Conspiração escrita por Lura


Capítulo 43
Asas da Determinação


Notas iniciais do capítulo

Foi aqui que pediram mais uma dose de desespero?
Se eu, que escrevi, estou ansiosa para descer essa montanha russa de aflição, imagino vocês.
Mas é isso, a fic continua no ápice da ação, e espero que vocês continuem comigo até acharmos uma solução para essa bagunça.
Como sempre, agradeço a todos que leram desde a última atualização. Um agradecimento especial ao Gutor, à Vivi Pearl, à GabbySaky e à LVUzumaki, que comentaram no último capítulo.
Espero que gostem do capítulo de hoje.



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Magnolia — 6 de Julho de x792

— Lucy! Você está bem? — O espírito Leo indagou, enquanto agachava-se e amparava a figura prostrada da maga estelar.

— Ela está nascendo, Loki — a loira respondeu, entre soluços, os olhos cor de chocolate transbordantes de pânico. — Só que ainda não é a hora — acrescentou, encarando a poça de líquido amniótico que se acumulara ao seu redor.

Ela sequer havia processado a experiência de quase morte, ou refletido sobre o que exatamente havia afastado os inimigos e impedido esse destino cruel, a segurança de seu bebê novamente assumindo a liderança em sua lista de prioridades.

— Precisamos tirar você daqui, hime — a voz preocupada da Virgo chamou a atenção de Heartfilia. — Mas ainda não consigo cavar. Apesar do cancelamento do feitiço que impedia o uso de magia pelos magos da Fairy Tail no perímetro da sede da guilda, o solo continua congelado — avisou.

— Então são duas magias separadas — Loki seguiu o raciocínio. — Bem, precisamos tirar a Lucy daqui e só há um caminho. Porém não sabemos quantos inimigos haverá nele — avaliou a situação, fitando a escada que conduzia à única  saída da biblioteca.

— Eu posso abrir caminho — aparecendo repentinamente, Libra se dispôs.

— Eu não vou deixar a Fairy Tail — Lucy decidiu, passando as mãos sob os olhos, para secar todas as lágrimas. — Como Loki disse, não sabemos quantos inimigos enfrentaremos lá fora e, comigo neste estado, vocês terão limitação nas capacidades de luta e mobilidade — argumentou, levantando-se com a ajuda de Leo, a voz ainda tremendo como efeito do atentado recente. 

— Mas Lucy, se você continuar aqui, é uma questão de tempo até que mais algum inimigo te encontre — o espírito do leão contrapôs, enquanto encarava o corpo imóvel de Miori, que estava em sua maioria recoberto por ferimentos que aparentavam ser queimaduras.

— Mas mesmo que eu consiga sair, nada garante que eu encontrarei um abrigo seguro — sustentou. — A essa altura, o Conselho Mágico já deve estar preparado para me capturar, esperando apenas o resultado do conflito para agir, como sempre faz — conjecturou. — Por isso precisamos de um abrigo que inimigo nenhum entre. A prioridade agora é conseguir um lugar seguro para a minha filha nascer — concluiu, antes de curvar-se novamente sobre o próprio ventre, sofrendo de uma nova contração.

— Ao menos vamos deixar a biblioteca — insistiu Virgo.

— Ainda não. Acredito que há algo aqui que vamos precisar — informou a loira, voltando-se em direção às prateleiras. — Crux! — chamou, enquanto pressionava o elo prateado do cordão que seus espíritos lhe deram para emergências.

Imediatamente, o espírito de prata moldado em uma estranha cruz metálica com bigodes, apareceu diante de sua contratante. 

— Velho Crux, preciso que me ajude a pesquisar um feitiço e me diga se ele existe em algum dos livros da biblioteca da Fairy Tail — pediu, o olhar denunciando que apostava a própria segurança e a de sua filha nesse novo plano.

 

 

Vila do Sol — 6 de Julho de x792

Absolute Zero olhou para a palma  de sua mão direita, que até segundos antes sustentava a estaca de gelo maldito que simplesmente desaparecera no ar.

Estava curioso, mais que qualquer coisa, por seu feitiço ter simplesmente se desfeito sem explicação aparente, sentimento que não tardou a se transformar em irritação.

Porque ele também não conseguia conjurar uma nova estaca.

— Está a salvo… Natsu está a salvo — o gato alado azul, cuja presença o líder da Signum Sectionis havia se esquecido totalmente, choramingou, aliviado.

Frustrado, o homem de armadura caminhou até o exceed e o chutou impiedosamente, fazendo com que batesse no tronco de uma das árvores congeladas da floresta e deslizasse, inconsciente, até o chão.

Os olhos escuros voltaram-se para o alvo congelado que se tornara Natsu Dragneel e sua mente avaliava rapidamente todas as possibilidades, enquanto caminhava de volta para ele. Num instante, ele se sentia um com todo o gelo amaldiçoado da Vila do Sol e, agora, era como se ele nunca pudesse ter usado tal magia, em primeiro lugar.

Isso era ruim. Um buraco enorme não calculado em seu plano. 

Se demorasse mais para concluir sua missão, algum aliado do dragon slayer poderia aparecer e tirar de suas mãos a chance de eliminá-lo, por mais um longo tempo.

Isso o forçou a tomar uma decisão que poderia prejudicar outra parte da construção de todo o plano de ataque à Fairy Tail.

— Prioridades — resmungou em voz alta, antes de concentrar sua magia para o uso de habilidades telepáticas. Assim que sentiu a conexão, falou em pensamento: — Miori. Traga Ulric aqui. Agora.

— Mas Soberano… — A voz um tanto confusa da maga ecoou em sua mente.

— Agora — reforçou. 

Levou mais tempo que o esperado, considerando a natureza dos poderes de teletransporte de Miori. Absolut Zero sabia que a garota tinha a capacidade de armazenar um número limitado de memórias quanto aos traços da magia de outros magos, o que fazia com que ela pudesse se teletransportar direto para eles, num raio aproximado de uma centena de quilômetros por vez. Claro, viagens longas sucessivas queimavam sua magia com mais rapidez, mas felizmente, não estavam muito longe de Magnólia.

Um par de minutos depois, o Soberano da Signum Sectionis entendeu a demora. Afinal, tão logo soltou Ulric na frente de seu líder, Miori caiu prostrada, agonizando em dor, visto que ao menos 80 por cento da fronte de seu corpo, estava recoberta por queimaduras.

