Hell on us escrita por Sami


Capítulo 49
Caminhos


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui com mais um capítulo! Já vou deixando avisado que o próximo já está pronto e vão se preparando aí porque o próximo capítulo vai trazer uma pessoa aí...não vou falar mais nada.

Boa leitura



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(...)

 

Depois de ter tomado banho e já estarmos limpos, Rick, Daryl e Maggie foram finalmente conversar com Gregory, enquanto isso aproveitei o tempo para conhecer um pouco mais daquele lugar realmente grande.

David estava comigo e disse que também queria conhecer um pouco mais Hilltop e ver o que aquele lugar poderia oferecer.

 Caminhando no meio de todas aquelas pessoas desconhecidas pude perceber que todas pareciam ter uma função ali dentro; não havia ninguém que estivesse sem fazer alguma coisa. Como Jesus disse: Hilltop era um pouco diferente de Alexandria e ele estava completamente certo sobre isso. Pude perceber isso conforme caminhava pelo lugar.

— O que acha desse lugar? Está gostando do que está vendo? — David cortou o silêncio entre nós com aquela pergunta. 

— É um lugar grande, acho que bem maior do que Alexandria  — falei, olhando um pouco mais ao redor. — As pessoas parecem ser um pouco mais organizadas do que em Alexandria também. 

Ele suspirou.

— Não foi isso o que eu quis dizer, Ayla — ele parou na minha frente, fazendo com que eu precisasse erguer meu rosto para conseguir olhá-lo também. — Quero saber se gostou desse lugar ou não. 

Dei com os ombros.

— Não vou mentir, esse lugar é foda. — Ele riu brevemente com a minha fala. — É aberto e eles parecem ter mais coisas que a gente, sei lá, qualquer um iria gostar desse lugar.

David moveu a cabeça balançando-a como se concordasse comigo e com minhas palavras, ele logo voltou a caminhar e fiz o mesmo continuando a segui-lo por Hilltop. 

— Sei que é estranho dizer isso e sei lá, estou aqui apenas uma hora? — Ele deu com os ombros também, confesso que aquele assunto estava tomando um rumo curioso. — Assim como Alexandria esse lugar tem segurança e tudo parece ser um pouco melhor aqui do que lá… Eu estava pensando… 

A pausa que ele fez pareceu denunciá-lo do que iria vir a seguir.

— É estranho porque eu não sinto vontade nenhuma de sair daqui, digo, olhando tudo o que Hilltop tem a oferecer e tudo o que construiriam e fizeram é bem mais do que temos em Alexandria e estou me sentindo um pouco mais a vontade aqui do que me sinto lá.

Levantei as duas sobrancelhas o encarando outra vez, parei de caminhar e percebendo isso ele também parou se virando para me encarar também.

— Aonde quer chegar com isso, David? — Perguntei cruzando meus braços. Eu havia entendido o que ele queria dizer com tudo aquilo, mas queria ouvir isso dele para ter certeza de que eu não havia entendido errado.

Ou estava tomando decisões precipitadas quanto a sua fala. 

— Você entendeu muito bem Ayla. — Ele disse. — Só acho que aqui, eu posso realmente servir para alguma coisa do que em Alexandria, além do que, aqui eu sinto que posso ter um futuro nesse lugar.

— Você quer... Sair? Simples assim? — Cocei a cabeça vendo-o concordar lentamente. — Mas não pode fazer isso, quer dizer, não pode me deixar de novo! Não quando passei meses achando que você estava morto quando na verdade você estava vivo e por pura coincidência você estava vivendo no mesmo lugar em que iríamos morar!

David deu alguns passos para frente se aproximando de mim, por eu ser bem menor que ele, David precisou se abaixar um pouco para conseguir me olhar bem nos olhos.

— Sabe que pode vir comigo, eu tinha prometido que cuidaria de você e eu vou cumprir essa promessa. — Falou decidido. — Pelo que pude ver, aqui parece ser bem mais seguro que Alexandria e dadas nas atuais situações que estamos hoje, Hilltop parece ser a melhor opção que temos.

Torci a boca. Não por não concordar com o que ele dissera, de fato, Hilltop mostrava uma segurança maior do que em Alexandria, torci meus lábios porque eu sabia que cada palavra dele era uma verdade da qual eu não tinha como refutar. 

