Capítulo 17

72 horas- Parte 1- Quinta.

“A outra parte de quem nasceu dois”

Loren Hannigan

. ♥ .

Aquele beijo não foi apenas um beijo, não parou em um beijo, mas também não deixou de ser somente beijo.

Eu estava quase certa de que foi um sonho quando acordei sozinha na cama essa manhã, mas não podia ser, porque eu nunca seria capaz de imaginar algo tão bom. Eu estava um pouco desapontada quando virei na cama e notei que Logan não estava mais em canto algum do quarto. O relógio na cabeceira me alertou para o fato de que ele provavelmente não estaria em qualquer lugar da casa também. Eram 10h30 da manhã.

Eu soprei uma mecha de cabelo do meu rosto e levantei, ainda sonolenta apesar da hora. Logan e eu fomos dormir demasiado tarde, um pouco depois de três da manhã, e eu honestamente não sabia como no inferno ele tinha levantado, conseguido disposição para se arrumar e saído para o trabalho, mas ele me avisou que faria.

Caminhei até o banheiro, sentindo o início de um longo bocejo. Bocejo esse que foi brutalmente interrompido pelo largo sorriso que partiu meus lábios quando eu encarei a nota pregada no espelho do banheiro.

Sem nem mesmo tentar me parar de agir como uma colegial, eu puxei rapidamente a nota e soltei um pequeno gritinho feliz quando abri e vi a letra elegante de Logan Heidy nela.   

Levou tudo de mim para conseguir levantar e sair hoje, baby. Você parecia um anjo dormindo na minha cama, mas supus que o meu chefe não ia aceitar esse argumento como razão da minha falta. Infelizmente, farei hora extra hoje. Não me espere para o jantar.

Eu fiz uma careta, mas continuei lendo, porque havia mais.

No entanto, amanhã, eu gostaria de te levar a um lugar... durante todo o dia, sim? Espero que não tenha nada marcado, porque será uma pena ter que te sequestrar dos seus compromissos, mas eu farei sem mesmo piscar um olho. Quero você apenas para mim amanhã.

Eu tremi ainda parada de frente para o banheiro. Eu mal podia esperar.

Deus, você traz o meu lado egoísta à tona, e eu não posso evitar...

Uma risada estourou de mim com essa frase. Logan não tinha um osso egoísta naquele corpo maravilhoso dele, mas se ele queria começar uma nova tendência, apenas ficava feliz que fosse me tendo como alvo. 

Eu provavelmente chegarei quando você já estiver dormindo, mas faça-me um homem muito feliz e use uma das minhas camisas quando for para a cama, okay? Coloquei algumas na lavadora antes de sair.

Tenha um bom dia, baby.

Logan.

Porra de homem doce.

Eu provavelmente andaria o resto do dia inteiro com esse sorriso gigantesco partindo meus lábios, de uma forma que meu maxilar doeria na hora em que eu deitasse para dormir. Eu não gostei nem um pouco do fato de que ele iria passar o dia inteiro fora, mas, perfeito como sempre, ele me fez esquecer este pequeno detalhe com o restante de suas palavras e a promessa de passar todo o tempo com ele amanhã.

Eu permanecia praticamente vertiginosa com a ideia mesmo depois que tomei banho, me vesti, penteei o cabelo e tomei café da manhã. Ainda sentada no balcão da cozinha, com minha tigela meio comida de cereal, eu decidi que eu não podia ficar parada em casa o resto da manhã. Fazia apenas quarenta minutos desde que eu tinha acordado e já parecia uma eternidade. Era provável que eu estivesse muito ansiosa para amanhã, mas quem, honestamente, não estaria no meu lugar?

Eu suspirei pensando no que fazer, até que por fim, lavei a tigela que tinha usado antes de ir até a pequena lavanderia e transferir a pilha de camisetas, que Logan tinha jogado na lavadora, para a secadora. Não havia nenhuma maldita maneira que eu não estaria usando uma de suas camisetas para dormir hoje à noite, isso se eu realmente conseguisse dormir.

Eu ainda tinha aquele sorriso enorme e estupido quando saí pela porta da frente cinco minutos mais tarde, rumo ao estúdio de tatuagem. Não tinha ninguém além de mim em casa quando acordei, por isso supus que era onde estariam Thomas, Chris, e, se eu tivesse sorte, Rachel.  

Em um movimento tardio, voltei para buscar o meu celular, assim, eu poderia falar com Logan. Eu não tinha o número dele, mas eu gostaria de mandar uma resposta para sua adorável nota, talvez um de seus irmãos ou Ray pudessem me ajudar com isso.

. ♥ .

Cheguei ao estúdio de tatuagem para encontrar uma Rachel entediada em sua mesa de trabalho. Uma revista estava a sua frente, e ela passava as páginas com pouco interesse. No momento em que ela notou minha presença, um sorriso enorme se espalhou por seu rosto.

— Eu não sei o que te trouxe aqui, mas estou tão alegre que você está aqui! — Ela gritou.