— O que diabos aconteceu? — o líder perguntou. — Você ao menos concluiu sua parte na missão? — completou, com frieza.

— E-eu tive ela nas mãos. Estava prestes a matá-la quando simplesmente fui a-atingida por toda aquela água fervente e apaguei. Quando acordei com o chamado do soberano, Heartfilia já havia ido — explicou, brevemente.

O olhar escuro e frio de Absolut zero voltou-se para Ulric.

O homenzarrão suspirou, antes de acrescentar:

— Os magos da Fairy Tail estavam dominados, mas algo parece ter quebrado as runas de barreira mágica do Niall. Foi quando braços de água irromperam por todo o lugar e os magos da Fairy Tail passaram a reagir. Eu estava lutando quando Miori apareceu e me trouxe aqui.

O líder comprimiu os lábios.

— Então você também não teminou sua parte  — concluiu, soltando um suspiro irritado em seguida.

— Erza e Laxus são magos difíceis de lidar. O plano sempre foi combatê-los em estado de fragilidade — lembrou, com indiferença. — É claro que eu levaria mais tempo lutando contra os dois a partir do momento que recuperassem a magia, mas o progresso foi interrompido quando fui trazido para cá — completou.

— Se os chamei aqui, é porque acreditava que a essa altura, teriam cumprido suas missões. No entanto, os três membros mais competentes da Signum Sectionis falharam ridiculamente — Absolut Zero desdenhou. — — Bem, não há mais margens para falhas. Já que eu os chamei, vamos terminar o que precisamos fazer aqui e então vocês voltam para matar Lucy Heartfilia — determinou. — Ulric, use o enchant para conjurar a magia devil slayer e acabar logo com isso — comentou, apontando para trás, por cima do ombro, pouco antes de sair do caminho. — Afinal, um dragon slayer é mais difícil de neutralizar que uma gestante debilitada.

Sem a figura do líder para bloquear sua visão, Ulric finalmente pôde ver o que ela protegia: o corpo congelado de Natsu Dragneel.

Ulric arqueou as sobrancelhas. 

— Perdoe-me pela impertinência, Soberano. Mas por que o Senhor mesmo não matou Natsu Dragneel? — permitiu-se perguntar, apesar das possíveis represálias. Afinal, por algum motivo, o líder da  Signum Sectionis precisava dele naquele momento, o que ao menos o protegia de ser morto por insubordinação, por enquanto.

O homem apenas suspirou, entediado, perpetuando o comportamento indiferente que demonstrava na maior parte do tempo, antes de dizer:

— Algo neste lugar, afetou minha magia na raiz. Não consigo conjurá-la — admitiu.

— Bem. Vamos torcer para o que quer te tenha afetado, não perturbe os efeitos do encantamento — Ulric alegou, preferindo guardar para si os pensamentos de que o próprio líder não havia completado sua missão.

Imediatamente em seguida, conjurou uma estaca de gelo negro em suas mãos, a qual foi revestida por uma aura mágica emanada por runas gravadas em torno de seu pulso direito. 

Aliviado, suspirou. Afinal, a magia devil slayer encantada nas runas em seu pulso, ainda funcionava, mesmo que sua fonte original — Absolut Zero — não pudesse dispor dela no momento.

Aquele havia sido o triunfo da Signum Sectionis todos aqueles meses, desde o início do plano de extermínio dos magos do fogo e potenciais receptáculos do pior demônio de Zeref, E.N.D. Os principais agentes da seita contavam com uma marca semelhante. Mesmo em Miori, as linhas rúnicas ainda sobressaiam no pulso, apesar das bolhas e da carne viva que se tornaram seu braço queimado. Isso porque, acreditavam que os demônios de Zeref não poderiam se eliminados propriamente por outra maneira, que não fosse a magia Devil Slayer. 

E para demônios do fogo, o elemento de ataque deveria ser gelo.

Por isso, a Signum Sectionis permaneceu oculta e fechada por tantos anos, na esperança que tal magia, outrora pertencente aos seus ancestrais, se manifestasse novamente. Foram milhares de anos perpetuando essa crença e desenvolvendo seus membros com as mais diversas magias de gelo, enquanto aguardavam o despertar do próximo devil slayer.

No entanto, ele veio de fora.

As visões da velha profetiza sobre o fruto maligno e os sinais flamejantes que deveriam ser eliminados, vieram em seguida e confirmaram sua autenticidade.

Ulric apenas supôs que deveria ser grato, pelo cumprimento da missão de seu povo se dar em sua geração. Depois disso, todos eles seriam livres do fardo de proteger o mundo da maior atrocidade criada por Zeref. 

E para isso, ele faria a sua parte.

O homenzarrão sabia que por estar encantada com a mesma magia que revestia o corpo do mago do fogo, a estaca poderia atravessar o gelo que o envolvia, desde que usasse força suficiente para tanto. 

Por isso, ele era o homem certo para o trabalho. 

Confiante, ergueu a estaca por cima da cabeça com ambas as mãos, preparando-se para o impulso que perfuraria o coração de Natsu Dragneel e livraria Earthland de sua existência impura, antes de descê-la com toda a sua força.

O gelo quebrou e, nos milésimos de segundos que antecederam o momento em que seus olhos foram atingidos pelos estilhaços,  Ulric julgou que havia cumprido sua missão.

Isso foi até que a voz apavorada de Miori chamasse sua atenção:

— O que diabos é isso? 

Voltando-se para a direção da voz da garota, o homenzarrão abriu os olhos com dificuldade, a visão turva em razão do ferimento recente, mas ainda pôde identificar os olhos arregalados da mulher. 

Em seguida, voltou-se para o líder, espantando-se por encontrar surpresa no semblante geralmente apático.

Só então, olhou para a direção que supunha estar o corpo morto de Natsu Dragneel, para deparar-se com uma imagem que jamais julgou que contemplaria.

De pé, no mesmo lugar que outrora estivera congelado, o mago do fogo os encarava.

Não, aquilo não era um mago.

Era uma abominação.

Chifres longos, retorcidos e vermelhos, projetavam-se dentre os cabelos róseos; um par de asas enormes, vermelhas e escamosas, cresceram em suas costas; o braço e a perna esquerda, perderam qualquer sinal de humanidade,  e agora se apresentavam como a garra e a pata de um dragão, tão recobertos de escamas quanto as asas; finalmente, os olhos, rodeados pelas mesmas escamas rubras que se estendiam por toda a metade superior do rosto, tornaram-se amarelos e ferinos, com pupilas que não passavam de fendas negras verticais.

