Paixões gregas - Destinos Cruzados (Degustação) escrita por moni


Capítulo 8
Capitulo 8


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiieeeee
Espero que gostem.



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Pov – Heitor

Acordo com Lizzie dormindo entre mim e Liv, o coelho em seu peito, uma mão segurando minha orelha, a outra descansava sobre Liv também adormecida e me dou conta que tudo que preciso para ser feliz está ali naquela cama.

Será que é muito cedo para dizer a ela? Será que Liv vai correr assustada se disser que me apaixonei por ela? Acho que sim, nem mesmo tenho certeza de onde quero levar isso. Primeiro preciso compreender como me sinto realmente, me entender com Lizzie, ser o pai dela.

Entendo o amor por Liv, ela só teve a tia desde que nascer, sempre foram apenas as duas e Liv é responsável por ela, mas também quero ser. Me movo para poder ficar olhando para as duas.

Liv abre os olhos e é aquele baque, é linda, ela pisca, desperta, se entregou sem medo, mesmo sendo a primeira vez, foi leve e bom. Não, dizer que foi bom é diminuir muito o que senti. Foi arrebatador.

─Bom dia. – Sorrio, ela sorri de volta, depois olha para Lizzie.

─Bom dia.

─Está bem? – Pergunto preocupado, com medo de ver em seus olhos algum arrependimento, mas não, ela está leve.

─Sim, como vamos explicar a ela?

─Não precisamos. Precisamos só aprender a trancar a porta de hoje em diante.

Ela fica calada, mas não pretendo voltar a dormir sozinho e acho que isso fica claro, me movo com cuidado, beijo seus lábios e ela me faz um carinho, volto para meu lugar e Lizzie se move ajeitando e abraçando o coelho.

Beijo sua testa, ela sorri de olhos fechados, tão linda. É minha e isso é sempre estranho para mim. Que aquela coisinha doce e delicada é parte de mim.

─Acordada princesa? – Lizzie não se move, continua de olhos fechados.

─Aprenda! – Liv me pede, se move para olhar Lizzie. – Abra os olhos meu solzinho, para o meu dia brilhar.

Como por encanto os olhos de Lizzie se abrem assim como seu sorriso e minha vida brilha junto, é mesmo como o sol. Nunca saberia disso se não estivessem aqui comigo.

─Bom dia! – Ela diz radiante. – Puxa eu fiquei procurando todo mundo bem cedinho, ainda bem que achei vocês. Eu vou para a escola hoje?

─Sim senhora! – Liv diz beijando seu pescoço, ela se contorce rindo. – Agora vamos para o chuveiro se não vai se atrasar.

─Quem vai me levar?

─O papai! – Liv diz deixando a cama com ela. Quando fico sozinho no quarto penso na noite que tive e na melhor maneira de acordar do mundo. Penso em como Leon sempre desce para o café feliz quando estou na ilha e agora entendo toda aquela animação. Me sinto como um garoto quando pulo da cama e vou para o chuveiro.

O perfume de café me conduz a cozinha e fico surpreso com a movimentação, mesa posta e café da manhã como em Kirus. Lizzie vestida e penteada, Liv também, apressada mexendo em panelas, lindas e perfeitas e tudo enquanto eu tomava banho e me vestia.

─Sente-se e tome café! – Liv exige e acho engraçado como as vezes ela me confunde com Lizzie.

─Não costumo comer pela manhã.

─Ótimo! Genética, descobri de onde vem a falta de apetite matinal de Lizzie. – Ela coloca um prato com panquecas e um copo de suco na minha frente quando me sento ao lado de Lizzie. – Agora seja um bom pai e de exemplo.

─Melhor comer, mamãe é brava de manhã. – Lizzie me conta baixinho, afirmo tomando um gole de suco, ela faz o mesmo. – Mamãe a gente não pode comer no recreio? Tem recreio no seu trabalho senhor Heitor?

─Acho que posso dizer que sim. Um dia te levo lá para ver.

─Estão me enrolando e vão se atrasar. – Eu e Lizzie desistimos da conversa e nos concentramos em comer.