Eu ri quando ela levantou e contornou o balcão, vindo toda saltitante na minha direção, colidindo contra mim em um abraço gigante. — Devo supor que você estava entediada...

Ela me deu um olhar angustiado.

— Pff. Eufemismo do caralho. Eu estava quase subindo pelas paredes. O movimento está perdendo para uma lesma hoje. Os únicos dois clientes que passaram por essa porta estão lá dentro agora — disse, apontando para as duas portas a minha esquerda e em seguida, fazendo beicinho — e nem se deram ao trabalho de pedir coisas difíceis. Thomas deve terminar em dez minutos, um cara que veio tatuar o nome de sua garota; e Chris está apenas preenchendo o desenho nas costas de um outro cara.  

Ela estava certa, dez minutos depois, Thomas saiu de sua sala acompanhado de um homem, que devia ter por volta dos trinta anos e, definitivamente era um motoqueiro. Ele também era muito bonito a julgar pela forma como Ray pareceu impressionada quando olhou para ele, mas eu sequer pude notar. Aparentemente, Logan era o único que eu conseguia enxergar por esses dias.

O cara se aproximou do balcão alto onde Ray ficava, para acertar as contas, e eu me afastei indo em direção a um sorridente Thomas.

— Ora, ora — disse quando me aproximei. — Veja só quem resolveu aparecer por aqui... Você não me parece o tipo de garota que frequenta um estúdio de tatuagem, Lo.

Eu lancei um olhar torto em sua direção. — Sim, bem, você não pode me acusar ser frequente, mas não é como se eu nunca tivesse entrado num lugar desses de tatuagem... — Thomas levantou a sobrancelha, claramente divertido. — Para sua informação, eu tenho uma tatuagem.

Ele jogou a cabeça para trás e riu alto. O que durou poucos segundos até ele perceber que eu não estava rindo. Então ele parou e me encarou com um olhar entre o ‘incrivelmente chocado’ e o ‘levemente impressionado’. — Merda, é sério?

— Sim.

— Eu não vou pedir para ver, porque eu obviamente não consigo ver com você vestida, mas eu estou realmente curioso. O que é? E, por favor, não me decepcione com alguma merda fofinha ou uma dessas palavras que toda garota de dezessete anos, em seu momento de rebeldia, resolve tatuar...  

Eu ri, e então caminhei até uma das cadeiras acolchoadas que eles mantinham para os clientes. O estúdio de tatuagem era bem decorado para um local administrado por caras. As paredes eram de um roxo elegante, que pendia para o marrom; atrás do balcão branco onde Ray ficava, tinha uma placa em neon verde, que era uma réplica exata da que tinha na fachada e dizia “Heidy Brothers”.

O restante das paredes era coberto por alguns esboços impressionantes de tatuagens, todos eles assinados por um dos caras, e, para a minha surpresa, alguns desenhos com o nome de Rachel também. Haviam duas portas lado a lado na parede a esquerda de quem entrava, onde ficavam as salas de trabalho, e uma solitária do outro lado, que Ray me informou como sendo o escritório. O balcão ficava de frente para a entrada e num recuo da parede, fazendo parecer que todo lugar era composto de dois ambientes.

A recepção, onde Ray ficava, tinha algumas luminárias modernas, em estilo industrial na cor vermelha, e era composto por nada mais que a peça branca do balcão, que empregava um ar moderno ao local; a porta do escritório, que também era branca, e um revisteiro ao lado da porta de entrada, que era de vidro fosco.

Do outro lado, no que eu chamei de segundo ambiente, tinham quatro poltronas de couro preto com braços e pés de madeira escura; duas de cada lado, em frente as portas brancas das salas de trabalho. Entre cada par de cadeira acochada tinha uma mesinha quadrada da mesma madeira escura, que sustentava os catálogos de fotos, para os clientes escolherem suas tatuagens. Se eles queriam uma nova, os meninos também podiam desenhar. Em cima das mesinhas também tinham blocos em branco para esse propósito.     

A iluminação do segundo ambiente, como a do primeiro, era feita com luzes amarelas, mas ao invés de luminárias modernas, havia um lustre que parecia saído direto de um filme gótico. Isso combinado com as molduras pretas e as paredes roxas, conferiam um ar mais pesado ao ambiente. Era aconchegante, levemente sombrio e moderno na quantidade certa. Era também bastante impressionante para um estúdio de tatuagem. Ray disse que eles mudaram de nome e conseguiram reformar alguns anos depois que o pai morreu, antes das coisas ficarem mais complicadas financeiramente.

Ray podia falar um monte de coisas em dez minutos.  

De qualquer forma, ainda sem responder a Thomas, eu caí em uma das cadeiras e alcancei um bloco em branco e um marcador preto, porque não havia maneira alguma de eu explicar minha tatuagem para ele, sem que ele estivesse vendo. Ele não iria entender de outra forma.

Thomas me observou com curiosidade, mas não disse nada enquanto eu desenhava. Era um desenho simples, que qualquer leigo como eu poderia reproduzir, mas o significado era enorme para mim.