— Não ouviu o que Jesus disse quando estávamos na van? — Fiz uma pergunta retórica ainda encarando-o. — Negan praticamente manda nesse lugar, eles devem pagar tributos a ele e você quer vir pra cá? Exatamente para o lugar onde esse louco sempre vem?

— Ayla, quanto tempo você acha que vai levar para que Negan e seus homens armem um ataque em Alexandria? Não percebe que mexemos com eles a partir do momento que começamos a matar seus homens? — Ele agora parecia preocupado. Muito preocupado. — Eu conheço aquele grupo e sei muito bem quando digo que ele não vai deixar tudo isso passar. Ele vai descobrir sobre Alexandria em breve, se é que já não descobriu e nós vamos acabar pagando o preço por tudo isso!

Eu respirei fundo sentindo meu corpo ficar tenso com aquilo; não era somente eu e Maggie que estávamos preocupadas com um ataque, David também estava.

— Eu sei disso, mas Alexandria se tornou um lar para mim David. — Falei num baixo, afinal, Carl e os outros estavam lá. — E todo mundo que eu gosto está lá, principalmente você!

Ele nada disse e vi minha deixa para continuar falando. 

— Eu sei que uma hora ou outra vamos ter que enfrentar os salvadores e principalmente esse Negan, mas eu gosto de Alexandria porque ela manteve meu irmão mais velho quase um pai para mim vivo...

—O quê? — Ele pareceu surpreso ao ouvir aquilo, aos poucos seus lábios se moveram formando um leve sorriso em seu rosto marcado pela cicatriz.

Depois de passar tanto tempo com David e aprender várias coisas com ele, comecei a vê-lo mais como um irmão mais velho que às vezes parecia ser meu pai do que como apenas um amigo sobrevivente num apocalipse. A figura responsável que ele exercia no grupo de onde viemos e todo o cuidado que ele teve comigo e os demais, eu o transformei num pai. 

— Só precisa melhorar o seu temperamento um pouco, mas isso a gente cuida depois. — Dou um sorriso leve, coloco minhas mãos sobre seus ombros, ainda sorrindo. — Não quer pensar melhor nisso? Pelo que parece vamos voltar muitas vezes pra cá.

David ficou em silêncio por um longo tempo apenas me encarando com aqueles olhos claros que ele tinha, eu nunca soube dizer exatamente qual era a cor deles porque David tinha olhos claros demais; era uma cor desconhecida, porém muito bonita.

— Por que você sempre consegue me convencer das coisas, pirralha? — Ele sorriu bagunçando todo meu cabelo, notei que havia um brilho diferente em seu olhar; um brilho que não havia notando antes. — Eu vou pensar mais sobre isso e quero que você também pense nisso, ok?

Balancei a cabeça positivamente arrumando meu cabelo.

— Eu prometo que vou pensar sobre isso. — Falei olhando-o outra vez. — Que bom que resolvemos isso como adultos, não acha?

Eu o observei se levantar do chão ficando novamente na mesma posição de antes, limpou os joelhos da calça jeans escura que usava tirando um pouco da sujeira que ficou nela e então voltou a me olhar.

— Vem cá pirralha.

Sem saber muito bem o motivo ou o porquê daquilo, David me abraçou como nunca havia feito antes, aquele abraço tinha alguma coisa diferente e eu pude sentir isso. Sem pensar duas vezes o envolvi pela cintura abraçando-o de volta e logo sentindo que ele parecia se curvar um pouco mais para ficar mais baixo, ele bagunçou meu cabelo uma segunda vez.

Ficamos daquele jeito por longos minutos até que fui a primeira a se afastar.

— Por que fez isso? — Perguntei o olhando; até porque não fazíamos esse tipo de coisa sempre e receber um abraço assim de graça sem nem ter feito ou dito nada me deixou um tanto curiosa.

— Eu preciso de um motivo para abraçar a minha irmã mais nova quase filha? — Eu imediatamente estico meus lábios em um sorriso novamente. —  Não sabia que tinha tanta importância assim na sua vida.

Revirei os olhos.

— É claro que tem. Está sempre cuidando de mim nas piores merdas desse mundo. — Ele riu baixo. — Você é importante para mim, sim. E sabe muito bem disso.