Ulric poderia acreditar que estavam diante do próprio E.N.D., se não soubesse da natureza dos poderes do rapaz.

Aquilo era um dragão. Ou alguém que havia parado na metade do caminho de se tornar um. 

Tanto Ulric como Absolut Zero colocaram-se em posição de combate no momento em que os olhos predatórios os avaliaram. Perigo emanava deles. O perigo de um animal que estava prestes a retribuir a invasão de seu território e as feridas de seu bando.

Ulric mal conseguiu erguer uma barreira diante dele e de Miori, antes que a criatura cuspisse fogo em suas direções. 

A sensação escaldante pareceu durar horas, e o homenzarrão viu-se encharcado de suor, sua barreira aguentando apenas o suficiente para que não morressem, antes de se desfazer em uma poça de líquido negro.

O calor excessivo drenava suas forças e, a última coisa que percebeu, antes de cair exausto, foi que até mesmo o gelo amaldiçoado ao seu redor, começou a ceder e derreter após o impacto das chamas poderosas.

Sua visão turva ainda conseguiu captar o momento em que o meio-dragão voou sobre a clareira, certamente seguindo em direção à sua companheira.

 

 

Se as pessoas pudessem estimar o quanto os sentidos aguçados de um dragon slayer se estendiam além dos humanos, ficariam constantemente incomodadas pela mera existência de tais habilidades.

Não era algo que os escolhidos dos dragões poderiam ativar e desativar conforme a conveniência do momento. Em outros termos, eles tinham a capacidade de ouvir e cheirar, em tempo integral, qualquer coisa, num raio de quilômetros, de forma semelhante a que os humanos faziam o mesmo no espaço de alguns metros.

Era simplesmente natural pra o corpo deles, e não é como se eles tivessem lembranças do período que antecedia o ganho de tais poderes, para comparar com os sentidos normais. 

Natsu, claro, nunca havia refletido muito sobre isso, assim como uma pessoa comum não reflete sobre a extensão dos próprios sentidos, para começar.

Mas tinha que admitir que, o fato de os treinos dos últimos meses ter expandido tais habilidades ainda mais, era um resultado bem vindo.

Nos últimos meses, Lucy nunca esteve tão vulnerável. E Natsu nunca esteve tão atento.

Acostumou-se a focar sua audição e olfato, muitos quilômetros além do habitual, a cada instante que passaram juntos desde que ela conseguira a liberdade condicional, determinado a garantir a segurança de sua companheira e filha.

Por isso, não foi estranho que, mesmo em meio a batalha com Absolut Zero, seus ouvidos captassem uma informação tão crucial, ainda que tivesse sido proferida em outro local e contexto:

“Lucy-san está em trabalho de parto!”.

Foi a última coisa que ele ouviu, antes que o mundo ao seu redor se apagasse em uma barreira gelada.

Que no entanto não foi suficiente para aplacar o desespero em seu interior.

Lucy estava em trabalho de parto.

Sua filha estava nascendo.

Ainda não era hora.

E ele estava longe.

Naquele momento, mais que preocupação, queimou em seu interior uma necessidade avassaladora.

A necessidade de estar perto delas.

Natsu precisava alcançar Lucy a tempo; precisava ajudá-la; precisava estar lá no momento em que sua filha abrisse os olhos para o mundo.

E ele faria tais coisas, independentemente da distância ou dos oponentes ao seu redor. Ele rasgaria seu corpo, de dentro para fora, se fosse preciso, a fim de conseguir o poder necessário para realizar tais façanhas.

E ele conseguiu.

Sem sequer se maravilhar por num instante ter adquirido asas, ou se preocupar com os riscos que a meia transformação poderia implicar.

O fato é que agora ele tinha poder para superar seus inimigos.

E meios de chegar até Lucy e ao seu bebê.

Natsu não se preocupou em conferir se as pessoas diante dele ainda viviam, mas sentiu o último resquício de angústia dispersar, quando deparou-se com os olhos arregalados de um Happy recém despertado, que rapidamente superou o choque para acenar para ele em determinação.

Então, o dragon slayer abriu suas asas e foi.

 

 

Vila do Sol — 6 de Julho de x792

— Como você pode saber que a Lucy entrou em trabalho de parto? — Gray perguntou, enquanto corria atrás de Juvia.

Desde que a mulher chuva disparou a correr em meio à floresta congelada, não havia sequer vacilado em seu ritmo, o que preocupava o mago do gelo, já que todos eles haviam acabado de sair de um conflito exaustivo.

— As lacrimas de comunicação estiveram com Mira e eu o tempo todo — acrescentou o moreno, para reforçar sua dúvida e o fato absurdo de Juvia ter surgido com tal informação.

Acompanhando-os de perto, vinham Mirajane e Flare, que se ocupavam em abater rapidamente os soldados da Signum Sectionis que encontravam pelo caminho, para que não fossem atrasados em seu percurso.

— Porque Juvia viu a Lucy, quando esteve na Fairy Tail — respondeu a maga da água, entre ofegos pelo esforço.

— Como é? — o mago do gelo parecia cada vez mais confuso.

— Bom, não foi a Juvia exatamente que esteve na Fairy Tail. Foi a consciência da Juvia que viajou até lá através da água — esclareceu. 

Gray armou uma expressão ainda mais estupefata.

— E desde quando você pode fazer isso? — assumindo o questionário, Mirajane indagou, intrigada.

— Desde hoje. Juvia nem sabia que era possível e não teria conseguido se não tivesse sido guiada pela voz da água — contou.

— Voz da água? — o mago do gelo retomou a palavra, temendo que a jovem de cabelos azuis estivesse mais machucada que aparentava. Possivelmente na cabeça.

— É uma voz gentil que de vez em quando fala com a Juvia quando ela se une à água — explicou. — Mas Juvia realmente não sabe a quem pertence. Oh, ela pediu que Juvia dissesse ao Gray-sama que está feliz pelo bebê de Juvia e de Gray-sama, no entanto — lembrou.

Gray estacou, fazendo com que as garotas o ultrapassassem alguns passos, antes de pararem para encará-lo.