Até que depois que começo tudo fica mais fácil e no fim me sinto muito bem por ter comido. Lizzie toma o último gole de suco.

─Corre escovar os dentes e pegar a mochila. – Liv exige e ela obedece. Aproveito para puxar Liv para meus braços.

─Está linda, não sabia que era assim tão linda e mandona de manhã, acho que quero te roubar de volta para o quarto. ─ Ela sorri, me beija e depois se afasta.

─Vai Heitor, a escola é longe e vai pegar transito.

─Sim senhora. Vou escovar os dentes e pegar minha mochila. – Brinco deixando a cozinha.

As duas se despedem com abraços e beijos. Lizzie corre para chamar o elevador.

─Não me odeie, mas como está longe de tudo agora, você tem um motorista na porta para o que precisar, ele vai ficar lá e pode ir onde quiser.

─Não te odeio, só acho que está jogando dinheiro fora, não quero seu motorista, mas se quer pagar um salário para um cara ficar o dia todo sem fazer nada, problema seu.

─Você não é nem um pouco razoável.

─Chegou senhor Heitor! – Lizzie grita no corredor. Sorrio, beijo Liv e vou ao encontro de Lizzie.

É emocionante deixar minha filha na escola, receber um beijo e assisti-la correr para dentro. Na volta das férias vou convencer Liv de que ela merece uma boa escola, é esperta demais e pode estudar na melhor escola de Londres, basta que descubra qual é.

─Bom dia Gracie. – Digo entrando em minha sala, ela me segue como todas as manhãs para acertarmos as coisas. – Gracie quero uma pesquisa sobre as melhores escolas de Londres.

─Sim senhor vou providenciar. – Tiro a foto da pasta. Coloco sobre minha mesa.

─Vê esse anel? – Ela se aproxima olhando a foto. – Amplie a foto, melhore a resolução, deixe o anel bem claro, deve ter gente especializada nisso, depois deixe alguém responsável por encontra-lo, joalheria, antiquários, encontre, eu o quero não importa o preço, parece uma peça exclusiva.

─Sim senhor.

Me enfio no trabalho, tenho que colocar tudo em ordem para tirar férias, acho que nunca tirei férias realmente, nada que dure mais do que quatro ou cinco dias.

Pego Lizzie na escola, deixo no ballet com ela falante e feliz, espero sua aula trabalhando na antessala, depois vamos para casa, Liv nos espera feliz, minha casa agora tem seu perfume em toda parte e não quero que acabe.

Jantamos juntos, brincamos, rimos e conversamos, coloco Lizzie na cama, espero que durma e então tenho Liv só para mim, e essa nova e perfeita rotina se instala. O dia da apresentação chega e Lizzie está ansiosa.

Tenho que pega-la na escola e levar para o teatro onde a professora vai arruma-la e então voltar para pegar Liv, e finalmente vou vê-la dançando.

Lizzie entra no carro depois da aula toda feliz. Me contando as novidades do dia, as conversas com os amigos e as brincadeiras. Chegamos ao teatro.

─Ali minha professora senhor Heitor. Eu vou me arrumar e ficar bem linda. – Ela pega o cabide com o vestido.

─Deixa que eu levo para sua professora, se amassar isso sua tia Liv me mata.

─Para de falar isso! – Ela me olha com os olhos marejados. – Ela não é minha tia nada, é minha mãe, eu tenho duas mães, minha mãe Patrícia que virou estrelinha e a minha mãe Liv, ela é minha mãe, minha mãe! – Fico paralisado, claro que é, sei disso, ou devia saber, foi tudo que Lizzie teve, estava lá acalmando sua fome e medo quando a mãe a deixou, era só uma menina e abriu mão de tudo por ela, e eu fico o tempo todo lutando contra isso como se ela estivesse me impedindo de ser pai. Lizzie está chorando diante de mim. Eu a fiz chorar, pela primeira vez magoei minha filha.

─Desculpe. – Dou um passo para ela, Lizzie se afasta. – Não faz isso filha, me deixa me desculpar. – Ela para e me aproximo, me ajoelho para poder olhar para ela, Lizzie soluça. – Sinto muito.