Não levou muito tempo para eu terminar, quando estiquei para o Thomas, ele observou por um momento e depois me lançou um olhar confuso.

— É uma florzinha estranha, mas uma florzinha. Sexy, no entanto. Onde você esconde isso, em, menina? — Perguntou provocante.

Eu bati em seu braço com as costas das mãos.

— Nas minhas costas, pervertido. E não, não é uma florzinha esquisita e sexy.

— E o que diabos é isso então? — Questionou, genuinamente confuso, mas ainda sorrindo.

Eu suspirei, pesarosamente, porque me deixaria um pouco triste explicar a ele, mas eu não deveria ter mostrado se eu não estivesse disposta a explicar. Além disso, Thomas me deixava confortável o suficiente.

— É uma coisa que meu pai costumava desenhar na minha mão quando eu estava com medo. — Falei, com a voz caindo um tom. Instantaneamente, o rosto de Thomas adquiriu uma máscara compreensiva, mas ele não falou nada, me dando tempo para terminar. Depois de alguns instantes, eu continuei. — Não é uma flor, são quatro pessoas formando um círculo em volta de outra. Companhia, proteção. É a minha família. — Minha voz ficou rouca de emoção, mas eu limpei com um pigarro. — Meu pai, ele usava letras “c” e alguns pontinhos para desenhar isso, dizia que era um C para cada um deles. Ele se chamava Christian; minha mãe, Caroline; e meus irmãos, Chase e Colin.   

Thomas sorriu suavemente. — E você nasceu... Loren?

Eu consegui sorrir também, apesar da emoção embolada na minha garganta. De todas as coisas que ele poderia perguntar, ele pergunta justo isso. Bem, obrigada Deus que ele não perguntou sobre onde está a minha família e coisas como essa, ou eu estaria chorando ao invés de rindo.

— Meu nome do meio é Christina — acrescentei suavemente.

O sorriso de Thomas ficou maior, e então diminuto, quando olhou para o desenho mais uma vez, agora entendendo seu significado. Ele se certificou de olhar para mim, antes de dizer — É lindo, Loren Christina — e levantar.

Eu assisti em absoluto choque quando ele andou até uma das molduras e a tirou da parede. Tinha uma série de cinco pequenos desenhos aleatórios não assinados nele. Thomas retirou o fundo, deixou em cima da mesinha oposta à que eu estava, foi até o balcão, e voltou com tesoura e durex.

Ele reorganizou os desenhos para que formassem duas colunas, e então acrescentou o meu por último, na segunda carreira. Colocou o fundo de volta e pendurou na parede.

Eu levantei, chegando mais perto, e observei as imagens, buscando entender o significado por trás do gesto de Thomas e das figuras expostas junto com o meu pequeno desenho.  

Finalmente, depois de alguns momentos, resolvi perguntar a ele, porque pareciam completamente aleatórios para mim. — Porque você fez isso?

Eu não estava brava, apenas curiosa.

Thomas estava olhando para o quadro, assim como eu, e não moveu para responder. — Esses desenhos são os menores e menos impressionantes da galeria, mas são os que guardam grandes significados. — Ele apontou para o que estava ao lado do meu. — Este é do Logan.

Eu olhei, genuinamente fascinada. Eu me lembrava desse. Era bem pequeno e ficava nas costas, perto do ombro esquerdo.

— O que significa?

— Eu poderia te dizer o que cada um deles significa, mas ouvir do dono é sempre melhor. Talvez você devesse perguntar a Logan em primeiro lugar.

Eu meneei, concordando. Ele estava certo, e eu, definitivamente, iria.

— Bem, eu posso te contar um, no entanto. — Continuou ao mesmo tempo em que apontava para o desenho acima do de Logan — O meu.

Eu estudei a representação bastante conhecida, e então constatei: — O símbolo zodíaco para gêmeos.   

Thomas balançou a cabeça, afirmando.

— Sim. Muito apropriado que eu tenha nascido em 26 de maio, o que me faz um geminiano, porque eu, de fato, tinha um irmão gêmeo. Infelizmente, ele não sobreviveu depois de nascer. Viveu apenas uma noite. Tinha má-formação pulmonar e não aguentou muito tempo nesse mundo. Não tinha sequer um nome, mas eu achei que ele deveria ser lembrado.

Oh, jesus. Agora eu estava chorando, não uma coisa extravagante e soluçada, apenas uma triste lágrima solitária.

— O que está escrito? — Perguntei baixinho. Havia uma frase embaixo do desenho, escrita em letras simples, e era em algum idioma que eu não conhecia, italiano talvez.

— Ele diz “a outra parte de quem nasceu dois”.

Outra lágrima escorreu pelo meu rosto, e eu não aguentei mais um segundo. Abracei Thomas, e me deixei chorar.

Droga de pessoas doces e profundas.

(Continua)

TEXAS HOT GUYS: IN LOVE WITH YOU