— Juvia — a voz dele parecia embargada —, você tem certeza disso? — perguntou.

— Claro que Juvia tem certeza! — o timbre da mulher chuva era enérgico. — A mulher gentil da água parecia saber que a Fairy Tail estava em perigo e levou a consciência da Juvia até lá. Mas antes disso, ela ensinou Juvia a sentir sentir a água de qualquer fluxo contínuo ao corpo dela e qualquer vida que estivesse em contato com ele. Foi como se Juvia pudesse sentir toda a água de Fiore, e de repente percebeu que não apenas podia sentir, mas ver Magnolia, através dos corpos de água que manipulava — resumiu.

— Isso é incrível — Flare expressou, ante a estupefação de Gray e Mirajane.

— Como estão as coisas por lá? Natsu e eu nos encontramos com o homem que provavelmente é o líder da Signum Sectionis, e ele disse que não havia Fairy Tail para voltar — Mirajane contou, angustiada.

Juvia retesou.

— Bem, havia muita destruição e os magos da Fairy Tail pareciam estar em dificuldades — respondeu, com honestidade. — Juvia tentou ajudar derrubando todos os soldados que conseguia sentir pela água, pelo gelo e pela neve, que por algum motivo, está caindo em Magnolia, fora de época. foi assim que Juvia encontrou e ajudou a Lucy-san, que estava sob ataque. E após afastar os inimigos dela, percebeu que a bolsa dela havia rompido — concluiu.

— Oh céus! Mas ainda não é hora do bebe nascer! — a albina exclamou, recomeçando a correr.

— Talvez a bolsa tenha rompido em razão de algum golpe sofrido — Flare conjecturou, sem saber realmente o que dizer para ajudar.

— É possível — Mirajane concordou. — Precisamos encontrar o Natsu. Rápido — completou, conduzindo-os mais ou na direção que recordava terem se separado, antes de decidir por uma abordagem diferente: — Eu vou pelo ar — anunciou, abrindo as grandes asas negras antes de alçar voo sobre as árvores congeladas.

— Acho que Juvia pode localizá-lo, através do gelo amaldiçoado — a maga da chuva declarou, fechando os olhos para se concentrar na expansão de consciência, assim como havia aprendido. 

— Essa habilidade de sentir uma pessoa apenas pelo contato com a água é absurdamente útil e fantástica, azulzinha — Flare sentiu-se à vontade para elogiar.

— Mas com duas manifestações absurdas de magia, você está bem para fazer isso? — Gray indagou, aflito.

Claro, nada era mais preocupante que a situação vulnerável em que Lucy se encontrava, ao entrar em trabalho de parto mesmo cercada por inimigos, todavia, não ajudaria a ninguém se Juvia se prejudicasse também.

Ele ainda tinha a própria grávida para se preocupar.

— Se a sua manifestação de magia em Magnolia foi pelo menos metade do que você fez aqui, estou surpreso que ainda consiga estar de pé — continuou.

A maga da água mordeu os lábios, preocupada.

— A magia da Juvia está quase esgotada. Porém não dá para hesitar agora — declarou, tornando a fechar os olhos para se concentrar. 

Alguns segundos se passaram, antes que as orbes azuladas reaparecessem, arregaladas.

— Natsu-san não está na vila — declarou. — Como não está? Onde diabos ele se meteu? — Gray questionou.

— Não dá para saber. Juvia não pode mais senti-lo. E ele também não está voando com o Happy, que Juvia conseguiu localizar. Então, é certo que Natsu-san deixou a área congelada — afirmou, antes de cair sentada no chão, a exaustão finalmente cobrando seu preço. 

— Juvia! — Gray chamou, alarmado, agachando-se ao lado da mulher de cabelos azuis.

— É só cansaço. Gray-sama não precisa se preocupar — garantiu.

— Você não está em condições de se exceder — comentou o mago do gelo, manobrando o corpo da maga da água para que ela pudesse descansar as costas contra seu peito. — O que é isso? — perguntou, ao reparar na marca rosa e brilhante que crescera no pulso direito da mulher.

Ignorando o calor que se espalhara por sua face em razão da posição em que se encontravam, Juvia ergueu o punho direito, para conferir.

— Mel-chan está apenas checando a Juvia e o bebê — respondeu e a compreensão tomou a expressão do moreno, quando reconheceu a marca da magia sensorial de Meldy.

Sua atenção, porém, logo voltou-se para o semblante da maga da chuva, que tornou-se concentrado enquanto ela respirava profundamente, em ritmo calmo, com ambas as mãos no peito.

— O que você está fazendo? — questionou Gray. 

— Estou transmitindo tranquilidade para que Mel-chan saiba que Juvia e o bebê estão bem, apesar do ferimento e do cansaço — explicou. — Não quero que Mel-chan se preocupe. Por tudo o que aconteceu, Mel-chan também pode estar sob ataque, embora Juvia não tenha sentido qualquer tipo de dor ou exaustão da parte dela, através do link sensorial — contou, aliviada.

— Vocês duas têm uma relação estranha, mas admirável — Gray observou, embora, intimamente, estivesse grato pelo cuidado que a jovem de cabelos rosas mantinha com Juvia e com o bebê. Claro, isso não era o suficiente para aplacar a irritação que sentia em relação a ela, no geral, mas ao menos amenizava o sentimento.

E bem, talvez a hostilidade tenha se quebrado só mais um pouco, quando ele reparou o link sensorial que apareceu no próprio pulso, por um momento. Aparentemente, Meldy queria garantias que todos estavam bem.

— Precisamos encontrar um local seguro para que você descanse — decidiu o mago do gelo, enquanto passava os braços pelas costas e sob os joelhos da mulher chuva, erguendo-se em seguida com ela no colo.

Juvia sentiu o coração palpitar e o rosto esquentar intensamente, mas passou os braços em torno do pescoço do rapaz mesmo assim, a fim de se estabilizar.

— Podemos nos abrigar em uma das cabanas dos aldeões — Flare, que durante a interação do casal, agira como se não estivesse ali, sugeriu, lembrando-os de sua presença.

— Me mostre o caminho — após um pigarro constrangido, Gray pediu.