─Ela é minha mãe. – Ela insiste ainda chorando. Abraço Lizzie.

─Sim Lizzie, Olívia é sua mãe e ama muito você, desculpe.

─Tá bom. – Ela diz soluçando em meus braços, vai se acalmando e a afasto, ela me olha, seco suas lágrimas.

─Liv é sua mãe, e eu sou o seu pai e te amo muito. Desculpe ter ficado tanto tempo longe de você, desculpe ter deixado você e sua mãe Liv sozinhas, não vai mais acontecer, eu não vou mais embora.

─Se for viajar vai levar eu e minha mãe que nem a Grécia que vamos os três?

─Prometo.

─Não fico sem a minha mãe nunca. Porque eu fico com saudade dela.

─Eu sei, agora precisa ir se arrumar. – Ela afirma ainda com os olhos tristes. – Promete que não vai ficar triste na hora de dançar? Precisa estar sorrindo se não a Liv vai ficar triste.

─Pronto! Já parei de chorar. – Ela sorri. – Me filma. Vou dar tchau.

Ela me abraça, me beija e corre para dentro, levo o vestido para a professora, ela me sorri, estava me olhando de longe. Aceno quando me afasto volto para o carro. Mereci sua revolta, fiz um papel estúpido todo esse tempo. Nem sei como Liv se esforça tanto por mim, não devolvo nada a ela.

Preciso tomar mais cuidado, ela é a mãe de Lizzie, a mãe, não posso me esquecer. Olívia Barnes é a mãe de Elizabeth.

Não conto nada a Liv quando vou busca-la, não quero deixa-la triste ou preocupada, ela está linda, me abraça quando chego, é tão reconfortante, nos sentamos na primeira fileira.

─Posso filmar?

Liv ri com gosto, não compreendo.

─Isso é um evento para pais, eles são predadores ferozes quando seus bebês estão no palco, quando elas entrarem vai se surpreender, alguém desavisado acharia que Paul McCartney está se apresentando.

Se não estivesse tão preocupado em assistir e filmar minha filha ficaria impressionado, Liv estava certa. São centenas de celulares e filmadoras. Lizzie entra linda no palco com seu vestido branco de asas de anjo, coque e sapatilhas. Se divide em seguir a coreografia e nos procurar, quando encontra acena e sorri, é mesmo um anjo, acenamos os dois. Quando acaba ela acena mais uma vez radiante e graciosa.

Quando deixa o palco e me viro para Liv ela chorava. Seca as lagrimas com um sorriso tão lindo que só posso beija-la.

─Eu sei que sou uma boba. Acontece que choro todo ano. – Liv seca as lágrimas, depois me sorri. – Vamos busca-la nos bastidores.

Ela fica de pé, seguro sua mão, vamos caminhando de mãos dadas por entre pais e mães ansiosos, Liv acena aqui e ali, sorri cumprimentando as pessoas. Também quero conhecer os pais das outras garotinhas, quero tudo e não abro mão.

Se Liv não estivesse comigo eu entraria em pânico e possivelmente chamaria a Interpol para resgatar minha filha no meio daquele tumulto, é assustador e acho impossível encontrar minha filha no meio daquela confusão.

─A gente perdeu ela Liv! – Digo um pouco assustado sem soltar sua mão e olhando por entre as pessoas, ela ri. – Qualquer um pode levar minha filha no meio dessa confusão.

─Calma Heitor, ela não sai de lá de dentro sem estar com os pais, não se preocupe. – Preocupado? Eu estou apavorado, ser pai é tarefa complicada.

Um casal vem em sentido contrário segurando a mão de uma garotinha. Eles param um instante.

─Você estava linda Carol! – Liv beija a garotinha que sorri, depois aperta a mão do pai e beija o rosto da mãe.

─Estavam mesmo lindas essas bailarinas. – O homem diz com a mão no ombro da filha. – É o pai de Lizzie? – Ele me estende a mão. Afirmo apertando em cumprimento. – Liv nos disse que viaja muito, que bom que finalmente conseguiu vir.