Dei um leve tapa em seu braço logo voltando a caminhar e sendo seguida por ele, tínhamos um tempo para continuar andando por Hilltop para conhecer um pouco mais sobre o lugar em que Jesus vivia e assim fizemos.

 

...

 

Já havíamos passado um pouco mais da metade do dia em Hilltop e nesse tempo em que eu e David passamos juntos para conhecer um pouco mais do lugar fiquei sabendo — por Carl — que seu pai, Daryl e Abraham haviam se metido numa briga.

Ao ver Rick com sua blusa suja com sangue — que claramente não pertencia a ele — me preocupei com o que de fato aconteceu nessa briga. Apesar da briga, Rick conseguiu fazer um acordo de troca com Hilltop; eles nos dariam uma parte da sua comida e em troca iriamos lutar contra os salvadores, não só para livrá-los disso, mas também para nos livrar deles de uma só vez.

Não vou mentir em dizer que saber disso me deixou bem mais preocupada, querer enfrentar um grupo que se mostrou ser realmente perigoso parecia uma grande loucura; não era algo que uma pessoa sensata faria nem nas piores circunstâncias. Mas pelo visto Rick estava certo quanto a isso e mesmo que Maggie tenha se mostrado um pouco incerta sobre essa decisão, todos haviam de fato entrado num acordo de que fariam isso mesmo. 

Iriam enfrentar os salvadores. 

Aquela sensação de antes estava novamente de volta, senti um tipo de frio na barriga ao pensar nisso enquanto saíamos da mansão para finalmente ir embora e voltar para Alexandria, não era um frio na barriga bom, não era como o que eu sentia quando beijava Carl.

Esse era completamente diferente, me deixava preocupada e ansiosa para alguma coisa que eu não sabia o que era e nem o motivo que estava causando isso em mim.

 

Parei de frente para a van enquanto via Abraham abri-la e respirei fundo, com essa decisão tomada por Rick e os outros de enfrentar os salvadores eu só pude ficar mais preocupada do que já estava antes. Isso poderia não acabar bem e eu conseguia sentir. 

Enquanto Jesus e os outros separavam tudo o que havíamos conseguido com troca, eu ajudei a carregar algumas coisas para dentro da van, de fato conseguimos bastante coisas graças ao acordo que fizemos com Hilltop. Conforme continuava a ajudá-los, notei que havíamos de fato tirado a sorte grande; se caso Glenn, Heath e Joe não dessem sorte na busca que estavam fazendo teríamos pelo menos uma notícia boa naquele dia.

Conseguimos mantimentos em uma quantidade suficiente para nos manter durante um bom tempo. 

— Ei. — Virei-me para olhar quem havia me chamado e vi Carl parado atrás de mim, ele estava segurando um caixote fechado e apontou com o queixo para que eu olhasse. — Você nem vai acreditar no que tem aqui dentro. Abra!

Notei que ele parecia mesmo animado para que eu tirasse a lona que cobria o caixote, me aproximei dele e tirando uma parte pude ver que aquele caixote que Carl tinha em mãos estava completamente cheio de morangos frescos. Abri um sorriso enorme em meu rosto totalmente feliz teríamos geléia de morango por mais tempo!

— Isso é verdade mesmo? — O olhei ainda sorrindo animada. — E como foi que?...

Assim que perguntei Jesus passou por nós dois carregando duas caixas pequenas e então nos olhou por alguns segundos sorrindo de forma gentil; seu sorriso por muito pouco quase não ficou completamente escondido pela enorme barba que ele tinha no rosto.

— Cortesia da casa. — Ele deu uma piscadela rápida voltando para pegar mais caixas, olhei para Carl ainda surpresa com aquilo.

— Depois que meu pai fez o acordo com o Gregory perguntei se eles tinham algumas sementes de morango, eu expliquei o que queiramos fazer e bem, — Ele fez uma pausa. — Jesus apareceu com esse caixote cheio e disse que era um presente.

— Uau! — Sorri outra vez. — Vamos continuar tendo geléia de morango por mais um tempinho.

Dei passagem para que Carl pudesse passar e o vi colocar o caixote de morangos próximo de ouras várias caixas que estavam dentro da van, quando tudo já estava pronto para que pudéssemos partir e voltar para Alexandria de novo nos despedimos de Jesus que disse que até voltaria conosco, mas que tinha assuntos a resolver e mais grupos para encontrar ele deixaria para fazer visita um outro dia. Subimos na van nos arrumando e deixando tudo preparado para deixar Hilltop e então partimos.