A ruiva assentiu e, sem demora, mudou a trajetória, sendo seguida de perto pelo moreno, que caminhava cuidadosamente pelo chão congelado, a fim de não comprometer a segurança de Juvia.  Foram alguns minutos de caminhada até eles alcançarem a orla da floresta e avistarem as enormes cabanas congeladas. O mago do gelo questionava-se mentalmente se seria capaz de usar suas habilidades para acessar o interior de alguma delas, quando um ruído chamou-lhes a atenção.

O trio voltou seus olhares para a orla, a tempo de vislumbrar um homem de pelo menos dois metros de altura, com cabelos cor de chumbo arrumados em um rabo de cavalo desgrenhado e costeletas, carregar nas costas uma mulher de longos cabelos azulados, cujo rosto e braços estavam repletos de queimaduras.

— Foi ela! Foi ela que atacou Lucy-san! — sem pensar, Juvia declarou, reconhecendo a inimiga apesar das queimaduras.

O homenzarrão estreitou os olhos em direção à mulher chuva.

— A maga da água da Fairy Tail. Com essa declaração, suponho que seja você a responsável por quebrar as runas do Niall, destruir nosso plano e deixar minha companheira nesse estado — o recém-chegado refletiu. — Impressionante. Você deu um verdadeiro show lá em Magnólia, mesmo dessa distância — declarou, antes de depositar o corpo desmaiado da mulher que carregava, contra o tronco congelado de uma das árvores. 

— Flare —  Gray falou, baixinho, enquanto colocava Juvia de pé no chão. — Preciso que você leve a Juvia para um lugar seguro  — pediu, recebendo de imediato um aceno positivo.

— Gray-sama! — a maga da chuva exclamou, em protesto. 

— Eu realmente estava interessado em um combate com você, Gray Fullbuster — o inimigo revelou, enquanto se aproximava calmamente. — Mas após ver o que essa mulher fez com meus irmãos de crença, seria uma vergonha se eu não revidasse a altura — declarou, antes de unir as mãos e gritar: — Ice make: wall!!!

Após o comando, o inimigo ergueu os braços e, como se seguisse o movimento, uma muralha de gelo negro os rodeou, separando-os das cabanas e da orla da floresta, onde a inimiga inconsciente descansava em segurança.

Gray não se deu ao luxo de se espantar por encontrar outro mago usuário de magia de criação de gelo, ou pela aparência macabra do elemento do inimigo. Em vez disso, colocou-se à frente das mulheres e pediu:

— Flare. Preciso que você proteja a Juvia.

Novamente, a garota ruiva assentiu, estendendo seus cabelos em inúmeros tentáculos que serpenteavam ao redor das duas. 

Torcendo para que aquilo fosse o suficiente para garantir a segurança das jovens, Gray voltou a atenção para a batalha iminente e passou a avaliar o mago do gelo que seria seu oponente.

 

 

Magnolia — 6 de Julho de x792

— Juvia está ferida e exausta, mas aparentemente em segurança — Meldy declarou, imediatamente após o sumiço da marca brilhante em seu pulso. — Gray também possui alguns ferimentos, mas está em boas condições, no geral — concluiu seu breve relatório, encarando diretamente os olhos oblíquos de Lyon Vastia, que ostentava uma expressão um tanto admirada.

— Sua magia sensorial é realmente muito útil quando não usada para fins malignos — comentou, impressionado.

— Você precisa superar o que aconteceu ontem à noite — a jovem declarou, com descaso.

Lyon arqueou uma única sobrancelha, antes de responder:

— Bem, quem trouxe o assunto à tona foi você. Eu me referia aos anos que passou atuando como uma maga das trevas.

A garota comprimiu os lábios, com irritação, ao passo que o mago do gelo da Lamia Scale abria um sorriso atrevido. Ela havia caído na provocação dele.

— De qualquer maneira, é impressionante que possa manter uma conexão tão estável com a Juvia-chan mesmo sem saber a localização dela e captar tantas informações com isso — elogiou.

— Isso é porque nós duas temos um vínculo sentimental forte — admitiu. — E também treinamos esse tipo de comunicação durante as batalhas, desde que formamos um time. A depender do tipo de sentimento que transmitimos, uma pode socorrer a outra. Infelizmente, só eu posso pedir ajuda quando quero, enquanto Juvia-chan fica dependente das minhas checagens periódicas — acrescentou, o semblante tornando-se novamente preocupado. — Dito isso, o fato de eu ter conseguido me conectar estavelmente com o Gray,  apesar de detestá-lo, significa que, qualquer que seja o lugar em que estão, não fica muito longe de Magnólia — concluiu, voltando os olhos para a janela do trem, da qual era possível contemplar as luzes noturnas da referida cidade, que se tornavam cada vez mais próximas.

— Nos resta confiar que eles cuidarão um do outro e permanecerão seguros — Lyon encorajou. — Temos as nossas próprias responsabilidades para cumprir aqui.

Sem olhar para ele, Meldy assentiu, sentindo-se grata pelos instintos do rapaz os terem trazido de volta a Magnólia mais cedo.

Após a saída de Gray e Juvia para a missão designada por Makarov, Eles haviam permanecido na pousada, com o objetivo de prosseguirem nas buscas por Levy pela manhã. No entanto, tão logo alvoreceu, Lyon deu a ideia de buscar informações em alguns dos estabelecimentos de índole duvidosa de Hargeon, que costumava frequentar no período em que liderou um pequeno exército de magos em uma missão de vingança contra Deliora, na ilha Galuna. 

A viagem levou boa parte do dia, mas valeu a pena, visto que não precisaram de muitos artifícios — Meldy tinha que admitir que Lyon tinha uma boa lábia — para receberem a dica de que havia uma movimentação estranha em direção à Magnolia, o que fez com que pegassem o primeiro trem para lá. No percurso, Lyon foi informado, via lacrima de comunicação, por seus companheiros de Guilda que ajudavam nas buscas, que Gajeel havia localizado Levy e que o sumiço dela servira para desviar a atenção de um possível ataque aos magos do fogo da Fairy Tail.

Não é como se não tivessem cogitado isso antes, mas a confirmação ainda trouxe a sensação de peso no estômago da maga sensorial e do mago do gelo da Lamia Scale.

Eles estavam se preparando para a batalha. 

— O que diabos é isso? — momentos depois, Meldy perguntou, enquanto atravessavam a cidade com dificuldade, graças à neve que estava alta o suficiente para atingir-lhe os joelhos. — Estamos no meio do verão! — reclamou, puxando a capa vermelha que a envolvia, na tentativa de manter-se mais aquecida.