─Depois de hoje não vai acontecer de faltar nas próximas. – Eles acenam e deixam o ambiente se espremendo, continuamos nossa caminhada, é bom saber que nem mesmo diante da comunidade e dos amigos da minha filha eu sou conhecido como um pai canalha.

Chegamos a porta, a professora nos vê, faz sinal, some um momento e volta com Lizzie segurando sua mão, ela corre para nós, abraça Liv, depois esquecida do ocorrido me pede colo.

─Eu estava bonita? – Pergunta grudada em meu pescoço.

─Linda, uma princesa encantada, pensei que era mesmo um anjo, só depois que percebi que era você.

─Verdade mamãe, eu parecia mesmo um anjo?

─Igualzinha. – Quando finalmente conseguimos deixar a confusão de pais e filhos Liv a agasalha com um casaco pesado.

─E agora? – Lizzie pergunta. – O que a gente vai fazer.

─O papai vai nos levar para jantar num restaurante bem legal, assim todo mundo vai ver como está linda de anjo.

─Podemos? – Fico feliz com a ideia, se soubesse teria reservado uma mesa em algum bom restaurante, mas sou um Stefanos e não costumam me fechar portas, não uso muito isso, mas é uma emergência.

─É a parte que ela mais gosta, se exibir por ai vestida e maquiada. E compre flores se achar uma floricultura, ela adora.

Não sabia que ela ia gostar tanto das flores, nem que faria tanto sucesso no restaurante, se comporta como uma estrela de cinema, acena e sorri para desconhecidos me divertindo, mas o que me impressiona mesmo é o trabalho que dá convence-la a tirar o vestido e ir para cama. Quando adormece me sinto cansado como se tivesse tido um dia todo de reuniões. Liv bebia um como de agua quando a encontro na cozinha.

─Oi. – Eu a envolvo, ela sorri. – Que garotinha cheia de baterias.

─Agora imagine ela na Grécia? Vai querer tudo de uma vez.

─Lá tem um pequeno exército de ajudantes, vou dar um jeito de achar um tempinho para levar você num passeio só nós dois.

─Não me lembro de passeios sem Lizzie.

─Sabe que pode ter ajuda se quiser? – Pergunto envolvendo Liv, ela sorri, me beija de modo tranquilo, vai dizer não, sempre diz não para tudo que meu dinheiro pode comprar.

─Vamos dormir, não vou terceirizar minha filha. – Ela me puxa pela mão.

─Espera, vou levar agua. – Começo a procurar na geladeira, antes delas a geladeira vivia vazia e era bem mais fácil achar, Thaís é uma ótima babá, ela diz isso enquanto só temos Lizzie, mas quando forem dois, três. A ideia me espanta, é como um susto, a garrafa escapa de minhas mãos e rola pelo chão, pensei mesmo isso? De onde surgiu esse absurdo?

─Que foi?

─Nada, escapou, não precisa de água, vamos. – Seguro sua mão caminhando para o quarto.

─Eu gosto de cuidar dela Heitor, não foi para te chatear que disse isso.

─Está mesmo tudo bem, não me preocupei. Está tudo pronto para a viagem?

─Tudo, entreguei meu último trabalho hoje.

─Quantas línguas fala? Nunca perguntei isso.

─Algumas! – Ela responde quando minhas mãos a trazem para meus braços.

─Gosto mesmo é quando falamos essa língua, a nossa! – Liv me olha com aquele jeito sensual de mulher, tem apenas vinte e quatro anos, mas é feminina e decidida como se tivesse mais, isso me atrai mais que tudo, seus dedos seguem para minha gravata e gosto disso.

Pov – Olívia

Uma semana perfeita e surpreendente, não tinha planos para nada daquilo, não esperava terminar nos braços dele, desejava, desde o primeiro beijo, apenas não achei que aconteceria e agora apesar de todos os medos é tudo que quero.

