Imaginary Love escrita por Woodsday


Capítulo 2
Capítulo 01.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada ao comentário da Andressa e aos três favoritos que a história recebeu. Eu adorei! E aos que estão acompanhando, obrigada a vocês também!



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Oliver.


– Ei, Oliver! – Felicity esticou em minha direção a folha sulfite, o papel quase tocando meu nariz. Eu sorri, afastando-me minimamente para observar o desenho. – Esse – o dedinho apontou para um bonequinho de palitos vestido de camisa verde – é o papai, e essa – ela apontou para outro bonequinho, agora de vestido e com cabelos enormes, sorri ainda mais ao notar que esta era Donna – é a mamãe – ela confirmou e logo apontou para os dois próximos – e estes, sou eu e você!

– Eu acho que fiquei muito magro, Fel. – Eu fiz uma falsa expressão de ofensa e ela graciosamente abriu os lábios em choque.

– Olie, você é magro. – Afirmou com a voz infantil e autoritária.

– Não sou, não. – Teimei. – Eu sou bem pesado.

Felicity riu e o som fez com que meu sorriso se alargasse ainda mais. – Olie, você é magrinho assim! – Ela uniu os braços, demonstrando.

– Me senti ofendido agora, Fel.

Felicity sorriu com os dentinhos banguelas e levou a mão até a cintura, adoravelmente mandona. – Mas eu só sei fazer gente magra, Olie. – Continuou e então veio até mim, até estar sentada entre as minhas pernas. – E eu gosto de você magrinho assim! – Afirmou rodeando minha cintura com os bracinhos.

Senti meu coração se aquecer imediatamente com a demonstração de carinho e a abracei contra mim.

– Eu também, coisinha. – Respondi a ela com um sorriso.

– Felicity? – Donna colocou a cabeça para dentro da sala, observando com atenção, provavelmente estranhando o falatório de Felicity. – Com quem está falando, querida? – Franziu as sobrancelhas em confusão.

Felicity me dirigiu um olhar matreiro e lancei a ela outro repreensor. Ela alargou ainda mais seu sorriso, como se achasse que Donna era muito boba por não ver um homem em sua sala.

– Com o Olie, mamãe. – Declarou apontando em minha direção.

Revirei os olhos. Felicity tinha a língua solta, não fora difícil descobrir isso, ela falava constantemente sem parar sobre absolutamente tudo que vinha em sua mente.

– Com Olie? – Donna franziu ainda mais as sobrancelhas.

– É mamãe. – Afirmou com impaciência. – Eu mostrei pra ele o desenho que fiz da nossa família. Ele achou que ficou muito magrinho, mas eu disse pra ele que eu gosto dele magrinho. Mamãe, diz pro Olie que ele ta bonito!

Donna pareceu quase sem graça e segurei o riso ao notar que ela não sabia bem o que fazer. Por fim, Donna encarou o que pensou ser eu – mais especificamente, a direção da televisão.

– Olie, você está super bonito, com tudo em cima!

Felicity bufou.

– Mamãe, o Olie está aqui! – Ela apontou mais uma vez em minha direção. – E acho que ele agradece o elogio.

– Agradeço. – Pisquei para Felicity, sorrindo e ela se animou.

– É, ele gostou, mamãe!

Donna suspirou, finalmente abandonando a ideia de contestar a filha. – Certo, querida. Agora vamos tomar banho, dê tchau ao Olie.

Felicity me encarou com os olhos arregalados de apreensão e eu sorri, reconfortando-a.

– Vá tomar banho coisinha, eu volto já. – Dei um beijo estalado em sua bochecha e ela riu deliciosamente.

Sorri satisfeito e a vi ir junto de Donna em direção ao quarto.


Nesse mesmo ano, o pai da criaturinha foi embora. Eu a vi, a cada briga perder um pedacinho de sua inocência. Ela sempre me olhava com os olhos preocupados, querendo saber por que os pais estavam falando tão alto, então eu a entretinha com uma história ou uma brincadeira, fazendo o possível para que Felicity não soubesse o quão ruim estavam as coisas entre sua mãe e seu pai. Quando o pai de Felicity foi embora, sem ao menos se despedir da criaturinha, Donna inventou a pior das mentiras, o pai tinha ido viajar. Mas esta era Felicity, afinal. Ela só tinha cinco anos, mas já sabia o que fazia Donna Smoak chorar todos os dias. Minha doce e inteligente criaturinha com cinco anos, já sabia que Donna não era mais a mamãe de sempre e sabia que o pai não voltaria da tal viagem.

– A mamãe está triste, Olie. – Ela me encarava com os enormes olhos azuis cheios de preocupação. Lágrimas teimosas sempre saindo de seus olhos.

Nunca entendi a capacidade dos humanos de magoarem uns aos outros. E principalmente, a capacidade que tinham de magoá-la.

– Ela ficará bem, coisinha. – Afirmei e Felicity se acalmou imediatamente. Eu me sentia aquecido com a confiança que ela dispunha para mim.

– Tudo bem, Olie. Eu vou ir dar um beijinho nela. Beijinho sara não é?

– Sem duvidas, coisinha. – Eu sorri confiante para ela e a observei atravessar a sala com os pezinhos ágeis e ir ate Donna, que olhava as inúmeras contas em cima da mesa. Se houvesse de algum modo, uma forma de ajuda-lá, eu certamente o faria.

– Mamãe! – Fel se agarrou a perna de Donna e a mulher sorriu, encarando-a.

– Sim, amor?

– Você quer um beijinho?

Donna piscou confusa e então sua expressão lentamente se clareou e ela assentiu para a coisinha, puxando-a para seu colo. Felicity lhe deu um dos beijos estralados que aprendera comigo e Donna sorriu emocionada.