— Aqui, vista isso — Lyon jogou para ela o sobretudo azul royal que trajava até segundos antes.

— Você não precisava ter tirado a camisa também! — Meldy esganiçou, ao encarar o torso exposto do rapaz. 

— Oh… É um hábito difícil de largar — Comentou ele com indiferença, sem se preocupar com o lugar e que sua camisa havia ido parar, ou em localizá-la. Estava familiarizado com as baixas temperaturas, afinal.

— Família de magos loucos e pervertidos — Meldy resmungava, enquanto lutava para vestir o sobretudo que ele lhe oferecera, por baixo da capa vermelha, tentando não pensar nos músculos extremamente definidos do mago do gelo.

— De qualquer maneira, isso é muito ruim. — Lyon apontou. — a temperatura aqui está muito baixa, talvez equivalente ao ártico, ao ponto de trazer letargia mesmo aos que são habituados ao frio — observou.

— Os magos da Fairy Tail estão em grande desvantagem ao lutar — a jovem de cabelos rosas pontuou, enquanto retomavam o caminho para  a guilda.

— Vamos por cima — Lyon decidiu, em determinado momento. — O perímetro da sede provavelmente estará cercado.

Não foi difícil se aproximarem após tal decisão, visto que Lyon não apenas moldou uma escada de gelo para que alcançassem o telhado de uma das casas, como também caminhos estáveis pelos telhados nevados  e pontes entre as construções.

Logo, chegaram no telhado de um dos sobrados mais altos que rodeavam a Fairy Tail, de onde puderam avaliar a situação local.

— Que caos — Meldy comentou, reconhecendo, mesmo na penumbra, vários companheiros de Guilda que lutavam bravamente, apesar da clara desvantagem em ambiente gelado.

— Aparentemente, o conselho não pretende intervir por enquanto — Lyon concluiu, olhando para as forças militares do órgão oficial mágico, divididas em batalhões estratégicos, que rodeavam a guilda a uma distância segura da batalha.

— Eles vão agir quando tudo acabar e fingir que restabeleceram a ordem, como sempre fazem — a garota alegou, irritada. — Ou na hipótese de perceberem uma possível fuga de Lucy Heartfilia — emendou.

— Para manter o teatro deles, não é exatamente uma desvantagem que ela morra em confronto, mas pelo modo que agiram até o momento, parece que a querem viva — ponderou o mago do gelo. — De qualquer modo, estão agindo com cautela. Esperando o momento certo de capturá-la. É provável que ela tenha usado magia para se defender e agora eles têm a desculpa perfeita para encarcerá-la de novo — concluiu.

— Pobre Lucy — Meldy simpatizou. — Bem, podemos virar a balança e dar a ela a chance de escapar — falou, com convicção.

— O que pretende fazer? — Lyon questionou, com um mau pressentimento.

— Mesmo que não os conheça, posso me ligar a qualquer oponente que esteja no meu campo de vista. E bem, daqui enxergamos a maior parte das forças inimigas e do Conselho Mágico — explicou. — Eu só preciso estabelecer um link sensorial com todas essas pessoas e então, você me nocauteia, consequentemente, derrubando todas elas — completou.

Lyon piscou algumas vezes, o rosto apático enquanto processava se não havia compreendido errado as palavras proferidas pela menina, que por sua vez, parecia decidida.

— Você poderia ligar um dos inimigos a todos os outros e então eu o nocauteio — refez o plano, da maneira que acreditava ser óbvia. 

— Você me acha estúpida, por acaso? Por que eu cogitaria me machucar se houvesse outra maneira? — irritou-se. — Para seguir a sua sugestão, eu precisaria que esse inimigo em particular pensasse em todos os outros, para que o link fosse viável, o que obviamente não vai acontecer. Para que o plano dê certo, eu tenho que ser atingida, já que sou a única que pode sustentar os links por meio da visão — explicou.

— Você é completamente louca — Lyon avaliou, por fim.

— Eu falo sério — insistiu ela.

— Por isso eu disse: completamente louca — retrucou. — Se você quer mesmo que eu te bata, querida, garanto que não vai acontecer neste contexto — emendou, encarando a garota diretamente nos olhos verdes com malícia, a mão direita segurando-lhe o queixo com firmeza.

O rosto de Meldy explodiu em vermelho, enquanto ela tentava gaguejar uma resposta adequada.

— Que outra chance teremos de dar uma baixa tão alta nas forças inimigas? — afastando a mão dele com um tapa, finalmente conseguiu dizer, cruzando os braços.

Lyon voltou os olhos para a cidade abaixo.

— Com minha magia de criação e suas lâminas sensoriais, podemos atingir muitos deles daqui — afirmou.

— Somente os magos da Signum Sectionis. Se atacarmos um exército oficial dessa forma, nossas guildas terão problemas com o Conselho Mágico. Por outro lado, pelo link sensorial, posso atingi-los de maneira muito mais discreta — argumentou a jovem.

— Mas não indetectável — Lyon contestou. — Olha, você recebeu a chance de ouro de levar a vida como uma maga legalizada. Quer mesmo colocar tudo a perder agora? — ralhou. — E mesmo que queira: eu não vou te nocautear — enfatizou.

Meldy estava prestes a seguir com a discussão, quando um farfalhar de tecido chamou a atenção dos dois, que notaram  que já não estavam sozinhos.

Para alívio de Meldy, foi a figura de Mystogan que encontraram parada próxima a eles.

— Lyon está certo. Você é a maga de uma guilda legalizada agora e deve valorizar essa oportunidade para lutar como tal — a voz do recém chegado era firme. 

A maga de cabelos róseos inflou as bochechas, como uma criança.

— Isso vai levar muito mais tempo, Mystogan — reclamou ela, o nome assumido por Jellal ainda estranho em sua língua.

— Mais do que imagina, porque você não vai atacar as forças inimigas agora. O Mestre Makarov pediu que você fosse ao encontro dele — avisou.

O semblante da maga se contorceu em curiosidade. 

— Ele vai te explicar quando chegar lá — apesar da reação da outra, foi tudo o que o mago mascarado falou. — Enquanto isso, Lyon e eu vamos procurar pelo mago responsável por essa nevasca — decidiu.

O mago do gelo arqueou as sobrancelhas, diante do fato do recém chegado ter se sentido confortável o bastante para assumir a liderança.