Heitor sabe mexer com meus sentidos, nem sabia como podia ser e quando aconteceu me senti pronta. Entregue. Nunca sinto medo ou vergonha, parece que sempre pertencemos um ao outro, quando nossos destinos se cruzaram por conta de uma criança eu não achei que seria assim, mas é e deixo acontecer mesmo com todos os medos, as inseguranças, ainda sou a tia Liv, ainda não falamos de juntos para sempre, o que tenho é o hoje, e planos para duas semanas na Grécia, por mais estranho que pareça no momento me basta.

Seus lábios descem por meu pescoço enquanto minhas mãos libertam sua pele das roupas de executivo, agora é só Heitor e suas mãos e lábios.

Vai tudo ficando pelo chão, espalhados pelo caminho entre a porta do quarto e a cama que dividimos todos esses dias. Sinto seu corpo cobrir o meu e a pele quente me fazendo arder de desejo, suas mãos me percorrem e sempre é longo e carinhoso. Quando acho que não tem mais nada novo, uma nova sensação me domina e meu corpo estremece, como se todo dia fosse o primeiro.

Gosto quando sussurra seus desejos em meus ouvidos, quando sinto que provoco suas reações, quando ele diz que me quer e me entorpece a ponto de perder a noção de tempo e lugar.

Não sei como será viver sem isso e sempre que tais pensamentos me invadem eu empurro para longe. Depois não acaba, ficamos sempre perto, conversando entre sussurros, rindo, nos beijando e acariciando, as vezes recomeçando até perder as forças e dormirmos abraçados, como essa noite.

Abro os olhos e meu coração se aperta, sinto uma angustia confusa quando olho para o relógio e penso que preciso acordar Lizzie para seu último dia de aulas antes das férias.

Quero que ela fique, Heitor me beija o pescoço, o ombro, sussurra bom dia em meu ouvido e minha pele corresponde quando me viro para olhar para ele. Lindo, de cabelos bagunçados e um sorriso cheio de sono no rosto, o peito nu me pede um carinho e o beijo.

─Vai ser bom acordar assim com você nas manhãs ensolaradas de Kirus. – Sempre estou em seus planos, sempre estamos em seus planos como um casal e não sei o que significa, apenas o que ouvi ele dizer a cunhada em grego, que sou especial e ele não pode ficar longe, também não posso e foram aquelas palavras ditas a outra pessoa que me deram coragem de ir em frente e terminar aqui.

─Não quero que Lizzie vá para a escola hoje. – Aviso e ele franze a testa. – Não sei o que é, apenas quero ficar com ela em meus braços o dia todo.

─Então passe o dia com ela, vão ao cinema, o inútil motorista leva vocês.

─Vou convida-la, mas ela vai preferir a escola por que quer contar sobre a apresentação de ontem e será um dia de festa, com bolo e brincadeiras.

─Acho que não pode competir com bolo e brincadeiras. – Ele me beija mais uma vez. Suspiro, afasto as cobertas e deixo a cama. Meu solzinho acorda absolutamente feliz, cheia de planos. Toma banho e se veste sem precisar pedir, corre para a cozinha onde eu servia o café da manhã que agora Heitor comia sem reclamação porque está empenhado em ser pai e faz qualquer coisa para isso.

─Ei solzinho que tal passar o dia com a mamãe, vamos ao cinema, ao parque, o que acha?

─Ah! Quero ir para escola, vou ficar um montão de dias sem ver meus amigos, preciso contar para minha professora como foi a apresentação. Ela vai ficar muito contente comigo.

─Te levo mais tarde para conhecer o trabalho do papai. – Heitor se assusta entrando na cozinha. – Tem problema?

─De jeito nenhum. – Ele se aproxima de mim, mas desiste no caminho quando se lembra de Lizzie. – Podem ir quando quiserem.

─Outro dia mamãe, quero ir para a escola.

─Vai recusar um monte de passeios legais com a sua... com a Liv? – Heitor diz rápido.

─Senhor Heitor a escola será bem legal hoje.

─Tudo bem, então toma direitinho seu café. – Eles se alimentam enquanto beberico uma xicara de chá. Depois ela vai pegar a mochila, Heitor me abraça.