...

 

Com a janela da van aberta eu sentia o vento gelado bater em meu rosto fazendo com que alguns fios do meu cabelo fossem bagunçados por ele, apesar da longa viagem que estávamos fazendo de volta para Alexandria a paisagem que essa viagem me proporcionava era muito bonita.

Apesar de ser praticamente a mesma eu gostava de observar a paisagem sempre que fazia alguma viagem e naquele momento não era diferente.

Estava com minha cabeça apoiada no colo de David, vi ele fechar os olhos e logo em seguida relaxar todo o corpo apenas aproveitando a viagem que estávamos fazendo. Ainda de olhos fechados ele começou a murmurar algumas frases das quais eu não conseguia entender muito bem, eu pensei em perguntar o que ele estava dizendo mas quando notei que ele parecia distraído apenas continuei observando-o enquanto ele continuava. Logo, ele estava batendo na própria perna com o dedo indicador.Essa última parte cantamos juntos no mesmo tom baixo em que ele já estava cantando, como todos estavam quietos não queríamos incomodá-los com a cantoria e nem deixá-los tristes com uma música tão depressiva como aquela. Ele continuou catando porém eu apenas fechei meus olhos enquanto o ouvia cantar no mesmo tom baixo de ante, apesar dele não fazer isso sempre, David tinha uma voz boa para cantar. Era uma voz calma e baixa, algo que parecia não combinar em nada com ele.

Continuei ouvindo-o murmurar seja lá o que ele estivesse cantando e foi minha vez de relaxar no banco. Isso não durou mais do que alguns minutos, de repente Rick freou a van de forma brusca, fazendo com que todos reagissem e reclamassem com o feito. 

Daryl, Michonne, Abraham e David se colocaram de pé segundos depois e olhavam para a estrada em que estávamos seguindo. Abraham e Daryl se aproximaram para conseguir ver melhor o que raios fez com que o pai de Carl parasse a van daquele jeito.

— Minha santa mãe do céu! — Abraham parecia surpreso e ao mesmo tempo preocupado com o que viu adiante. 

— O que foi? — Maggie também tentou se aproximar, porém Rick logo começou a vir em direção a porta da van.

— Ayla e Carl fiquem aqui dentro e não saiam de jeito nenhum. — O pai de Carl também parecia preocupado. — O restante fique por perto mas não atirem, vamos ver o que eles querem.

Sem dizer mais nada Rick foi o primeiro a sair sendo seguido pelos outros, olhei para frente e vi um grupo com pelo menos quinze ou vinte homens bloqueando a estrada e impedindo que continuássemos seguindo-a.

— Salvadores... — Ouvi Carl sussurrar perto de mim também olhando na direção em que aqueles homens estavam.

Todos seguravam armas, mas não pareciam que iriam nos atacar. Pelo menos era o que eu achava e queria acreditar nisso. 

Continuei olhando pelo vidro eu pude ver Rick e os outros de frente com o grupo de homens, todos estavam com suas armas abaixadas mas mesmo assim eu sentia que aquilo acabaria seguindo o pior rumo. Carl tocou meu ombro fazendo-me olhar para o lado, ele estava segurando duas armas e estendendo sua mão ele disse para que eu a pegasse.

— Melhor ficarmos prontos. — Falou com um tom firme. — Não sabemos o que eles querem, mas mesmo assim é melhor estarmos prontos para qualquer coisa que possa acontecer.

Peguei a arma com cuidado e voltei a olhar para onde o pai de Carl e os outros estavam e surpreendentemente eles estavam voltando para a van, olhei novamente para Carl completamente surpresa e sem saber ao certo o que dizer com aquilo logo, estavam todos entrando novamente na van.

— Vamos sair daqui! — Rick praticamente correu até o volante e esperou que todos já estivessem entrado para dar partida e então marcha ré.

Confesso que tudo aquilo não estava fazendo o menor sentindo naquele momento, Michonne e Abraham estavam com um mapa aberto e conversavam entre si mencionando outra rota que poderíamos fazer enquanto Rick continuava dirigindo.