— Imagino que por compatibilidade de magia, você terá mais facilidade nisso — Mystogan explicou para ele, com indiferença. — E eu bem posso aproveitar o caminho para conferir se a letargia pelo frio deixou os soldados do Conselho… Sonolentos — emendou.

— Não é justo! Você pode atacar o Conselho Mágico e eu não? — reclamou a garota.

— O plano dele é bem mais seguro — Lyon sustentou.

— Vá para a guilda. Nós vamos te dar cobertura — Mystogan completou. 

Ainda que um pouco contrariada, a garota assentiu, antes de descer rapidamente por um tobogã moldado por Lyon e correr em direção à sede.

Ela tentou não prestar muita atenção aos barulhos que explodiam ao seu redor, embora sua visão captasse, de esguelha, alguns inimigos sendo atingidos por colunas de gelo ou simplesmente desmaiando de sono.

Quando alcançou a construção parcialmente destruído da guilda, Maldy teve que fazer a limpeza por conta própria, o que não foi muito complicado, com suas lâminas sensoriais.

Como esperado, todos caíram rapidamente, momento em que a garota usou seus poderes para ligar-se ao mestre Makarov, a fim de sentir a proximidade dele. 

Encontrou-o aos fundos, nos vestiários da piscina, que milagrosamente permaneciam intactos, apesar de quase todo o resto estar em ruínas.

O mesmo não podia ser dito do mestre, nitidamente ferido e decadente, e de Lucy Heartfilia, que estava sentada no chão, contra uma das paredes, dobrada sobre a grande barriga de grávida enquanto choramingava, os espíritos de Leão, Virgem, Libras, Touros e Gêmeos rodeando-a, assim como Porlyusica, a conselheira médica da Fairy Tail.

— A criança está nascendo prematuramente — Makarov não perdeu tempo em explicar para a jovem de cabelos róseos. — É arriscado remover Lucy nesse estado, por isso precisamos de um lugar seguro para o parto — acrescentou.

— Não acredito que haja qualquer lugar seguro na guilda, nesse momento — Meldy respondeu, incerta quanto ao seu papel ali. — As forças da Signum Sectionis ainda nos atacam e os batalhões do Conselho Mágico esperam ao redor — avisou.

— Eu sei — Makarov respondeu, debruçado contra parede, o fato de ter defendido os membros de sua guilda com o próprio corpo, cobrando seu preço. 

Ele bem havia cogitado o lugar mais isolado, profundo e desconhecido da guilda. Talvez lá, Lucy pudesse ter sua filha em segurança, ainda que o custo fosse revelar o maior segredo da Fairy Tail.

Por isso que, mesmo com o corpo em frangalhos, o mestre a procurou e insistiu para que ela deixasse a biblioteca.

No entanto, a maga estelar tivera outra ideia. Uma que poderia dar a todos uma chance melhor. 

— É por isso que vamos criar um lugar seguro — com dificuldade, Lucy afirmou, enquanto apanhava um livro que estivera ao seu lado e o colocava sobre as pernas. 

Meldy encarou a capa de couro verde surrada, gravada com a insígnia da Fairy Tail, rodeada de runas douradas e floreios negros.

— Eu posso fazer isso, mas para criar um abrigo forte o suficiente, preciso de mais magia — explicou a maga estelar, entre ofegos. — Você acha que com suas habilidades pode canalizar mais poder mágico para mim? — questionou.

A jovem de cabelos rosas refletiu por alguns instantes. 

— É possível, desde que eu tenha uma boa visão dos alvos usados como fonte de poder mágico — respondeu.

A loira sorriu.

— Ótimo — falou com alívio, antes de voltar os olhos para o espírito de gêmeos — Faça! — pediu, enquanto abriu o livro em uma página específica e apontava para o círculo mágico desenhado nela.

— Piri-piri! — Foi a confirmação das duas criaturinhas, que não tardaram a unir as mãos e transformarem-se em um jovem loiro de corte de cabelo estranho, que aparentava não ter mais que 16 anos de idade.

— Eu vi esse cara! Ele está atacando a guilda neste momento — Meldy observou.

— E também foi o responsável por escrever as runas de gelo que nos impediram de usar magia por um tempo — Loki explicou. — Foi uma sorte Gemini ter conseguido copiá-lo em meio à confusão que seguiu a quebra da barreira mágica, pois precisamos de um mago que saiba desenhar escritas mágicas para isso — comentou.

— Niall é o nome dele. Aliás, ele possui informações bem privilegiadas dentro da Signum Sectionis — Gemini, na forma inimiga, afirmou, enquanto seguia desenhando os símbolos com gelo em um círculo no chão.

O grito de dor emitido por Lucy, que se dobrou novamente contra a própria barriga, chamou a atenção de todos.

— Ela necessita de um lugar adequado. Rápido — Porlyusica apressou.

— Taurus! — Lucy chamou, assim que sentiu os músculos relaxarem. — Preciso que quebre minhas algemas — pediu, erguendo o braço.

Meldy engoliu em seco.

— Você tem certeza? É violação de condicional — lembrou. — Depois disso, se for capturada pelo Conselho Mágico, não há mais chance de aguardar o julgamento em liberdade — alertou, expressando os conhecimentos sobre a entidade adquiridos na época que era membro da Grimoire Heart e durante suas viagens com Jellal.

— A prioridade agora é a vida da minha filha — Lucy respondeu, os olhos queimando em ferocidade. — Além disso, o conselho já acredita que eu violei a condicional, de qualquer maneira — atestou.

— Tem certeza que pode fazer isso sem arrancar os braços dela junto? — Leo parecia cético, mas ajudou Lucy a se deitar de costas no chão, com os pulsos unidos e estendidos pra cima, já que ela não poderia se dobrar contra as pernas e esticá-los para frente. 

— Lembre-se que quando isso acabar, eu preciso de mãos para segurar um bebê — mesmo em meio ao desespero, Lucy gracejou, enquanto tentava transmitir, com o olhar, confiança ao espírito taurino.

— Cuidar da integridade do corpão da Lucy-san é minha missão — Taurus afirmou, antes de erguer o machado.

— Eu vou manipular a gravidade ao redor das algemas, para garantir que a lâmina só possa descer sobre o metal — Libra decidiu, fazendo com que Loki e Lucy suspirassem aliviados.