Eu sorri para Felicity, orgulhoso e ela me devolveu o mesmo sorriso. A coisinha seria uma grande mulher um dia. O primeiro sentimento que me dei conta de sentir foi esse.

Orgulho de Felicity.



Os próximos dois anos foram os piores de Felicity. Ela aprendera de fato o significado de perguntar. Era absolutamente constrangedor e tenebroso, Donna não ficava em casa a maior parte do dia e a velha senhora que cuidava de Felicity passava a maior parte do tempo cochilando no sofá, restava a mim, então, a difícil tarefa de cuidar da coisinha.

– Oliver... – Ela se aproximou em pulos, estávamos no chão do seu quarto e eu observava com divertimento, Felicity rodopiar pelo quarto, vestida em um tutu vinho. Ah, Felicity não gostava de rosa, tudo, menos rosa. – Porque laranja se chama laranja e verde não se chama verde?

– Oi? – Eu franzi as sobrancelhas, em dúvida.

Felicity abanou o ar com as mãos.

– Porque limão não se chama verde? – Ela deu ênfase em limão, arrastando a palavra por alguns segundos, eu parei, encarando e pensando em uma resposta que pudesse distrai-la. – Ahá! Você também não sabe! – Ela me apontou o dedo acusatória e eu sorri, rendendo-me.

– Tem razão coisinha. O que você acha?

– Eu acho... – Começou como uma palestrante. – Que é porque o laranja é mais bonito que o verde, ai como a laranja é mais gostosa, ela fica com a cor mais bonita... E o verde... O verde... – Felicity levou a mão ao queixo. – Ah, Olie, vamos brincar! – Mudou de assunto estrategicamente, perdendo-se na próprias conclusões. Não pude evitar rir e ficar agradecido por ela ter esquecido da pergunta complicada. Porque isso, porque aquilo. Felicity estava impossível, eu não sabia se meus neurônios de anjo guardião podiam aguentar mais muitas dessas.

Felicity passou mais meia hora rodopiando pelo quarto, o bastante para fazer seus cachinhos loiros soltarem-se do laço que Donna fizera antes de sair. Ela estava cada vez mais linda, crescendo rápido demais e cada vez mais falante.

– Oliver! – Ela parou mais uma vez em frente. – Os pinguins têm joelho? Porque se tivessem, eles não andariam assim né? – Ela imitou o andar os pássaros com perfeição, unindo a atuação a vários “quas” “quas”.

Felicity nem se quer esperava por minha resposta na maioria das vezes, ela estava extremamente interessada em perguntar e falar. Sobre tudo e qualquer coisa que lhe parecesse minimamente interessante.

Essa devia ser a pior fase de uma criança, mas eu não saberia dizer, afinal. Já que era a primeira vez que era guardião de alguém desde que esse ser veio ao mundo. Era interessante e apaixonante. Felicity estava sempre radiante e feliz, pulando para todos os lados e não me deixando desgrudar os olhos dela um único segundo. Como toda criança, ela tinha um interesse absurdo por peças pequenas de brinquedos e tomadas, com sorte, livrei-me dos brinquedos. Já que Felicity adorava desmontar coisas para logo monta-lás de volta – completamente erradas, devo dizer.

E existiam as perguntas ainda mais absurdas, como “de onde os bebês vem” ou “porque eu tenho isso de menina e você tem isso de menino” fora hilário ver Felicity aos seis anos apontando para mim e para ela, ou mais tarde, aos oito, empurrando-me de seu banheiro porque ela era uma menina e eu, um menino.

– Meninas não ficam junto de meninas no chuveiro, Oliver! – Ela cruzou os braços, enrolada no roupão grosso de bichinhos da Disney.

Suspirei, desejando que ela pensasse assim ainda por mais ou menos uns dez anos. O que provavelmente não aconteceria, Felicity crescia rapidamente, cada dia, ela parecia estar maior e mais inteligente que o dia anterior. E isso inevitavelmente, levava-me para longe dela. Um dia, quando Felicity já fosse grande, ela não iria querer um homem invisível acompanhando-a, era por isso que quando ela atingisse certa idade e começasse a me questionar, seria a hora de deixar de ser visível para Felicity. Eu ainda estaria aqui, amando-a e protegendo-a, mas Felicity iria encontrar alguém que pudesse estar ao seu lado e com minha ajuda, ele seria um bom homem.

– Oliver... – Ela me chamou, certa noite, estava enrolada em seus cobertores azuis, tudo que se podia ver eram os olhos e os cabelos enormes espalhados pelo colchão. Eu sorri para ela e Felicity se desenrolou da cama, caminhando até a poltrona onde eu estava. – Você vai embora?

– Você quer que eu vá, coisinha? – Eu a aconcheguei em meus braços, apertando-a. Felicity pousou a cabeça em meu ombro, agarrando meu pescoço com os bracinhos. Com doze anos, ela era leve como uma pluma, eu sorri ao imaginar que ela gostaria de ouvir isso daqui alguns anos.

– Não, Olie. – Choramingou, agarrando-me ainda mais. – Você é meu melhor amigo, eu não quero que vá embora nunca.

– Então não irei, barulhentinha. – Eu sorri confiante para ela e Felicity abriu os lábios em um sorriso ainda maior.

Era muito óbvio que eu jamais iria embora e jamais iria abandoná-la. Felicity não era nenhum ser celestial, mas era repleta de luz. É ela, até então, o único ser que conseguira me tocar tão profundamente que me fizera desenvolver o maior e mais puro amor que eu poderia sentir.

Eu podia afirmar, com absoluta certeza, que eu sempre amaria e protegeria Felicity.

Minha pequena, Felicity.


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Notas finais do capítulo

Então, gente? O que acham?
Qualquer dúvida, estou à disposição.