Ninguém disse uma só palavra sobre o que havia acontecido antes, até perguntei para David o que raios tinha acontecido e tudo o que recebi como resposta foi um nada muito duvidoso e estranho.

Eu não era assim tão boba para não perceber que aquele pequeno encontro com alguns dos salvadores não foi assim tão amigável como pareceu ser e isso ficou claro a partir do momento que vi Rick e os outros entrar na van.

A viagem continuou, notei que Rick havia feito mais um desvio seguindo uma outra estrada, acho que depois de mais meia hora de viagem senti novamente a van diminuir sua velocidade aos poucos e como antes senti novamente um frio na barriga. Olhando para frente vi mais um grupo de salvadores que também estavam bloqueando a estrada, dessa vez ninguém saiu da van, Rick apenas começou a recuar fazendo a mesma coisa que havia feito antes; um outro trajeto.

— Isso não está me cheirando nada bem. — Abraham caminhava de um lado para outro parecendo claramente preocupado. — Eles nem estão nos atacando, isso não faz o menor sentido!

Olhei para o chão e vi que David batia o pé num ritmo nada sincronizado, o olhei de esguelha e sua expressão era de pura preocupação. Era como se ele já soubesse o que iria acontecer.

Pude perceber que ele não era o único a se preocupar, Maggie também estava tensa com a situação e até mesmo Rick — que continuava no volante — mostrava uma preocupação que preenchia todo o interior da van.

— Se caso eles façam algo, o que exatamente vamos fazer? — A voz de Maggie fez com que eu a olhasse. — Vocês viram que eles estão em maior número, se chegar um momento em que eles tentem nos atacar serão eles quem terá a vantagem nisso.

Abraham bufou em uma concordância silenciosa. 

— Vamos evitar um confronto ao máximo, talvez seja isso o que eles querem de nós. Que os ataquemos. — Rick chamou a atenção de todos ali dentro. — Mas não faremos nada, só vamos atacar se eles o fizerem primeiro. Eles não nos atacaram porque não os atacamos, mas isso não significa que eles não tentarão fazer isso. Precisamos ficar espertos.

O grandão ruivo finalmente sentou bufando uma segunda vez.

— Estamos desviando demais do caminho, — Ele parecia preocupado, todos ali estavam preocupados e com razão. — Se continuarmos desse jeito a gasolina vai acabar antes mesmo de conseguirmos chegar em casa.

— Quantos galões sobrou desde a última vez que abastecemos? — Michonne perguntou se virando para olhar o ruivo.

— Abastecemos um pouco antes de sair de Hilltop, sobrou um só e pela metade. — O grandão deu de ombros. — Não acho que só ele seja o suficiente para...

Pela terceira vez paramos, claro que não era nem preciso olhar para saber o motivo porque já estava na cara quem era, mais salvadores bloqueando a estrada e nos forçando a mudar outra vez o trajeto de volta.

Se aquilo continuasse do jeito que estava não iríamos chegar nunca em Alexandria.

— Mas que porra! — Abraham já parecia impaciente com tudo aquilo, começou a bater o pé exatamente como David estava fazendo soltando diversos palavrões enquanto Rick recuava mais para seguir outro caminho.

Michonne estava novamente com o mapa aberto sobre o colo enquanto explicava outro trajeto para Rick, juntei minhas mãos sentindo-as já um pouco suadas por causa de toda aquela ansiedade, as limpei na calça e me encostei novamente no banco tentando distrair minha cabeça com qualquer outra coisa.

Olhei para a paisagem através da janela e já estava começando a escurecer e ainda estávamos na estrada, fazendo um outro caminho mais longo para conseguirmos tentar chegar em casa ainda no mesmo dia.

Mais duas horas ou mais devem ter se passado até que paramos outra vez, mas por sorte (ou talvez não) essa parada foi para que o grupo decidisse se deveríamos ou não continuar seguindo caminho com a pouca gasolina que ainda tínhamos.

 

Já havia anoitecido por completo e eu sabia muito bem que se continuássemos poderíamos acabar cercados por alguma horda de errantes ou algo pior, poderíamos acabar encontrando mais membros dos salvadores e assim teríamos que desviar o nosso caminho como havíamos feito tantas vezes.

O que acabou ficando decidido era que iriamos encontrar um lugar seguro para estacionar a van e iriamos passar a noite ali dentro mesmo.

