorar no ombro do meu amigo. Imaginando que era Nico que estava ali. Desejando que fosse ele.