─Parece angustiada, quer que fique em casa hoje? Posso cancelar meus compromissos.

─Não, tudo bem, vai passar é bobagem. – Ele me beija, Lizzie volta correndo e nos afastamos.

─Eu sei que se beijam toda hora escondidos, não sou nada boba! – Ela avisa, nos faz sorrir.

─Ótimo, segredo revelado, isso já tinha mesmo perdido a graça. – Heitor diz antes de me envolver e beijar na frente dela, quando nos afastamos ela sorria.

Abraço e beijo meu solzinho, peço que se cuide e seja uma boa menina, acompanho os dois até o elevador.

─Me liga de vez em quando durante o dia? – Peço a ele que me beija mais uma vez.

─O dia todo até estarmos de volta. – A porta do elevador se fecha e volto para dentro. Fico andando sem nada para fazer, aprecio a vista, arrumo as pequenas bagunças de Lizzie pela casa, ajeito Aquiles sobre sua cama e sinto seu perfume no coelhinho. Preparo o jantar as dez da manhã, apenas porque não consigo ficar parada.

Ao meio dia já tinha me arrependido de pedir a Heitor que me ligasse de vez em quando, devia ser a décima ligação, penso quando caminho em direção ao celular e meu coração quase para quando vejo o nome escola piscando na pequena tela.

─Alô! – Digo com a voz tremula.

─Senhorita Barnes? – Uma voz formal questiona do outro lado da linha.

─Sim. – Minhas pernas ficam bambas, me apoio no balcão com medo de cair, simplesmente sei que algo aconteceu.

─Sou Cely a secretária da escola de Elizabeth.

─O que aconteceu? – Não quero saber quem ela é. Não me importo com nada quero Lizzie.

─Sinto muito, houve um acidente, Elizabeth caiu do escorregador, foi levada ao KCH, a diretora a acompanhou na ambulância.

Despenco do paraíso ao inferno num voo sem paraquedas, um buraco negro se abre dentro de mim engolindo tudo que é vida e força, minha mente para de funcionar.

─Senhorita?

─Estou indo. – Empurro as palavras e desligo automaticamente, não estou indo, não sei nada sobre coisa alguma, ambulância, ela precisou de uma ambulância, caiu do escorregador. Não sei cuidar disso, não queria que fosse, sabia que algo daria errado e mesmo assim permiti.

Heitor, seu rosto surge em minha mente como uma luz, teclo a chamada rápida, ele atende no primeiro toque.

─Liv? – Nunca ligo, nos falamos há vinte minutos então ele simplesmente sabe que estou com problemas.

─Lizzie. Eu não sei o que fazer, não consigo. Quero minha filha.

─O que aconteceu? Onde está? – Sua voz é firme e urgente.

─KCH, caiu do escorregador, não consigo respirar, uma ambulância a levou.

─Escuta Liv, presta atenção, desce que o motorista vai te levar para lá, estou indo, já estou no elevador. Vai ficar tudo bem, chegamos juntos.

Obedeço como um autômato. O motorista desligava seu celular quando chego, me abre a porta, cumprimenta, mas apenas consigo chorar enquanto ele dirige apressado atravessando a cidade.

O hospital surge e só quero ouvir sua voz e sentir seu calor. Entro com passos inseguros, vejo a diretora e outra pessoa a seu lado, caminho sem forças para ela.

─Olivia. Desculpe, não sei como aconteceu, os médicos a levaram faz uma hora, estava desacordada. – Desacordada? Meu solzinho, minha vida? A respiração some mais uma vez, sinto tudo em mim morrer, Heitor, eu preciso dele. – Fique calma, quer uma água?

─Não. Quero minha filha, quero notícias! – Me altero, ela tenta me apoiar eu a empurro. – Quero meu bebê!

Uma crise de choro me domina por completo e perco as forças, então mãos fortes me amparam e ele está ali, me envolve protetor e ganho mais uns minutos de vida.

─Se acalma, estou aqui. – Sim, está e nem sei dizer como seria se não estivesse.

─Estamos sem notícias desde que os médicos a levaram. – A diretora o comunica.