 

...

 

Já com nossas “camas” arrumadas não esperamos muito para irmos dormir, era óbvio que todos nós estávamos cansados por conta da longa viagem que estávamos fazendo praticamente o dia todo.

Estava deitada no saco de dormir olhando para o teto e pensando em tudo o que havia visto em Hilltop, aquele lugar era realmente muito bom e verdade seja dita, qualquer um se sentiria atraído para viver ali; porém eles tinham um problema: Negan era quem praticamente mandava naquele lugar exigindo sempre a metade de tudo o que eles tinham para que assim ninguém morresse.

Também pensei no que David me disse quando ainda estávamos em Hilltop e sobre o assunto de que não iria demorar muito para que os salvadores logo nos atacassem também.

Claro que isso era preocupante e mais preocupante ainda era pensar que Rick estaria disposto a lutar contra esse grupo para acabar de vez com ele, esse tipo de coisa sempre acabava se resultando em pessoas mortas. E isso servia para os dois grupos.

— No que está pensando tanto pirralha? — Olhei para David deitado no saco de dormir ao lado do meu, ele não estava me olhando, na verdade mantinha seu olhar também fixo no teto do veículo assim como eu estava fazendo.

— Em tudo isso. — Respondi voltando meu olhar para o teto. — Esses encontros com os salvadores na estrada, isso não é nada bom não é mesmo?

Ele ficou em silêncio demorando um pouco para responder.

— Quer a verdade? — Ele fez uma pausa. — Eu sinceramente não sei o que pode ser bom ou não, no primeiro encontro ele apenas disse para continuarmos seguindo o nosso caminho, não queriam nos atacar e parecia que também não queria que atacássemos. Rick ofereceu um acordo, mas o cara que estava no comando daquele grupo recusou e bem, acho que você sabe o que veio depois.

Eu ouvi tudo aquilo com atenção.

— Se eles não queriam nos atacar, então por que fazer a gente desviar tanto do caminho? Onde está o sentido nisso?

David soltou o ar.

— Sinceramente, eu não faço a menor ideia — Pude ouvir David suspirar. — Nesse tempo que passei naquele grupo, nunca de fato entendi totalmente como eles agiam, tudo o que eu via era apenas pessoas sendo mortas por não obedecerem eles. Um verdadeiro inferno.

— O líder deles é o verdadeiro diabo. — Falei. — O que esses homens fazem... encontramos um grupo semelhantes antes de Aaron nos encontrar e oferecer moradia em Alexandria, só que esse grupo era de canibais e, eles atraiam as pessoas para aquele lugar. — Fiz uma pausa demorada, lembrando um pouco daquele caos. — Esse mundo de hoje muda as pessoas e isso é bem óbvio, mas, o que leva as pessoas a fazerem esse tipo de coisa? Não deveríamos sobreviver todos juntos? Porque o problema real nessa merda toda são os mortos!

Passei minha mão pelo rosto.

— Os vivos deveriam se unir para tentar reconstruir esse mundo e tudo o que estamos fazendo agora é lutar uns contra os outros se esquecendo do real problema que caminha solto por aí. — Bufei. — Eu não sei se estamos sendo burros ou cegos demais para não ver isso.

Houve uma movimentação onde David estava deitado, porém eu não olhei para ver o que era.

— O que houve mudou tudo, Ayla. — Ele diz pausadamente. — Trouxe à tona o que tínhamos, alguns eram ruins e outros bons. 

Nada disse a respeito, a cicatriz que ele tinha no rosto era um lembrete de suas próprias palavras. Algo que ele carregaria até o fim de seus dias. 

— Bem, é melhor pensar em descansar, teremos um dia cheio amanhã e vamos acordar cedo para continuar essa porra de viagem que não acaba nunca. É melhor ir dormir logo.

— Não sei se vou conseguir dormir assim tão fácil. — Falei enquanto me arrumava no saco de dormir para tentar ficar um pouco mais confortável dentro dele.

— Boa noite pirralha. — Ele insistiu, deixando claro que era para eu ao menos tentar.

Seu recado foi recebido e percebi que não conseguiria nada mais do que isso. 

— Boa noite David.

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo ficado um pouco mais em Ayla e David mas vocês vão entender o porquê no próximo. Beijos e espero saber o que vocês acharam.



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