Com um resmungo arrogante, Taurus desceu o machado, enquanto Libra manipulava suas balanças, o que resultou em um corte preciso, que fez com que as algemas pendessem soltas e destruídas. 

— Impressionante — Meldy elogiou a exatidão dos espíritos, enquanto observava Loki ajudar Lucy a sentar-se novamente. 

Os minutos passavam como horas, os sons dos combates ao redor deixando-os cada vez mais apreensivos. Tanto Meldy quanto os espíritos, mantinham-se em alerta, cientes que, a qualquer momento, algum inimigo poderia entrar e atacá-los.

— Eu terminei aqui! Desculpem a demora,  estas runas são complexas mesmo para este cara — ainda na forma de Niall, Gemini anunciou, apontando para si mesmo.

— Acho que é a minha deixa — Meldy anunciou, antes de providenciar os links que brilharam em simultâneo nos pulsos dela e de Lucy. 

Foi nesse momento que as duas mulheres dobraram-se e gritaram em simultâneo.

— Céus, como você aguenta isso? — caindo de joelhos, Meldy choramingou, cancelando o link sensorial involuntariamente diante da dor sentida.

— Espere a contração passar — Porlyusica orientou, antes de murmurar palavras calmantes para Heartfilia. — Pronto. Você tem alguns minutos agora, antes da próxima contração — explicou.

Levantando-se, Meldy assentiu, restabelecendo o feitiço. De fato, já não havia tanta dor no corpo se Lucy Heartfilia, embora o cansaço e o peso no ventre ainda fossem opressores.

Ela só podia desejar acabar com aquilo rapidamente para então poder refletir sobre sua decisão recente de nunca ter filhos.

— Eu vou subir para ter a visão dos magos que servirão de fonte mágica. Assim que você sentir o fluxo de poder ser direcionado para você, inicie o feitiço — empurrando os pensamentos desnecessários para longe, Meldy orientou Lucy.

— Certo — a maga estelar respondeu, estabelecendo um ritmo calmo de respiração, para tentar se preparar mentalmente e  fisicamente para a execução do projeto. 

A essa altura, ela só podia desejar que as contrações não atrapalhassem seu plano, já que ela não tinha outra opção para proporcionar um nascimento seguro à sua filha.

Enquanto aguardavam, Porlyusica e os espíritos presentes a encorajavam, ao passo que Makarov a observava, sentindo-se culpado por ter ainda menos condições que uma mulher em trabalho de parto para realizar a magia.

— Pare de fazer essa cara. Ela vai conseguir — Porlyusica garantiu, embora sua testa ostentasse rugas de preocupação.

O mestre sabia que ela tinha suas razões para se afligir. A chance do feitiço esgotar Lucy era muito real e isso certamente não faria nenhum bem a uma mulher que precisava de todas as suas forças para trazer sua criança ao mundo.

— Eu sei. Há uma certa compatibilidade em magias de luz e magia estelar. Além disso, Lucy é muito competente — discursou. — Se há alguém que pode aprender uma das três magias absolutas da Fairy Tail nessa velocidade, é ela — completou, confiante apesar de tudo.

— É agora — ouviram a maga estelar dizer.

Naquele momento, um brilho dourado envolveu Lucy que, apesar da dor, do cansaço e dos traumas sofridos nas últimas horas, sorriu com a nostalgia de sentir a magia fluir livremente para fora de seu corpo, após tantos meses de supressão pelas algemas inibidoras. 

A sensação era agridoce.

Claro que aquilo não chegava nem perto do que ela havia imaginado para a estreia de sua filha no mundo, pois contrariava todos os cenários tranquilos idealizados.

Além disso, Natsu não estava ali, tampouco havia dado notícias. Certamente, não fazia ideia do nascimento prematuro de seu bebê, o que tornava pouco provável sua chegada a tempo.

Ainda assim, Lucy queria confiar que o feitiço lhes daria tempo.

Assim, após colocar as mãos sobre as runas geladas, ela gritou com determinação:

— Fairy Sphere: ativar!


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Notas finais do capítulo

Eu tive que usar de muita liberdade criativa nos poderes da Juvia e da Meldy.
Quanto a Meldy, especificamente, eu assisti os últimos episódios do anime, mas ainda não consegui definir se ela aperfeiçoou o link sensorial dela para transferir apenas magia, sem se ligar às sensações e ao estado físico das pessoas a que se liga. Por isso, escolhi me ater ao que foi nos apresentado nas primeiras aparições dela, apesar de acrescentar a habilidade de transferência mágica, que ela demonstrou na luta final contra o Acnologia. Eu amo a Meldy e vocês já devem ter percebido pelas aparições relevantes dela nesta fase.
E quanto aos poderes da Juvia, em razão da dificuldade de explicar o que eu desenvolvi, sem prejudicar a narrativa, vou deixar aqui a explicação que fiz ao Gutor quando respondi o comentário dele aqui no Nyah: "Juvia consegue fazer a consciência dela viajar por um fluxo de água, ou sentir as vidas conectadas nesse mesmo fluxo. Mas a água tem que estar conectada, de alguma forma, ao lugar em que o corpo da Juvia esteja. Por exemplo, no caso do último capítulo, a consciência Juvia viajou pelo mar e chegou no lago de Magnolia, onde continuou se expandindo pelo gelo e pela neve. Mas toda essa água estava conectada com a agua em que o corpo dela estava. Não vejo ela usando essa habilidade para transferir a consciência dela para recipientes de água separados, por exemplo. Foi assim que eu idealizei essa habilidade, mas é difícil de explicar no contexto da história".
Claro, isso tudo foi inventado por mim, mas não escrevo nada que não ache plausível no universo de Fairy Tail.
Tanto que, tcharam, a Lucy Usou a Fairy Sphere! Assim como no arco final do anime, aqui a ideia e a habilidade de invocação partiram dela. Só podemos desejar que ela consiga e que isso seja o suficiente para dar tempo ao pessoal da Fairy Tail.
E a transformação do Natsu?? Também foi vítima da liberdade criativa, já que eu precisava de uma versão em que ele tivesse as duas asas. Ainda assim, eu dei uma analisada no filme Dragon Cry para compor.
Enfim, espero que estejam curtindo a história.
Particularmente, eu não vejo a hora dessa criança nascer e dessa fic encontrar o seu fim.
É isso. Até a próxima!



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