─Desacordada Heitor, meu bebê, eu não queria que fosse, mas não impedi.

─Não pense nisso. – Ele me leva a uma cadeira. – Fica aqui, vou saber o que está acontecendo, pode ficar um minuto aqui? – Sua voz é firme, decidida e me acalma, afirmo ainda entregue a minha dor. Ele some para dentro do hospital e faço uma longa viagem por todos os dias incríveis que vivemos juntas, seu sorriso, sua voz doce, os dedinhos finos, os olhos vivos. Quero minha filha viva.

─O médico vem vindo nos dar notícias, a diretora voltou para a escola e preciso que se acalme um pouco, Lizzie vai ficar bem. – Ele me abraça, sinto por seu olhar o quanto tudo isso o machuca, que finge uma confiança que não tem. Fico em seus braços tentando dominar minhas lágrimas quando um médico se aproxima e ainda amparada por ele ficamos de pé.

─São os pais de Elizabeth? – Heitor afirma. – Ela sofreu uma queda, bateu a cabeça, chegou desacordada, teve o que chamamos de traumatismo craniano, induzimos ao coma para podermos fazer exames. – Ele vai usando uma linguagem técnica e elegante sem saber que suas palavras vão me matando de dor. – No momento ela tem um pequeno inchaço que acredito deve diminuir com o passar das horas, os exames foram bons, ela vai continuar assim até repetirmos os exames em seis horas, é o procedimento. Se tudo estiver bem e o inchaço diminuir tiramos a medicação e esperamos que acorde.

─Ela corre risco? – Heitor pergunta com uma coragem que nunca teria.

─Elizabeth está indo muito bem é o que posso dizer no momento.

─Pode ficar com sequelas?

─Não posso responder a nada disso antes dos próximos exames, sinto muito, mas podem vê-la um momento, depois falamos. Me acompanhem.

Nós o seguimos pelos corredores do hospital. Entramos em uma sala cheia de aparelhos, Lizzie está sobre uma cama coberta com lençol, ligada a aparelhos, de olhos fechados, parece apenas dormir com seu rostinho suave.

Ficamos sozinhos, seguro sua mão, as lagrimas me consomem mais uma vez. Heitor tem uma mão sobre meu ombro em apoio, os olhos marejados.

─Abre os olhos meu solzinho, para o meu dia brilhar. – Ela não se move, meu peito se rasga repleto de dor.

─Não faz isso! – Heitor me pede quando me abraço a ele sem mais forças para continuar. – Precisamos ser fortes agora.

─Não quero ser forte, estou cansada de ser forte, o tempo todo tenho que ser forte por nós duas, não consigo mais, eu quero minha filha!

─Vocês precisam sair agora. – O médico surge na sala, Heitor se afasta um momento, beija a testa de Lizzie.

─Fica boa logo princesa, estamos te esperando.

Faço o mesmo, beijo a testa e o rosto de Lizzie, sua mão de dedos delicados.

─Porque não posso ficar com ela? – Pergunto ao médico. – Não tenho para onde ir sem ela, não tenho nada sem Lizzie. Eu só sei ser a mãe dela, me deixa ficar aqui.

─Senhora... – O médico fica constrangido com meu apelo, não sabe como me responder. Heitor me conduz para fora da sala. O médico nos acompanha.

─E agora? – Heitor o questiona.

─Aconselho a irem para casa, voltem daqui a seis horas e vamos ver como será. Não tem nada que possam fazer aqui a não ser ficarem sentados numa cadeira. Tente descansar senhora, dormir, quando sua garotinha acordar vai precisar da senhora.

Sim, ela vai acordar e precisar de mim, ela sempre precisa, é meu solzinho, está só dormindo, apenas isso. Afirmo fingindo força.

─O Aquiles, precisamos buscar o Aquiles para ela, não pode acordar sem ele.

─Vamos Liv, vamos buscar o Aquiles e tomar uma xicara de chá, depois voltamos para esperar Lizzie.


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Notas finais do capítulo

Comentem!
Prometo que Lizzie vai ficar bem,
BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS